TRIPLOS OU ASSISTES?...

A boca dos pargos é dura.

Uma das maiores dúvidas que alguém poderá enfrentar prende-se com o tipo de armamento que deve equipar os nossos jigs, quando pescamos a este tipo de peixes.
Se um robalo é algo que nem oferece dúvidas, são peles, cartilagens, algum músculo, e uma boca de tal forma grande e conveniente que acaba por engolir a amostra/ jig, já quando se trata de um pargo de bom tamanho não é bem assim...
Devemos separar, para efeito de análise, os peixes que engolem dos peixes que mordem. E os pargos estão do lado daqueles que procuram morder, debilitar a presa através de uma dentada muito forte.
Têm dentes para isso, estão equipados de uma dentadura muito forte, e sabem utilizá-los. Os jigs são na sua esmagadora maioria feitos em chumbo, um material moldável, relativamente macio. Eu tenho alguns com dentadas impressionantes de caninos de pargos.
E uma dentada não é mais que isso, uma prisão, um reter da peça na sua boca. Não implica ferragem.
O ano passado terei tido um pargo capatão que só não me arrancou a cana das mãos porque o “gatilho” frontal da cana está em permanência retido entre dedos e por isso é à prova de ataques surpresa.
Mas recordo-me da pancada ter sido brutal, a ponta da cana bateu na água, e no entanto o peixe nunca esteve ferrado. Acabou por largar passados uns 3 segundos, sem sequer ter tido contacto com os anzóis, que estavam intactos.
O jig estava marcado com dentes... e pelo espaçamento, posso assegurar que era um bicho valente. Nesse dia fiz um pargo, duas centenas de metros a sul desse local, com 11 kgs.

Vejamos a questão do tipo de anzóis e da sua importância no processo de ferragem dos peixes.
Já aqui vos disse que o momento do contacto é aquilo que reputo de mais importante, quer na pesca de spinning quer de jigging. Podemos estar fabulosamente equipados com material bom, caro, mas se os anzóis não estiverem em boas condições (as pontas devem estar extremamente afiadas para fixarmos o peixe ao menor contacto), aquilo que iremos fazer é andar a picar peixes sem qualquer resultado.
Nada pior que sentir a pancada do peixe e ver que não foi suficiente. Esse, em princípio, ou morde logo a seguir, ainda excitado por ter perdido uma presa, ou já muito dificilmente irá voltar ao jig, pelo menos nesse dia.

A questão que se coloca é a seguinte: o peixe está a morder bem, com força, com violência, a cada lance. Nestes dias, pescamos facilmente com pregos retorcidos, pescamos com anzóis velhos, fateixas ferrugentas com anos de utilização, e tudo serve.
Por oposição, se o peixe está “belicoso”, a morder mal, pouco convicto, as coisas mudam de figura. Aqui, todos os detalhes contam, e se temos poucas picadas, há que aproveitar cada uma como se fosse a única. E isso significa prestar atenção ao mais ínfimo detalhe.
Estamos a utilizar a fateixa/ assiste há muito tempo? Já foi por diversas vezes à pedra e conseguimos sempre salvar o jig? Em que estado ficaram as pontas dos anzóis? Quando passamos na pele dos dedos agarram, ou passam a deslizar facilmente?
Um conjunto de anzóis, quer assistes simples quer triplos, que já tem muitos dias de utilização, denota fadiga, as pontas ficam rombas. Isso quer dizer que na próxima oportunidade irá deixar-nos “descalços” porque o seu poder de penetração foi drasticamente reduzido pelo contacto com objectos, quer se trate de rochas, quer da própria boca dos peixes.
Sim, os dentes e ossos de um pargo grande podem deixar os anzóis rombos, com a ponta arredondada, que é precisamente aquilo que não queremos por nada deste mundo.
É isso que vai fazer a diferença entre conseguirmos um peixe ou não. Se considerarem que a boca dos peixes é tão mais dura quanto mais velhos eles são, isso significa que acordámos cedo, gastámos muito dinheiro em gasolina, em apetrechos de pesca, e quando chega o momento da verdade, falhamos por algo que custa cêntimos.


