Com regularidade, confirmo na minha caixa de amostras a disponibilidade de um modelo muito particular de jigs: as agulhas. Desaparecem-me!!
Não que o vento os leve, pois são feitos em chumbo. Mas a verdade é que se “evaporam”... do raio da caixa.
Bem sei que há sempre situações de perda, (ou porque ficam agarrados ao fundo, a uma pedra, uma rede, ou porque os amigos cobiçam os meus jigs, gostam deles, cantam-me canções de embalar e levam-nos, ou, o que vai dar ao mesmo, um peixe grande consegue ocasionalmente roubar-me um deles…), entendo por bem confirmar a sua existência em tamanhos, cores e pesos de acordo com aquilo que entendo ser o ideal para uma saída de pesca. Trata-se de um jig que utilizo sempre que as condições de tempo e mar não são as melhores, e por isso mesmo trato de garantir que terei diversos pesos, cores e até diversos tipos de montagens, com assistes simples, duplos, ou uma mistura de assiste e fateixa tripla. Por esta ou aquela razão, posso no local achar conveniente este modelo ou aquele. É a pesca, depois de iniciada, que nos dá as pistas certas, ...se as soubermos ler.
As agulhas, jigs estreitos e compridos, fazem um trabalho que não pode ser feito por mais nenhum tipo de jig. Quando precisamos de uma peça suficientemente rápida a descer, não vale a pena olhar para formatos largos e achatados, porque esses demoram uma eternidade a chegar lá abaixo. É dos “fininhos” que necessitamos, quando somos confrontados com situações de mar difíceis, com muita corrente, ou vento forte, que desloca o barco muito depressa e nos impede de ter verticalidade.
Jigs compridos e estreitos. Vamos ver hoje a sua aplicação, e tecer algumas considerações acerca deste tipo de producto tão útil.
Os nossos pargos amam-nos. Tanto que querem levá-los com eles... Aqui um modelo Little Jack, em 40 gramas. A GO Fishing Portugal tem uma coleção de jigs desta marca, de 30 a 80 gramas, em vários formatos e cores. |
Começamos por ter de saber como devemos apresentá-los aos peixes. Nem sempre é igual, e por isso vos chamo à atenção de alguns detalhes.
Por exemplo, como armar estes jigs?
A equação não é assim tão fácil de resolver. Devemos privilegiar o ataque do peixe à cabeça, ou, …pelo contrário, à cauda? Como adivinhar o que é melhor para esse dia?
Caso coloquemos assistes, será de pensar em colocar um assiste simples acima e um assiste duplo na cauda? Ou um triplo? Ou um duplo acima e um triplo na base?
A resposta é-nos dada pelo peixe.
Se temos dias em que aquilo que funciona bem é o, (ou os), anzóis de cabeça, porque o peixe está muito activo e ataca com força a amostra, outros dias não é disso que se trata, e temos apenas alguns ataques tímidos, normalmente resultando em ferragens atrasadas, ou seja, ao assiste de cauda.
Muitas vezes só mesmo ao chegarmos ao local de pesca conseguimos entender se o peixe está colado ao fundo, ou, (por exemplo no caso de haver aguagem e força de fundo, leia-se levantamento de areias), se o peixe foi obrigado a subir alguns metros. Isso, como devem calcular faz muita diferença, porque o ângulo de ataque é outro, a forma como morde é outra.
Um peixe pode arrancar do fundo, perseguir o jig, segui-lo alguns metros sem tomar a decisão de atacar, e morder já a meia água, quando nada o faria supor.
A isso não será alheia a situação da estabilização da bexiga natatória, (órgão de compensação da flutuabilidade ) e do tempo que ela leva a estabilizar a uma diferente profundidade.
Quando começam a subir, e sentem os efeitos da pressão, são obrigados a decidir: sim ou não.
Quando observamos filmes feitos a peixes que perseguem jigs, percebemos o dilema: eles sentem que é ali ou perdem a “presa”.
Muitas vezes fazem um último esforço e mordem. Normalmente esses ataques são feitos de baixo para cima, e por isso, a dentada é dada de forma a engolir o armamento da cauda. Mas numa situação de impossibilidade de permanência no fundo, por exemplo quando há uma grande quantidade de algas, suspensão ou mesmo areia solta, em casos de tempestades mais fortes, então a caça é feita bem mais acima e isso muda muita coisa. Pode até acontecer que a maior parte dos ataques sejam desferidos na queda, quando nós estamos em pior posição para os detectar. Nesses casos, a atenção e concentração na velocidade de desenrolamento da linha é fundamental. Eu consigo muitos peixes na queda, e as pessoas que estão à minha volta perguntam-me que sinais foram dados, já que não se aperceberam de nada.
