OS ROBALOS DE PRIMAVERA

Quando pescamos de barco, as possibilidades aumentam exponencialmente. Porque podemos prospectar as zonas mais quentes no conforto de uma embarcação que nos leva onde queremos em poucos minutos. A pé, as coisas mudam muito de figura, porque as limitações são evidentes.
Ainda assim, e se houver mar formado, é mais fácil pescar de terra, desde que com vadeadores, lançando para detrás da espuma, do que meter o barco na zona de rebentação, arriscando uma virada que será sempre fatal para a embarcação e pode também sê-lo para quem pesca. Todo o cuidado é pouco, e não há um único peixe no mundo que valha uma vida humana.
Vamos hoje ver alguns detalhes que podem ser importantes quando pescamos apeados.


Estes são os peixes que procuramos: robalos adultos.


O primeiro dado que me parece ter relevância é a questão do equipamento. Quando a distância de lançamento é importante, e desde que tenhamos robustez física para isso, aconselho uma cana a raiar os 3 metros de comprimento. Deve ser leve, de carbono de qualidade, com acção rápida, e a permitir lançar amostras com algum peso, a chegar aos 40 gramas.
A razão tem a ver com o facto de termos por vezes ondulação alta e ser necessário passar a primeira barreira de ondas e espuma. Por definição, o local onde os robalos de bom tamanho esperam as suas presas é o famoso “terceiro anel”, a terceira onda, onde começa a haver alguma estabilidade na água. É aí que irá tornar-se visível a comida que é desenterrada pelas ondas que rebentam. Minhocas, ralos, caranguejos, etc, tudo aquilo a que o robalo pode chamar comida.
Esse é também o local para onde os pequenos peixes tentam escapar quando são, por alguma razão, empurrados na direcção da rebentação forte.
As pequenas sardinhas, salemas, carapaus ou galeotas que se deixam enrolar nas ondas, sofrem por não terem potência muscular suficiente para vencer a força do mar.
E ficam limitados, fragilizados nas suas decisões de ir onde querem. Sabemos o que isso quer dizer quando se trata de robalos...
Relativamente às amostras, e caso exista espuma, mar revolto, não temos de poupar em nada. Amostras de pala, que emitam vibrações fortes, e se for o caso, de sonoridade “ratling”, amostras com esferas metálicas produtoras de ruídos. Estamos a querer dar nas vistas, a ficar ligeiramente acima do ruído das vagas, do vento, da espuma.
Caso tenhamos uma situação em que o vento se nos apresenta de frente, lançar amostras leves é impossível. Recorremos por isso a enganos que se avizinhem dos 38/ 42 gramas. Outra possibilidade é a de optarmos por jigs, e aí a capacidade de voo é substancialmente maior, o atrito provocado no ar é inferior, e por isso mesmo somos capazes de lançar à distância ambicionada.
Um jig de 30 gramas vai literalmente onde quisermos que vá. Se possível, utilizar menos. Não pelo tamanho em si, os robalos são peixes vorazes, destemidos, quando se trata de atacar presas de maior tamanho, mas porque temos de tentar interessar pela nossa amostra os grandes que seguramente estarão na rectaguarda, aproveitando as melhores oportunidades. E esses têm boca suficiente para tudo o que lhes mandarmos.


Maré cheia, os peixes aproximam-se para vir descobrir comida que ficou exposta. A hora do dia não é a melhor, o sol já vai alto, mas pode haver peixe activo.


Chamos a atenção para a questão da linha. Não necessitamos de cordas grossas para pescar robalos. Por grandes que sejam, estamos num local sem encalhes, e por isso mesmo, podemos privilegiar a questão da distância atingida, em detrimento da resistência da linha. Para trabalhar um robalo grande, um PE 1,5 chega e sobra. É dar-lhe alguma cana e drag suficiente. Porque não são muito resistentes, em poucos minutos estarão nas nossas mãos. Em situações de pesca em praia, um erro comum é a pressa que as pessoas costumam ter para ver o peixe. Não que isso não aconteça também na pesca embarcada, mas porque as possibilidades de êxito em terra são infinitamente menores, a necessidade do pescador aproveitar uma oportunidade que pode ser única, leva-o a ter a tentação de apressar o lance. Os bichos têm uma resistência quanto baste em termos de pele, musculo e osso. Um anzol pode cravar bem, numa zona dura, mas também pode estar ferrado numa zona mais macia e aí começam os problemas. Se acontecer este último caso, arriscamos uma desferragem por termos pressionado demais. Ter calma e não ter pressa em ver o peixe é sempre uma boa medida.


