ESTÁ NA HORA DE IR À PROCURA DE... PARGOS!

Há alturas do ano mais favoráveis que outras para pescarmos peixes a sério. Esta altura em que estamos é boa!

Quando as águas estão quentes, por vezes acima dos 21ºC, o peixe encontra-lhes menos oxigénio dissolvido, e reduz substancialmente a sua actividade, restringindo-a a períodos mais crepusculares, o início da manhã, o final da tarde. A meio do dia, com o sol alto, aquilo que acontece numa saída de pesca normalmente tem pouco significado.
Não se trata de não haver oportunidades, porque as há. Nem todos os peixes encontram comida durante o período crítico em que estão mais activos. Isso prolonga, para alguns, a necessidade de procurar algo fora da “hora dos lobos”.
É sim verificar quer a tendência de maior actividade vai toda para os momentos de início e final de dia. E dentro destes parâmetros, as marés cheias em dias de luas grandes, com correntes fortes, são sempre os melhores dias.
Quem pesca com jigs, tem a missão facilitada, porque está a oferecer ao predador um “peixe vivo” sob a forma de uma placa metálica animada de movimentos que simulam o comportamento habitual das presas. Natação irregular, desorganizada, pouca discrição, são ingredientes que fazem tocar as campainhas a peixes como os robalos, os sarrajões, as bicas, os pargos. O click que os passa de um peixe calmo, inactivo, passivo se quiserem, a um predador nervoso, que sulca as águas de boca aberta direito ao nosso jig, que morde com convicção, é muitas vezes uma técnica apurada, um saber fazer, um jeito que se aprende. Com tempo, com paciência, não conheço ninguém que não seja capaz de ferrar uns peixes com jigs ligeiros.




Todos vós sabem o quanto me bato pela utilização de jigs de pesos ligeiros. Não me canso de explicar aos meus alunos dos cursos que, se achamos ser necessário um jig de 120 gramas, devemos tentar primeiro com um de 60 gr. Na maior parte dos casos, é possível.
Temos tantos factores sobre os quais podemos actuar, que não há necessidade de tomar como ponto de partida um jig pesado. Essa é de resto a última opção.
Posso enumerar alguns dos itens que nos permitem pescar fundo sem recorrer a peso exagerado:

1- O diâmetro da linha do carreto. Não necessitamos de linhas grossas!

Porque estamos a pescar na vertical, não é necessário mais que içar o peixe, puxá-lo à superfície. Os primeiros metros são críticos, mas não esqueçam que estamos num barco, e o espaço que isola o peixe do fundo não necessita de ser grande. Quantas vezes eles próprios seguem o jig uns quantos metros antes de decidirem morder, ajudando-nos nessa tarefa de os retirar da proximidade de rochas, plantas, gorgónias, etc.
Depois de afastados das estruturas que podem romper a nossa linha, o peixe passa a debater-se no azul, sem outra possibilidade que não a de partir a linha. E isso só pode acontecer por inépcia nossa, por descuido, ou por falta de conhecimento dos limites de rotura do nosso multifilamento, ou baixada. Apostar em materiais de boa qualidade, e não em productos baratos, ajuda a sentir segurança quando os momentos de “aperto” chegam.
No fim, a qualidade da linha prevalece sobre o preço, porque se paga a si própria em “mais peixe”.

2- O diâmetro do fluorocarbono.

