OS ANZÓIS ASSISTES - SUA COLOCAÇÃO NO JIG - CAP. II

Canas duras, se ferram melhor, se oferecem mais resistência aquando do impacto inicial e ajudam a espetar o anzol, são também “paus” que funcionam mal, que absorvem menos bem a pressão que se segue à picada do pargo no nosso jig. Dão-nos menos tempo. O peixe assim que morde tem de imediato um ponto de apoio para poder aplicar o seu físico. 

Não necessariamente porque o arranque de um pargo grande seja sempre explosivo, brutal, ou sequer porque acontece no primeiro segundo a seguir a entender que está preso. Nada disso. A maior parte dos peixes realmente grandes, morde com convicção, mas sem pressas, sem demasiada violência. A confiança que têm em si próprios é tão grande, sentem-se tão seguros, que abocam o jig com a fleuma de quem sabe que aquele pequeno peixe é uma presa fácil, lenta se comparada com a sua velocidade máxima de ponta, e que por isso nunca lhe irá escapar. Sentem-se donos da situação, e por isso não têm pressa, não gastam energia desnecessária.  

Até que o pargo entenda o logro, até que se sinta de facto em perigo e comece a utilizar todo o seu potencial bélico, podem passar alguns segundos. O peixe passa de uma situação de domínio absoluto das circunstâncias, de predador convicto, a caçar, para outra em que já não consegue libertar-se daquela estranha pressão que o arrasta para cima, para a superfície. Que lhe “estraga” o equilíbrio bárico, que altera por completo a quantidade gás que aloja na bexiga natatória. Em suma, que lhe provoca dor, que o magoa, que o impede de nadar normalmente, em equilíbrio, que o obriga a ir ao fundo de si para lutar pela sua vida. Isto pode levar segundos, e a nós pescadores dá-nos tempo para uma reacção eficaz. 

Mas a seguir, entra em jogo o peso e força do peixe. Não confundam peso de um pargo, o peso que dá na balança, com a capacidade que tem de desenvolver força. E contem que a energia cinética dessa massa em movimento é quase sempre suficiente para ultrapassar os valores de tolerância máxima de resistência das nossas linhas. Eles partem-nas! Ao peixe não lhe basta ser pesado, ele conta com a sua velocidade de deslocação para romper a linha que o une a nós. Ou para nos abrir os anzóis! 

E era aqui que eu queria chegar, para vos explicar o seguinte: quando falamos de optar por um ou outro tipo de equipamento, mais pesado e grosso, ou mais ligeiro e fino, devemos ter em consideração a época do ano, a possibilidade real de nos aparecer um peixe de excepção, e muitos outros factores, a enumerar: a hora do dia, a hora da maré, a visibilidade da água, a temperatura da água, a profundidade, a ondulação, o vento, enfim, todos os factores que de uma outra forma nos podem “empurrar” para o jig equipado com algo mais forte. 

Nós sentimos quando as condições estão favoráveis para que aconteça algo de excepcional. Quando todas as condições estão reunidas, quando ainda por cima existem nuvens de pequenos peixes no pesqueiro, (o meu último pargo grande estava no fundo a “guardar” um cardume enorme de carapau de ..10 cm), uma bola com alguns metros de diametro. É possível sentir quando é que as coisas estão mesmo prestes a acontecer. Nós sentimos isso. E nessa altura, um ou dois pontos a menos de pressão no drag, concentração absoluta naquilo que se está a fazer e quando acontece, …reacção fria. Uma execução perfeita dá muito poucas possibilidades ao peixe. Em contrapartida, movimentos erráticos, descoordenados, indecisos, material ruim, e temos o caldo ideal para que aconteçam acidentes, para que o peixe consiga o seu objectivo: libertar-se.  


Este pargo capatão ficou preso apenas por um assiste simples, e levou-me cerca de 12 minutos a subir à superfície. Excedia um pouco o tamanho da minha geleira, (dita pelos meus amigos de demasiado grande),…mas esse é um problema que está nas nossas mãos resolver a seguir. O anzol, esse sim, aguentou estoicamente e fez o trabalho que se lhe pedia. 



