ROBALOS - CONDIÇÕES ADVERSAS

O sol regula a temperatura da água do mar, e este, por sua vez, regula o clima que temos.
Dito desta forma, parece simples. Diria até simples demais.
É verdade que os oceanos, que ocupam cerca de 70% da superfície da Terra, desempenham um papel muito importante na regulação climática.
De todos os elementos terrestres, a água dos oceanos é quem mais absorve energia solar, o que justifica o seu peso decisivo sobre o clima da Terra.
Os mais diversos fenómenos climáticos estão diretamente associados às variações de temperatura das águas dos oceanos. Mais ou menos um grau centígrado e tudo muda!
Os oceanos são importantes na distribuição do calor, através das correntes marinhas e da circulação atmosférica, que ocorre, principalmente, com a humidade gerada pela evaporação da água do mar.
A maior parte da radiação solar absorvida pelos oceanos é libertada para a atmosfera por evaporação, em forma de vapor de água, em humidade. Essa humidade, por sua vez, transforma-se em nuvens que se precipitam, dando origem à chuva.
Do mesmo modo, a condensação da humidade quente gerada pelo mar também está na origem da formação de furacões e ciclones. O sol e o mar, sempre no centro de tudo o que passa no nosso planeta.
Estamos de facto muito dependentes do astro rei em tudo aquilo que é sentirmos calor ou frio.
Para nós pescadores, um bom dia de pesca pode ser um daqueles dias a 23ºC, de mar muito calmo, de águas mansas, sem vento, sem o sopro de uma brisa.
Chamamos a isso um bonito dia de Primavera, sentimo-nos confortáveis. Mas se não for assim, se tendermos para extremos de calor ou frio, está na nossa mão controlarmos a nossa temperatura corporal, retirando ou adicionando roupa. Mais frio, …mais roupa.
E os nossos peixes? Que podem eles fazer para resolver essa questão térmica?


O crédito a quem o merece: excelente foto do Hugo Pimenta, pessoa que trabalha diariamente para vós aqui no blog na área da edição, para que possam ler convenientemente estes artigos. É ele quem estrutura as fotos e os textos que escrevo. Outra pessoa irá publicá-los nas redes sociais, o António Marques, a quem muito devemos em termos de divulgação.


Normalmente não pensamos nisso, porque temos o nosso problema resolvido. Mais um casaco, e achamos que tudo está bem, …para todos. Mas os peixes são obrigados a encontrar formas de se protegerem da inclemência do tempo, e de formas que por vezes nem nos passam pela cabeça. E os problemas não se esgotam em questões térmicas. Porque eles têm de comer, e para isso têm de capturar presas.
Interessa-lhes um dia de mar calmo? Na óptica de um peixe, por exemplo um robalo, um horrível dia de ”calmaria” pode ser uma …tragédia.
E é aí que a visão que temos do mar choca de frente com aquilo que são as necessidades mais elementares de quem caça para poder sobreviver.
Que interessa a um robalo? Seremos capazes de nos colocar no seu lugar, ...mesmo?! Seremos capazes de conseguir abdicar do enorme potencial do nosso cérebro e passar um dia a ser apenas um ser físico, com escamas, algo que reage naturalmente a estímulos de fome, segurança e instinto nato de caça?
De facto, tudo se complica quando invertemos as posições. Está tudo bem quando aquilo que lançamos à água são linhas e amostras, às quais pedimos que nos tragam um peixe que acredita estar a perseguir um peixe vivo. Mas, e se nós estivéssemos do outro lado, na água, onde cai a nossa amostra?!
Tentem pensar como um peixe, como um ser que depende do efeito surpresa para surpreender uma presa. Que condições gostaríamos de ter?
Não vos digo para mergulharem a cabeça debaixo de água e tentarem apanhar com os dentes um pequeno peixe. Nunca o conseguiriam. Somos lentos e desajeitados demais. Tão só que utilizem o cérebro super desenvolvido de um humano, esse cérebro que nos trouxe até equipamentos de pesca absolutamente soberbos, de qualidade irrepreensível, para meditar um pouco sobre aquilo que de verdade interessa a um primário predador, comedor de tudo aquilo que lhe possa matar a fome: o robalo.
Vamos fazer essa viagem juntos, pensando em….voz alta.


Em águas com pouca profundidade, a questão térmica é ainda mais importante. O desgaste energético que as baixas temperaturas provocam é tremendo, e obriga ao consumo de reservas de gordura. 


Estamos na pele de um robalo, no mês de Novembro, com águas superficiais a arrefecer durante a noite, a descer aos 10 graus, e a aquecer a meio do dia, a subirem aos 20 ºC na primeira capa de água.
Os peixes são seres de sangue frio, leia-se de temperatura corporal igual à temperatura do meio líquido onde vivem. Isso significa que, quando em águas superficiais, nos será mais fácil a movimentação em períodos diurnos, por termos o metabolismo mais activado.
Onde passamos a noite fria? Provavelmente numa zona funda, longe da superfície, ou se quiserem o mais longe da superfície possível atendendo à zona onde estamos, encostados a uma pedra ou estrutura que nos proteja da corrente das marés.
Um local que nos garanta a posição sem sermos obrigados a ter de nadar indefinidamente para a manter, porque isso significaria a impossibilidade de repousarmos. A corrente forte obrigar-nos-ia a gastar energia, pelo que encontrar uma pedra ou estrutura sólida que corte o fluxo da deslocação de água é de vital importância. E essas pedras ou obstáculos naturais existem. E também os pilares de pontes construídas pelo homem podem servir para o efeito.
Saber ler as estruturas do fundo é algo de muito importante para o pescador que pretende ter sucesso ao lançar as suas amostras. Procuramos pois locais que ofereçam protecção, repouso, e ao mesmo tempo ajudem a preservar a energia vital do predador.
Aos poucos vamos chegar às pistas certas, mas para isso teremos de continuar a pensar como…um peixe.


Em águas muito rasas, a possibilidade de conseguirmos ter êxito com as nossas amostras resumem-se a momentos do dia onde a questão temperaturas e “conta de água” da maré se reúnem.


Na próxima semana continuamos a desenvolver ideias sobre este tema.



Vítor Ganchinho



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