E OS ROBALOS GRANDES, ONDE ANDAM?...

Esbarrei há dias com um pseudo pescador, que discursava perante uma assistência de várias pessoas que o escutavam atentamente, afirmando haver uma infinidade de robalos no Tejo, de tamanho “razoável”, a morder nas minhocas.
Pelas palavras dele, seriam algo como “robalos de quatro =1 kg”…..ou seja …robalotes de 250 gramas, uma perfeita lástima de atitude, algo que não passa de uma indigente e miserável acção a que nem atribuo o nome de Pesca. Nem a pessoa em causa merece o nome de Pescador.
Para gente desta, reservo um comentário discreto. Algo como: “ Prezado sr….informamos que o resultado da análise/ biópsia da mancha vermelha do seu pénis, era afinal apenas baton. Pedimos desculpa pela amputação…”

São essas as pessoas que me levam a supor que a atitude da GO Fishing Portugal de não vender iscos orgânicos, por exemplo minhocas, tem …fundamento.
Robalos, pescamo-los quando têm tamanho, peso, e força suficiente para nos dobrarem as canas e ameaçarem partir as linhas. Pescamo-los quando nos fazem sofrer para os termos ao alcance da nossa mão. Isso é pescar.
Senti um tal incómodo e revolta interior que, num impulso, resolvi voltar ao tema dos robalos, para tentar dizer algo que não tenha dito até ao momento aqui no blog.
Nesta série de artigos vamos falar de correntes, de ventos, de temperaturas, e sobretudo daquilo que é o predador mais emblemático de todos aqueles que habitam as nossas águas.
Podemos orgulhar-nos de ainda termos robalos, ainda pertencem à nossa “carteira” de nobres espécies atlânticas disponíveis para pesca em Portugal. Há países europeus onde já não existem.
Repito: é bom podermos dizer “ainda temos robalos”!


O kayak revela-se como um excelente meio de conciliar esforço físico com pesca lúdica. Uma excelente opção para quem quer pescar e ao mesmo tempo sentir-se saudável.


Como e onde pescá-los?

Estamos em tudo dependentes daquilo que são os instintos primários do robalo. É ele quem determina as formas de pesca que podemos adoptar para o conseguir.
Bem sei que há quem lhe atribua “manias” e poderes ocultos, quem pense que um robalo é um ser de impossível entendimento. Nem por sombras. Há é uma infinidade de factores que o obrigam a mudar as suas estratégias de caça, e por isso muda de locais, de horários de alimentação, de profundidades, etc. E por isso uns dias encontramo-lo nos sítios onde pescamos, e noutros …não. Não estão lá.
Haverá zonas que são tão propícias em termos de condições (falamos de segurança, de disponibilidade de alimento, de potencial para montar emboscadas, de profundidade suficiente para permitir descer até às termoclinas de temperatura mais confortável, etc) que dificilmente não terão sempre alguns peixes a caçar. Mas devemos analisar o “onde estão” numa perspectiva mais global, mais generalista, porque há uma clara tendência para que os robalos se desloquem em massa para dentro dos rios, ou para fora, para sítios baixos ou para sítios fundos, conforme as condições meteorológicas que são obrigados a enfrentar.
Digamos que há uma tendência para que a movimentação seja feita obedecendo a um padrão. E sim, há momentos em que isso coincide com o local onde estamos habituados a pescá-los. Depois ainda temos de acertar com as horas de alimentação, as horas em que vale a pena lançar as amostras.
Esses locais são conhecidos, não se começou a pescar ao robalo ontem, mas nem todos estarão acessíveis. Alguns poderão mesmo, hoje em dia, ser reservas naturais, o que inviabiliza (ou deveria inviabilizar, porque eu passo ao largo e vejo lá pessoas a pescar!...), e fundamentalmente aquilo que revelam é uma mistura de condições naturais que se aproximam, mais que outras zonas, daquilo que é o ideal para este predador.
Mas na verdade podemos encontrar robalos nos recantos mais inesperados. Se existe alguma possibilidade de obter o “kit de sobrevivência” mínimo, leia-se segurança, comida e condições de habitabilidade, eles podem estar lá.
Sendo um peixe eurialino, com muita tolerância a salinidades baixas, podem subir os rios até locais insuspeitos. O Guadiana tem robalos no Pulo do Lobo, a muitos quilómetros da foz do rio.
São nessas condições vizinhos de carpas, achigãs, barcos, etc….estranhos peixes para quem daí a semanas poderá estar no mar, a perseguir cavalas.


