SPINNING: A PESCA DA ANCHOVA

Quando me perguntam se eu prefiro amostras com pala (a usual bavette), ou sem pala, não hesito um segundo: sem pala dá muito mais peixe.
O ponto de não retorno é conseguido quando somos capazes de trabalhar convenientemente as amostras stickbaits com pequenos toques de pulso.
A técnica é conhecida, não é nada de novo, mas apenas um número reduzido de pescadores a sabe pôr em prática.
Os resultados são assustadores, pela perspectiva do peixe. Não conseguem resistir a uma presa silenciosa, que passa a uma determinada velocidade, com oscilações laterais, com pausas e arranques repentinos. Para um predador, trata-se tão simplesmente de um peixinho desorientado, perdido, com natação irregular provocada por qualquer problema físico. Isso é tudo o que consta do cardápio de um robalo comedor de peixe. É exactamente isso que procuram, é essa a sua função no meio líquido, a de limpar os mais fracos.
Um predador, qualquer que seja, tem uma capacidade de arranque, de aceleração em espaços curtos, que o tornam imbatível quando se trata de abocar uma presa ferida.
O difícil é provocar esse ataque, fazer acontecer esse clique, dar inicio a um processo predatório que culmina num engolir de amostra e nos provoca uma tremenda descarga de adrenalina.
Poderíamos estar a falar de robalos, de atuns, de badejos ou de …anchovas. Qualquer um deles tem um leque de habilidades natatórias que o tornam altamente eficaz em situações de perseguição e captura de presas debilitadas.


Fiquei muito feliz por fazer esta foto. Porque se trata de um peixe algo raro nas águas onde me movimento, uma anchova (Pomatomus saltatrix) e por isso não tenho a oportunidade de fazer muitas.


As amostras que utilizo para estas situações são normalmente productos de marcas japonesas conceituadas, a DUO, a Daiwa, a SMITH, ou a Shimano, marcas que me garantem qualidade. Não aceito que uma caixa de amostras chinesas feitas a imitar algo parecido com uma amostra boa, me estraguem um dia de pesca.
Afinal de contas, as oportunidades que temos de conseguir toques não são assim tantas que possamos dispensar uma parte delas. Quando saio a pescar, quero fazê-lo com segurança, confiante de que a parte que depende de mim, e falo do trabalho em terra, está feita. Material bom, bem estudado, deixam-me a possibilidade de me concentrar naquilo que é importante: a pesca, e a minha capacidade técnica de vencer as dificuldades, sempre muitas. Lutar contra os peixes e contra as amostras é trabalho demasiado para uma mesma manhã.
Na circunstância, neste dia lancei apenas um tipo de amostra, a Daiwa Morethan Switch Hitter, na versão maior, em 9cm. Mas tenho a certeza de que poderia obter melhores resultados com a mais curta, a mesma versão mas em 6.5 cm, mesmo que apenas com 14gr, mas não a tinha comigo na altura. O “plop” abafado, discreto, que fazem ao cair na água é tremendamente atractivo para os predadores, porque é o mesmo som de um pequeno peixe que salta fora de água por alguma razão, e que por isso mesmo denunciou a sua presença. A partir desse momento, tem todos os olhos e demais sentidos dos peixes com dentes focados em si...

O producto é este:



A minha opção por amostras sem pala deve-se ao facto de “escaldarem” muito menos o pesqueiro. É possível conseguir muito mais picadas no mesmo local, com uma amostra lisa, em detrimento de uma outra com pala. Esta, vibra muito e dá-se a entender longe, por vezes demasiado longe, e isso desperta a atenção dos predadores, mas também os fatiga, faz com que corram uma e outra vez ao lado da amostra, até perderem o interesse por completo. Aquilo que pretendemos não é que se cansem a correr atrás, é que à primeira oportunidade mordam.
Chamamos a esta corrida o “levantar” o peixe, o despertar a sua atenção, e é bom que isso induza a um ataque imediato. Quando a situação se repete, o peixe fica desconfiado, e cada vez estará menos disponível para tomar a iniciativa de lançar um ataque.
Nestes casos, a redução do tamanho das amostras, e a sua maior discrição jogam sempre a nosso favor. Fiquem seguros de que os peixes detectam facilmente aquilo que passa por eles no meio líquido.
Eles estão mais que treinados a fazer isso, de resto vivem de o fazer todos os dias.


A minha cana Daiwa Morethan de 3 metros, uma bomba para fazer spinning. Lança amostras leves a muitas dezenas de metros. Em condições óptimas de vento, fazer 70 metros é trivial.


