CICATRIZES DE GUERRA

Passou mais uma temporada de polvos.
Neste momento, aqueles que ficaram são exemplares com pesos mais modestos, pequenos no seu tamanho de 4 a 5 kgs máximo.
Os grandes polvos portugueses atingem os 11 kgs como máximo, tanto quanto me foi dado ver e capturar.
Estes exemplares, sempre fêmeas, são raros, e só aparecem em zonas com muito alimento, e algum descanso. Esses locais, atendendo ao que vejo de caixas largadas ao polvo, serão cada vez mais raros.
Se procurarem bem nos primeiros artigos do blog, têm lá fotos deles.
Neste mês acabou-se para muitos deles a vida, já que apenas estão entre nós dois a três anos. A partir daí, as grandes fêmeas morrem, defendendo as posturas, e os polvos machos retornam aos fundões, onde podem evoluir até aos 300 / 400 metros.
As fêmeas morrem de fome, pois em momento algum abandonam os cachos de milhares de esperanças que depositam nos tectos dos buracos eleitos para a função.
O aspecto é o de uma postura de lula, cachos pendidos na vertical, mas de cor rosada, e quase que um “granulado” de ovos.
Com o fluxo de água que expelem do seu sifão, as fêmeas mantêm os óvulos oxigenados, e limpos. Não abandonam a sua cova porque sabem que peixes ladrões esperam sempre esse momento para penetrar nas defesas do ninho.


Vejam a quantidade de tentáculos que foi mordida... Ainda assim este pequeno polvo, com cerca de 900 gr, lançou-se a uma isca com anzol.


Os polvos pequenos, e aqui poderíamos considerar até aos 5 kgs, são muito apoquentados pelos safios e moreias. Sobretudo pelos primeiros, que atacam pela calada da noite, aproveitando um momento de maior dificuldade por parte das vitimas.
A única defesa possível é impedir o safio de entrar no recanto que serve de refúgio, e para isso o polvo coloca à sua frente algumas pedras suficientemente grandes para lhe servirem de escudo.
Enquanto as conseguir manter entre ele e o agressor, o polvo está salvo. Fazem o mesmo com os caçadores submarinos e digo-vos que é francamente difícil chegar-lhes.
O polvo e as pedras formam um bloco único, muito compacto, e não é fácil sequer colocar o gancho de aço inox que serve para os desalojar.


Perfeitamente visíveis os estragos feitos pelas mandibulas do safio.


Quando se consegue, o problema está resolvido. Dada a discrepância de forças, normalmente o polvo perde. Mas dá luta!
Aos safios, pouco mais resta que uma segunda alternativa: tentar ficar com algo.
E aí, a táctica é a seguinte: o safio morde um dos tentáculos, até onde for possível, e a seguir roda sobre si próprio a uma velocidade vertiginosa.
O resultado é o corte do tentáculo, que fica assim à sua mercê. Irá a seguir tentar de novo, e quando chegar à conclusão que não é capaz de obter mais, abandona o local.
Quando digo abandona, leia-se afasta-se para a sua toca, que pode estar a pouco mais de um metro. Conheço muitos locais de postura que têm rasgos na rocha onde os safios se escondem e estão a muito pouca distância dos polvos. A noite é de terror nestes casos, porque os ataques irão suceder-se até ao êxito final.


Este um pouco maior, mas longe de ser dos grandes.


Por vezes os polvos ganham.
O resultado dessa vitória não é o que esperam: não há polvos felizes por terem escapado a um safio, as marcas ficam sempre lá.
O polvo fica normalmente com sequelas, mas sobrevive. Ao fim de algum tempo, os tentáculos regeneram por completo, os oito braços voltam a estar todos funcionais, e a aventura da vida continua.

Já tenho saudades de escrever algo sobre polvos!
Um destes dias vou voltar ao tema, porque é um bichinho inteligente e que merece que se conheça toda a sua história.




Vítor Ganchinho



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