Posso dizer-vos que, para além do foco estar todo na velocidade de queda da linha, e deve ser constante, (se há uma intermitência, ...há mouros na costa!), também me diz algo o facto de a cor de linha que marquei anteriormente ter de esticar até ao fim...
Se acontece que fica o movimento fica a meio…se a cor de referência não é cumprida e o jig pára antes, temos outra vez os mouros na costa…
E quando utilizar fateixas triplas?
Se é verdade que para peixes miúdos, até aos 2 a 3 quilos, a fateixa resulta muito bem, a partir daí, eu sinto-me bem mais confortável a pescar com anzóis simples. Não tenho qualquer hesitação em dizer isto: para tudo o que sejam mordidas de peixes com peso, os assistes dão-nos uma segurança acrescida. Deixemos pois os triplos apenas para a arraia miúda e aí sim, longa vida às fateixas, que prendem como mais nada prende.
Pode acontecer que um peixe pequeno não fique preso num assiste simples. Por vezes a investida é curta de recursos, falta peso, e o peixe não crava devidamente, nem nós somos suficientemente rápidos para os ferrar.
Mas um peixe grande, geralmente, quando vai ao jig é para dar pancada, e fica. E aí, queremos sentir segurança, queremos saber que o peixe que esperámos horas e horas vai mesmo ver a luz do dia. Os assistes dão-nos isso.
Neste caso, ter um anzol simples, ou dois, cravados a sério leva-nos para uma outra dimensão do problema: o fio aguenta ou não? Se chegamos a essa fase de poder trabalhar o peixe, então já avançámos bastante na dura batalha de trazer à superfície um dos grandes.
Muitas vezes temos o peixe em baixo, mas a deslocação do barco é tão rápida que não nos dá tempo a fazer chegar lá o jig. Ficamos com aquilo que na gíria de chama de “linha espiada”.
A marca Little Jack tem alguns modelos que são perfeitos para este tipo de trabalho, quando é necessário algo que desça vertiginosamente, até ao nível do peixe.
Pela parte que me toca, acabo sempre por reforçar estes jig com mais um assiste duplo na cauda, ou mesmo um triplo, quando acho que o tamanho do peixe disponível não é demasiado grande.
Vejam abaixo alguns modelos que utilizo correntemente, na pesca aos robalos e aos pargos. Jigs mais largos em situações em que temos menos corrente, ou durante o período do estofo da maré, jigs mais compridos e estreitos quando entendemos que já estamos a pedir demasiado aos primeiros e já só conseguimos pescar com os segundos. Vejam as possibilidades que existem:
As cores naturais são sempre boas opções, e dão garantia de eficácia... |
Detalhe de algumas das peças que compõem a minha caixa de amostras. |
Com 80 gramas, pescar a 100 metros não é difícil, com este formato. |
Alguns tipos de fundos são mais agressivos que outros. É bom pensarmos que devemos proteger os nossos jigs de prisões que, na sua maior parte, podem ser fatais.
Uma forma de o fazermos é colocar apenas armamento num dos lados, na circunstância à cabeça do jig, a parte de cima, o lado que tem acoplado a nossa linha de fluorocarbono.
Neste caso, a tendência para arrochar é francamente menor e não deixa de pescar por isso.
Bem pior é perder jigs consecutivamente. Também a aplicação de triplos apenas deve ser feita em zonas onde o risco de prisão seja menor. Um olhar pela sonda pode dar-nos pistas.
Também é verdade que a experiência anterior conta, que sabermos que a pedra não tem “dentes” ajuda bastante, mas ainda assim, nunca estamos livres de eventualmente poder ter sido abandonado um troço de rede velha, um cabo que é cortado e desce ao fundo, enfim, coisas dos nossos pescadores profissionais menos atentos aos problemas e consequências da limpeza dos oceanos.
Bem pior é ter um robalão de 8 quilos na ponta da linha e no último instante, ….vê-lo rebentar a baixada. Ninguém diz “ ora bolas”...
Vítor Ganchinho