OS ROBALOS ANDAM AÍ, CHEIOS DE FOME...

Quando pescamos demasiado pesado, digamos jigs a partir dos 80 / 100 gramas, perdemos capacidade de animar as nossas peças de forma eficaz.
Ganhamos outras coisas, como a velocidade de descida, a facilidade de desenrolamento da linha, a certeza de que o jig irá ficar na vertical perfeita em relação ao barco, mas de facto perdemos tudo o resto.
Falo de dar um aspecto real ao jig, de o pôr a “saltar” aos olhos dos nossos predadores de forma realista, credível. E o que é isso de ser…”credível”?!
Um peixe em dificuldades move-se de todas as formas menos aquilo que faz um jig pesado a cair para o fundo, em jeito de “pedregulho”. Falo de uma queda livre, recta. Isso é muito pouco interessante para um peixe.
Da experiência que tenho de ver cardumes de comedia, aquilo que fica é isto: os peixes saudáveis formam cardumes compactos, com movimentos coordenados, regulares, e deslocam-se com um determinado rumo. Apostam no efeito de grupo para detectar predadores e procuram evitá-los.
O peixe debilitado não faz nada disto. Desde logo não consegue manter-se no meio do cardume, porque os outros evitam-no, não lhe permitem uma marcha em grupo.
A razão é simples: o peixe ferido ou doente tem um tipo de natação deficiente, intermitente, arritmada, e isso atrai predadores. Não é do interesse do grupo ter um elemento debilitado nas suas fileiras, porque atrai “azar” sobre todos.
Na natureza, impera a frieza e a pouca complacência que, por exemplo, nós humanos dedicamos a pessoas com limitações. Num cardume, ninguém espera por quem se atrasa, um peixe limitado é deixado para trás, entregue à sua sorte.
Aquilo que acontece é que esse peixe debilitado chama a atenção sobre si a todos aqueles que têm dentes e fome. E os robalos e todos os outros procuram-nos avidamente, porque são presas mais fáceis que todas as outras.
A mesma quantidade de alimento para uma mobilidade mais reduzida. Isso faz sentido, e não prenuncia vida longa a quem precisa de tempo para curar feridas, ou ultrapassar qualquer tipo de doença. Morre-se muito rapidamente e ponto final.
Aquilo que os nossos jigs procuram imitar não são os peixes de cardume, os saudáveis. Esses são os difíceis, aqueles que têm vitalidade e argumentos para tornar cara a sua captura. Que obrigam a alto dispêndio de energia.
Pelo contrário, os debilitados não conseguem sequer manter uma postura direita, uma natação devidamente sincronizada. Movem-se a espasmos, com arranques e quebras bruscas de velocidade no seu deslocamento. Pior que tudo, inclinam-se para os lados, bamboleiam sem nexo, exibem os flancos, e ainda pior …o ventre branco. Isso é um sinal de fraqueza, de falta de energia vital e só por si basta para condenar à morte quem o faz. Mostrar o branco do ventre é algo que aciona todos os alarmes, e significa “estou a morrer”.
Os nossos jigs em queda para o fundo são algo que é tomado pelos nossos predadores como um elemento fraco, que está nessas condições.
Num mundo onde a competição por alimento é imensa, algo que tomba em folha seca a fazer vibrações acaba por tocar todas as campainhas. Os predadores das proximidades entendem-no rapidamente e aprontam-se de imediato para dar conta do assunto.
E é aí que entra a questão do jig que vibra, que faz patamares, que desliza lateralmente suportado pela coluna de água, que mostra todas as suas cambiantes de cores, eventualmente espelhados metálicos, e o outro jig, aquele que afunda em queda livre, recto, sem qualquer tipo de estimulo ou sequer algo que dê ao predador uma ténue ideia de que se pode tratar de um peixe em dificuldades. Um jig pesado não encontra qualquer tipo de sustentação na água, apenas cai como um prego. A acção expectável é toda ela desenrolada na subida, onde de facto é mais fácil que o toque do peixe seja detectado.
Mas que faz perder grande parte dos ataques que ocorrem no sentido descendente. O que é uma pena, pois dá um prazer imenso conseguir perceber a subtileza destes toques.
Vejam abaixo um robalo que pesquei na descida, com um jig de 30 gramas da Shimano:


Este robalo engoliu o meu jig da Shimano na descida, ficando com um triplo e um assiste duplo dentro da boca. Deu trabalho a desferrar, mas também muita segurança a trabalhar o peixe.


