DESENRASCAR SITUAÇÕES...

Somos tidos na Europa como gente que, sem qualquer tipo de planeamento, consegue sempre, à última hora, encontrar uma boa solução.
Povos nórdicos têm horror da forma como conseguimos esperar pelo último instante para procurar uma forma de resolver algo. Chamamos ao nosso improviso algo como “desenrascanço”, e damo-nos bem com o sistema.
Na verdade, essa invulgar capacidade lusa de resolver problemas mais não é do que a resposta a uma deprimente incapacidade de planear e programar.
Somos pouco dados a antecipar crises, a meditar sobre aquilo que devemos fazer quando elas surgirem. Logo se vê…
Em África, terra de parcos recursos, a portuguesíssima capacidade de desenrascar é elevada a um expoente máximo.
Se ganhamos por goleada a qualquer europeu, ali o mais provável é perdermos por muitos.
Mas damos alguma luta. Dou-vos alguns exemplos.


O meu amigo Mohamed, a comer uma manga. O quilo deste fruto é vendido a poucos cêntimos.


A dada altura, disse-me que tinha deixado cair a única faca disponível, ao mar. Que assim sendo eu não poderia comer as duas mangas que me estavam reservadas para as oito horas previstas de permanência no mar. Não havia mais nada para comer. O desespero de passar fome durante todo aquele tempo foi mais forte, e de imediato lhe respondi: “passa a manga, eu como-a à dentada!”
Entretido com a função, não dei por ele me estar a fotografar e filmar com o meu telemóvel. Vejam o filme:


Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade


O Mohamed enquanto ainda tinha a dita faca.


Que dizer da “cadeira de combate” para marlins, feita com uma vulgar cadeira de plástico, à qual foi engenhosamente adicionado um porta canas?
Tudo aparafusado a umas tábuas que, na pior das hipóteses, poderão aguentar alguns minutos de luta rija, caso tivéssemos a pouca sorte de nos calhar um dos mastodontes de centenas de quilos que cruzam o oceano naquela zona. Não são invulgares os marlins acima dos 500 kgs...
Ou a “braseira” senegalesa, que serve para que possa ser aquecido o chá, ou cozinhar algum peixe. Não esqueçam que eles passam muitos dias a bordo, à procura de peixe, e que as pirogas são feitas em madeira. Com este utensílio, e algum carvão, conseguem confecionar refeições quentes. O utensílio é feito a partir de uma jante de um carro.




Quem faz isto também faz uma chapa de matrícula para a mota. E uma vez que ninguém vai ver, pode escolher aquilo que mais lhe agrada: Por exemplo, “Bamba Merci”, que não estará 
muito longe daquilo que fazem as estrelas de Hollywood, quando pagam para ter nos seus carros a matrícula que mais lhes agrada.




E se estamos numa de invenções, porque não inventar algo como um monograma famoso?! Não tenho dúvidas que terá sido aqui que a Louis Vuitton foi buscar a sua inspiração para gravar o seu nome comercial. Vejam abaixo.


Também se arranja um par de chinelos marca LV…Luísa Vitão….por aí...


Naquilo que são imbatíveis é a trabalhar os productos naturais, as madeiras, os couros, alguns metais.
Ficamos a pensar como pode gente que nunca saiu da sua aldeia, do seu país, produzir modelos que irão depois ser vendidos nas grandes lojas de moda europeias e asiáticas.
Eles conseguem trabalhar cabedais com uma mestria que nos deixa a pensar como pode aquilo ter saído das mãos de alguém que tem zero formação técnica. O instinto criativo do bom povo senegalês revela-se na sua arte, nas suas manifestações culturais. Como de costume, quando perguntamos ao artista o que ele viu naquele bocado de tronco antes de o escavar e fazer a imagem, eles respondem” …eu só tirei aquilo que estava a mais. A estatueta já estava dentro do troco”….




Vítor Ganchinho



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