Começam por equipamentos quase rudimentares, pouco adaptados, que qualquer adulto rejeitaria de imediato. Por, na sua maioria, não serem adequados à função.
Um jovem pendura de uma cana tudo aquilo que acredita poder ser útil para atingir o fim desejado: uma captura. É nisso, e só nisso, que foca a sua atenção máxima.
Eles pescam Light Rock Fishing com canas ditas… “cana para tudo”…porque só têm uma. Ou duas, muito ruins, canas baratas de supermercado chinês, que basicamente são tubos de plástico.
As linhas, normalmente adquiridas para peixes grandes, (a ambição e falta de conhecimento a isso obriga) são correntemente demasiado grossas, e dificultam as manobras, reduzem as distâncias de lançamento, obrigam a amostras mais pesadas.
Tudo se torna complicado. Canas mais duras, ou extra-moles, sem acção, linhas demasiado grossas, material com manutenção menos cuidada. Nada ajuda.
Ser jovem é difícil, e ainda mais quando se fala em pesca. O que pode motivar os pais a adquirir melhor material, os peixes grandes que brilham a uma refeição, estão em lugares difíceis e obrigam a condições de pesca às quais a boa vontade de uma criança não chega.
Porque os recursos são escassos e propositadamente limitados pelos progenitores, (miúdos partem e estragam, logo, ...bom para quê?!), eles fazem com o coração aquilo que não conseguem fazer com as mãos.
Um sargo feito com um jig All BLue de 3 gr. Neste caso, se o jig fosse maior, traria problemas porventura insolúveis, pelo que podemos dizer que “pequeno sim, bem melhor”. Ver na Loja |
Mas um jovem sente que um dia será adulto, e terá a possibilidade de vir a adquirir os topos de gama. O tempo está do seu lado, tem toda a vida à frente, e sem dúvida poderá um dia, por opção e vontade própria, vir a ter material de melhor qualidade.
No entanto, não o sabe mas dificilmente se irá divertir tanto quanto aquilo que o faz hoje, com canas, carretos e linhas de …filmes de terror.
Se é verdade que os adultos poderão sempre fazer reparos, eventualmente apontar um ou outro detalhe técnico, (na foto acima podem ver que o agrafe é perfeitamente dispensável, apenas complica e faz pescar menos….), ainda assim aquilo que é feito pelas mãos deles serve-lhes e funciona “porque sim”. Nada como acreditar naquilo que se faz, e eles acreditam que sabem, e que a sua técnica é mesmo infalível.
Quando os resultados ajudam, quando se passa para o outro lado do zero, mesmo que seja um pequeno peixe apenas, a crença instala-se e a dado momento já se pensa que todos os outros estão errados…
Um pequeno alcorraz atrevido, que se lançou a um jig de não mais de 5gr. |
O entusiasmo que uma criança tem a pescar não pode ser avaliado, não tem preço. Dentro daquele peito magrinho bate um coração a mil, que explode de emoção quando consegue finalmente enganar um peixe.
Que para ele é tudo, e nunca será demasiado pequeno.
A pesca tem isso de milagroso: a recompensa obtida por enormes sacrifícios, por vezes quase desumanos, não tem de ser um peixe grande. Basta um pequeno peixe de alguns centímetros e já sobra peixe.
Se mexe, se rouba as iscas, se salta nas mãos, é um desafio.
O comprimento do peixe aumenta na mesma proporção das dificuldades vencidas. Se está frio, se está vento, se os pais apenas deram duas ou três horas para ele ir até ao pontão, …um sargo de meio palmo pode afinal ser uma enorme corvina.
E os sargos, que são atrevidos a mordiscar pequenas peças?! O peso certo oscila entre os 3 e os 5 gramas. |
Para quem vai viajar e pretende distrair-se um pouco, nada como ter à mão uma ligeira cana de LRF, uma cana travel com cerca de 2 metros, equipada com um carreto 1500 com bobine a linha multifilamento PE 0.04 a 0.6. Um chicote de nylon 0.20 a 0.25 mm completa o conjunto.
Em qualquer pontão, cais, paredão virado para o mar, é possível fazer peixes como aqueles que podem ver nas fotos, e que necessariamente serão restituídos à água.
Bem me recordo de ser miúdo e estar a pescar na baía de Luanda, num pontão onde havia certamente mais umas dezenas largas de pescadores, mas onde eu me sentia sozinho com os meus peixes minúsculos. Quando finalmente conseguia um, vinha um pequeno tubarão de 60 cm e levava-o, deixando-me desolado.
Sei bem o que sentem hoje os jovens que se iniciam na pesca, quando têm o número de anzóis contados pelos dedos de uma mão. Perder equipamento, quando se tem tão pouco, é ver escorrer a areia por entre os dedos. Mas a fé de que a seguir vai finalmente conseguir-se algo para mostrar aos pais acaba por vencer. Mais uns quantos nós cegos e o “atleta” volta à luta com as “missangas”, os pequenos peixes que roubam iscas a valer.