Nem sempre temos dias de mar calmo, que nos permitem ter os pés bem assentes no deck, e poder sentir e reagir a tempo a uma picada.


O estado dos anzóis é algo crítico. Ou estão bons ou devem ser mudados de imediato. Ganhamos muito em os deitar fora.
Não há espaço para concessões, a não ser que as queiramos fazer também para a possibilidade de o peixe poder ficar ferrado ou não. Caso nos seja indiferente, então tudo serve...
Mas nesse caso, podemos restringir-nos a ir ver as aves marinhas, os golfinhos, e não vale mesmo a pena andarmos a picar peixes que guardarão com eles a memória, a experiência, de algo ruim, algo que os magoa.
O primeiro contacto é tudo na pesca jigging. Ou é ou não é!
E para isso, contamos com peças que indiscutivelmente são eficazes, desde que estejam na plena posse das suas caraterísticas técnicas.
A maior parte dos fabricantes japoneses fabrica bons assistes, ou fateixas. Começamos a ter problemas quando, por razões de preço, passamos a material feito na China. Aí, e como referi acima, estamos a desprezar todo o esforço que fizemos para estar ali, àquela hora, naquele local, com aquele equipamento, com aquela possibilidade de captura, a troco de poupar 5 cêntimos num anzol.
É inglório, é absurdo, e é de uma inutilidade extrema.


Aqui, um assiste duplo da marca SHOUT foi a desgraça deste pargo.


Devo começar por vos dizer que na minha opinião, para peixe com peso e tamanho, os assistes, por definição, serão sempre mais eficazes que os triplos.
Sem retirar importância aos triplos, eu, quando estou a pescar a sério, a peixe grosso, nem equaciono a possibilidade de utilizar triplos. Mas também vos digo que sou o primeiro a mudar para fateixas triplas quando sinto que aquilo que anda em baixo são peixes pequenos, até aos 2/ 3 kgs. E se essa é a regra, não há que passar o dia todo a perder peixes, à espera de um grande que pode nem estar lá. As fateixas são muito eficazes, e para certos tipos de pesca, diria que indispensáveis. Todos lhes reconhecemos o seu valor quando pescamos spinning, com amostras de superfície.
Não me parece que possa ser contestável a sua irrefutável eficácia. Também em momentos de Inverno, com lulas grandes encostadas a terra, a vantagem de pescar com triplos é remarcável.
Já as tenho feito com assistes simples, mas perdem-se muitas, indiscutivelmente. Neste caso, as fateixas são bons substitutos das agulhas das toneiras, e a melhor solução.
Mas não é isso que queremos quando encostamos a um pesqueiro que tem ou pode ter peixe grosso.
Nesse caso, a opção vai direitinha para os assistes, anzóis simples, pela segurança, pela maior capacidade de penetração no osso da boca do peixe, e pela maior quantidade de carne que fica retida. Os triplos parecem maiores, mas cada anzol de um triplo é
sempre mais pequeno que um anzol simples de um assiste. E é bom que a qualidade não seja duvidosa, chinesa, mas sim algo em que possamos confiar.
Quando chega o momento dos "apertos", da aflição do "vai-se embora"... é bom estarmos confiantes na qualidade dos nossos anzóis. São eles que nos ligam ao peixe...


Ver na LOJA online: ASSISTES e TRIPLOS


Estabelecer um compromisso ideal entre a grossura do arame, respectivo peso e afiamento do anzol assiste, ou triplo, e a sua capacidade de penetração, não é fácil.
Sabemos que os arames mais finos e leves são mais penetrantes, mas também sabemos que isso de nada vale quando logo de seguida a peça metálica não tem a robustez devida, e abre.
Se um peixe morde, se espeta a boca no anzol e a seguir consegue escapar, é um peixe perdido.
Os arames mais grossos, mais pesados, não são tão “pescantes” como os mais leves, mas aguentam carga, e isso pode ser importante e decisivo para o sucesso da nossa pesca.
A propósito da fabricação de anzóis, ver número anterior sobre a fábrica japonesa FUDO Hooks Japan. Pode ser interessante para quem não leu esse artigo anteriormente publicado.
As boas marcas, sobretudo os japoneses, aquilo que fazem é trabalhar o arame com que constroem os seus anzóis, independentemente de se tratarem de anzóis simples ou unidos em tríade, para que consigam o melhor de dois mundos:
Leves mas robustos. Nem todos conseguem, e quando chegamos aos fabricantes chineses, …esqueçam…..são baratos mas deixam-nos agarrados a cada instante.


