AMOSTRAS MAIS EFICAZES

Já todos passámos por situações como esta: adquirir uma amostra nova e conseguir excelentes resultados com ela. E aos poucos, as cores vão desaparecendo, os brilhos já não são os mesmos. Parece-nos até que o interesse dos peixes em morder o engano já não é o mesmo.
Por outro lado, temos pelas nossas amostras velhas uma estima e carinho que advém da quantidade de capturas e episódios deliciosos que nos proporcionaram.
Mais que isso, conhecemo-las bem, sabemos por experiência própria em que situações são mais eficazes, e por isso mesmo não prescindimos delas.
Estabelecer um compromisso entre uma amostra nova e uma amostra mais usada, mas de que gostamos muito, não é fácil. Se uma traz promessas de êxitos, a outra tem provas dadas, pese embora esteja já muito desgastada dos dentes dos peixes.
Nenhuma delas será eterna. Uma porque um dia chegará a velha e não terá a pintura tão imaculada, a outra porque já está tão gasta e roçada que já apela mais a ficar no fundo da caixa que em primeiro plano.
Como decidir? Qual a opção que devemos tomar?
Não vale fazer a escolha baseados no facto de estarmos ou não com amigos, ou seja, por estarmos mais ou menos pressionados a apresentar resultados. Porque a indecisão, mesmo nesse caso, mantém-se.
Vamos ver hoje aqui no blog o que deve ser considerado.




O espelhado de uma amostra é muito importante. Apresenta-a ao peixe na sua plenitude de cores, de brilhos, e isso confere veracidade e estimula o peixe a atacar.
Na natureza, os peixes emitem brilhos que mais não são que a luz do sol reflectida nas suas escamas.
Os fabricantes desde sempre procuraram imitar aquilo que os predadores procuram: alvos com um determinado tamanho, volume, peso, velocidade de movimento, e …brilho.
Quando algo próximo se encaixa no padrão de alimento desse dia, isso despoleta um ataque violento.
Haverá certamente muitos tipos de peixe forragem, e também diferentes tipos de predadores, desde os que perseguem a suas presas até as conseguirem capturar, até aos que, mais discretos e menos velozes, apostam tudo na sua capacidade de camuflagem. Dou-vos dois exemplos práticos, para que possam visualizar o conceito: um atum sarrajão persegue uma cavala em água livre e morde-a por ser mais rápido.
Um rascasso permanece imóvel colado ao fundo, espera a passagem de um alevim mais distraído, e aspira-o num ápice, num movimento brusco.
Ambas as formas são eficazes, embora os custos energéticos não sejam os mesmos. Mas por isso mesmo alguns tipos de peixes comem mais e mais vezes que outros. Têm por isso metabolismos mais elevados, o que os força a procurar alimento com mais regularidade. Boas notícias para nós, pescadores.

Não é indiferente a escolha da amostra para uma ou outra espécie, porque estamos sempre dependentes da forma como um determinado tipo de peixe procura as suas presas.
Quando o objectivo são predadores do azul, pelágicos que actuam numa perspectiva de caça baseada na velocidade de ponta que conseguem imprimir, utilizaremos amostras/ jigs mais estreitos e longos, enquanto que para espécies mais lentas o oposto, amostras mais curtas e largas, resulta sempre melhor. No caso dos jigs, a velocidade de queda de chapas largas e curtas é muito mais lenta e isso beneficia os predadores que atacam por emboscada.
A sustentação que um jig largo obtém na coluna de água retarda-o, enquanto que as agulhas, jigs estreitos e longos, caem a pique com muito mais velocidade.
Para quem é do meio, falamos obviamente de slow jigging e de speed jigging.


Foto do meu amigo Theo, um jovem a quem auguro um feliz e risonho futuro, e não só como pescador... Tem um entusiasmo pela pesca incrível, algo …”efervescente”, entranhado no corpo!


Poderão pensar que é indiferente o formato do jig e que aquilo que conta é mesmo o peso. Nada mais errado.
Para um mesmo jig de 40 gramas, teremos toques de diferentes espécies, consoante estejamos a pescar com um jig rápido ou lento. Inclusive, teremos uma diferente percentagem de ataques ao jig na descida, de acordo com o tipo de jig em questão.
A subir é mais fácil detectar as mordidas, a cana dobra com o peso do peixe e não é preciso ser um especialista para entender que há “mouros na costa”, mas a descer já é apenas para alguns. Na descida, a velocidade de saída da linha e a marcação de cor desta dizem-nos muito sobre aquilo que se passa em baixo. Exige alguma concentração, mas conseguem-se detectar os toques, ao fim de algum tempo de utilização do equipamento.
Nos meus cursos de jigging é frequente eu chamar a atenção dos pescadores sobre esta situação. Quando lhes digo “rápido, ferra!...” muitas vezes acham que não está nada na linha. Quando finalmente percebem que têm um peixe de bom tamanho com o jig entre os dentes, acham sempre que nunca conseguirão perceber quando é que têm de bloquear o carreto e ferrar energicamente. Mas é uma questão de tempo, apenas.
A quantidade de ataques que temos nos nossos jigs é sempre superior enquanto a peça desce. Na subida detectamo-los sempre, não por estarmos atentos à subtileza do toque, mas por força da inevitabilidade da cana vergada ao peso do peixe.

