OS POLVOS, ESSES MISTERIOSOS SERES

Transmitem emoções, sentimentos fortes, e deixam-nos adivinhar aquilo que estão a pensar nesse momento.
Para quem os conhece bem, é possível perceber pela sua atitude corporal se estão a pensar fugir, se decidem enfrentar o perigo, se têm dúvidas em relação ao que devem fazer ou se estão à procura de um refúgio mais seguro.
Os polvos são um dos animais mais inteligentes do planeta! Dispõem de 3 cérebros, e um enorme arsenal de funcionalidades para utilizar a cada situação.
Algumas dessas funcionalidades seriam bem vindas ao mundo dos humanos: por exemplo sermos capazes de regenerar um braço amputado. Eles conseguem!



Tenho uma paixão assolapada pelos polvos. Gosto deles porque sim.
Porque são muito inteligentes, porque têm incríveis capacidades físicas, e, não obstante um ciclo de vida muito curto, (não mais de 2 a 3 anos), podem, durante esse período, ser capazes de cumprir com rituais de caça interessantíssimos, acasalamento, migrações verticais, etc. E têm sempre um apetite voraz.
Eles podem encontrar ameijoas enterradas na areia, mas também caçam peixes, caranguejos, e tudo o que possa aumentar-lhes o peso corporal. Comem de tudo!
São de resto dados a actos de canibalismo: comem os seus congéneres mais pequenos. Quando digo mais pequenos, vocês estão a pensar em “carracinhas” de 150 gramas, mas podem colocar a fasquia bem mais alta:
Os polvos de 8 kgs comem os polvos de 5 kgs!!
Jogam muito na sua capacidade de camuflagem, mas são capazes de enfrentar predadores como os safios, ou as moreias. Para isso, recorrem ao expediente de lhes colocar pedras à frente, impedindo-os de morder.
Fazem o mesmo aos mergulhadores que os incomodam, os tentáculos seguram as pedras e esgrimem esses argumentos de forma firme e decidida.



Se a sua localização não os favorece, recorrem ao seu propulsor a jacto para escapar rapidamente. Não é raro que façam uso da total ausência de esqueleto interno, e são vistos a passar por frestas estreitas onde quase nada cabe.
Se o seu corpo é tido como mole, então é vê-los a retesar os seus músculos e a dificultar ao máximo a vida a quem os tenta arrancar de uma pedra. Eu já tive momentos de pensar não conseguir, e peso 82 kgs.
Os maiores polvos que tive oportunidade de caçar e pesar tinham entre os 10 e os 11 kgs de peso. Se acham que a desproporção de forças devia pender para o meu lado, pois digo-vos que nem sempre ganhei…



Moles mas fortes, jovens mas inteligentes.
Há algo no nosso planeta mais parecido com um …alien, um extra-terrestre?
Por vezes, alguns destes polvos têm um mau encontro com uma linha. Já os fiz com 7 kgs a pescar com cavala. Não tem de ser forçosamente cavala, porque se estivesse a utilizar sardinha, seria exactamente igual. São doidos por peixe, e já aqui publicámos fotos de um a cobrir uma tainha com os seus tentáculos.
A seguir, a rádula, um bico parecido com o apêndice de um papagaio, faz o seu trabalho e desfaz a vítima.
Já fui mordido por alguns polvos, em situações de os estar a rebocar do fundo para a superfície, muito colados a mim. Poderão então perguntar “ e porque não sobem mais afastados?”…
É mais fácil de dizer que fazer. Um polvo de 10 kgs tem 1,30 mts de comprimento, e debaixo de água é muito parecido com um guarda-chuva aberto. Nós já fizemos o esforço de o retirar da sua toca, e é preciso fazer força para isso, e a seguir, temos 10/ 15 metros para subir, vencendo a resistência daquele “saco” com oito tentáculos impertinentes. Se nos libertamos de um, já temos outro a incomodar. E por vezes, nesta luta de galos, sai uma dentada forte. Porque temos as mãos cobertas com luvas, não é dramático, mas fica a marca. Os polvos mordem, em determinadas circunstâncias.
Embora isso seja mais corrente quando se trata de chocos, esses sim, não perdem uma oportunidade de nos “nicar” os dedos.



Os polvos estão muito mais bem armados do que parece à primeira vista. Têm 9 cérebros, um central e 1 em cada um dos 8 tentáculos.
Em termos de capacidade de desenvolver raciocínio, os seus 500 milhões de neurônios colocam-nos a par dos nossos cachorros domésticos.
A capacidade que têm de contrair os músculos supera muitas vezes a força que conseguimos desenvolver naquelas condições.
Não esqueçam que estamos num meio que não é o nosso, em apneia, e que já fomos obrigados a gastar grande parte do oxigénio armazenado nos pulmões. E temos sempre de subir.
Imaginem o que isso quer dizer quando eles conseguem agarrar-nos as duas barbatanas ao mesmo tempo….




Na pesca, o tentáculo de polvo é garante de pesca grossa.
Os peixinhos mais pequenos não conseguem fazer mais que beliscar a iscada, e a sua concentração sobre a zona onde esta cai acaba por atrair gente mais graúda.
Os peixes de grande tamanho não negam uma dentada num tentáculo, e podemos aqui considerar gente muito ilustre: robalos, sargos, safios, douradas, abróteas e até….meros.
Não é isca para pescas imediatas, para lançar e estar de imediato a ferrar, mas é produtivo a longo prazo, algo que aguenta os ataques das miudezas e permanece a pescar passadas duas horas.
É tentar, iscando o tentáculo como se de um verme se tratasse, com o fio a passar pelo meio, e ponta do anzol à vista.
Se não houver o azar de um safio o encontrar primeiro, pode dar um peixe de escama de bom tamanho.


Estes bichinhos têm 3 corações e nove cérebros!


Pensamos nós, os humanos, que eles não conseguem discernir cores. Pelo menos como nós as identificamos. A visão do polvo é algo de intrigante, porque eles não dispõem de bastonetes, os nossos humanos detectores naturais de luz. De resto, aquele olho em forma de W é algo de misterioso.
E fica a questão: então como podem escolher com tanta exactidão as cores de que devem camuflar-se, para se confundir com o meio ambiente?
Eu já passei muitas vezes por cima de polvos e só os vi no caminho de regresso. Fazem a sua camuflagem com tal perfeição que admito que a maior parte deles, mesmo para quem tem um olho treinado, possa passar despercebida. Se estão em cima de uma pedra agreste, fazem picos com a pele, de forma a ficarem iguais!....
Estima-se que façam a identificação da cor dos locais onde estão assentes através da sua própria pele, utilizando uma proteína, a opsina, para activar os cromatóforos. Estes, são como cones que abrem e fecham, dando ao animal a possibilidade de escolher de entre toda a panóplia de possibilidades, aquela que mais se enquadra com o ponto onde está, ao momento.




Adoro polvos.

Gosto de os ver no seu ambiente natural, de seguir com os olhos as suas tentativas de escaparem para recantos escuros, buracos de difícil acesso.
Também gosto de arroz de polvo, pelo que de vez em quando, um não escapa….



Vitor Ganchinho



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