A nossa diligente APAV já teria entrado em acção, não fora tratar-se de um peixe pouco mediático, com pobre imagem. Desprezamo-las.
Cometemos diariamente o crime de as pescar às toneladas para venda às fabricas de rações para animais.
Não valorizamos as cavalas tanto quanto aquilo que elas merecem. São umas penitentes, e a baixo custo. O preço de 1 kg de cavala em lota cifra-se nuns míseros cêntimos.
E é um verdadeiro massacre diário aquilo que estes peixes sofrem, dia e noite.
Todos a comem, excepto, pelos vistos, quem mais deveria: nós próprios, tantos são os benefícios que podemos retirar do seu consumo.
A sua carne delicada se consumida em fresco, (excelente, mas apenas no próprio dia da captura), indica-a como uma excelente fonte de proteína quando o intuito é uma dieta saudável.
Pode pois ser importante para nós, e para os peixes predadores, que as não largam por um segundo. Trata-se de um peixe rico em óleos essenciais, vitaminas e minerais, propriedades fundamentais para o nosso organismo e sobretudo para a nossa saúde cardiovascular.
A cavala reduz o colesterol e cuida do nosso coração. Faltam-nos palavras para enaltecer a qualidade deste peixe, senão vejamos:
As gorduras presentes neste peixe estão associadas a uma menor mortalidade por doenças cardiovasculares e a uma maior esperança de vida. Para além dos seus efeitos saudáveis sobre o sistema cardiovascular, os ácidos gordos ómega-3 também beneficiam o correcto funcionamento e desenvolvimento do cérebro, ajudam a combater a osteoporose, a artrite reumatoide e os problemas de tiroide.
E a carne da cavala tem mais:
• Promove a redução das substâncias cancerígenas nas células e evita o risco de vários tipos de cancro;
• Atua como um agente anti-inflamatório;
• Ajuda a diluir o sangue e melhora a circulação sanguínea;
• Reduz a pressão arterial;
• Impede a acumulação de colesterol no sangue;
• Ajuda a aliviar a dor da enxaqueca e artrite;
• Protege o coração e vasos sanguíneos, fortalece o sistema imunológico, melhora a função dos órgãos e ajusta o metabolismo;
• Desempenha um papel vital nas funções cognitivas e comportamentais logo melhora a memória e o desempenho do cérebro;
• Evita problemas do sistema nervoso central.
Comprar salmão de viveiro para quê?!
As cavalas mais pequenas são melhores para iscar, mas quando não as encontramos, vamos pelo que há… e cortamos filetes. |
Há vantagens imediatas pelo facto de pescarmos com este peixe. A resistência da sua pele é a suficiente para manter o isco no anzol durante o tempo suficiente para conseguirmos ferrar um pargo, uma abrótea, um safio, um sargo. Todos gostam de cavala.
Dificilmente poderemos encontrar algo que tenha melhores características para a pesca vertical que é correntemente feita na nossa costa.
Sem dúvida a sardinha faz concorrência, é de resto a melhor isca que podemos utilizar, mas é difícil de conseguir com a qualidade e frescura devidas.
E com alguns dias, ou congelada, torna-se mais frágil. Para além disso, não pescamos sardinhas pelos nossos próprios meios, ao contrário da protagonista deste artigo.
A cavala tem a consistência certa para isca, é resistente qb, é atacada por todo o tipo de peixe, é barata, e existe em todo o lado.
O difícil é encontrar zonas da costa sem elas. Tenho para mim que as profundidades entre os 15 e os 25 metros serão as mais produtivas, onde as podemos encontrar com mais facilidade.
Não será por acaso. Os predadores de maior porte começam a sentir incómodo por estarem em águas tão baixas, e isso quase elimina a presença de tintureiras, atuns, ou espadartes, por exemplo.
Ficam outros, que aí se sentem como “peixe na água”, o caso dos robalos, das anchovas, das corvinas, dos sarrajões e lírios.
Mas em caso de pressão, as cavalinhas podem sempre encostar mais e mais...