É verdade que a profundidades muito significativas, digamos a partir dos 100 metros, não chegamos lá com jigs demasiado leves.
Mesmo um pouco acima disso, na casa dos 70 a 90 metros, em condições mais difíceis, muito vento, demasiada corrente, a exigência por mais chumbo faz-se notar.
Mas ainda assim, tenho para mim que devemos explorar tudo aquilo que está ao nosso alcance para pescar o mais leve possível. As vantagens são evidentes e traduzem-se em mais facilidade de manejo da cana, menos esforço físico para quem pesca e muito mais ataques. E é disso que se trata: ter mais contactos.
Podemos ter uma incrível técnica de pesca, podemos estar no melhor sítio do mundo, mas se o peixe não entra, nem vale a pena. Necessitamos de ter a certeza de que o peixe estará interessado em morder o nosso jig, porque sem isso, estamos apenas a fazer “figura de corpo presente”...
Os jigs ligeiros, dos 20 aos 60 gramas como peso de referência mais comum, dão-nos isso: mais reactividade por parte dos predadores. Não é por acaso.


Equipamento ligeiro permite-nos pescar várias horas, sem cansaço. Mais ainda:
TEMOS MUITO MAIS TOQUES!


Quando pescamos com jigs mais longos, por norma o peixe vem preso por um ou dois anzóis de um dos assistes duplos do jig. Em lutas muito violentas, por vezes acabam por se espetar também no anzol da outra ponta do jig, mas não é algo que tenha de acontecer sempre. Tem a vantagem de raramente a linha entrar em contacto com os dentes do peixe, muito abrasivos para a nossa baixada de nylon ou fluorocarbono.
Com jigs ligeiros, o comprimento e volume é francamente menor, e por isso aquilo que é habitual é que sejam “aspirados” por completo. São engolidos. Disso resulta o facto de a prisão ser sempre muito efectiva, dando poucas possibilidades de fuga.
Um robalo bem ferrado passa a contar apenas com a possibilidade de poder romper a linha. E isso pode de facto acontecer, quando os dentes a raspam durante muito tempo.
Aí, sejamos francos, se pescamos com linhas baratas, por exemplo o nylon de baixa qualidade à venda em armazéns chineses, mais vale pensar em optar por diâmetros um pouco acima. Mas já estamos a perder algo, quer em termos de visibilidade, quer do trabalho do próprio jig.
A outra opção é avançar por um fluorocarbono de boa qualidade, e deixar que raspem aquilo que quiserem, porque no fim, acabam sempre dentro da geleira.
A minha opinião é a de sempre: prefiro gastar mais 3 ou 4 euros numa linha boa que perder um peixe de boa qualidade. Não o valorizo em euros, porque não vendo peixe, mas valorizo em emoções, em desempenho, e aí a perda é muito maior que aquilo que gasto a mais na linha. Sempre. Não conheço ninguém que não fique desapontado por perder um peixe grande. E já agora…também perde a amostra/ jig que estava a utilizar.
Por isso mesmo, prefiro jogar pelo seguro e não arriscar uma rotura que pode ser evitada no momento da aquisição da linha. Há quem opte pelo mais barato que encontra no mercado e por isso mesmo acaba por ter muitos motivos de lamentação.
No meu caso, isso é bem difícil, utilizo o fluorocarbono Ti da Varivas, no diâmetro de 0.33mm. Trata-se de uma linha com protecção de titânio, que resiste enormemente a esforços de raspagem.
É a resposta que os japoneses encontraram para situações limite, em que há peixes a roçar linhas nas pedras, ou aqueles que, ferrados muito fundo, ou a dar luta durante mais tempo, passam os dentes no fluorocarbono repetidamente.
É inglório que se pesque um peixe a 90 metros de fundo e se venha a perdê-lo a 2 metros, com o barco à vista. É natural que o peixe, ao dar com o barco, tente dar um último esticão para se libertar.
E nunca são os pequenos que partem a linha, são apenas aqueles que têm peso e força os que vão embora. Se quisermos entender, ….os grandes, os que nos interessam mais.