Quem não sentir no seu interior algum “nervoso miudinho” para lançar uma amostra, nem vale a pena tentar ser pescador. Mais ainda: se ao olhar para esta foto não souber onde deve cair com precisão o seu artificial, …esqueça. 


Já aqui falámos detalhadamente sobre o equipamento de pesca. E inclusive sobre as amostras. Podemos sobre estas avançar um pouco mais, porque o futuro está aí, há muita coisa nova a sair das fábricas, os engenheiros de produção merecem bem o seu ordenado mensal, porque não param de nos surpreender com novidades.
Prometo-vos um artigo de arromba sobre amostras, logo que volte do Japão, onde vou ver o que há de novo.
Para os nossos amigos robalos não serão propriamente boas notícias.
Quando perseguem uma amostra, eles beijam dinamite pura! Duas fateixas de anzóis afiados e com barbela não são brincadeiras para crianças.
E o equipamento à nossa disposição é cada vez mais eficaz, mais ligeiro, mais fácil de utilizar. Receio que quando estiver mesmo muito bem afinado, possamos não ter robalos para pescar….


Um peixe com muita mobilidade em condições de natação difíceis, com correntes fortes, tira partido disso, e consegue facilmente surpreender as suas vitimas.


Amanhã vamos continuar esta série de artigos dedicados ao robalo, com detalhes relativos ao seu posicionamento de caça.



Vítor Ganchinho



5 Comentários

  1. António Lopes10 novembro, 2022

    Mais um excelente artigo, este para fazer refletir no que desejamos para o futuro de todos.

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    1. Está nas mãos de cada um de nós. Um dia deixará de estar, e aí todos vamos sentir a falta de um peixe que não respeitámos. Em França, o país foi dividido a meio, e uma parte não pode pescar ao robalo e ficar com um único, a outra pode conservar dois exemplares. Não temos de chegar a isso para perceber que não vale a pena matar robalos juvenis!!


      Abraço
      Vitor

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  2. Revejo-me nesse pensamento, seja em q tipo de pesca for. Amostras? Só se forem de metal ou plásticas. Debato-me várias vezes com pescadores que para eles, se mordeu é peixe, e é para levar para casa. Que gozo dá levar para casa um peixe/cefalópode amostra? Enqto não se mudar a linha de pensamento só temos a perder.

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    1. Penso que sim.

      Esta sequência de vários artigos dedicados ao nosso peixe mais emblemático, o robalo, pretende chamar a atenção para pequenos detalhes que podem ser importantes no momento de decidir quando como e onde.

      Vamos ver....



      Abraço
      Vitor

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  3. Boa tarde José Pombal

    É sempre um prazer ler as suas mensagens.
    Da troca de ideias surge a luz, e nestes casos, estou plenamente convicto de que quantos mais, melhor.
    Sobre a questão da captura e solta, muito já se disse, mas muito haverá ainda a dizer, até que uma percentagem significativa de pessoas possa chegar a fazê-lo.
    Dificilmente chegaremos, num país onde os recursos financeiros são escassos, e onde as pessoas pescam essencialmente para comer, ao desprendimento que podemos encontrar por exemplo em Inglaterra, onde a maior parte das pessoas pratica activamente o catch &release.
    Tem a ver com mentalidade, com princípios, mas também com a não necessidade de preservar o peixe. Os salários são bem mais elevados daquele lado, UK.
    Sem fundamentalismos, (eu trago peixes para casa para a família, mas posso dizer-lhe que a quantidade de peixe que capturo e que chega efectivamente à mesa dos meus é inferior a 10% das capturas), parece-me que aquilo que há a evitar é que as medidas mínimas dos peixes sejam ignoradas. Um peixe que já reproduziu, pelo menos uma vez, cumpriu a sua função de perpetuação da espécie.
    Veja o caso das douradas de Setúbal: este ano, já a meio de Novembro, ainda estão fora dos "mentideros" das redes sociais. E vamos ver se chega o momento de voltarem a ser faladas. Porque não é possível manter um stock de efectivos disponíveis para pesca, se antes disso pescarmos a maior parte dos grandes reprodutores. No fundo aqueles que contam.
    Porque sou do tempo das douradas de 7 kgs, custa-me ainda mais ver o estado a que se chegou. Diz-se hoje: "fui às douradas e fiz 12"....
    Leia-se "pesquei 3.5 kgs de douradas". Eu sou do tempo em que uma dourada de 3.6 kgs era algo normal....


    Abraço
    Vitor



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