Já vi os golfinhos do Sado a caçar cavalas a dois metros da praia, com as barrigas encostadas na areia. Mas elas espirram em todas as direcções e no fim sobram sempre algumas para continuar a reproduzir.
Por vezes acontecem duplas. A densidade de cavalas é muito grande, e a competição leva-as a cometer excessos. Neste caso, uma sarda estava misturada com as cavalas. |
A ideia que me fica é que não há quem não queira fazer mal a estas desgraçadinhas.
São aos milhões na nossa costa, e estão sempre à mão quando necessitamos de isca orgânica. A minha sugestão é de que não vale a pena gastar dinheiro em isca, quando ela está em todos os lugares onde vamos, e custa zero.
Uma cana ligeira de jigging, linha fina, e um jig, e está feito.
Vejam abaixo:
Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade
Aquilo que gostava que retivessem é apenas a enorme facilidade que temos em conseguir as iscas necessárias para muitas horas de pesca, sem gastar dinheiro.
É um flagelo aquilo que se paga por uma caixa de ganso, um pacote de casulo, um molho de lingueirão, que a seguir será beliscado por peixes que têm muito pouco interesse, arraia miúda, com bocas pequenas e dentes acerados, que roubam e reduzem a nada as iscas que mandamos para o fundo.
Com os filetes de cavala o custo é apenas o do equipamento básico de jigging, que serve para muitos anos. E que nos servirá para outras pescas, nomeadamente uns robalos, uns atuns sarrajões, uns pargos.
Como conjunto de jigs a adquirir, aconselho as gramagens de 5,7, 10, 12, 20, e 30 gramas. Algo como isto, mais jig menos jig. Aqui registo meia dúzia, mas se o orçamento estiver apertado, podem reduzir para menos peças, eventualmente 7 gramas (a usar em águas baixas, de 10 até 15 metros), 12 gramas, (a usar em águas até 20/25 metros), e deixamos os 20 e 30 gramas para ir um pouco mais fundo, em bolas de peixe que estejam a aparecer pelos 30 a 35 metros. Em função da profundidade, dos níveis de correntes e vento que tenhamos de enfrentar, assim optaremos por um ou outro jig. Sempre com a preocupação de pescar o mais ligeiro possível.
Com um jig de cada, estamos superequipados para todas as situações quem nos podem aparecer. Relativamente a cores, as cavalas nem são muito esquisitas, comem tudo e com boa boca, pelo que podem ir pelas vossas preferências de cor, ou até clubísticas...
E os peixes? Quem come a cavala no seu habitat natural? ….Todos!
Vejam abaixo dois dos muitos peixes capturados por Carlos Campos, no primeiro fim de semana de Outubro, a pescar com cavala:
Fanecas, safios, mas também carapaus, sardas, abróteas, ruivos, (as próprias cavalas), douradas, pargos, rascassos e besugos. Tudo gente santa que morde nas iscadas de cavala. |
É francamente mais fácil procurar quem não gosta de cavala, por ser uma lista muito reduzida. Trata-se pois de um isco muito universal, a ser-nos útil em qualquer situação.
Experimentem.
Vítor Ganchinho
Boa noite. Uma pergunta de um novato, onde se podem encontrar, é em qualquer lado outem que se procurar com a sonda ou assim?
ResponderEliminarMuito obrigado
Bom dia António Lopes
EliminarNenhuma pergunta é de novato, porque isso somos todos nós. Acredite que eu sinto que apenas destapei um pouco a ponta do véu, e já pesco há 53 anos....
Todos somos novatos e vamos aprender até sermos velhinhos.
Em relação à questão que coloca, o que lhe posso dizer é isto: as cavalas são porventura hoje em dia o peixe mais comum da nossa costa. Há muitas toneladas de cavala na costa.
Se quiser, e por outras palavras, o difícil é não as encontrar.
Parto do principio que sai de barco, que não pesca de terra. De barco, é garantido que há muitas, a partir dos 10 metros de fundo, por aí.
Eu, quando estou bem "motivado", faço cavalas a jigging ao ritmo de 4 por minuto.