A linha é esta:


Clique AQUI para ver na loja


Ao fim de algumas horas e depois de umas quantas capturas com peso acima da média, é conveniente cortar alguns centímetros de linha e voltar a fazer o nó.
Com poucas capturas, ou peixes de tamanho corrente, nem vale a pena.
Esta linha é algo a que chamo de “seguro de vida” quando saio aos robalos e quero ter certezas. Por vezes quem pesca a meu lado pergunta-me “mas tu nunca ficas nervoso com os arranques dos peixes?! Não achas que algo pode partir? ”…
Na verdade, quando temos material a sério, canas adaptadas ao nosso estilo de pesca, carretos bem lubrificados, e linhas de alta qualidade, não precisamos de ficar nervosos. Apenas temos de cumprir com aquilo que deve ser feito, porque tudo foi e previamente testado pelos fabricantes. Tudo foi pensado antes, até à exaustão, e por isso os imprevistos são muito poucos.

Vejam aqui o filme deste robalo com o jig bem dentro da sua boca.
Nem só os pargos e robalos atacam os nossos jigs, por vezes, outros peixes aparecem, mesmo os mais inconvenientes, tal como o venenoso peixe aranha de maus instintos que podem ver a seguir:


Clique na imagem para abrir e na rodinha das definições para melhorar a qualidade


Um jig muito curioso este, da Shimano, estou a obter resultados muito interessantes com ele. Na circunstância equipei com um assiste duplo da Daiwa, e um triplo à cauda. E como os robalos estavam a engolir o jig, cada toque era uma captura. 


Neste caso, aquilo que faço é aproveitar um jig que a Shimano desenvolveu para um outro tipo de pesca, retiro os anzóis que vêm de origem, e aplico outros, mais adaptados ao tipo de peixes que temos na nossa costa. É um tipo de bricolage que faço com gosto em minha casa, antecipando momentos futuros. Explico-vos o meu ponto de vista:
Frequentemente, os peixes vão aos assistes de cabeça, tentando interromper o movimento de ascensão do jig. Por isso, temos de conseguir conjugar o tamanho, a resistência mecânica a esforços de abertura, e também muito importante, a questão do afiamento dos anzóis. Falamos de agulhas, não de martelos. Uma ponta de anzol deve espetar sem esforço, deve penetrar facilmente na carne ou osso do peixe, sem ser necessário fazer demasiada pressão. Porque muitas vezes temos toques ligeiros, subtis, e nada pior que perdê-los por falta de qualidade do afiamento.
É muito importante que estes anzóis tenham as características certas. Disso depende o sucesso da nossa saída. Os que podem ver na imagem são estes:


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Existe um tamanho acima, o L, que pode também ser utilizado, quando temos peixe com peso nos pesqueiros. Mas este tamanho M já resolve bem a maior parte dos casos, e sendo muito afiado, nunca abre.
O triplo tem a ver com a minha obsessão por trazer umas lulas para casa. São muito apreciadas pelas minhas filhas e por isso eu sacrifico um pouco a acção de vibração do jig, e substituo o assiste de cauda pelo anzol triplo. No fim, a cada um a sua decisão.


Pormenor do jig da Shimano.


Uma pequena peça pode, nas condições certas, proporcionar-nos momentos de incrível felicidade.
Bem sei que muitos de vós nunca experimentaram pescar com artificiais, mas acreditem que é bastante divertido. E produtivo!



Vítor Ganchinho



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