Temos aqui uma vazante forte, os peixes estarão longe, a descansar das correrias da maré anterior. Para chegarmos onde estão, teremos de lançar bem longe.


Quando estamos apeados, convém ter em mente que devemos trabalhar bem a zona circundante, fazendo um leque que tem como vértice a posição em que temos os pés. A amostra é lançada três a quatro vezes, sempre em posições diferentes.
Bater terreno já pisado por alguém será menos interessante, pelo que a solução é levantar cedo, chegar antes dos outros e aproveitar os peixes que passaram a noite a comer junto à praia.
As marés jogam aqui um factor decisivo. Se é verdade que o peixe se abeira da costa na enchente, porque passa a ter água onde antes não tinha, a chamada “ conta de água”, por outro lado teremos as nossas amostras a trabalhar menos bem, por acompanharem o fluxo de água que entra. Será exactamente o oposto de meio para o fim da vazante, em que o movimento de refluxo é contrário, na direcção do mar.
Isso tornará as amostras um pouco mais eficazes. Sempre que tivermos a possibilidade de pescar zonas onde desaguam pequenos ribeiros de água doce, isso é muito interessante. Não só porque essas saídas de água atraem muitos anelídeos, camarões, etc, mas também porque são locais muito procurados pelos predadores para fazerem a sua limpeza de parasitas. A água doce não e particularmente tolerada por muitos deles. O robalo aproveita para caçar e desinfestar de parasitas, ao mesmo tempo.
Bater toda a zona calmamente, quer seja de fundos de areia quer tenha alguns marouços de pedra, vale sempre a pena. As primeiras e últimas horas do dia dão-nos vantagens. Mas não é de estranhar que um peixe pegue a nossa amostra com o sol um pouco mais alto.
Seja como for, e uma vez que estamos apeados e no local, é tentar. Pesca-se com as condições que existem, e os resultados serão sempre o somatório de tudo aquilo que de bom e positivo formos capazes de fazer.




Quando temos águas mais paradas, quase tudo aquilo que era válido para águas revoltas fica “caducado” pois as condições são diferentes e por isso obrigam a soluções diferentes. É o tempo das amostras sem pala, é o tempo de sermos discretos. Este é o campo dos jerkbaits, trabalhados à superfície, com tirões secos de ponteira.
O peixe que houver nesta baía estará atento a quaisquer movimentos de pequenos peixes e se desconfia que há algum deles fragilizado, ferido, irá persegui-lo.
Aquilo que nos compete fazer é trabalhar a nossa amostra de forma a provocar um ataque. Amostras discretas, sem pala, bem agitadas por uma cana com nervo, são fatais para estes magníficos predadores.
Quando conseguimos “levantar” do fundo um robalo grande e ele aboca a amostra de superfície, é toda uma explosão de vida, de força, que nos deixa arrepiados.
É isso que nos faz levantar da cama bem cedo.



Vítor Ganchinho



6 Comentários

  1. Venham eles que esta tudo preparado

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    1. Já aí estão.....

      Faltam apenas uns raios de sol para que as pessoas os sintam mais activos, mas já há robalos a comer em cotas baixas. A questão é mesmo a temperatura da água, que ainda está baixa e não ajuda a que tenham mais mobilidade.

      Quando chegar aos 17ºC, vai haver uma explosão de actividade e nessa altura, ...todos vão pescar. Agora, isso está reservado a quem sabe fazer.

      Bom fim de semana.
      Vitor

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  2. Senti-me á pesca com a água quase pela cintura, que saudades... Abraço

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    1. Bom dia João Magalhães!

      A pesca do robalo é um campeonato à parte. Não há robalos grandes oferecidos, temos mesmo de os merecer.

      Assim que as águas aquecerem um pouco, vamos ter muitos, nos sítios do costume.

      Abraço!
      Vitor

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  3. Obrigado por mais uma partilha de conhecimento da sua parte, é valioso para adquirir conhecimentos sobre este nobre peixe que merece muito respeito.

    Muito abrigado 👍

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    1. Bom dia Nuno Costa
      Estou e estarei sempre disponível para poder passar informação a quem dela necessite. Pesco há 53 anos, e isso em determinadas situações traz vantagens acrescidas. Porque já fizemos, já vimos e sabemos o que resulta. E sobretudo o que não resulta.
      Neste momento os robalos já estão bem mais acima, embora ainda não nos pesqueiros demasiado baixos. Mas definitivamente a migração vertical já está a acontecer.

      Abraço
      Vitor

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