O ESTADO DAS COISAS...

É preocupação de todo o pescador com formação ambiental querer saber do estado sanitário do mar onde pesca.
O blog peixepelobeicinho tem vindo a fazer eco de situações menos positivas, e estará sempre na linha da frente no aconselhamento daqueles que, mais distraídos, continuam a pensar que os microplásticos, por exemplo, são uma realidade distante, que não nos toca.
A verdade é que sim, foram diagnosticadas mulheres em período de gravidez e amamentação com microplásticos no sangue e no leite.
Os nossos peixes já estão contaminados, e seria bom termos a noção de que o alívio ou agravamento dessa situação está nas mãos de todos nós. Todos somos responsáveis perante um problema desta magnitude.
Quem pesca deve ter a noção de que os seus gestos importam. Quando deitamos ao mar um saco de plástico estamos a cometer um crime ambiental. E também estamos a prejudicar-nos a nós próprios, porque plástico no mar é um boomerang que tem ida e tem volta.




Há organizações que medem e registam dados relativos a poluição marinha. É o caso da WWF, World Wildlife Fund. E dizem eles sobre os equipamentos da pesca profissional:
Todos os anos, dois por cento do material usado na pesca profissional acaba por perder-se ou ser abandonado nos oceanos em todo o mundo. Os cientistas apontam que essa é uma das maiores causas da poluição marinha, “com amplos impactos sociais, económicos e ambientais”.
Num artigo publicado recentemente na revista ‘Science’, investigadores da Universidade da Tasmânia, na Austrália, estimam que, todos os anos, 2.963 quilómetros quadrados (km2) de rede de emalhar, 75.049 km2 de redes de cerco, 218 km2 de redes de arrasto e mais de 25 milhões de armadilhas são deixadas à deriva nos mares. No seu conjunto, a quantidade de redes perdidas seriam suficientes para cobrir todo o território da Escócia.
Além disso, calcula-se que 739.583 km de espinhel, (linha de aparelho de pesca) um tamanho quase duas vezes superior à distância entre a Terra e a Lua, são também abandonados nos oceanos, colocando em risco toda a vida marinha, bem como a própria navegação.
Os cientistas afirmam que a sustentabilidade da pesca é essencial para a segurança alimentar, para os rendimentos e para as economias de comunidades em todo o mundo, pelo que os materiais deixados nas águas marinhas colocam em risco tudo isso, provocando “impactos socioeconómicos e ambientais negativos” e intensificando as pressões originadas pela sobrepesca, pela redução das populações de peixes e pelas alterações climáticas.
As redes de pesca e outros utensílios dessa atividade são uma das principais fontes da poluição marinha a nível global, alertam, acrescentando que o abandono desse materiais nos mares “é cada vez mais reconhecido como tendo um impacto substancial nos oceanos do mundo”.


Há locais no fundo do mar que têm quantidades de cabos como podem ver na foto acima...


Os autores explicam que entidades internacionais como as Nações Unidas e a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) têm desenvolvido e implementado programas e regulamentos com o objetivo de reduzir a presença desses materiais e os seus impactos nos oceanos, através da sua recuperação, da limitação de práticas destrutivas e da melhoria dos sistemas de descarte.
Com este estudo, os cientistas pretendem pôr cobro à escassez de dados fiáveis acerca da quantidade de redes abandonadas nos mares, indicando que “informação insuficiente” levanta obstáculos ao desenho de modelos de gestão mais eficazes e à conceção das políticas, a nível global e regional, necessárias para combater esse flagelo marinho.
Através de entrevistas a 451 pescadores de sete países (Estados Unidos, Islândia, Belize, Peru, Marrocos, Indonésia e Nova Zelândia) e da sua contextualização em dados globais sobre a atividade piscatória, os cientistas perceberam que uma porção significativa dos materiais de pesca foram perdidos por embarcações de menores dimensões. Assim, foi concluído que as tecnologias de navegação e materiais de pesca de melhor qualidade permitiram às embarcações maiores reduzir a quantidade de material perdido.
Os autores argumentam que a análise que realizaram mostra quantidades menores de material de pesca perdido do que indicam números recolhidos em 2019, sugerindo que essa diminuição se poderá dever à melhor qualidade dos materiais usados, bem como à tecnologia mais avançada e de maior precisão que transportam a bordo.
Além disso, apontam que essa redução se poderá também dever à aplicação de mecanismos de gestão da pesca, que facilitam a localização dos materiais perdidos e a sua recuperação.


Pequenas embarcações têm mais dificuldade em rastrear a localização das suas redes, e inclusivé de as recuperar em caso de agarre no fundo rochoso.


De acordo com o WWF, “o material de pesca abandonado é a forma de resíduo plástico mais mortífero para a vida marinha” e que é responsável por afetar negativamente 66% de todas as espécies marinhas de mamíferos, metade das espécies de aves marinhas e todas as espécies de tartarugas marinhas, “frequentemente sujeitando-os a mortes lentas, dolorosas e desumanas”.
A organização ambientalista acrescenta que o que chama de “redes fantasma”, leia-se redes perdidas, também danificam habitats marinhos vitais, ameaçando fontes de alimento e de sustento de comunidades costeiras e de pescadores.
A WWF, num relatório de 2020, estima que pelo menos 10% da poluição marinha seja causada por resíduos da atividades piscatória.
Nós, pescadores lúdicos, podemos ajudar, cumprindo com brio a nossa parte, não poluindo. E chamando dessa forma a atenção da opinião pública no sentido de nos reconhecer valor e sentido de classe, no desempenho da nossa actividade de pesca.

Somos capazes de o fazer!



Vítor Ganchinho



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