Nunca entenderei a razão pela qual as pessoas que já deram o primeiro passo, o de acertar no multifilamento correcto, adequado ao peixe standard que existe na zona onde pescam, lançam mão de uma baixada grossa, mais forte que a linha madre. Qual é a ideia?! Se pensarmos friamente, estamos a expor o nosso multifilamento a um risco desnecessário. Em caso de rotura, deixem-me adivinhar que o multifilamento ou parte junto ao nó com o fluorocarbono, ou... muito pior que isso, parte junto aos passadores da cana. Se estamos a pescar numa zona com 60 metros de fundo, e se já não é o primeiro peixe que morde, então já sentimos necessidade de pressionar a linha junto à ponteira da cana.
Fazemos isso para ferrar o peixe, para assegurar que o peixe não se irá descravar. Quando sentimos a picada, normalmente junto ao fundo, o braço bloqueia a cana, impedindo a sua descida, e mais que isso, exercemos força vertical, no sentido ascendente. É isso que irá garantir-nos que o anzol penetra na carne ou osso do peixe. A alternativa, não o fazer, significa que deixamos ao destino aquilo que possa vir a acontecer durante o trajecto de subida. E quantos peixes bons saltam fora do anzol precisamente por não terem sido ferrados, por não termos exercido essa pressão extra. Ora se o fazemos, e devemos fazer por defeito, isso também quer dizer que a dada altura, houve um esticão na linha, junto à ponteira. Não vem mal ao mundo que aconteça, mas se por norma pescamos na mesma zona, ou seja, à mesma profundidade, ao mesmo tipo de peixe, (e por consequência com um padrão de comportamento muito similar, a morder de forma padronizada à mesma profundidade) então existe um padrão de desgaste na linha. Quando o fluorocarbono é mais forte que o multifilamento, ...a linha irá partir no sítio mais fraco.
Já entenderam o resto. Não vamos perder 1 metro de linha, vamos perder 60 metros de linha. A seguir, com sorte, teremos pelo menos outro tanto que nos permita continuar a pescar, mas já anda um peixe a passear no fundo com um jig cravado. Atrás dele, e até encontrar um ponto de fixação que lhe permita partir, (normalmente uma rocha com buracos por onde o peixe entra e sai, ou uma gorgónia, irá estar a nossa linha...
Tudo isto porque não fomos suficientemente previdentes, calculando a taxa de esforço possível a cada um dos componentes da nossa baixada, do carreto ao jig. O sentido é decrescente, o multifilamento deve ter uma carga de rotura superior ao fluorocarbono.
As excepções a esta regra são muito poucas, e passam por pescar meros à porta das tocas, onde a ausência de uma linha de nylon muito forte pode significar a perda do peixe. Aí, o que se faz é apertar tudo e com tudo. Nylon grosso, zero embraiagem, e força no braço. O mero morde junto ao buraco, e se conseguir meter a cabeça lá dentro... já o perdemos. Se subir 6/ 10 metros, é nosso. Mas este é um caso extremo, e muito especial. Por norma, aplica-se o padrão normal: multifilamento suficiente, e fluorocarbono quanto baste, de resistência inferior.
Até porque não temos vantagens em tornar a baixada demasiado visível, nem em querer fazer com que o nosso jig tenha um comprimento superior à medida total da peça metálica. Uma linha demasiado grossa provoca vibrações na água que são entendidas pelo peixe através da sua linha lateral.
O nosso jig não tem três metros de comprimento. O foco de atenção é o jig, e só isso, não os metros de linha que o precedem.




3- O formato do jig.

Já aqui expliquei que o tempo de descida dos jigs não é todo igual. Pode haver diferenças muito significativas em termos de comportamento de um formato para outro, embora com o mesmo peso, e por isso os tempos de descida são diferentes. Um pouco “en passant”, repito que um jig comprido e fino, terá um tempo de queda muito mais rápido que um jig curto mas largo. Tem a ver com a aplicação da força de impulsão da água, que num caso é muito inferior ao outro. Os jigs formato moeda, largos, oferecem à água uma resistência muito superior, e por isso planam na horizontal, enquanto que as “agulhas” estreitas descem como uma flecha por menor atrito, menos pontos de aplicação de força. Assim, para um mesmo peso, digamos 40 gramas, podemos ter comportamentos muito diferentes, e isso irá influenciar a nossa capacidade de pescar fundo com menos peso. No caso de termos alguma corrente, a opção é evidente: a solução certa será a de pescar com agulhas.

4- O armamento dos nosso jigs.

