CANAS MACIAS VERSUS CANAS DURAS

Recebo muitos contactos de pessoas a solicitarem-me informações sobre canas técnicas. Para speed jigging, ou slow jigging, por exemplo.
Basicamente querem saber que tipo de cana devem adquirir, partindo do pressuposto de que apenas terão a possibilidade de comprar uma única unidade. Ou seja, por outras palavras, com zero possibilidades de erro.
Tenho para mim que nestes casos, e em caso de dúvida, bom mesmo é não comprar.
A minha sugestão vai normalmente no sentido de experimentarem diversas canas de comprimentos, pesos, e acções diferentes, nos locais e condições de pesca mais correntes na sua zona de acção.
A partir daí, terão uma opinião mais fundamentada daquilo que mais lhes convém. E podem então partir para a compra, com algumas certezas. E o factor segurança para quem pretende adquirir uma cana é decisivo!
Quando se compra, ou há certezas, ou está a hipotecar-se a possibilidade futura de vir a ter uma boa cana. Porque cada erro deixa essa pessoa mais longe da possibilidade de chegar mais alto em valor e consequentemente em qualidade.
Mais vale esperar, amealhar mais algum valor, e partir de um patamar financeiro que permita mais certezas.
Se o montante disponível são 40 euros, dificilmente a compra a fazer não será apenas mais um objecto para encostar a um canto. Não há canas boas a esses preços.
Há pessoas que saltitam entre compras, hoje uma cana barata, amanhã outra cana barata, e depois de amanhã outra cana barata. Quantas vezes chegam à conclusão de que têm meia dúzia de canas e nenhuma é de facto aquilo que necessitam.
A questão qualidade coloca-se sempre. Não é expectável que uma cana que custa 8 ou 10 euros possa ser um portento de alta tecnologia, nem é pressuposto que uma cana com um preço acima de 500 euros seja um vulgar tubo de plástico com passadores. Entre estes dois extremos, cabem dezenas de varas de pesca com excelente performance, e aquilo que é necessário fazer é testar no local de pesca habitual, nas condições habituais, e tomar a decisão.
Se mesmo assim houver dúvidas, então é dar os dados precisos a quem vende canas todos os dias, dizer-lhe quais são as condições de pesca dominantes, e solicitar o melhor aconselhamento.
Não há tempo para continuar a adquirir por mero palpite, ou olhando a um catálogo que tem uma propositada escassez de dados, ou porque um amigo próximo ouviu dizer que…
É imperioso acabar com isso! O valor de seis canas ruins ou médias dá para comprar qualquer modelo topo de gama, de qualquer marca, e a pessoa fica bem equipada.


Inclinação inferior a 45º, linha perfeitamente apoiada por uma grande quantidade de passadores, e acção apropriada para o tipo de pesca que eu estava a fazer. Resultado: um pargo grande no barco...


Ocorre-me passar aqui no blog algumas ideias sobre aquilo que faço, para poder dessa forma chegar às pessoas com dados concretos, que possam ajudar quem compra a tomar a melhor decisão.
Devo dizer-vos que eu próprio já cometi erros a comprar canas. Se hoje em dia já cometo muito poucos lapsos, isso deve-se ao facto de poder visitar os fabricantes japoneses, de marcas conceituadas como a Shimano, a Daiwa, ter a possibilidade de falar com eles, trocar ideias, apresentar as condições de pesca que tenho e o material de pesca que utilizo, e ouvir com muita atenção os argumentos de quem fabrica as canas. E a partir daí, poder tirar as minhas conclusões.
Abro aqui um parêntesis para dizer que, sendo uma pessoa que utiliza canas de pesca de forma intensiva, numa base de 3 a 4 dias semana mínimo, isso só por si não me daria autoridade suficiente para propor nada a ninguém.
Pescar muito não quer dizer pescar bem, é apenas um indicador de frequência. A seguir, deve-se sim olhar aos resultados. E se eles são positivos, se a pessoa pesca muitas vezes e traz sempre peixe na geleira, então sim, vamos ver qual a razão de ser desses bons resultados e saber qual a percentagem de sucesso que deve ser atribuída em exclusivo à qualidade do material.
Conheço pescadores que são bons a pescar com qualquer tipo de equipamento, e outros que têm tudo o que pode existir de melhor e não sabem pescar. Mas devemos concordar que os peixes já nos dão que fazer o suficiente para dispensarmos também problemas que nos chegam só por estarmos mal equipados. Se tivermos a possibilidade de adquirir bom material, por que razão iremos comprar ruim?


Esta é um cana Shimano com a qual pesco frequentemente, por estar adaptada às profundidades a que mais gosto de pescar. Para cada faixa de água, digamos para 15-30 mts, ou para 30-60 mts, ou para 70-100 metros, corresponde um peso de jig ideal, e isso terá forçosamente de reflectir-se na acção da cana. O estranho seria ter uma cana excelente para pescar a 15 metros e também a 100 metros...