Aqui chegados, falemos pois da questão do armamento. Que possibilidades temos? Podemos elencar algumas das variantes mais correntes: Um anzol assiste simples à cabeça, um anzol assiste simples à cauda, ou um em cada extremidade. Ou um duplo à cabeça, ou à cauda, ou nas duas extremidades. Vejam abaixo uma versão de assiste simples à cabeça e um duplo à cauda, que deu um sargo bonito. E ainda temos a possibilidade de inventar um triplo à cauda, e algo acima, simples ou duplo, ou nada. 

Na verdade, não há mesmo uma resposta única, tudo passa pela percepção que temos daquilo que pode andar pelos fundos. Peixes de grande porte exigem material mais pesado, mais resistente, embora com piores características de ferragem. 

Por princípio, podemos adoptar a ideia de que, para peixe grande, os assistes duplos são preferíveis a outras soluções. Deixamos os triplos ou os assistes simples para peixe de menor porte. Genericamente podemos pensar que é assim. Na prática, se estamos saturados de tentar o grande que não vem, podemos condescender um pouco e baixar a fasquia um pouco, dando a possibilidade a peixe menos mediático, e aceitar que alguns pargos de menor tamanho possam dar-nos alguma alegria. Um pargo de 2 kgs já nos faz bater o coração mais forte, ainda que não seja um pargo de 12 kgs. E nesses casos, quando aceitamos peixe mais modesto, então a equipagem dos jigs pode ser mais light, mais próxima daquilo que é uma solução de “ferragem garantida”, anzóis mais finos e triplo à cauda. Aceito todas as opiniões contrárias, por eu próprio ter muitas vezes mais dúvidas que certezas sobre este aspecto. Mas temos de decidir e ao fazê-lo, estamos a assumir uma posição. Quando acontece um imprevisto, …foi a excepção à regra. 

 


Um detalhe que me parece da maior importância é a cana. Se a linha de boa qualidade nos dá mais alguns peixes, (linha fina mas resistente, e por isso mais cara, dá-nos o melhor de dois mundos, segurança e facilidade de chegar ao fundo de forma rápida, por diminuir o atrito), a cana, a sua reactividade, a sua capacidade de absorver os impactos e voltar à posição inicial de forma rápida, é algo que assume uma transcendência enorme. O peixe irá inevitavelmente fazer pela vida. Pela sua vida. E isso significa tentar de tudo para que se consiga libertar daquele anzol. 

Convém interiorizar que temos aqui vários momentos diferentes num processo de captura: o contacto inicial, que resulta da mordida e que não está nas nossas mãos melhorar sobremaneira. Acontece quando acontece, e da forma que o peixe o entende. Podemos preparar os anzóis, mais finos e afiados, para que esse contacto seja efectivo, para que resulte numa prisão eficaz, decisiva. Mas pouco podemos fazer relativamente à colocação do anzol na boca do peixe.  A seguir, passamos a depender de nós. O peixe fez a sua parte, aconteceu o contacto, e nós de imediato vamos procurar que a cravagem seja profunda. Para isso, contraímos o braço, deslocando-o no sentido contrário à puxada do peixe. 

Não é indiferente o posicionamento do braço, da cana, e a acção da cana. Se estamos a fazer jigging, partimos do principio de que o peixe estará posicionado verticalmente em relação à nossa posição. A cravagem é nesse caso vertical, de baixo para cima, e normalmente resulta. Se estamos a fazer spinning, o caso muda de figura: para destros, a posição correta é manter o corpo com o flanco esquerdo virado para o lado de onde vem a amostra. Quando acontece o toque, a pressão é feita no sentido esquerda/direita, com o talão (cabo) da cana apoiado no antebraço direito. Nessas condições, o peixe bate contra a fateixa de uma amostra que está apoiada na cana, a qual por sua vez tem um bom apoio no braço. Ao contrairmos o braço, colocamos todo o peso do nosso corpo a pressionar a penetração do anzol. 

Quando nos “descuidamos”, ou seja, quando lançamos ao contrário, a situação complica-se. O talão da cana está apenas encostado ao antebraço, mas do “lado de fora” do movimento, e ao toque do peixe, a pressão exercida pelo peixe sobre a amostra afasta a cana do nosso braço, diminuindo a pressão, deixando a linha mais solta, num momento em que tudo deveria acontecer precisamente de forma oposta. E o peixe cospe a amostra e vai embora. 

Mas voltando ao jigging, é minha opinião que, para pargos, porque têm um boca mais dura, com muito osso e dente, a cana deverá ser mais rija, menos parabólica. Queremos que o anzol perfure uma superfície áspera, dura, que oferece muita resistência. E para isso, nada de canas macias, porque não é o peixe indicado para facilidades. 