Neste caso, um triplo à cauda foi o suficiente para trazer este forte pargo de 5 kgs. O peixe não prendeu no assiste duplo fixado à cabeça. O jig é um Coltsniper da Shimano, de 30 gramas, peça que já me deu umas centenas de pargos.


No caso dos pargos, e atendendo à estrutura da sua boca e disposição dos dentes, a tarefa de um anzol bem poderia ser mais fácil. Ou prende pelos lábios exteriores, e aí tem muita facilidade em cravar porque a configuração está perfeita para um anzol, há um espaço carnudo entre o osso do maxilar e o bordo exterior do lábio que parece ter sido pensado para um anzol, ou tem de ser engolido para poder chegar a zonas onde pode penetrar. Nem sempre acontece. Tenho a rara felicidade de acreditar que os posso pescar com jigs minúsculos, e por isso mesmo tenho muitas picadas em que o pargo engole o jig.
Porque são pequenos. Mas há quem só pesque com jigs de 120 gramas para cima. E aí, o tamanho não cabe na boca do animal.
Mas não imaginam a quantidade de pargos que escapam porque sobem presos apenas pela ponta do lábio inferior ou superior. A pele é algo resistente, mas ainda assim, e dependendo do peso do bicho, pode rasgar.
E isso deixa-nos devastados, pelo menos durante uns 30 segundos, até voltarmos a lançar. Acreditem que depois de trabalharmos um peixe do fundo à superfície, muitas vezes a mais de 80 metros, e o termos à vista, custa muito perdê-lo. Também aí podemos fazer algo.
É algo de mecânico em mim, assim que o peixe assoma à superfície, os meus olhos procuram de imediato o local em que o peixe está cravado. Se me parece que... ”não”, redobro os cuidados, deixando de o apertar, dando-lhe uma ligeira folga na tensão máxima com que o subi, mas sem nunca deixar a linha pouco esticada. Por outras palavras, se não queremos rasgar o peixe, que obviamente está ainda com alguma força e com o barco à vista, a tentar desesperadamente soltar-se, partir a linha, o que seja, a escapar, também não queremos folgar de tal forma a tensão que permita que o anzol cravado salte. E pode perfeitamente acontecer, e acontece todos os dias a quem negligencia esse factor. Desde o momento da cravagem até que o peixe nos chega à vista, todo esse tempo o buraco veio a alargar por força dos esforços feitos pelo peixe. Em certos tipos de peixes, e posso dar-vos o exemplo flagrante dos carapaus, isso é tão evidente que nem sequer temos dúvidas que assim seja. Nos pargos também acontece, pese a diferença de consistência dos músculos bocais.
Mas se relativamente a um carapau podemos sorrir por ter escapado, já quanto a um pargo grande...
Por isso mesmo, lançar um golpe de vista à forma como o peixe nos chega ferrado à superfície, pode ajudar a tomar medidas, nomeadamente antecipar a entrada em acção de um xalavar.
A acção pronta de um colega pode ser, nesses casos difíceis, decisiva. Eu tenho um amigo muito bom nisso, o Carlos Campos, mas não o cedo, é meu porque eu vi-o primeiro!


Quando chega o momento do peixe grande, é bom que nada falhe. O estado de espírito da pessoa que perde o peixe é muito idêntico ao do peixe que perde a possibilidade de fugir... ficam deprimidos.


Boas pescas para vocês. Linhas esticadas!...



Vítor Ganchinho



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