PEIXES - E SOBRE TAMANHOS?

Peixes grandes….sim, mas o que é isso de peixes grandes?

Quando analisamos a lista de recordes que existem, que estão registados, algo salta aos nossos olhos de imediato: a maior parte de nós já pescou peixes com tamanhos e pesos bem acima daquilo que está registado como recorde europeu desta ou daquela espécie. Por outras palavras: os recordistas poderíamos ser nós…
Mas queiram saber que a homologação de um recorde não é algo que se possa fazer de ânimo leve. Estou mesmo convicto de que é a sua dificuldade que limita a maior parte das pessoas a procederem aos registos das suas capturas. Não é muito evidente que alguém que sai com a sua cana na mota para ir pescar uns sargos para o jantar, esteja disposto a avançar com todos os trâmites necessários, e muito menos esteja disposto a desembolsar aquilo que é necessário pagar para figurar como recordista europeu.
Mais que isso, imaginemos que sim, que a pessoa tem a paciência de ir até ao fim com toda a papelada, e que conseguiu uma balança homologada, que tem disponíveis as bobines das linhas que utilizou, (e que obrigatoriamente terão de estar certificadas pelo fabricante para obtenção de recordes), etc. Até aqui parece-me bem.
Então e quando o famigerado pescador tiver de pagar uns ….2.000 euros pelo dito sargo, ou pargo, ou o que seja…?!
Há temas para os quais mais vale ser sobrinho de um tio rico...


Registar um recorde implica obedecer a uma série de requisitos.


Todos nós gostamos de bater os nossos próprios recordes. Há mesmo quem tenha um registo muito bem feitinho e actualizado sobre aquilo que faz.
Cada espécie tem uma página, e no fim, existe um registo das condições de captura da peça mais emblemática. Pois seja, nós gostamos tanto de pesca que até dessa forma nos sentimos a …pescar.
Mas devemos ter em atenção que nem tudo o que luz é ouro, e por vezes basta uma leve diferença em termos de latitude para que um bom peixe aqui seja afinal um comum peixe ...ali.
Há uma variação de pesos e tamanhos que têm a ver com as condições naturais dos habitats, e que não pode ser controlada por quem pesca.
Posso dizer-vos que, quando falamos de sargos, há locais onde os sargos de bico, “Diplodus puntazzo”, crescem aos 7 kgs, e no entanto por cá não avizinham nem perto disso.
Ou que os sargos de riscas, as saimas, ou “Diplodus cervinus”, no Senegal são de tal forma abundantes que ultrapassam em muito os nossos comuns e cinzentos sargos comuns, os “Diplodus sargus”. As saimas por lá atingem facilmente os 5 kgs.
As nossas são, em média, bem mais pequenas, por isso há que relativizar esta coisa dos recordes.
Mas podemos dizer algo mais sobre o tema, veja abaixo aquilo que se faz para a obtenção de pesos máximos.


Num ambiente em que a escolha de peixes de grande porte pode ser feita com facilidade, não estranha que os peixes menores, por exemplo os sargos, possam ser menos apoquentados, e dessa forma atingir pesos recorde.  Ninguém os pesca...


Há regiões onde existem em permanência programas de engorda de peixes, no sentido de favorecer a obtenção de recordes. Isso é feito em ambientes controlados, nomeadamente lagos, barragens, onde a alimentação do peixe pode ser manipulada. Aquilo que se paga para pescar nesses locais justifica o investimento. Em França isto faz-se em determinadas barragens, com exploração privada, sobretudo à carpa, que movimenta milhões de euros naquele país.
Sei que nos Estados Unidos há mesmo programas de alimentação intensiva e alteração genética, os quais promovem a pesca de potenciais recordes.
Mais que isso: as pessoas locais são financeiramente estimuladas a lançar para esses lagos peixes vivos capturados noutros locais, com pesos e tamanhos extra, no sentido de promover a cultura do grande, do anormal, do peso descomunal. Paga-se para isso!
Meus amigos, ….isto nada tem a ver com a pesca que praticamos!! Como pode alguém orgulhar-se de ser o recordista mundial de uma determinada espécie, se sabe que esse peixe foi capturado num embalse onde foi “engordado” ao limite?
Sabemos que os peixes, desde que tenham comida em quantidade e qualidade suficientes, continuarão a crescer mais e mais, ao longo das suas vidas. Poderíamos quase estabelecer uma relação entre a idade e o peso, estando a questão da alimentação de qualidade sempre salvaguardada.
Mas não é só isso. 
A taxa de crescimento de cada indivíduo é muito influenciada por factores como o tipo e a quantidade de alimentos, a condição ambiente do habitat, a qualidade da água e a duração do período de luz diária.
A temperatura da água é também um factor extremamente importante. O peixe que vive em climas quentes, normalmente a sul, cresce mais rápido do que o peixe que vive a norte, em águas mais frias.
As diferenças podem ser tão grandes quanto isto: para um peixe de uma determinada espécie atingir os 60 cm, isso pode demorar 1 ano, ou…7 anos. Em águas quentes, o crescimento é muito mais rápido. 




No Japão, os robalos gigantes Suzuki (todos fêmeas) pesando mais de 20 kg, ou são muito velhos ou cresceram a uma taxa anormal. Se são mais novos e já apresentam esse peso, então cresceram no sítio certo, tiveram uma quantidade de alimento muito proteico, e com muita gordura, logo, acima da média.

