Tempo para ir pescar!
As douradas estão aí, e atendendo ao que se tornou uma tradição de pesca em Setúbal e Sesimbra, o tempo certo para as ir procurar é este.
Já choveu, já aconteceram ondulações significativas, na ordem dos 3 a 4 metros, e esse é o click para as douradas iniciarem os seus preparativos para reprodução.
As gónadas já estão desenvolvidas, e a partir deste momento é ainda mais possível que se pesquem exemplares de dourada ovados. Mas já em Julho as havia…há peixes que iniciam o processo muito antes dos outros.
Vamos ter a possibilidade de procurar alguns exemplares de bom tamanho, sabendo no entanto que o grosso da coluna não é esse, são sim exemplares modestos, na ordem dos 2 anos de idade.
A técnica da moda é a “chumbadinha”.
Não que funcione obrigatoriamente mais e melhor que a tradicional montagem vertical, com chumbada e dois anzóis por cima desta, mas porque recolhe as preferências de grande parte dos utilizadores.
As razões não são muito objectivas, porventura poucas pessoas poderão explicar com clareza as razões que as levam a pescar dessa forma. É assim que se faz e pronto!
Tentando colocar alguma racionalidade no assunto, parece-me que a razão da escolha tem mais a ver com seguidismo que outra coisa. Acontece apenas porque, sendo mais utilizada, mais popular, acaba sempre por estar ligada aos poucos dias de sucesso de alguém.
Porque aqueles que regularmente conseguem douradas utilizam a chumbadinha, os seus resultados são mais visíveis. São de imediato publicitados nas redes socias e espalham-se a uma velocidade vertiginosa.
Uma foto com um balde de douradas, e a informação de que aconteceu porque foi utilizada a chumbadinha. Basta isso.
E o sistema torna-se o mais apetecível. E é uma pescadinha de rabo-na-boca: melhores resultados mais seguidores.
Uma significativa parte dos pescadores de douradas nacionais adoptou o sistema e não pensa mudar para outro, porque sabe que alguém conseguiu algures pescarias significativas com aquele. Seguem-se os vencedores, não quem perde.
Muitas das pessoas que participam nas romarias das douradas não conseguirão sequer um toque. É uma lástima dizê-lo: as douradas são apenas uma quimera para o grosso da coluna dos nossos pescadores.
Isso não invalida a melhor das boas vontades e entusiasmo, mas sejamos francos: é muito mais vontade que resultados!
A pesca da dourada é algo que exige conhecimento, tem uma componente técnica muito vincada. Exceptuando dias de sorte em que todos os astros estão alinhados, em que as douradas estão por baixo do barco e de boca aberta a comer franco, todos os outros dias são apenas mais dias em que a excitação da possibilidade de sucesso irá exceder em muito os peixes capturados.
O processo é conhecido: alguém publica imagens de douradas, algumas delas feitas há 6 anos…e todos vão atrás disso.
As marcações de saídas marítimas disparam e os barcos MT enchem de pessoas ávidas de aventura. Sonham-se pescarias em que dilúvios de douradas caem dentro de um balde provavelmente pequeno ao sair de casa e afinal enorme à chegada ao lar. São apenas sonhos que não se concretizam, mas que alguém irá estimular, afirmando convictamente que no dia seguinte sim, foi dia de sorte.
E o ciclo recomeça, sempre com a convicção de que um dia será o dia. E uma vez mais se irão chorar rios de lágrimas sobre o dinheiro gasto, mas a esperança de que um dia irá valer a pena …prevalece. Se pensarem bem, não é muito diferente daquilo que se passa com muita gente que se apresenta às portas dos casinos pelas 10.00h da manhã…
Estas pessoas pescam ao fim de semana, investem numa pescaria o que têm e não têm, na esperança de conseguirem um dia bom.
Mas muitas outras pessoas saem de casa com o mesmo objectivo, e a multiplicação de correntes, âncoras, barcos que chegam e barcos que saem, mudanças de pesqueiro de duas dezenas de metros porque parece que ali ao lado pode ser melhor, fazem com que os bichos não tenham sequer ordem de abrir a boca para comer. Ninguém pensa no que se passa debaixo de água, e na sensibilidade apurada que as douradas têm para detectar factores estranhos. Ruídos não ajudam, e isso não falta em lado nenhum, está a rodos.
Quando as condições são ruins, e normalmente ao fim de semana são, restam os dias de semana. Metem-se férias, e sai-se ao mar carregado de equipamento e esperanças.
E ao chegar, detectam que afinal muitas outras pessoas pensaram o mesmo...
A concorrência pelos melhores pesqueiros é muita e os barcos acumulam-se em espaços reduzidos. Nessas condições, ter material mais discreto é uma ajuda importante.
Hoje falo-vos do peso, o responsável por arrastar a montagem para o fundo.
Se até há poucos anos a única solução era mesmo o chumbo, hoje em dia isso já não é assim.
O lançamento dos acessórios em tungsténio trouxe a possibilidade de pescar com um peso com metade do tamanho. Isso em si, aliado ao facto de existirem hoje linhas de diâmetro reduzido, mas grande resistência linear, veio mudar as regras do jogo.
Falamos dos fluorocarbonos, linhas transparentes, de visibilidade reduzida, que aportam à montagem uma resistência à abrasão muito superior. Isso significa mais resistência quando as linhas roçam a pedra, logo menos roturas, e porque de menor diâmetro, maior discrição na apresentação das iscadas.
Muitas pessoas perguntam como fazer a montagem do tungsténio, e isso motivou a elaboração deste texto. Na verdade é muito simples: é seguir o mesmo figurino da chumbadinha tradicional. Temos dois furos, a entrada é feita pelo tubo de protecção de linha, e a saída pelo outro lado desse mesmo tubo. A seguir, um destorcedor minúsculo assegura o bloqueio, faz de batente. Se formos habilidosos de mãos, colocamos aí uma missanga em silicone, e retiramos o ruído que o sistema poderia produzir.
Em caso de dúvidas, posso fazer uma montagem em filme e passo aqui.
Vejam abaixo a configuração do tungsténio em forma de gota, o qual existe em 35, 42 e 56 gramas:
Existem duas versões, o formato gota, mais indicado para a pesca de chumbadinha habitual, e o formato ogiva, normalmente mais utilizado para a pesca de spinning quando é necessário lançar amostras a distâncias de 70 / 80 metros de distância, por detrás da rebentação.
Aquilo que este tipo de material traz de novo é mesmo a possibilidade de reduzir a metade o volume do peso, pois a sua densidade é bastante superior ao chumbo. Isso quer dizer que, tendo um volume por metade mas o mesmo peso, irá afundar muito mais depressa. O volume da peça que desce é apenas metade, mas o total do peso está lá, pelo que o atrito é muito menor.
Ao reduzirmos a metade o volume da peça que nos leva a isca para o fundo, também estamos a reduzir a metade o factor "irritante" que é aquela estranha peça, que, não tenham dúvidas, é vista pelas douradas.
Os formatos ogiva têm versões que vão dos 5 gramas aos 56 gramas. A Daiwa tem muitas versões, diversos pesos intermédios, na foto um de 28 gramas. Podem clicar AQUI para ver na loja online. |
Espero que seja útil, e que, naqueles dias difíceis em que parece nada acontecer, em que tudo parece difícil demais ou até impossível, possa surgir uma dourada de bom tamanho.
É bom saberem que este equipamento existe.
Vítor Ganchinho