A maior parte das pessoas de Portugal continental não pescou nunca uma anchova. É muito comum na Madeira e nos Açores e ocupa um nicho predatório que por cá está reservado ao robalo. Nas ilhas não há robalos, pelo que as honras da casa são feitas pelas anchovas.
Trata-se de um peixe muito interessante, com características que o tornam super excitante para a pesca desportiva.
Desde logo porque tem dentes afiados e sabe utilizá-los. A sua agressividade natural é um factor que joga a nosso favor.
Os ingleses chamam-lhe “bluefish” num baptizado algo forçado, já que não é assim tão azul. Encontro-lhe muito mais tons de verde que de azul, mas eles saberão.
A sua boca orientada para a captura de pequenos peixes é altamente eficaz. Pesquei ao mergulho uma na Ilha Terceira com 12.5 kgs, perto de 1 metro de comprimento, que me fez lembrar que não é de bom tom meter os dedos dentro da sua boca. São lâminas autênticas! As nossas amostras sofrem com os seus ataques, as marcas ficam sempre lá, gravadas para sempre.
Nas águas continentais são presença mais regular nas águas a sul, no Algarve. Sobem pela costa na sua procura incessante de comida. A reprodução ocorre durante a Primavera, aos 2 anos de idade.
As fêmeas podem desovar até 2 milhões de ovos. Os ovos eclodem de 44 a 48 horas após a fertilização, mas esta é uma característica que depende da temperatura da água. E no que diz respeito às diferenças externas da espécie, quando comparamos machos e fêmeas, vale evidenciar o seguinte:
Embora não tenha sido possível notar o dimorfismo sexual da espécie, especialistas registraram que o macho amadurece mais cedo. As águas quentes e limpas são da sua preferência e despoletam o instinto reproductivo.
Já as vi atacar cardumes de tainhas, e digo-vos que é um espectáculo aterrador: os dentes afiados cortam de uma só dentada tainhas de respeitável tamanho... ao meio. Também atacam lulas, e sabe-se que procuram camarões pelo fundo, como complemento de dieta.
Sei que se trata de um peixe pouco amado, pouco estimado, a começar pelos seus pares concorrentes, o robalo, o lírio, etc. De comportamento extremamente agressivo, a anchova não faz amigos. 
Nas suas migrações ao longo da costa, atacam tudo o que mexe, e nem sempre com o objectivo de comer. Matam muito mais peixe que o necessário à sua alimentação. Pode acontecer que engulam parte de um peixe, regurgitem, e voltem a comer.
Para as pescar, eu tenho a certeza de que a técnica de spinning é a que nos pode trazer melhores resultados. Canas com uma acção de 15 a 25 libras, se houver anchovas grandes na zona, carreto 4000 e linha multifilamento PE 2. Aplicar um fluorocarbono de boa qualidade ajuda, e se possível, entre 0.33 a 0.40mm. A anchova defende-se bem, vende cara a vida, e se é verdade que as mais pequenas são mais comuns, pode sempre aparecer uma das grandes, acima de 10 kgs.
A técnica em si é a mesma que utilizamos para a pesca do robalo, lançamentos longos, com uma recuperação irregular, entrecortada de pequenas pausas. Funciona sempre.
Chamo a atenção para o facto deste peixe ter dentes muito cortantes, e ser perigoso caso consiga morder dedos...

A anchova não é muito consumida entre nós, pela sua escassez. Aquilo a que chamamos “anchova” é algo diferente, que não passa de um pequeno peixe que vive à sobra da designação do “Pomatomus saltratix”, mas sem a sua categoria culinária.


Esta é a anchova que conhecemos das conservas, a “Engraulis encrasicolus”, que é um minúsculo peixe, muito comum e com diversas subespécies.


Tenho a certeza de que já todos vós, de uma ou outra forma, consumiram este tipo de peixe.
É muito frequente que se utilize como aperitivo, e muitos restaurantes adoptaram-no como um dos pratos de de entrada, todos os dias.
Talvez o conheçam sob outra forma, vejam as fotos abaixo.




Lembrem-se, caso consigam uma anchova, não a deitem fora, é um dos bons peixes que podemos grelhar em nossa casa.
Carne firme e branca, de quem passa a vida a apoquentar as sardinhas da costa. E os outros peixes todos...



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Estou pronto ... Abraço

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    Respostas
    1. Bom dia João Magalhães
      Quem também fez uma foi o Gustavo Garcia, que estava no barco comigo, e podia ter uma outra, mas eu estava a desembaraçar uma anchova e tinha o xalavar ocupado, ..e foi-se embora. Mas neste dia entraram umas 4 ou 5, e já antes disso tínhamos conseguido mais algumas. Continuam por lá, à espera de amostras....
      Abraço
      Vitor

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