Normalmente saio no barco, coloco em cima de um dos muitos cardumes que a sonda marca e lanço o meu jig. Prefiro pescar com cavalas pequenas, até aos 20 cm, dão iscadas melhores, mas nem sempre as encontro e por isso, por isso é o que houver. Quando o mar está calmo, a água azul, e elas estão perto da superfície, temos as condições ideais. Nessas condições, um jig de 5 gramas é uma arma mortífera. E porquê? Porque esse tipo de jigs tem o tamanho certo, elas engolem-no muito facilmente e perdemos poucos toques. É só uma questão de ritmo. Basta estarmos a pescar com luvas, para podermos dar desembaraço, para podermos desferrar muito rapidamente. Perde-se mais tempo a desferrar que a ferrar outra.
O último dia que saí de barco e enchi um balde de cavalas foi ontem de manhã. E deu para seis pessoas pescarem ate às 14.00h. Trata-se de um ritual que cumpro há muitos anos, sair, pegar numa cana de jigging e pescar a isca com que pesco. Não compro isca.
E os resultados foram bons, as caixas vieram compostas de peixe. Tudo pega na cavala.
Vai ver aqui no blog imagens de uma dourada bonita que fiz com cavala na semana passada.
Abraço
Vitor
Muito obrigado. Saio de barco, mas pouco não consigo sair as vezes que desejava a vida não tem permitido. Tenho um semi rigido e comecei com o gosto da pesca / mar (não pesco nada) à relativamente pouco tempo. Leio todos os seus artigos no blogue, da próxima vez vou experimentar e ver se consigo apanhar para utilizar. Abraço
ResponderEliminarBom dia António Lopes
EliminarVai ver que consegue com muita facilidade.
Apenas tem de colocar o barco em cima do cardume de cavalas, pegar num jig adequado à profundidade a que estão ( se estiverem à superfície, a uns 5/ 10 metros, bastam 5gr, se estiverem a uns 20 metros, opte por 12/ 15 / 20gramas) e, considerando a corrente, posicionar o barco correctamente. A deriva vai levá-lo acima do cardume e elas são tão vorazes que comem tudo. Basta encontrá-las e é garantido.
A partir daí, elas ferram-se sozinhas, pouco terá a fazer para conseguir o seu balde de cavalas.
Se tiver dificuldades, diga, que eu procuro ajudar.
Sei que vai sair mais um artigo onde falo de cavalas, nos próximos dias.
Abraço
Vitor
Boa tarde . Muito obrigado pelas respostas , pela disponibilidade e pelo fantástico blog. Abraço
ResponderEliminarAntonio, bom dia
EliminarFique atento, porque eu consegui no fim de semana passado fazer mais algumas imagens sobre a captura de isca.
Vai passar num destes próximos dias. É o Hugo Pimenta quem organiza a publicação dos artigos, mas sei que vai ser em breve.
Diga-me só se tem algumas dúvidas após ver o próximo filme.
Abraço!
Vitor
Boa tarde. Vi hoje no blogue a publicação da iscada da cavala (Sobre a iscagem dos anzois), o video está a explicar muito bem. Muito obrigado
EliminarBoa tarde António Lopes
EliminarVai ter direito a um artigo dedicado a si.
Com um curto filme, em que pesco as cavalas. Estavam um pouco mais fundas que o habitual, mas dá para ter uma ideia muito real de como é feita esta pesca de isca.
O filme não tem cortes, é apenas uma peça.
Fique atento.
Abraço
Vitor
Muito obrigado por isso, vai ser muito importante ver ao vivo para ter ideia real. Não consegui ainda dar com elas hehehe. Não se se é problema da sonda ou meu, mas certamente que é meu que entendo pouco ou nada de pesca.
ResponderEliminarAssim que me for possível gostaria de fazer um curso/pesca consigo para aprender o básico para apenas para me divertir, já trocamos uns emails. Sou aquele que vai loja de pesca compra/comprou o material desadequado (sem saber claro) para se "sentir pescador" e não pesca nada. O tempo também é pouco face á minha vida pessoal neste momento. Mais uma vez muito obrigado pela partilha de saberes e conhecimentos.
Abraço
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