TIRAR CARTA DE PESCADOR - 19

A maior parte de nós, mesmo sem óculos, consegue distinguir uma morena de mini-saia de uma loira de mini-saia. Qual é a dúvida?!
Mas apenas uma pequeníssima franja de pescadores consegue dizer com alguma certeza se aquilo que acaba de pescar é um robalo macho ou fêmea.
Entendem-no quando chegam a casa, ao abrir o peixe.
Na verdade, os sinais distintivos não são muitos, e por isso acontecem tantos erros. Vistos de relance é muito difícil adivinhar a diferença entre eles, excepto se estivermos na época de reprodução e a barriga grande, inchada de ovas, denunciar as fêmeas. Ou se os machos estiverem prontos a largar o seu sémen branco em esguicho.
Não é grave. Existem muito poucas características na aparência que podem indicar o genero do peixe. Apenas um olho muito bem treinado é capaz de identificar as características sexuais dimórficas.
Acontece o mesmo com os safios: as fêmeas têm o focinho mais afilado, os machos a cabeça mais larga, mais redonda. Para quem os conhece bem, é até fácil a sua identificação, que não depende de todo do tamanho, porque aí, pode acontecer pescarmos machos e fêmeas do mesmo tamanho. É possível diferenciá-los, mas exige conhecimento.




O dimorfismo sexual (sexus = genero, di = dois, morphe = forma, formato) é a diferença de aparência entre machos e fêmeas da mesma espécie.
Isso não diz apenas respeito à genitália, mas a outras diferenças morfológicas, como formato do corpo, tamanho ou cor. Se olharmos para uma leoa ou um leão, entendemos de imediato qual a diferença.
Seria fácil se as diferenças fossem tão evidentes quanto as que apresenta o nosso Dicentrarchus labrax se comparado com o seu parente próximo, a nossa baila, ou varia, o robalo de pontos negros, de seu nome científico Dicentrarchus puntatus.
Porém, o robalo comum não mostra muitos sinais explícitos de dimorfismo. Apenas pescadores muito experientes são capazes de dizer o sexo de um peixe pelo seu aspecto exterior.
Não sei se sabem que o nome de Dicentrarchus surge a partir do facto de o robalo ter duas barbatanas dorsais separadas, independentes, ….descentradas.
As características a observar são o comprimento da cabeça e a distância pré-dorsal (a distância medida desde a ponta do focinho até à extremidade anterior da barbatana dorsal). Ambos são ligeiramente maiores no caso das fêmeas.
A cabeça de um robalo fêmea também é consideravelmente mais pontiaguda quando comparada com a sua versão macho.
No entanto, identificar o gênero apenas por diferenças morfológicas não é um método muito fiável. Digamos que não nos dá 100% de certezas.
Isso deve-se a uma possibilidade não desprezável de erro, que não é tão insignificante quanto isso pois pode chegar a percentagens na ordem dos 20%.
A única certeza morfológica que temos é que os robalos realmente grandes são praticamente todos fêmeas. Quando pescarem um bicho de 9 ou 10 kgs, …nem precisam abrir, é fêmea.
O comprimento máximo de um robalo macho é de cerca de 75 cm, as fêmeas podem atingir até 100 a 110 cm de comprimento (Pickett, 1994).
São referidos exemplares até aos 15kgs. Eu pessoalmente nunca pesquei, nem vi nenhum, mas gente das pescas profissionais, das redes, relata fêmeas com 13 a 14 kgs, como máximo. Os japoneses tem-nos bem maiores, mas uma espécie diferente, os robalos suzukis.
Já os pesquei em Osaka, no Japão.


É aqui que o robalo é rei. Adoram turbulência, espuma, e situações que lhe concedam vantagens sobre as suas presas.


O nosso robalo tem uma actividade predatória predominantemente nocturna, e alimenta-se de caranguejos, cefalópodes, crustáceos, anelídeos, e peixe miúdo.
O crepúsculo tem para eles uma atracção fatal, tornam-se hiperactivos e é precisamente nesses períodos do dia que mais facilmente os pescamos. Se repararem bem, os nossos melhores resultados de pesca acontecem sempre em momentos em que a luz não é demasiada. Se forem bons observadores, irão constatar que mesmo com o dia já adiantado, é possível conseguir alguns peixes em zonas onde uma falésia projecta sobre a água do mar a sua sombra. Reparem nisso quando forem lançar as vossas amostras...


Esta hora é fatal! Ao nascer do dia, o peixe está bastante activo, disponível para morder, para caçar. Os seus níveis de agressividade elevam-se a valores máximos, e por isso mesmo nós conseguimos obter mais picadas nas nossas amostras.


As suas migrações para águas mais rasas ou mais fundas dependem em grande medida da temperatura das águas. É a diferença de alguns graus no meio líquido que determina a sua localização, e a sua predisposição, ou não, para atacar as nossas amostras. O número de horas de sol diárias, a temperatura ambiente, a quantidade de alimento disponível, as marés, as correntes, tudo isso influencia bastante a sua vida, e inclusive determinam as suas possibilidades de reprodução.
Os machos crescem mais devagar, não vivem tanto quanto as fêmeas e em média também pesam menos. Não precisamos que sejam descomunalmente grandes para os pescarmos, mas seria bom retermos o seguinte: a lei portuguesa estabelece que um robalo pode ser pescado com 36 cm de comprimento. Os robalos reproduzem aos 40cm…., daí em diante. Estarei errado se pensar que algo está mal?...
É um peixe fantástico, de imprevisibilidade, de força, de repentismo e de humores. E tornou-se, por isso, por direito próprio, o principal alvo dos pescadores continentais.

Adoramos pescar robalos. E saber mais sobre eles.



Vítor Ganchinho



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2 Comentários

  1. Seria interessante uma petição que ajudasse a rever o tamanho minimo de captura....

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    Respostas
    1. Sem dúvida que isso poderia ser feito.
      Todos teríamos a ganhar, pescando mais e melhores robalos. Mas isso é ter uma visão de futuro, é deixar algo para aqueles que nos irão seguir, filhos, netos.
      O blog estaria sempre na linha da frente, e gostaria de dar passos nesse sentido, mas para isso necessitaríamos de maior divulgação, mais força, mais peso.
      Sei que há muita gente a ler todos os dias, (estaremos agora muito próximos das 200.000 visualizações), mas as pessoas são muito reservadas, não participam, não se querem maçar.
      Nem sequer um like aceitam colocar, porque dá muito trabalho. Leem, mas não dão um passo no sentido de tornar possível fazer mais.
      Eu estaria disponível para trabalhar na revisão das medidas mínimas, e colaboração com amigos biólogos, com gente das leis, com gente da DGRM, etc. Mas faz falta mais peso.
      Bastava que cada pessoa que lê passasse o blog a meia dúzia de amigos que não o conhecem.

      A medida das douradas é outra asneira crassa: 19 cm de dourada ....servem a quem?!
      Uma perfeita estupidez...


      Obrigado pelo seu comentário!
      Vitor

      Eliminar
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