TIRAR CARTA DE PESCADOR - 3

O robalo tira partido de tudo o que possam ser condições de mar adversas. Nada bem em condições difíceis.
Na natureza, se um predador tem uma vantagem técnica sobre os outros peixes, utiliza-a.
E por isso mesmo, em condições de dias sucessivos de alteração de mar, quando há instabilidade permanente, ele encosta a terra, e procura.
Chamamos a isto encostar num “mar velho”, mar revolto de vários dias. A possibilidade de encontrar alimento nos dias anteriores não foi máxima, e isso empurra-os para as nossas amostras.
Nestas condições, é inútil procurar demasiado longe da costa, não é aí que podemos obter os melhores resultados.
O interesse do robalo não estará em caçar ao largo, o peixe estará sim o mais possível junto da borda. É aí que se desenrola a acção.
Podemos considerar que tudo se passa numa faixa de cerca de 50 a 100 metros a partir da ressaca da onda.




As presas procuradas serão todas aquelas vítimas de estado do mar, as mais indefesas perante a inclemência das águas. Com os vermes arenícolas à cabeça, o que quer dizer para um pescador experimentado a possibilidade de utilizar os grandes Sandeel-Slug da Savage, por exemplo.
Montados sobre um cabeçote de chumbo com anzol incorporado, permitem lançar a muitas dezenas de metros, e provocam reações nos robalos de os deixar loucos. E porquê?
Porque as suas presas de eleição, as galeotas, pequenos peixes que vivem parte da sua vida enterradas na areia, acabam por ter de sair, sob pena de ficarem soterradas pela movimentação excessiva destas.
Este é o momento de procurar os robalos onde o mar faz mesmo mal, onde bate forte e com estrondo. Não deixa de ser curioso analisar que estamos a tratar de um adversário que pode ser tão versátil quanto aquilo que nós somos.
Encontramo-lo em zonas de grandes fundos, a mais de 100 metros de profundidade, mas também o encontramos em cotas rasas de 30 cm. Podemos vê-lo em zonas calmas mas é habitual na ressaca das ondas. Está em todo o lado!
Por esse motivo, não posso deixar de achar estranho que os pescadores portugueses os procurem todos os santos dias nos mesmos sítios, da mesma forma.
Estamos a falar de um camaleão que muda muitas vezes de cor, e há quem o queira ver fixo, pregado a um pesqueiro. Os robalos não são isso.
Tanto estão a caçar cavalas no azul como avançam decididos para uma coroa de areia procurando as suas apreciadas galeotas.
Estas, ao sentirem a sua presença, enterram-se na areia e procuram passar despercebidas. Voltarão a sair quando lhes parecer que é seguro. O tempo é algo que para um peixe não é medido ao segundo, nem sequer à hora.
A nossa condição humana leva-nos a querer encontrar soluções imediatistas, rápidas, e na natureza isso não faz sentido. Se há um predador por perto, a presa espera por melhores momentos, o tempo que for preciso.




As armas não estão todas do lado dos predadores, também as presas têm as suas possibilidades. Podem esperar melhores momentos que sabem que chegarão. A descida das águas a níveis minimos favorece-as.
As marés põem e tiram água, e a dado momento, o predador já não tem a conta de água certa, e sai.
As poças de maré, para quem tem a paciência de se sentar a seu lado e esperar, mostram-nos incríveis momentos de luta pela sobrevivência. Não devemos subestimar aquilo que pode estar a passar-se numa pequena lagoa de mar, por acharmos que ali não há nada. Há muito! Assim sejamos capazes de saber ver.
Quando menos esperamos, aparecem-nos salemas, sargos, robalos de 4 cm, e os inevitáveis polvos, que podem chegar a ter mais de 2 kgs….!
Eu encontrei nos Açores pequenos meros que se ficam dentro destas poças, à espera da subida das águas, em perfeitas condições, e em segurança.
Não subestimem as poças de maré, porque aí também se luta pela vida, também se joga o jogo de procurar e encontrar.