Não é preciso mais. Um miúdo apenas precisa que algo mexa a ponta da cana. O peixe que é acaba por ser indiferente. |
Cabe aos adultos ter o discernimento de conseguir lançar pontes onde eles, os miúdos, só veem abismos profundos e dificuldades. Por vezes, uma pequena ajuda é tudo para um corpo franzino que quer mas não pode dar mais.
Nestas idades, a ajuda de um adulto pode ser decisiva, no sentido de dar o enquadramento certo, tentar ajudar a entender o que se está a fazer, e, por vezes, limitar as ambições de quem não se importa de correr riscos para conseguir algo.
Ter a noção da totalidade dos riscos desta actividade é algo que não se pode pedir a um imberbe pescador. Falta-lhes experiência e maturidade, algo que um dia terão a rodos.
A pesca é um passatempo que para alguns deles é levado muito a sério. Pela excitação que vivem a cada saída, pelo que isso representa de estar fora de quatro paredes, fora de ambientes fechados e restritivos, pela sensação de liberdade e autonomia que confere, longe dos écrans, a pesca pode facilmente tornar-se muito mais que um “hobby”.
Cabe aos pais refrear os impulsos, fazer ver que aquilo de que gosta, a pesca, pode ser importante, a seguir a todas as outras coisas mais importantes.
Mas se a escola, e as relações com outras pessoas estão bem, então sim, porque não? Que inconveniente pode a pesca trazer à vida de um miúdo?
Um pequeno caboz morto de amores por um peixe metálico de 3 gr, “não editado”, ou seja, um jig ALL Blue conforme vem de fábrica. Eu faria algumas alterações a esta montagem... |
Não tenho dúvidas de que aos olhos de uma criança, os peixes que podem ver neste artigo, (todas as fotos sem excepção são da autoria de Luís D`Almeida), são GRANDES!
Nós adultos temos tendência a valorizar as capturas pelo seu mérito desportivo, pelo seu tamanho, e até pela sua excelência na cozinha.
Não poderíamos estar mais errados. Para quem pesca estas “miudezas”, aquilo que conta é a técnica, a rapidez de reflexos, a sua dificuldade de captura, as emoções que provocam.
São dois mundos paralelos que não chegam a tocar-se. A pesca dos adultos, carregada de estereótipos e de ideias pré-concebidas, de busca incessante da qualidade, quase nada tem a ver com esta, que, a meu ver, é a pesca mais pura que se pode praticar.
A pesca pela pesca, sem preocupações de impressionar ninguém, sem querer tirar dela mais que aquilo que um pequeno peixe pode dar, é a pesca verdadeiramente pura.
O LRF, Light Rock Fishing, é uma técnica que assenta no pressuposto de que se assume a pesca pela diversão, pelo contacto com a natureza, pela companhia dos amigos, e pela partilha de informação. Há peixe para LRF em todo o lado! Quando se baixa na escala dos tamanhos e se opta por equipamentos tão ligeiros, tudo passa a ser considerado um desafio entusiasmante. Um pequeno robalo de 1 kg torna-se um monstro marinho que obriga a mil cuidados. Os equipamentos são de tal forma ligeiros e finos (que não frágeis …) que ao menor aperto fazem acreditar termos ferrado um gigante dos mares. Eu, sempre que posso, pesco com estes equipamentos e francamente divirto-me muito mais que a fazer aquilo que se designa de “pescar a sério”, com material mais pesado.
Quando tenho a possibilidade de ir ao mar sem levar pessoas interessadas em trazer peixe para casa, ou seja, quando consigo pescar apenas por pescar, sem objectivos pré-definidos que quase sempre me obrigam a fazer uma pesca mais dirigida, ao pargo, ao robalo, se quiserem menos divertida, passo dias incríveis a enganar os peixes com vinis, ou com minúsculos jigs. E para mim, um dia desses é sempre um dia de rara felicidade.
Ter nas mãos uma cana japonesa Sram de 2.05 metros com um peso de 55 gramas é um luxo! Trabalhar peixes com uma cana que tem de acção a exiguidade de 0.5- 3.0 gramas, é algo de indescritível, pela sua ligeireza e sensibilidade.
E é aí que a pesca faz sentido, é esse o momento em que nos sentimos estar a disfrutar de um privilégio ao alcance de poucos. Na nossa costa poucos locais não terão centenas de peixes disponíveis para serem pescados com a técnica LRF.
Isso é um garante de diversão para qualquer um de nós. Por isso tenho vindo a insistir na divulgação da modalidade, e por isso mesmo faço cursos de pesca LRF sempre que encontro pessoas verdadeiramente interessadas em aprender.
Este já é um peixão! Um sargo destes já dobra a cana e faz tocar todas as campainhas de alarme. Não interessa se tem apenas 250 gramas, aquilo que conta é o lance, o que foi feito para o conseguir. |
Em termos técnicos, pescar LRF é algo de espantoso. Obriga a pessoa que o pratica a desenvolver técnicas muito apuradas, no sentido de saber calcular a resistência dos materiais, a saber aquilo que pode pedir a linhas invariavelmente muito finas, e sobretudo a ter aquilo que designo de “boas mãos”.
