Quase tudo joga contra nós.
Sabemos que têm uma predilecção especial para se alimentarem durante os períodos do dia em que a luz é mais escassa.
Serve-lhes o nascer do dia, também o crepuscular pôr-do-sol, e sobretudo fazem-no durante todo o período da noite. Gostam de trabalhar, como bons pilantras e bandidos que são, pela calada da noite, no escuro.
Não são boas noticias para nós, pois, enquanto ser humano, somos essencialmente bichinhos diurnos. E ainda assim, queremos pescá-los.
Assim sendo, e porque insistimos em dormir em casa, sobram-nos os momentos em que estão activos de dia, ou se quiserem …ainda activos, e aceitam morder as nossas amostras.
Se repararem, não são muitos os dias favoráveis, de excepção, aqueles em que podemos esperar obter bons resultados.
Podemos prever pescas difíceis quando, por força de luas grandes e luminosas, eles comem “alarvemente” durante todo o período nocturno.
Bem podemos a seguir vir lançar-lhes amostras... porque eles estarão muito mais interessados em guardanapos e em Alka-Seltzer para ajudar à digestão.
O que nos resta são os outros dias, todos aqueles em que parece que não, mas afinal sim, e as coisas acontecem. Porque se pescam robalos todos os dias, aqui ou ali, desta ou daquela forma.
O mar revolto é a sua praia. É aí que se sentem “como peixe na água” e fazem valer as suas capacidades físicas e atléticas.
Teremos forçosamente que abrir aqui um parêntesis: Todos aqueles que pescam o robalo sobretudo embarcados, e é o meu caso, ficam já excluídos deste artigo. Com mar feito, com vagas de 3 metros ou mais, não quero gente na água, a tentar pescar. O risco é grande, as sucessivas mortes de pescadores lúdicos comprovam-no, e já chega de acidentes. Nenhum peixe vale uma vida.
Falamos hoje de pescar robalos de terra, em mar revolto, com más ou muito más condições de pesca. Esse é o desafio de hoje.
Para termos mar suficientemente alto, forçosamente teremos vento. Algures houve vento. Sem ele, aquilo que nos sobra são apenas ondas muito lisas, redondas, que chegam do largo, formadas também por vento sim, mas de tal forma longe que esse vento não nos chega a nós, ao nosso ponto de pesca.
E como é isso de formação de ondas e vagas? Vamos recapitular.
O vento faz pressão sobre a superfície do mar, empurra-o na direção para onde sopra, e isso origina uma vaga. Muitas vagas juntas iniciam a formação de ondas. E as ondas propagam-se a distâncias muito grandes, atravessam oceanos, por vezes dão mesmo a volta ao mundo.
Aquelas que nos interessam são as formadas no Atlântico Norte, uma faixa de água relativamente estreita, (a distância entre os Estados Unidos e a Europa não é muita), e já vimos aqui no blog que a sua maior parte provém de uma zona chamada de Triângulo das Bermudas, um local onde as altas e baixas pressões permanentes originam ventos por vezes ciclónicos. E daí, o vento forma ondas e essas ondas chegam-nos a nós, normalmente de noroeste. Essa é a ondulação predominante em Portugal, e a razão pela qual temos sempre, na sua foz, pedra do lado direito dos rios, e areia à sua esquerda.
Falamos de forças muito poderosas, muito persistentes e hiper modeladoras da nossa costa.
A ondulação do largo pode não coincidir com a direcção das vagas. De resto, quase nunca coincide, já que uma atravessa o Atlântico, e a outra é formada localmente, e por isso depende apenas da movimentação local de massas de ar, as quais se movem em função de factores como ventos locais ou as marés, por exemplo.
Não é difícil que o pescador chegue com a sua cana de pesca ao mar e veja dois movimentos distintos de água: a onda, uma deslocação massiva de água que arrasta pelo fundo, e pequenas cristas, curtas, eventualmente até a quebrar nas pontas superiores se houver vento suficiente para isso, as vagas.
Chamamos a estas cristas brancas os “carneirinhos”. Esta espuma não é mais do que água misturada com ar, e incomoda muito mais quem está acima do que quem está abaixo. A poucos metros da superfície, não há espuma, e os peixes têm uma visão do meio que os rodeia diríamos “normal”.
Mais que isso, gostam de estar por baixo destas turbulências, já que aí a oxigenação das águas é sempre máxima. Se as ondas ou vagas não partem, não criam espuma, logo não têm nenhum aporte suplementar de oxigénio.
Os robalos adoram espuma. Caçam bem e na perfeição nesses ambientes, e retiram dividendos directos dela. Procuram activamente a ondulação em zonas de rocha firme alta, ou pedra partida. Sabem que aí forçosamente haverá deflexão de águas, criando turbulências, remoinhos, espuma, dando-lhes assim vantagens perante as suas presas. Colocam-se nesses pontos e fazem…”esperas”, emboscados. Se for a nossa amostra a passar...
Podemos ter situações em que a corrente provocada pela maré se sobreponha à onda, ou às vagas, e podemos ter situações em que a corrente se dirija em sentido contrário, ou pelo menos perpendicular a estas.
Esta segunda possibilidade é francamente mais interessante para o peixe, já que mantém a comida a circular nos pesqueiros longe da costa durante algum tempo. Caso contrário, quando a onda e a vaga se sobrepõem, e empurram incessantemente a comida para terra, sem corrente contrária a retê-la, o espaço de tempo que medeia a chegada da comida à praia é muito curto, e dificilmente será convenientemente aproveitado.
Quando isso acontece, temos normalmente arribadas à praia de caranguejo pilado, de ameijoa, (já repararam que por vezes temos nuvens de conchas na praia), de rolos de algas com camarão encoberto, e por vezes até de pequenos peixes que se deixam apanhar no refluxo das águas.
Há ainda um aspecto a considerar nesta situação particular: as ondas e vagas, quando em sintonia de sentido de deslocação, transformam-se em forças poderosíssimas, capazes de levar à sua frente tudo aquilo que encontram.
A sua chegada à praia é uma manifestação avassaladora de poder, de força. Muitos dos minúsculos seres que vivem na areia enterrados, são descobertos e postos a circular ao sabor do vai e vem das ondas. Tentem imaginar a potência que uma onda alta não transmite à areia da praia, quando finalmente enrola e parte.
E outra e outra. Tudo o que existe debaixo é libertado, é solto, e isso interessa a muita gente que ali vive. Os peixes sabem que é chegado o seu momento, e acodem à praia para se alimentarem.
Esse é um período perfeito para lançar amostras, porque o peixe estará a comer e encostado à rebentação.
Se o vento está de face, então a amostra a utilizar deverá ser um pouco mais pesada, na ordem dos 28 a 35 gramas de peso, compacta, para que possamos vencer a resistência do ar e consigamos lançar até onde estão os peixes.
Nestes casos, as Monsoon Breaker, da Zip Baits, dão excelentes resultados. Posso mostrar-vos quais:
Ver na GO Fishing Portugal |
ou
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Já perceberam que a quantidade de variantes é imensa, e que dificilmente as teremos todas a nosso favor, de uma só vez. Benvindos à vida real, ao aproveitamento de tudo aquilo que pode ser aproveitado, mesmo quando tudo parece jogar contra nós.
Na próxima semana continuamos neste tema.
Vítor Ganchinho
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