CLUBES DE PESCA ESPECIALIZADOS EM SAFIOS?

Não é algo que tenhamos entre nós.
Pertencer a um clube de pesca em que todos os membros são adeptos devotos a um determinado tipo de peixe, é algo que, tanto quanto sei, não existe em Portugal.
Os ingleses têm muitos. De robalos a safios, de pesca nocturna a pesca de cações, de trutas a salmões, de tudo aparece. E é um prazer falar com gente que pertence a um destes clubes, porque eles são convictamente membros de clubes especializados naquilo que mais gostam de fazer.
Receber em Portugal um destes “patuscos” pescadores é uma oportunidade de trocar impressões e de entender as motivações que levam estas pessoas a correr mundo à procura deste ou daquele peixe.
De férias no nosso país, onde é visita habitual, o meu amigo Roger Cunnington não quis deixar passar a oportunidade de sair com a GO Fishing.
E foi extremamente divertido porque o objectivo estabelecido foi o mais básico possível: pescar peixes fáceis, e fazer uns filetes para o jantar da família à noite.
O que é que encaixa a matar neste target? Os nossos “Ballistes capriscus”, mais conhecidos por pampos. Mais fáceis não temos, e melhores filetes também não há muitos.
Um pouco de sal, pimenta, uma folha de louro, umas raspas de alho, e muito sumo de limão. Deixar marinar durante umas 4 horas. A seguir fritar, panadinhos com farinha de milho.
E não é que a receita foi um sucesso?!


Neste clube, todos exibem o logótipo nos seus casacos, e gravados à frente com o seu nome. Faz sentido. 


Não que haja muitos, mas consegui descobrir alguns, para que o jantar fosse memorável. As traineiras e as suas redes implacáveis tratam de os desbastar até ficar apenas uma quantidade residual. Não me recordo de ver tão poucos como este ano, e os motivos são claros: durante a semana são objecto de pesca dirigida.
Há traineiras a procurá-los todos os dias da semana, de segunda a sábado, nos sítios onde costumam aparecer. Que são conhecidos.
Quando chegam, ao fim de duas ou três semanas já só resta 10% da quantidade total de peixes. Como dizem os espanhóis: “é um dia de fartura e vinte dias de fome”...


Roger Cunnington com um dos pampos sobreviventes ao massacre das redes.


Não deixa de ser curioso entender a motivação que esta gente traz das suas terras, e que os leva a sair do seu espaço de conforto e vir pescar no nosso país. Se analisarmos aquilo que são as suas pescarias habituais, constatamos que os zeros são mais que muitos, e que raramente acontece uma boa pescaria. Para eles, fazer uma dúzia de peixes é algo muito raro.
Enquanto nós disfrutamos de condições naturais que nos permitem encher uma caixa de peixe com alguma regularidade, estas pessoas raramente conseguem sair da mediania.
E isso leva-as a viajar, a tentar noutros lugares algo de diferente. Vejam o resultado de uma concurso de pesca realizado em Inglaterra, e vão entender.
Passo as regras do concurso, para que fiquem enquadrados com a realidade deles:

O nome da prova foi “Liga de Verão”, e decorreu em Trimingham.
Foi estabelecido um ponto de encontro, um “meeting point” onde a organização estabeleceu a sua base. A partir daí, para a direita e esquerda, os concorrentes podiam ir para onde quisessem, sendo que o concurso começava às 18.39h e terminava impreterivelmente às 11.00h da manhã do dia seguinte. O objectivo era pescarem fora do período de banhos habitual dos frequentadores da zona marítima a pescar.
Cada concorrente teve direito a um cartão magnético que deveria introduzir na máquina antes das 11.00h da manhã, o que limitou cada concorrente a uma distância de caminhada não demasiado longa, digamos razoável, para não chegar atrasado.
A pescaria decorreu num período de maré cheia para a curva de vazante, teoricamente pouco favorável ao tipo de pesca nocturna a fazer.
Sabe-se que o nervosismo imperava entre todos os concorrentes, havendo muitos dedos cruzados a fazer figas, antes de começar a prova.
Mas o peixe era, mais uma vez, bastante escasso. Havia uma esperança desbragada que a noite trouxesse algo mais.
Infelizmente, à medida que a noite avançava, as expectativas não se confirmaram, o peixe afrouxou as picadas e desmotivou os esforçados pescadores. Passaram os anzóis a vir apenas carregados com ervas, e pouco mais.
Os primeiros concorrentes a chegar, desanimados com o seu “zero peixe” , sugeriram que havia um bruxedo lançado sobre os seus equipamentos. Valeu por um nascer do sol estrondoso, e pouco mais.
Dave Sickelmore foi admoestado por levar para o seu pesqueiro o seu pequeno cão de pelo liso. O maior destaque da noite foi para o sr Rob Fords, que arrasou com a sua dourada de 31 cm, ganhando o prémio “Biggest Round”, peixe de escama, enquanto que o prémio para maior peixe plano, “Biggest Flat”, foi para Ian Childerhouse, com um linguado de 33cm. Com este peixe, este pescador deixou fora da corrida Nathan Drewery e Simon Bottomley da disputa da competição peixes planos, com os seus linguados de 31cm.
Durante a noite, e no total de 21 pescadores foram capturados 15 peixes. O que dará uma média de 0.71 peixes por pessoa. Doze pescadores não conseguiram uma única captura, durante 16 horas de pesca.

Estão a ver porque razão eles vêm pescar a Portugal?!



Eles levam a pesca a sério. Vejam como ele tem o nome gravado no casaco, por baixo da designação do clube.
Fez também o favor de me oferecer um chapéu com a insígnia do clube. Gente boa, estes ingleses.




Dá gosto falar com eles, porque deparamos a cada passo com uma realidade diferente.
Quando se trata de safios, por exemplo, eles pescam-nos de espera, atracando o barco nas imediações de um naufrágio durante dias.
É lançado engodo dúzias de vezes, e a dada altura o congro está habituado a comida fácil. É aí que entra uma linha forte, e um anzol a preceito.
Conseguem desta forma bichos que podem chegar perto dos 70 kgs.
Não é muito diferente do carpfishing, ainda que num regime de “liveaboard” que acaba por motivar quem passa a vida dentro de um escritório.
Quando se consegue um ou dois peixes recorde, já vale a pena, segundo eles.



Ao centro, Roger Cunnington, o meu bem disposto convidado. Adora pescar com a GO Fishing. E vai voltar, porque deixa aqui amigos.



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Clubes ou associações já não é para os portugueses da actualidade.
    Estão a ser encerradas imensas, muitas nos últimos tempos, os portugueses não têm tempo.
    Eu gostaria de ter um clube no Minho de pesca de robalo com amostras, mas não há gente para entar para fazer parte da criação. Ficará apenas o grupo no Facebook, Robalos do Minho Spinning e deve ser mesmo o melhor.

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    Respostas
    1. Boa tarde Nuno Costa

      Sabe que essa é uma realidade dolorosa aqui, infelizmente, mas que não se verifica em muitos outros países da Europa. Cada vez mais as pessoas querem passar tempo com outras que tenham os mesmos objectivos e propósitos. E os clubes de pesca dedicados são isso mesmo, lugares de encontro de aficionados disto ou daquilo.
      Achei tão interessante falar neste exemplo do Roger Cunnington que acabei por escrever algo sobre o tema.
      Eles levam muito a sério o seu clube!

      Força aí para o seu grupo, o Robalos do Minho Spinning!!

      Abraço
      Vitor

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