São as condições de mar que nos impõem os limites. Será avisado pensar que se estamos a pescar em fundos baixos, digamos até aos 30 metros, não necessitamos de material demasiado pesado.
Um jig de 20 gr faz esta pesca na perfeição, desde que a linha que temos aplicada no carreto tenha um diâmetro que o permita. Mas se estamos a pescar a 100 metros, não é de todo razoável que se queira pescar utilizando jigs de 20 gr!!
Logo, falamos de material diferente, com características técnicas diferentes.
Aquilo que nos limita na nossa acção são basicamente as condições de mar que enfrentamos nesse dia. Pode estar um mar calmo, mas também pode estar revolto. Há dias com vento, fraco ou forte, a corrente, idem, em função do coeficiente de maré. E temos a considerar ainda a profundidade do local escolhido, a qual pode ser pouca ou muita.
Todas as nossas decisões dependem desta mistura de factores, e por isso mesmo, e se quisermos estar preparados para todas as contigências, devemos sair a pescar com equipamentos que possam dar-lhes resposta.
Como fazê-lo a partir de uma só cana é algo que não sei. E por isso trago aqui a minha opinião, de quem frequentemente sai ao mar e se vê obrigado a optar por uma ou outra pesca, em função das contingências que surgem.
Quantas vezes chego ao local onde queria lançar os meus jigs e está um traineira a lançar redes na zona?! A solução passa a ter de ser outra. Quantas vezes a alternativa é passar a pedras muito mais fundas. E por isso mesmo, as canas que levo no barco, de diferentes modelos e acções, ajudam-me a reprogramar a saída que tinha idealizado. E a não dar os passos como perdidos.




Com base nesta informação, podemos pensar que será correcto levar connosco uma ou duas canas destinadas a pescar a profundidades mais baixas, e outras preparadas para cotas mais profundas. O grau de dureza das varas, ou se quiserem a acção das canas, será necessariamente diferente.
Cada uma delas terá um peso de jig ideal, um valor que pressupostamente será o óptimo. Se o querem fazer os cálculos desta forma” matemática”, basta uma conta muito simples: cada cana tem um acção de x a y. Somam os dois valores e dividem por dois.
Exemplo: cana 40-120 gr. Obtemos um valor de 160 gramas, o qual, dividido por dois nos dá 80 gramas. Um pouco para cima ou algo para baixo estará o peso exacto para o qual a cana irá dar uma resposta de excelência.
Eu não o faço. Prefiro testar eu próprio, e chegar às minhas conclusões, baseadas na minha experiência pessoal, no terreno.
Devem encarar este dado como algo que é meramente indicativo, porque a cada fabricante corresponde uma definição própria de acção. Cada um deles, à sua maneira, e dependendo de se tratar de uma cana de speed jigging ou slow jigging, terá os seus critérios.
Bem sei que isto não vos ajuda muito, mas não há forma de acreditar piamente que aquilo que estamos a ler gravado na cana é aquilo que é e …ponto final.
Para complicar ainda mais as coisas, algumas canas chegam-nos marcadas em unidades japonesas, em GOU`S, e outras em sistema europeu, em gramas. Os japoneses têm diversos critérios de medidas que nós não utilizamos nem entendemos.
De que nos serve se alguém marca uma cana em kin`s (ou kan`s) ? Sabemos que 1 kin= 600 gramas, mas e daí?! Posso falar-vos um pouco sobre isto, porque me parece pertinente que o faça, no sentido de esclarecer de vez que os dados que vocês assumem e que conseguem obter a partir da documentação técnica das canas, podem, afinal, estar completamente errados!
Os japoneses usam “Gou 号” para referenciar o peso das suas chumbadas, e por consequência, a acção que as suas canas suportam.
Mas a unidade Gou não tem equivalência directa para gramas. Então, porque eles não conseguem expressar a sua unidade Gou em inglês, costumam utilizar a hashtag # seguida de uma unidade numérica.
Grosso modo #1 significa 1 Gou e 1 Gou é 3,75g aproximadamente. Uma cana que refira #20-#150, significa que a acção dessa cana é de 75 gramas até 562,5 g. Se alguém adquire uma cana a pensar que ela tem uma acção de 20-150 e recebe uma que afinal é uma 75-560….está a pagar algo que em vez de uma cana macia, é na verdade um “pau” duro.
Percebem que basta um detalhe destes, completamente insuspeito, para fazer gastar muito dinheiro a alguém, quando adquire equipamentos por catálogo, ou em lojas on-line noutro país?

Por isso, convém que estejamos certos de que as indicações escritas nas canas estão referenciadas a sistemas europeus.
Espero ter ajudado.



Vítor Ganchinho



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