Em praias com pouco declive, em rampas muito pouco pronunciadas, lisas de obstáculos, a quantidade de água só passa a ser confortável ao fim de algumas horas de enchente. Por vezes mais de três, ou mesmo quatro horas de enchente.
Podemos encontrar robalos em todos os sítios que lhes sejam favoráveis para caçar: um banco de areia, um peão de rocha isolado, uma passagem de água entre duas pedras. Tudo lhes serve.
Eu pesco sobretudo de barco, penso que me dá mais mobilidade, mais autonomia, mas gostava de deixar claro que os princípios que advogo para a pesca embarcada são os mesmos, são perfeitamente válidos para quem pesca de terra. Vai dar ao mesmo!
Uns pescam de fora para dentro, correndo por vezes alguns riscos acrescidos por enfrentarem a força do mar, os seus movimentos traiçoeiros, e alguns riscos acrescidos, outros lançam da praia, a pé firme, e chegam ao mesmo sítio, porque a faixa de terreno a explorar é a mesma.
Quando pesco zonas baixas, a minha preocupação passa muito por escolher a amostra certa. De nada serve lançar uma amostra que afunda muito numa zona de pedras baixas.
Invariavelmente ficará agarrada nas rochas, mais lance menos lance. Assim, um passeante, um stickbait ligeiro, com o tamanho e densidade certa pode ser decisivo.




No meu caso, encontro na marca japonesa Smith o supra sumo da qualidade de construção. A gama de amostras para robalos, ou outros predadores, é enorme e tem em comum o facto de ser irrepreensível de perfeição de cores, de design, de qualidades hidrodinâmicas.
Também a variedade de pesos e comprimentos propostos nos fazem sentir bem equipados.
Digo-vos que, relativamente à Smith, o critério de qualidade é tão apertado que a menor imperfeição, o mais ínfimo detalhe, é motivo de rejeição imediata em fábrica. Eles são fanáticos da perfeição! Não fazem concessões.
Por isso são uma marca topo de gama no Japão, disputando com a Shimano e a Daiwa o primeiro lugar na hierarquia de qualidade. Não são demasiado conhecidos na Europa, e a razão tem a ver com a própria exigência de qualidade, da qual não abdicam: o mercado japonês é imenso, são 130 milhões de habitantes, e isso só por si já garante o escoamento de uma substancial fatia da produção. Quando a marca quer ser conhecida pela sua perfeição, isso acarreta custos ao nível das quantidades produzidas.
Eu falava com um dos engenheiros de investigação e desenvolvimento, em Osaka, e ele dizia-me: “Vitor, nós estamos nos antípodas daquilo que se pode considerar o padrão de funcionamento de uma fábrica chinesa”.
Na verdade, mostrou-me uma peça e desafiou-me a encontrar nela um defeito. Depois de a virar e revivar diversas vezes respondi-lhe: “esta será uma daquelas que saem perfeitas da linha de produção, certo?”
E a resposta dele foi desconcertante: “Não, esta foi uma das que nós rejeitámos! Tem aqui um pequeno ponto de menor brilho, de menos de 0.5mm de diâmetro. Podia estar melhor”...
Na verdade, não acredito que um peixe possa valorizar nada daquilo, e eles também sabem bem que não. Mas as amostras não têm de parecer bem apenas aos peixes, os pescadores também devem sentir-se felizes por as terem na sua caixa de amostras.
São muitas vezes os pequenos detalhes que nos fazem avançar para uma marca ou não.
Saber da sua exigência máxima ajuda-nos a escolher, a ir por eles. E por isso a GO Fishing Portugal tem uma coleção de irrepreensíveis amostras no seu stock.




Na próxima semana, nos nossos 5 minutos de leitura diária, vamos continuar a remexer na questão da localização dos robalos.



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Mais uma excelente descrição.
    Obrigado

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    Respostas
    1. Vamos fazer juntos uma viagem pelo estranho mundo da movimentação de águas, da caça em condições de baixa luminosidade, e de tantos outros factores que influenciam a vida do nosso estimado robalo.
      Vamos ver no fim se valeu a pena....



      Abraço
      Vitor

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