A reacção certa no momento certo é algo que rende dividendos. Para isso, o pescador deve ter a consciência das limitações que os seus equipamentos lhe impõem, e saber trabalhar com eles.
Nos meus cursos, nunca me canso de procurar situações limite, em que a pessoa que sai comigo ferra algo que excede um pouco os limites de “catálogo” dos materiais que tem nas mãos.
Uma dourada que se deixou tentar por um jig de 7 gramas, um robalo de 2 kgs que puxa linha como um comboio, (mas que no fim vai para a caixa), um atum sarrajão que se atreve a morder um vinil e dá uma luta tremenda. Por vezes, e em resultado de algumas limitações técnicas que a pessoa pode ter, prefiro passar algum tempo a trabalhar os gestos, a destreza, com peixes chamemos-lhes “menos nobres” e só então passo para os nossos adorados pargos, bicas, etc. Em duas a três saídas de pesca a pessoa fica apta a poder pescar autonomamente, a saber fazer as montagens, a conseguir escolher com propriedade, com conhecimento, os materiais que vai utilizar.
Não tem de ser grande para entusiasmar um jovem pescador. Desde que restituído à água em boas condições, este peixe voltará à sua vida normal em apenas algumas horas. |
Quando se trata de adultos, a capacidade financeira é outra e por isso mesmo o acesso a equipamentos de superior qualidade permite resultados de outro nível. Mas o entusiasmo é o mesmo, quem começa a fazer LRF apaixona-se muito rapidamente e a partir daí, o céu é o limite. Os peixes, à medida que a técnica de mãos melhora, vão crescendo de tamanho, e por fim fazem-se capturas deveras interessantes.
Vejam no YouTube filmes com duas pessoas que muito prezo: António Pradillo e Raúl Gil Durá, dos melhores pescadores europeus da actualidade.
Eles fazem o favor de ser meus amigos, partilhamos experiências e pescamos juntos. Acreditem que vê-los pescar é um regalo para os olhos, pela sua tremenda capacidade técnica e pelo facto de fazerem parecer simples algo que definitivamente não o pode ser. Eles pescam com linhas de tal forma finas que a cada instante parecem ir inevitavelmente romper.
Mas afinal, não….
Se este artigo tem um direcionamento evidente para os jovens pescadores que estão hoje a iniciar as suas lides de pesca, não queria deixar passar a oportunidade para referir que a técnica LRF vai muito mais além. É uma especialidade emergente, praticada por milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que em muitos casos, é a única técnica dessas pessoas. Em cidades onde existem rios e braços de mar, a exemplo da chamada pesca “Street Fishing”, praticada de dia e de noite, à luz dos candeeiros das avenidas, tem vindo a ganhar adeptos a cada dia. E o LRF está aí, à disposição de todos.
Quando se pesca tão ligeiro, abre-se um mundo novo, o dos peixes de pequeno tamanho que atacam os jigs como os outros, os peixes grandes, os que atacam os jigs grandes... |
Agradeço ao Luis D`Almeida ter partilhado connosco algumas das suas capturas de um dia de pesca ao seu estilo, e estou certo de que este será o impulso que muita gente pode necessitar para se atrever a avançar. O LRF é divertido!
Vítor Ganchinho
Gostei do "documentário" 😉bom mesmo! Faço spinning, e por vezes uso jigs de 7/10 gr.... E já obtive bons resultados... Também já usei com mais gramagem e também tive bom resultado, também tive "maus" resultados com ambas as gramagens.. Mas está muito bem explicito, e continue sempre com estas "explicações" 😉👍
ResponderEliminarBom dia
EliminarO LRF é algo que surge como resposta à desmotivação provocada pela pesca tradicional, a dita pesca pica-pica, um chumbo com dois anzois por cima. As pessoas estão saturadas dos maus resultados que sistematicamente obtêm com esse tipo de técnica.
Aquilo que acontece é que, ao apostar em equipamentos muito mais ligeiros, mais leves, mais sensíveis, passam a estar disponíveis peixes que até aí estavam vedados. E porque há milhões de peixes desses, (a costa portuguesa tem muito peixe, ainda assim) as oportunidades de pescar efectivamente, de estar consecutivamente em acção, são muitas.
O passo seguinte é ser capaz de fazer com os equipamentos de LRF, extremamente ligeiros, aquilo que se faria com outros materiais mais pesados. Isso sim, é um desafio. EU estou nessa fase, em que tento pescar com equipamentos ligeiros, peixes grandes. E tenho conseguido! Pargos, robalos, douradas, etc, com jigs de 3 gr, linhas superfinas, etc.
Por isso os temos em stock na GO Fishing Portugal, na loja de Almada. De resto, existe tudo o que é necessário para o efeito. E eu posso dar uma ajuda a selecionar os materiais, porque tenho anos de experiência neste tipo de pesca. Basta que alguém marque o dia e hora e eu estou lá.
Depois de experimentar, a maior parte das pessoas já nem quer fazer outras pescas. É diversão pura! É a pesca pela pesca, sem preocupações que não sejam passar um dia bom.
Abraço
Vitor