A EFICÁCIA DOS TRIPLOS VERSUS ANZÓIS SIMPLES

É um eterno dilema, decidir que tipo de armamento devemos utilizar nos nossos jigs.
Haverá apologistas e defensores de ambas as soluções: anzóis simples, os chamados “assistes”, ou fateixas, os ditos anzóis “triplos”.
Seguramente não há uma “melhor opção” clara, se não tivermos em conta o tipo de peixe que procuramos, o seu peso médio e o seu tipo de boca.
Penso que é esta a chave deste busílis, o saber exactamente a que peixe nos propomos. E isso já implica saber muito sobre os habitats que estamos a visitar, o seu potencial, o seu histórico, e também aquilo que é presumível podermos encontrar naquele dia especifico.
Eu hesito muitas vezes, se souber que andam lulas na zona onde pesco. A minha família dá-lhes valor, e por isso procuro sempre trazer algumas para casa.
Já as fiz com assistes simples, mas é bem provável que tenha perdido uma dezena delas em cada um desses dias.
Mas se me bater um pargo capatão acima dos 10 kgs, …posso perdê-lo por estar a pescar com um triplo.
Mais uma vez, é o conhecimento, a experiência, que determinam a forma como devemos abordar um pesqueiro, se com assistes, se com triplos.


O triplo é uma arma mortífera para peixes até certo tamanho. Aqui foi uma dourada que ficou presa. Estava a utilizar um conjunto e Cana Shimano Light Game SS equipada com uma pega X- Seat, e carreto Daiwa Saltiga IC 300. A linha era um PE 1 Saltiga, da Daiwa.


Para peixe miúdo, não temos dúvidas: o triplo ganha por KO absoluto a qualquer anzol simples.
Peixes de porte médio, digamos que até aos 4 / 5 kgs, ainda ficam perfeitamente cravados quando vão ao triplo. O tamanho do anzol de cada haste da fateixa ainda é suficiente para prender uma porção de pele, carne ou osso que permitem rebocar o peixe até à superfície. A partir desse peso, é meu entendimento que devemos optar por uma solução mais “pesada”, no sentido de conseguirmos garantir uma prisão mais substancial. O anzol simples dá-nos mais segurança.
Se há a expectativa de haver peixe de bom porte, mesmo que em baixa densidade, pois não há razões para dúvidas: os assistes.
Peixes de bocas mais duras, com mais osso ou dente, como os pargos, as douradas, clamam por anzóis muito afiados, e suficientemente resistentes ao esforço de tracção, pois irão colocá-los à prova desde o primeiro segundo. Vejam os dentes abaixo:


Estes dentes redondos, rombos, preparados para esmagar conchas, são uma parede de cimento para os nossos anzóis. O mais normal é baterem e ressaltarem para fora… São as comissuras da boca, os ligamentos laterais onde os maxilares se unem, as zonas onde nos interessa cravar o anzol. 


A questão é que não podemos contar demasiado com a pele, os lábios do peixe. Nunca esqueçam que um peixe a sério irá defender a sua vida, investindo direito ao fundo com todas as suas forças.
E isso significa uma corrida desabrida que irá esforçar o anzol, tendendo a abri-lo. Se o limite elástico do triplo, ou anzol simples for ultrapassado, vamos mesmo perder o peixe.
Mas também a porção de carne que está presa na curvatura da haste pode não aguentar. Sendo pouca, o esforço de tracção irá incidir sobre uma pele residual, e pese embora os grandes exemplares tenham a pele da boca mais dura, mais consistente, pode não chegar. Se a pressão for demasiada, …rasga.
O peixe salva-se e nós ficamos a pensar que podíamos ter feito melhor. Mas tudo se passa em segundos e nem sempre as condições de pesca serão as melhores. Basta-nos ter mar a chocalhar, com um período de onda curto, e já temos de dividir a atenção entre pescar e ao mesmo tempo equilibrar o corpo no barco.
Se a isso somarmos material de pesca chinês, daquele que quando é para largar linha…não larga, ou que era para aguentar e não aguenta, estamos …benzidos.





Podemos dividir os triplos em duas categorias distintas:

1- Aqueles que são produzidos com o fim específico de garantir prisão ao mais ínfimo toque.

São normalmente destinados a peixes de escasso peso, poucos quilos, os quais, pela sua falta de força na pancada, não dão muitas possibilidades de êxito ao pescador.
Aquilo que acontece é que a pessoa sente uma prisão no jig, foca a sua atenção naquilo que se está a passar, tenta fazer força para cima para espetar o anzol, mas …nada. Houve contacto mas insuficiente.
Para esse tipo de peixes, os triplos finos e leves são os mais indicados. A percentagem de toques seguidos de captura efectiva é substancialmente mais alta. A Varivas, marca japonesa que fabrica triplos, tem uma linha, a Nogales, que é mortífera. Peixe que toca é peixe ferrado.

2- Os triplos que se destinam a segurar peixes de maior porte.

Tendo maior resistência mecânica, não são todavia dotados de particulares qualidades de afiamento. Não resulta muito fácil conseguir que uma peça mais pesada, com arame mais grosso, possa ter o mesmo afiamento das agulhas finas. Quando conseguimos ferrar está tudo bem, o peixe não irá conseguir abrir estas peças, mas ou bem que o seu tamanho/ peso são significativos, ou a fateixa não irá ajudar muito no primeiro contacto.