 

Pargos miúdos pescam-se na perfeição com fateixas triplas.

Canas mais reactivas ajudam imenso. Uma cana mole e de acção parabólica é algo de inenarrável em termos de eficácia de ferragem para os pargos. Ferra mal!  Terá a sua utilidade a seguir, na fase de trabalhar o peixe, mas esse é um capítulo posterior e se não resolvermos a questão ferragem, …nunca lá chegaremos. Aquilo que deveríamos ter nas mãos era algo parecido com isto: uma cana que tenha a dureza e resistência suficientes para nos permitir cravar o anzol profundamente ao primeiro contacto, e, a seguir, uma acção algo parabólica, a acompanhar os esticões do peixe, de forma a não o deixar nunca com a linha “laça”, solta, frouxa. Parecem ser duas canas diferentes mas não, uma boa cana cumpre as duas missões com alguma facilidade. Não são é baratas….

Devo dizer-vos que, em dadas alturas do ano, eu próprio prescindo da capacidade de ferragem superior de uma cana mais equilibrada, e opto por levar comigo os meus famosos “elásticos”, canas que me servem para determinados tipos de peixes com bocas mais macias. Falo de robalos, obviamente. Poucas coisas me motivam mais que ir por robalos de 3 a 4 kgs, com jigs de 20 gramas, equipado com uma destas canas. A mordida é sempre franca a engolir o jig por completo, pelo que o acto de ferragem é uma mera formalidade. A seguir vem a parte boa, que é a de trabalhar um peixe com uma cana que faz oitos e noves sob a pressão de uma daqueles bonitos peixes. 


Aqui, nitidamente podemos prescindir de uma cana com acção de ponta mais marcada, e passamos a uma cana macia, que trabalha o peixe com mais segurança. 

Ferra pior, mas a elasticidade acrescida joga a nosso favor. É muito difícil que um robalo se solte nestas condições. Neste dia fiz alguns de bom tamanho. 

Há algo que devem ter presente e que me merece uma reflexão: o buraco que é feito pelo anzol não pára de aumentar até que o temos na mão. Desde o momento de contacto do anzol até que o peixe sobe ao barco, a pressão exercida quer pelo peixe nas suas tentativas de se soltar, quer a pressão que nós pescadores exercemos sobre a cana, linha e anzol para o puxarmos à superfície, nunca deixam de alargar o buraco que a peça metálica a que chamamos anzol, um “gancho” que nos traz o peixe, provoca. É de tal forma assim que assistimos muitas vezes, e de forma impotente, a desferragens já com o peixe encostado ao barco. Quando o orifício está bastante alargado, qualquer movimento brusco do peixe na direcção errada pode deixá-lo solto. Poucas coisas nos doem tanto quanto ver um peixe de bom tamanho afundar lentamente, cansado, mas livre, sem a consagração devida ao pescador que tanto trabalhou e sofreu por ele. Podemos até soltá-lo a seguir, mas queremos ser nós a descravar o anzol, isso sem dúvida. Queremos ser nós a libertá-lo, se for o caso.  


O meu grande amigo Fernando Santos, com um robalo que pescou a meu lado, com um jig Xesta de 20 gramas. Na altura, a excelente acção da cana salvou-o de uma rotura que por diversas vezes esteve eminente. 


Acreditem que tenho uma admiração muito grande por esta pessoa. Adoro pescar com ele! Trata-se de um informático de profissão que tem desbravado caminho a pulso, a aprender a pescar a cada saída, e hoje já faz umas coisas. A boa disposição desta pessoa é contagiante, com ele no barco tudo corre bem, seja o que for, porque o coração feliz do Fernando não dá espaço a aborrecimentos. 

Um grande amigo da Go Fishing!

2 Comentários

  1. Fernando Santos25 julho, 2022

    Sr Vítor só tenho de ser muitissimo grato a si pela passagem de conhecimento a bordo, a paciência(principalmente) e o companheirismo. Isso não tem preço.
    São sempre saídas de pesca fenomenais.
    Muito obrigado !!

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    Respostas
    1. Bom dia Fernando Santos

      Brevemente voltaremos a sair juntos.
      Cheguei hoje do Senegal onde fui pescar alguns peixes diferentes. ~
      Um grande abraço!
      Vitor


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