Não sei se têm a ideia do incrível movimento de pessoas e barcos que os chocos de Setúbal motivam nesta época do ano.
O período em questão, uma primavera longa que no caso se estende de Janeiro /Fevereiro até Maio/ Junho, sucede a um outro não menos “trabalhoso”, o das douradas.
Também estas trazem gente de todos os pontos do país, todavia, por força dos desapontadores resultados e das despesas inerentes e sempre certas, a “febre do ouro” passa mais depressa.
A pesca da dourada tem exigências técnicas a que a maioria dos aspirantes a dias de glória não consegue responder. As pessoas estão muito mal equipadas de materiais, e isso numa pesca tão subtil paga-se caro.
Depois de meia dúzia de saídas infrutíferas, as canas ficam em casa, à espera de melhores dias.
E eles, os dias bons, de alegria, chegam sob a forma de um molusco que é hoje um ex-libris da cidade, o choco.
É fácil, não obriga a equipamentos dispendiosos, e a diferença de resultados entre os melhores e piores não é demasiado acentuada. Todos os que vão aos chocos acabam, por força da quantidade de oportunidades, por trazer para casa algo para grelhar. E essa é a grande diferença entre a pesca das douradas, promotora de grades em catadupa, baldes vazios e desilusões, e a pesca dos “choquinhos” setubalenses, bem mais generosos, pagando com a vida a sua tentativa de se alimentarem e protegerem as suas posturas.
São dezenas de barcos, e “coisas” parecidas com barcos, de domingo a domingo, sem interrupções, sem desfalecimentos, todos os dias da semana.
Estas embarcações saem ao mar aos primeiros raios de sol, e entram normalmente antes do meio da tarde. Gente cansada mas feliz.
Não deixa de ser impressionante que haja motivo para que saiam. Se as pessoas insistem desta forma convicta, algo haverá que justifique tamanho empenho.
A razão só pode ser uma: há chocos em Setúbal. Muitos.
Por força de fazer as minhas saídas de jigging aos pargos, aos robalos, a partir do mesmo ponto de saída, e às mesmas horas, acabo por perceber a azáfama que vai dentro do rio.
É impressionante a decisão, a fé, a ânsia que as pessoas colocam na sua vontade de ligar os motores e largar amarras. Saem com um ímpeto e convicção que poderiam pressupor uma longa viagem transatlântica, mas... não, nem tanto. A viagem é curta.
Irão ficar a dois minutos de distância do Clube Naval Setubalense, a meio do rio, todos juntos, aos molhos, nos mesmos sítios onde ontem ficaram, e onde todos os dias todos os outros ficam.
Não há spots especiais, não há grandes truques que não a incrível profissão de fé que dedicam às coloridas toneiras. Encontram-lhes qualidades insuspeitas, dotes mágicos que não seriam pressupostos num pedaço de plástico, metal e pano colorido.
Muitos pescadores de chocos serão capazes de jurar que as suas toneiras têm capacidades sobrenaturais. Uma delas, o mais recente ícone da pesca ao choco, foi a Tsuriken Egista KWOE, deu baldes e baldes e chocos a quem a conseguiu obter.
Trata-se de uma toneira japonesa que curiosamente caiu em graça nesta zona e que motivou compras muito para além do normal. Posso assegurar-vos que houve quem comprasse estas peças na GO Fishing Portugal, às centenas, para as voltar a vender, por duas vezes mais que o seu preço normal. É uma perfeita loucura aquilo que se paga por uma questão de... fé.
É previsível qual o tipo de palhacinho que irá funcionar porque há um padrão de água dentro do rio relativamente constante. A quantidade de sedimentos é a de sempre, não tem havido trabalhos de dragagens, e as marés cumprem os seus ciclos de sempre. Em anos com poucas chuvas, como este, a visibilidade não desce demasiado, e por isso, os modelos e cores que melhor resultam são os contrastes mais típicos de águas não demasiado profundas. A 10 metros de profundidade os vermelhos e laranjas são ainda visíveis, e por isso, o espectro de cores é mais alargado. À medida que os pescadores avançam para zonas mais profundas, eventualmente à saída da barra, na casa dos 20 a 30 metros, os azuis e verdes passam a impor-se. As cotas a que se pescam os chocos não fogem muito disto, 10 a 30 metros. Em casos extremos, de menor ou superior profundidade, as opções poderão ser diferentes, mas para aquilo que é o padrão regular, a toneira que podem ver abaixo, a HARIMITSU JYU J05 Laranja Tropical será porventura a mais equilibrada a utilizar.
A GO Fishing tem ainda algumas peças, e irá tê-la disponível em grandes quantidades dentro de poucas semanas. Esta toneira tem ainda os flancos brilhantes, luminescentes, para quem gosta de tentar a pesca em momentos de baixa luminosidade.
Abaixo dos 25 a 30 metros de fundo, as cores mais visíveis são o verde e o azul, sendo este o último a desaparecer. Por isso, para quem aposta em pescar mais fundo, a solução pode e deve ser esta em tons azuis, a luminescente Sumizoku GOL size 3.5 G04 AQUAMARINE:
Depois de tudo, apenas há que adaptar a cor da peça com que pescamos à profundidade a que estamos. O resto, os chocos fazem, eles são naturalmente agressivos, e aproveitam as oportunidades de capturar aquilo que lhes parece ser comida fácil e boa. Não fora isso e muitos daqueles que trazem o seu baldinho de chocos seguramente iriam retornar a casa de mãos a abanar.
As embarcações pescam de tal forma juntas, com distâncias que por vezes não excedem os 5 metros, que não é fácil aos grandes especialistas de chocos esconderem o seu jogo, a forma como animam os seus palhacinhos. Todos sabem tudo sobre tudo e se há diferenças, elas devem-se sobretudo, por um lado à maior experiência de alguns, e à enorme falta de jeito de muitos.
Não é de crer que todas as pessoas sejam dotadas de mãos de igual forma, mas em termos de montagens, equipamentos, as diferenças são mínimas.
Atendendo ao grau de satisfação à chegada, e ao estado dos barcos, pintados de preto, ainda vamos ter pesca ao choco por muitos mais dias.
Os barcos dos chocos são facilmente reconhecidos na sua... “especialização”. |
Ver o esforço que é feito, não em despesas de combustível ou de material de pesca, (esse é por sinal bem rudimentar comparado com aquilo que se faz no país que dá cartas na pesca do choco, o Japão) mas sim em termos de disponibilidade de horas, de entusiasmo, de expectativas, não deixa de ser interessante. Estas pessoas preparam a safra do choco durante meses, esperam os primeiros sinais para começarem a “acampar” à porta do Clube Naval Setubalense, a horas a que pessoas com juízo, com família, deveriam estar em casa. Mas o chamamento da “aventura” é mais forte.
De barco, de kayak, de banheira, o importante é ir.
Ao fundo, a habitual romaria de barcos dos pescadores de chocos setubalenses à saída da barra. |
Boas pescas!
Vítor Ganchinho