GOLFINHOS - TEMPOS DIFÍCEIS

Não serão bichinhos que se queixem muito: desde que tenham comida e algum sossego, fazem a sua vida e não incomodam ninguém.
Os golfinhos gozam de uma imprensa muito boa, uma imagem de seres encantadores, de…”bons amigos” com quem partilhamos o nossos planeta.
Nem sempre foi assim.
A opinião dos antigos, e falamos de pescadores profissionais que na sua totalidade já terão falecido pois terão passado cerca de 100 anos, não era tão positiva assim.
Eram mesmo profundamente odiados!




Das longas conversas que tive com alguns dos grandes pescadores de outros tempos, resulta que a opinião não só não lhes era favorável, positiva, mas sim altamente desfavorável.
Segundo os pescadores de antanho, os golfinhos eram….”bandidos”!
E as razões, do ponto de vista dos homens do mar, eram algumas, convenhamos.
É necessário contextualizar. As circunstâncias não eram as mesmas que temos hoje, o termo ecologia era desconhecido, ninguém o utilizava.
As redes de cotim rasgavam com muita facilidade, e os golfinhos comuns, ou os roazes corvineiros, ao roubarem o peixe emalhado, deixavam-nas em peças.
De cada vez que isso acontecia, eram dias e dias a coser redes em terra, impossibilitados de trabalhar. Dotados de uma inteligência rara, os golfinhos roubavam os peixes presos nas redes, deixando os pescadores a rogar pragas.
A animosidade chegou a extremos, e a dada altura eram vendidos à posta nas bancas da praça de Setúbal, com a designação de “toninhas”.
Também convém dizer que a quantidade de golfinhos existentes era bem superior. Para além dos residentes roazes, acima da centena, (hoje não chegam a 30...) havia também numerosos grupos de golfinhos comuns, a rondar a saída do Sado.
O motivo era o de sempre: presença de isca com abundância junto à costa, sardinha, carapau, cavala, muitas tainhas e…fome.




Os golfinhos fazem as alegrias das crianças e graúdos que os observam a partir dos barcos de recreio, ou de embarcações MT profissionais que se dedicam a promover o seu avistamento. Todos gostam de golfinhos!
Mas existe uma parte negra, que passa despercebida, mas existe.
Diariamente, estes cetáceos saem para as suas deambulações à procura de comida. Encontramo-los muitas vezes nos locais do costume, são muito regulares a visitar zonas que lhes podem oferecer alimento. Para os roazes corvineiros, uma ampla área de acção que vai desde Sines a Lisboa. Têm sido avistados dentro do Tejo, onde encontram boas condições de alimentação.
Muito frequentes também à saída do Sado, onde encontram chocos em abundância, podemos igualmente vê-los a cercar cardumes de carapau a Norte de Sines, ou a prospectar manchas de cavala a sul do Espichel. Deslocam-se muto rapidamente, pelo que estas distâncias são sempre questões de mais hora menos hora.
O golfinho comum, mais pequeno, aproxima-se menos da costa, gosta de ter água por baixo, mas aparece frequentemente em grupos bem mais numerosos. A norte do Espichel são frequentes, em grupos mais reduzidos, e também não serão raros na zona do Canhão de Setúbal.
Para a pesca lúdica, sabemos que afectam o comportamento do peixe que se encontra debaixo do nosso barco. Há efectivamente um abrandar de actividade, perfeitamente perceptível, à sua passagem.
Mas, se não ajudam, também não prejudicam em excesso. Ao fim de alguns minutos após a sua visita, o peixe volta a concentrar-se na sua labuta de encontrar comida e tudo volta ao normal.




Este ano, tivemos um ano anormalmente mau para estes bichinhos. A presença de orcas durante alguns meses (que os comem…) não os deixou aproximar da costa, como habitualmente.
Se em Julho já tínhamos grupos com algumas dezenas de indivíduos, tudo isso se perdeu por força da entrada das orcas na baía.
Para além do incómodo que estas causam à navegação, destruindo os lemes dos veleiros por pura diversão, (foram registados mais alguns ataques este ano, a exemplo de anos precedentes), também apoquentam os golfinhos, que deixam de sentir segurança e saem para outras paragens. Este ano aconteceu isso, os golfinhos ficaram prejudicados.
Com muita pena para todos aqueles que gostam deles.



Vítor Ganchinho



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