A PESCA SPINNING - FUNDAMENTOS BÁSICOS

Quando pescamos, não fazemos mais que aproveitar um conjunto de circunstâncias de mar, de conjunturas, que levam a que o nosso desempenho possa ser positivo. É tão mais positivo quanto mais eficazes conseguirmos ser a capturar peixes. E isso significa …enganá-los.
O termo “aproveitar circunstâncias” tem aqui um sentido muito forte, um carácter decisivo, porque congrega em si a essência da pesca, o tirar partido de...
Tudo o que fazemos na pesca pressupõe tirar vantagem de algo, seja da natural necessidade de comer do peixe, da fome, de o fazermos crer que a amostra ou pedaço de isca onde escondemos o nosso anzol, é algo igual ao que ele encontra no seu dia a dia. Quanto mais técnica aplicarmos, mais próximos estaremos de imitar as situações reais de mar, as venturas e desventuras que fazem a vida normal de um peixe, um ser que vive de conseguir comer todos os dias. Nós damos-lhe algo parecido com aquilo que eles procuram todos os dias: comida.
É verdade que é comida adulterada, algo que tem anzóis, mas a pesca é isso mesmo, pressupõe engano.
No spinning, isso é ainda mais evidente, dado que aquilo que lançamos é um objecto inerte, amorfo, que nas nossas mãos ganha vida, movimento, som e vibrações.
As regras desta modalidade de pesca são algo simples: não fazemos mais que lançar e recolher linha.
Os resultados são consequência das condições em que operamos, variam de acordo com factores tão diversos quanto as condições de temperatura da água, do ar, vento, estado geral do mar em termos de ondulação, visibilidade vertical e horizontal, nutrientes em suspensão, época do ano, hora do dia e também da movimentação de cardumes.




No mesmo local, podemos fazer uma pescaria de arromba, ou não fazer nada, dependendo de estarmos, ou não, à hora certa no local certo. O momento é tudo, e é irrepetível.
A uma dada hora podemos ter dezenas de picadas, e a outra, podemos não conseguir uma. Porque as condições alteram a cada hora que passa.
Sabemos que a oxigenação das águas e a temperatura do ar, e consequentemente a temperatura da primeira capa de água do mar jogam um papel decisivo na presença, ou não, de predadores à superfície. Se a técnica é o spinning, aquilo que fazemos é lançar uma amostra artificial para longe, tentando, com a animação que lhe imprimimos, transformar esse pedaço de plástico em algo vivo, com suficiente interesse para motivar a acção de um predador que se encontre na zona.
Saber ler os detalhes, estar atento ao que possa estar a acontecer é tarefa árdua e implica sentido de pesca, saber fazer e experiência prévia. Acontece que todos nós, até sabermos fazer, ...não sabíamos.
E por isso mesmo, parece-me importante chamar a atenção para alguns dados que nos ajudam a entender e a maximizar as nossas prestações.




Terão os peixes comida em abundância na zona? Que tipo de alimentação procuram? O que os atrai ao local?
Sabem os leitores interpretar os “pequenos nadas” que dizem tudo a quem tem olho de pescador?

Vejam este filme abaixo, e tentem perceber o que atrai os robalos do Sado a zonas baixas, com poucos metros de água:



Clique na imagem para visualizar 
(NOTA: De modo a poder visualizar melhor, deverá no menu - definições/qualidade, selecionar a melhor resolução disponível para o seu equipamento)


Viram? Perceberam as minúsculas sardinhas a fazer “estrelas” na superfície da água?
Pois são estes peixes que atraem os outros, os que nos interessam, os que aproveitam a oportunidade para encher as barrigas até não caber mais nada. 

Quando acontece um fenómeno destes, todos os predadores são forçados a ir atrás, não é algo que se possa ignorar. Isto é comida fácil, boa, nutritiva, com aminoácidos, com gordura, com proteína.
A dificuldade de um robalo capturar uma sardinha de 5 cm de comprimento é zero. Se não o conseguissem fazer, não seriam robalos. E por isso mesmo, quando temos perante nós algo parecido com isto, não temos de fazer mais que tirar partido da situação. Podemos pensar: “então mas perante tanta comida, como atrair os robalos à nossa amostra”?
É aí que entra a habilidade do artista. Sabemos que os predadores escolhem os mais fracos, aqueles que serão os mais fáceis de capturar do cardume. Aquilo que devemos fazer é potenciar uma situação de oportunismo, em que a discriminação negativa da nossa amostra entra em jogo. Na nossa caixa de amostras devemos ter algo parecido, e quanto mais parecido melhor, e fazer com que o objecto que lançamos seja tomado como a sardinha mais fraca do cardume de milhares de outras sardinhas pequenas.
Lançar de longe, fora da zona cinzenta que separa o ataque do predador da sua fuga, é essencial. Há uma distância de segurança, em que o peixe reage normalmente como o faria na sua procura diária de presas, e outra mais curta, em que a dúvida se instala, e faz a decisão oscilar entre picar e encetar a fuga. Mais perto ainda já nem existe a possibilidade de morder a amostra, a fuga é a única opção possível.

Vamos ver casos concretos de pesca a predadores nos próximos dois dias, em que, em situações reais de peixes capturados, vos irei comentar alguns dados relevantes.
Espero que tenham interesse em acompanhar esta sequência de pesca spinning.



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Muito obrigado. Estou a iniciar-me na pesca. Leio todas as suas publicações cheias de conhecimento e sabedora

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    1. Bom dia António Lopes Fico feliz que encontre por aqui alguma informação que lhe possa ser útil. Tem mais de 700 artigos para poder ler, mas se entender que há algum aspecto que necessita de um esclarecimento mais profundo, faça o favor de o referir, e eu, dentro dos meus conhecimentos, irei procurar ajudar.
      Deve partir de um principio base: ninguém sabe tudo, e é da troca de ideias que podemos evoluir. Todos.
      A pesca é um livro que não tem última página...

      Abraço
      Vitor

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