Na minha modesta opinião, penso que devemos deixar a natureza trabalhar.
Aquilo que resulta da atribulada vida de um robalo, com todas as suas vicissitudes, com tempestades, dias de frio, com sol e águas quentes, com chuva e águas carregadas de lama, de tudo isso sai um peixe que é aquilo que é.
Um lutador, um peixe nobre, imprevisível, capaz de nos dar alegrias tremendas e também, e quase sempre, desilusões de apertar o coração.
Mas é isso, é o nosso robalo, e é esse que queremos pescar, não o “gordo” da aquacultura, que foi preparado para ser pescado e alegrar apenas a quem não olha a meios para figurar em livros de recordes.

Selvagens e imprevisíveis, esses são os nossos peixes!...



Vítor Ganchinho



4 Comentários

  1. Eu acredito que uma entidade que ajudasse os peixes na reprodução era crucial para combater esta enorme remoção de peixe que fazemos dos sistemas aquáticos. Acho que era o suficiente... começando pela água doce que seria teoricamente mais fácil de o fazer ( as nossas trutas autotenes iriam agradecer muito) e culminando com a reprodução assistida dos nossos peixes e posterior soltura nos diversos locais do país. Acho que ajudava a equilibrar as populações de douradas, robalos, sargos, pargos e afins por este pais for. Era açgo que envolvia um investimento considerável ? talvez ... mas o dinheiro das licenças certamente chega e sobra para um centro destes.

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    1. Bom dia André Matos
      Sabe que parte das verbas das licenças deveria reverter a favor da fiscalização, mas infelizmente vai para outro lado: as compensações aos pescadores profissionais que ficam em terra quando o tempo não permite pescar, ou quando é decidido um defeso a uma determinada espécie.
      Entendo o seu argumento.
      Posso dizer-lhe que minha experiência nessa área chega-me dos Açores. As ribeiras do Nordeste de S. Miguel estão cheias de trutas. Cheguei a pescá-las lá acima de 1,5 kgs, e desfrutei muito de um tipo de pesca que entre nós quase não existe, mas que no estrangeiro movimenta milhões de euros/ ano. As ribeiras estão numa zona particularmente acidentada da ilha, com declives de centenas de metros, e por isso existem inúmeras cascatas. Chove muito e pontualmente há cheias. As trutas, quando arrastadas pela corrente, vão todas parar ao mar. São aguardadas por predadores como as anchovas, os lírios, os meros...
      Como fazer para que existam trutas para os turistas pescarem? Repovoando essas ribeiras.
      E isso é feito criando trutas em cativeiro, nos viveiros das Furnas, alimentando-as e procedendo à posterior solta, a intervalos de tempo regulares. É um trabalho espectacular!.
      Há sempre trutas para pescar! Os açorianos não lhes ligam peva. Para que tenha uma ideia, eu cheguei a ir lá, para uma casa de férias que tinha, um moinho que recuperei, com uma ribeira a passar a 10 metros ao lado. Podia lançar uma amostra da janela se quisesse...
      Porque não queria estar ilegal, fui muitas vezes tirar licença legal de pesca. Em Agosto ou Setembro, a numeração da minha licença podia ser a nº 3, a 4....
      Os estrangeiros nem sabem que é obrigatória a licença e os locais, os poucos que pescam, não as tiram deliberadamente.
      Ninguém pesca à truta e por isso há tantas. Nas freguesias do Nordeste, os miúdos por vezes vão pescá-las, para comer, mas fazem-no com ...minhocas da terra. Por isso pescam todas as que querem, as trutas engolem o anzol e a partir daí estão mortas.
      Isto para dizer que muito há a fazer nessa área, e seria bom termos gente interessada em sair da mediania, e apresentar trabalho. Mas não me parece que seja só uma questão de investimento financeiro, é muito mais uma questão de vontade de apresentar obra, de fazer.

      Abraço
      Vitor

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    2. Boas Vitor,
      Não me aprece que seja falta de vontade. Na área em que trabalho existe muito interesse em fazer um projeto destes, agora é preciso admitir que uma coisa deste genero tem de ser uma instituição estatal... uma empresa particular não consegue rentabilizar este processo de forma a poder ser autosuficiente, só com financiamento público. Porque o principal interessado numa instituição destas tem de ser o estado. É o estado que vai usufruir de aumento de pescado nos anos subjacentes e consequente melhoria dos mares portugueses.
      De vez em quando em olhão lá surgem as condições para fazer uma libertação de centenas de peixes (penso que o caso mais recente até foram corvinas) e tem feito diferença ...

      É um tema que tem de ser alguém no governo com o conhecimento de causa ... vem a época das douradas e ambos sabemos o que vai acontecer, sem um suporte destes como acontece em outros países, mais meia duzia de anos e é mais uma safra que acaba. O vitor sabe que já se nota diferença destes últimos anos para por exemplo à 7 ou 8 anos atrás .... principalmente no calibre.

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    3. Bom dia André Matos

      Penso que tem toda a razão.
      Não podem os pescadores, por si sós, assumir mais que a boa gestão daquilo que é a captura e solta de exemplares mais pequenos. Isso podemos fazer, mas se ajuda, não é decisivo.
      Um poder mais alto tem de levantar-se e aí o Estado tem responsabilidade, arregimentando biólogos, criadores de peixe em aquacultura, autoridades marítimas, etc.
      Por outro lado, também me parece ser importante que se gere um ambiente proactivo de protecção a algumas espécies mais debilitadas, mobilizando para a causa todos aqueles que participam no processo de gestão. E os pescadores lúdicos podem ajudar!

      O caso das douradas é emblemático. Eu sou do tempo das douradas de 7 kgs. Os mais jovens não, não são desse tempo....

      Vamos ver o que sai das gavetas do Palácio de S. Bento....



      Abraço
      Vitor

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