SPINNING NO SENEGAL III

Não que seja uma técnica muito utilizada entre eles, mas porque encontro sempre razões para praticar modalidades de pesca diferentes daquilo que é corrente, acabei por levar uma cana de spinning e algumas amostras. Já se sabe que adaptadas ao que existe na região, e que habitualmente nos pode picar: barracudas, as quais existem até aos 40 kgs de peso, diferentes tipos de tunídeos, dourados, e alguns tipos de carangídeos.
Entre todos eles, eu tinha a ideia de conseguir um bom dourado, para a família. Um carpaccio de dourado, o “Dorade Coryphène”, ou Mai-Mai como é conhecido nas ilhas do Pacífico, é algo de incrivelmente bom.
Falamos de um pelágico de nome científico “Coryphaena hippurus”, um viajante do largo, o qual, em determinados destinos exóticos, pode atingir os 2 metros de comprimento, para uns airosos 50 kgs. Este peixe, delicioso na mesa, motiva-me imenso, não só pela sua agressividade, pela estonteante velocidade na água, 80km/h, mas sobretudo pela sua defesa, os saltos com que nos brinda, vendendo sempre cara a derrota. Os seus verdes, amarelos e azuis, são de cortar a respiração.
Tenho fotos deles e passo-vos algumas:


Dos melhores peixes do mundo para cozinhar. Sem dúvida!


Tenho uma foto que guardo com muito carinho: o meu amigo Chérif a mostrar um dourado de 35 kgs.
Este peixe, não se aproximando de recorde do mundo, é todavia um grande exemplar em qualquer parte. Um peixe de 35kgs com esta genica é algo que todos nós gostaríamos de ter na ponta da nossa linha.
Este que podem ver abaixo foi feito à caça submarina. O mais próximo que estive de um destes foi curiosamente também no Senegal, e estava a mergulhar com o meu amigo Francisco Amante. Vi algo a passar à superfície e pensei que fosse ele.
E um minuto depois, vejo o Chico chegar junto a mim e dizer-me: “pensava que eras tu que estava a meu lado, mas afinal era …um dourado…”
Passou junto a ambos, e estávamos ambos distraídos, concentrados nos pargos grandes que havia no fundo. É a pesca….


O Chérif tem 1,90 mts de altura, por isso podem calcular o tamanho do peixe, um macho com 35 kgs. 


A minha tentativa de ferrar um destes peixes foi feita numa zona carregada de ervas marinhas, sargaços, à superfície. Os tapetes de plantas formavam manchas enormes, com perto de 30/ 40 metros de diâmetro. Local onde poderia haver dourados. Sabemos da sua apetência para se colocarem ao abrigo de objectos flutuantes, numa intenção clara: aproveitar a cadeia alimentar que se forma a partir daí. Os pequenos peixes pelágicos, e muitos outros micro-organismos, camarões, tartarugas juvenis, etc, encostam a estas ervas e tornam-se uma fonte de alimento disponível para os predadores do azul.


Foto de David Doubilet, um sargaço a flutuar à tona de água. O que eu vi foi algo que teria toneladas destas ervas. Flutuam à conta dos nódulos redondos, sacos que metem ar dentro.


As naus de Cristóvão Colombo não os apreciavam em demasia. Estas algas podem ser tão densas que retêm os navios. Segundo um diário de bordo datado de 20 de Setembro de 1492, a designação ocorre por estes sacos serem parecidos a uvas, às quais chamavam de “sargazos”. A origem destas ervas são as zonas ricas em nutrientes junto da costa americana, sobretudo no Golfo do México.
Dali, são transportados para uma zona de alta concentração, o chamado …”Mar dos Sargaços”. Chegam a Portugal, através da corrente o Golfo. Estas algas não começam a sua vida presas ao fundo, nascem e vivem soltas, flutuando ao sabor dos ventos e correntes.
As tempestades espalham-nas e voltam a reagrupar-se em zonas de mar mais calmo, num efeito dinâmico que agrada a todos, menos aos nossos barcos. As manchas podem chegar a ter quilómetros de diâmetro.
Acho curioso que no século XVIII os marinheiros se referissem às zonas onde encontravam estas algas como “as latitudes do cavalo”. Não é por acaso. Os navios paravam, barrados por elas, e, sem movimentação à vela possível, à medida que a água potável ia acabando, os marinheiros eram forçados a lançar os cavalos à água, a sacrificá-los.
Mesmo grandes peixes, como os marlins, gostam de passar por baixo destes amontoados de algas, porque há sempre peixe disponível para comer.


Foto Brian Skerry, um cachalote a passar junto a alguns sargaços à superfície.


Para que entendam a movimentação desta massa de algas, aqui vos passo um esquema de como eles se espalham pelo Atlântico:




Numa destas concentrações de algas, tive oportunidade de ferrar alguns lírios de pequeno porte. Os primeiros lancei á água, por não serem minimamente interessantes. Quando reparei na cara de enfado e incómodo do meu barqueiro, perguntei-lhe se os queria. Claro que queria! Eles acham que tudo aquilo que vem ao anzol é comida e por isso não deve voltar à água. Dei-lhe uns quantos para consumir em casa nesse dia e discretamente passei a lançar todos os outros à agua.
Não deixa de ser curioso observar o valor de um pequeno peixe, numa terra que pressupõe grandes peixes. A partir daí, a cada pergunta minha respondia-me invariavelmente: “…sim ficamos com esse também…."
E o limite mínimo dele foi testado. Um pequeno lírio, que era tão pequeno que me surpreendeu pela sua coragem e voracidade perante uma amostra de superfície da DUO, uma Hydra, também era elegível para sua caixa de peixe.
Aí, mandei parar as máquinas e tive de impor a minha vontade: borda fora com o líriozinho, que não tinha culpa daquela sofreguidão.
Acabaram por ser libertados muitos outros, pese embora a constante e total anuência do barqueiro em os mandar para a caixa do gelo.
Pelos vistos, o limite mínimo dele seria inferior ao tamanho das minhas amostras.


A Hydra, da DUO, uma amostra que levo sempre quando vou para fora. É quase um popper, e dá um resultadão. Assim haja peixe... um pouco melhor que este projecto de futuro grande peixe. A esta hora estará a nadar feliz e contente.


Lançar à volta destas ilhas de algas é algo que pode ser muito divertido, e compensador. Caso não estejam devidamente compactadas, e é o vento que faz isso, não tem tanta graça, porque a cada lançamento acabamos por agarrar uma molhada de ervas nos triplos da amostra, e estamos apenas a perder tempo.
Por isso, devemos procurar posicionar a embarcação do lado de onde sopra o vento. Se tem o inconveniente de nos obrigar a calcular com muita precisão a distância a que lançamos (em excesso a amostra vai aterrar no meio dos sargaços!), por outro é a brisa que nos leva o stickbait pelo ar, sem esforço nenhum.
Fazer spinning nas nossas águas, aos robalos, aos lírios, aos sarrajões, pode ser interessante, e nestes lugares, onde um grande peixe é sempre uma possibilidade, pode ser ainda mais divertido.

No próximo artigo, ….continuamos a pescar.



Vítor Ganchinho



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