Bem sei que toda a gente acha que vai ter monstros na linha a cada instante, e que se sentem mais seguros com triplos que aguentem tudo, mas é um erro de cálculo pensar que ao fim do dia poderão ter mais peixe na caixa se optarem por triplos pesados. Não é. A relação toque/ captura destas peças é inferior, perdem-se muitas oportunidades de ferrar peixes. Isto pode parecer estranho, mas é mensurável.
Tenho um amigo que faz este tipo de estatísticas: aponta os toques falhados versus os toques concretizados. No fim, os triplos pesados, mais grossos, perdem pois nem sempre os peixes estão a atacar as amostras com a violência suficiente.
Perdemos muitos toques por isso mesmo, por apostarmos em peças muito fortes, que aguentam carga, que não abrem, mas que ao mesmo tempo não funcionam quando solicitadas por contacto ligeiro, mordidas sem impacto suficiente para haver penetração eficaz, até à barbela.
O peso especifico do arame advém da composição química do metal e da sua secção. Todos os aços são feitos de um metal, ferro, com carbono adicionado, trabalhados a perto de 1000ºC de fusão.
Mais carbono implica menos resistência à corrosão, menos percentagem implica menor resistência mecânica. Não se consegue ter tudo.
Porque é muito difícil conseguir as duas coisas, os fabricantes oscilam sempre entre utilizar arames mais finos e mais leves, aos quais podem facilmente fazer um bico muito afiado, e arames mais grossos, muito resistentes à abertura, mas infelizmente quase impossíveis de afiar ao mesmo nível.
Aquilo que nós pescadores procuramos são os meios termos, aqueles triplos que nos dão um bocadinho de cada uma destas coisas. E mais uma vez, é o peixe que desempata a questão: se é pequeno, um triplo leve não lhe dá a mínima hipótese de fuga.
Mas se for um peixe grande, ….abre a haste do triplo, porque lhe aplica uma pressão excessiva.
A qualidade da matéria prima conta muito, a percentagem de carbono influencia a dureza e resistência do arame. Quando é a menos, temos um anzol macio, mole, que dobra muito facilmente. Exemplo comum: os anzóis chineses.
Quando o carbono é em excesso, deixamos de ter um arame reactivo, resistente mas flexível, para termos algo que é apenas quebradiço e susceptível à corrosão. É no meio que está a virtude, e aí, os artesãos japoneses sabem muito disso.
Não esqueçam que eles faziam espadas para os samurais, a exemplo daquilo que acontecia em Toledo, Espanha. Quem sabe de aços são os japoneses, os espanhóis e os alemães. Os outros todos imitam e por vezes... mal.




Por absurdo, se fosse feita a exigência a um fabricante para conseguir afinar a sua produção de anzóis a um nível superlativo, o custo dessa opção seria porventura excessivo para aquilo que o mercado pode e quer pagar.
Quem fabrica oscila sempre entre o que tecnicamente consegue fazer de melhor, utilizando os seus melhores equipamentos, materiais e maquinarias, e elementos químicos, e aquilo que é o custo final desse processo.
Ainda que estejamos a tratar de um acessório que é manifestamente barato, …um anzol ou um triplo custam cêntimos. Porquê poupar?!
Tenho para mim que o custo dos equipamentos de pesca é uma falsa questão, se considerarmos os prós e contras.
Bom material paga-se a si próprio em peixe. Trazemos todos os dias mais peixe para casa, se tivermos material que nos ajude.
Se quisermos poupar 1 euro no custo de um anzol, podemos perder um peixe que teria um valor de 50 euros no mercado.
Já vos disse isto muitas vezes: não adianta poupar no custo de um anzol, sabendo que essa peça é aquilo que nos liga ao objecto do nosso esforço de pesca, o peixe.
Porque não poupar antes 2 euros no custo do chapéu?!




Os assistes devem pois obedecer a alguns critérios básicos: tamanho suficiente para prender uma porção de boca que garanta segurança, resistência mecânica que evite as indesejadas aberturas, e um afiamento que permita a fixação do peixe ao menor toque. Estes três princípios são basilares e não podemos fugir-lhes.
Chamo a atenção para anzóis com muita utilização. Ao fim de algum tempo, as pontas deixam de estar afiadas, pese isso não seja demasiado visível à vista desarmada.
Podemos tentar espetar o anzol na unha ou na pele do polegar. Se prende ainda está bom, se resvala, se escorrega, então está fora, deve ser rejeitado.




Há um outro factor que é de extrema importância: a cana!
Já aqui foi referido, canas rijas dão-nos mais facilidade de ferragem, mas trabalham pior o peixe, não amortecem as suas investidas.
Também aqui é difícil conseguir uma cana que nos dê tudo. Ser enérgica na ferragem e suficientemente parabólica para não permitir ao peixe rasgar a boca, é trabalho para quem sabe de canas.
As boas marcas sabem o suficiente, mas essas canas têm preços que começam nos 600 euros…
Hoje em dia há material em carbono que é uma verdadeira loucura em termos de desempenho. O kevlar, o titânio, o carbono, são elementos que permitem fazer canas de alta qualidade.
Em boas mãos, uma cana pode durar o suficiente para ser amortizada inúmeras vezes, e paga-se a si própria em peixe. Se as mãos são menos boas, mais para o lado do tosco, pode até acontecer que a cana nem chegue a pescar. Conheço quem tenha partido canas destas, topos de gama, no transporte, antes de as levar ao mar...
Material bom, para quem tem condições e conhecimento, saber, para poder pescar com elas e tirar partido das suas características. Isso sim.



Vítor Ganchinho



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