Pode parecer um detalhe pouco significativo, mas o atrito provocado pelos anzóis e linhas dos nossos assistes serve de travão à descida do jig. Se tivermos aplicados dois assistes duplos, ou seja dois anzóis à cabeça e dois anzóis à cauda, teremos quatro linhas a travar a descida do jig. Podemos reduzir este efeito paraquedas ao aplicar menos carga na peça. Está por provar que um jig com quatro anzóis pesque mais e melhor do que um outro com um assiste simples à cabeça e um duplo na cauda. Na verdade, aquilo que é indispensável é mesmo que exista um anzol. Sem isso temos picadas mas não ferramos. Daí para cima, temos a possibilidade de colocar dois assistes simples à cabeça, um à cauda e outro à cabeça, enfim, é dar largas à imaginação. Eu pesco com jigs até aos 20 gr com um triplo, ou um assiste duplo na cauda, e a partir daí, a mesma receita na cauda, mas com um assiste simples à cabeça. Não sinto falta de mais. A chamada de atenção é a seguinte: não é por carregarmos de anzóis a nossa peça metálica que ela vai pescar mais. Mas vai, em caso de insistirmos em fazer de um jig uma árvore de Natal com muitas coisas penduradas, levar mais tempo a descer.

5- A colocação do barco perante a pedra que pescamos.

Se nos parece que estamos um pouco mais ligeiros que aquilo que seria ideal, então temos a opção de começar a pescar a pedra um pouco antes, dando tempo a que o jig desça ao fundo. A solução mais prática é a da bomba atómica: mandamos um jig pesado, e vai lá abaixo num instante. Mas pesca menos bem. Com um pouco mais de técnica, podemos começar a deriva alguns metros antes, e isso dará tempo suficiente à peça para atingir o fundo. E temos assim o melhor de dois undos.

6- A utilização de um paraquedas.

Quando já fomos suficientemente cuidadosos para observar todos os parâmetros acima, ainda nos resta uma última opção para conseguir pescar ligeiro, em zonas mais fundas: a utilização de um paraquedas. Já aqui vos falei deles, e estou seguro que conseguirão encontrar vários artigos publicados sobre o tema. Por isso passo adiante, dizendo-vos que eu, cada vez mais, prefiro utilizar o paraquedas e reduzir no peso do jig. Os resultados são francamente animadores, há efectivamente uma relação directa entre o peso do jig e a quantidade de picadas que temos.
Já levei comigo por diversas vezes gente que insiste em jigs pesados, 150, 200 gr, e ao fim de horas têm uma picada. E mesmo relutantes, aos poucos, acabam por me pedir emprestada uma das minhas canas, equipadas com jigs ligeiros, entre os 20 e os 40 gramas. Mas nessa altura eu já tenho 15 peixes... Porque a partir do momento em que o nosso jig chega ao fundo na vertical, não tenham dúvidas de que o jig mais ligeiro pesca muito mais que o jig mais pesado.





Desejo-vos a todos uma boa época de pargos!



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Fernando Santos22 abril, 2022

    Olá Sr Vitor, tudo bem ?

    Que venham os pargos, já tenho os colt snipers alinhados e afiados a espera deles :) :)
    Quanto ao tema do fluorcarbono tenho uma dúvida, se puder responder-me agradeço e refere-se ao tamanho da baixada.
    O pargo depois de ferrado pela sua força e resistência (não é a mesma de um carapau) vai fazer de tudo pra se "safar" daquilo. Enrolar, puxar pra todo o lado e roçar na pedra pode ocorrer.
    Quanto a isso, qual o tamanho da baixada aconselhável ? Há algum conselho ou padrão específico para o pargo do tipo : desse tamanho não tem como ele conseguir encostar o multifilamento na pedra, por mais que tente.
    Obrigado e forte abraço !

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    1. Boa tarde Fernando Santos

      Obrigado pelo comentário. Ele será útil para desenvolver o tema dos chicotes, e tenho a certeza de que servirá para muito mais pessoas do que parece à primeira vista.

      Vou pegar no assunto e fazer um artigo para um dos próximos dias ( eventualmente só sairá dentro de uns 8 dias porque já há alguns textos alinhados para sair) e vai ver que é interessante.

      Um grande abraço!
      Vitor

      Eliminar
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