Basicamente, a grande diferença entre o speed jigging e o slow jigging resume-se à participação da cana versus amostra na excitação do peixe.
Em movimento lento, a amostra trabalha em regime livre, e é ela quem faz o trabalho. Na pesca de velocidade, o jig quase não trabalha, tudo é feito por acção da cana, da recolha de linha e dos movimentos que imprimimos a cada instante ao jig.




As cores são importantes, na medida em que são elas que nos aproximam daquilo que o predador procura. Cabe-nos a nós saber observar que tipo de comedia existe na zona, e em função disso optar pela melhor solução.
Estar próximo daquilo que está a servir de alimento ao peixe nesse momento é um garante de êxito. Por isso mesmo, nunca entenderei aqueles que compram um jig e dizem que servirá para tudo, não obstante a profundidade a que pescam, a tonalidade da água nesse dia, ou o tipo de peixe que procuram.
Esses são aqueles que forçosamente estarão condenados a pescar eternamente com isca orgânica, por não terem qualquer possibilidade de obter resultados consistentes ao longo do ano.
Para os outros, aqueles mais atentos ao fenómeno da pesca com artificiais, as marcas estão a lançar modelos de amostras/ jigs cada vez mais realistas, onde o mais pequeno detalhe foi cuidado ao extremo.
Hoje em dia, jigs com hologramas, com escamas muito bem definidas, com olhos do tamanho certo e bem posicionados, enganam cada vez mais facilmente os peixes mais desconfiados. Novas ideias, melhores tecnologias, permitem a apresentação de melhores productos.
Para os pescadores que começaram a pescar agora, poderão pensar que sempre foi assim, mas a verdade é que não há muitos anos, os jigs e amostras nada tinham a ver com aquilo que hoje podem adquirir numa loja de artigos de pesca.
Se é verdade que há menos peixe, também é verdade que nunca estivemos tão bem equipados como estamos agora.
Cada vez mais, a perfeição dos artificiais permite pescas que seriam difíceis há anos atrás. Foram melhoradas questões como a cor, mas também a forma, a silhueta. Tudo obedece a testes em tanques de teste, e nada sai para a rua sem ter sido previamente ensaiado.
Hoje em dia, o pescador tem à sua disposição amostras com diferentes tipos de acção, com diferentes velocidades de queda, de vibração, a imitar diferentes tipos de presas.
Como estamos longe dos tempos em que os jigs eram feitos à mão, aplicando chumbo sobre um anzol fixo. Porque a oxidação era quase imediata, os nossos antepassados recorriam a uma pedra para raspar o chumbo, até obter algum brilho.
Se pensarem bem, o princípio base está lá todo: algo com um tamanho certo, com um anzol com brilho e a animação correcta.
A grande diferença para os dias de hoje é mesmo a capacidade que os nossos jigs e amostras têm de reflectir a luz do sol, e emitir brilhos em permanência, sem necessitar de mais nenhuma intervenção. Os hologramas estão aí a ajudar, e são de tal forma perfeitos que para os peixes são…peixes vivos.
Mesmo em situações de baixa luminosidade, funcionam na perfeição.
O estudo de cada detalhe permite ir ao encontro daquilo que os nossos predadores procuram. Se o azul e o preto são cores visíveis até grandes profundidades, então que os jigs os incluam na sua coloração. Pode parecer-nos que é algo inútil, uma vez que estamos quase sempre a pescar acima da zona fótica, mas o preto é uma cor que define muito bem a silhueta de um corpo debaixo de água. Os fabricantes aplicam-no normalmente nas zonas limítrofes do jig, deixando ao centro deste a responsabilidade de emitir brilhos, de reflectir a luz que exista, por pouca que seja.

Por outras palavras, estamos cada vez mais perto de conseguir a perfeição e assim conseguir enganar os nossos peixinhos. Assim os tenhamos em tamanho e abundância, para podermos continuar a ter razões para lançar amostras/ jigs.
Novos ou velhos…. se quiserem tirem à sorte.
Não vos quero dar pistas, mas digo-vos isto: a minha mulher já está como os meus jigs mais coçados, quase sem tinta, farta de me aturar a mim e às minhas pescas, e no entanto eu não a troco por duas novas...



Vítor Ganchinho



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