JIGGING - SEGUIR UM PADRÃO DE PESCA RÍGIDO?

Que modelo técnico devemos seguir quando praticamos jigging?
Vejo gente muito preocupada em saber se está a executar bem os movimentos, se a sua técnica está ou não perfeita. Contam as maniveladas. Agora fazem 1/ 4 de volta, a seguir 1/ 2 volta e depois …sabe Deus.
Veem e reveem os filmes do Youtube, e procuram copiar e fazer igual. Chamo a isso de… “pescar ao espelho”.
Por diversas vezes tive oportunidade de pescar ao lado de pessoas que tentam impressionar-me com a amplitude dos seus movimentos, com a precisão com que executam as manobras de recolha de linha nos carretos, a forma como solicitam a cana de carbono obrigando-a a levantar o jig.
Não deixa de ser bonito de ver, mas parece-me que focam toda a sua atenção na perfeição do movimento, e não naquilo que a mim me parece fundamental: em pescar! Em ser eficazes, em ferrar peixe.
Acho as preocupações estéticas muito bem, mas depois, na realidade prática que temos de enfrentar a cada dia de pesca no mar, verificamos que essas “matemáticas e exibições de beleza plástica”, nem sempre resultam.
Nada tenho contra o facto de alguém querer confirmar se os seus movimentos estão certos, de acordo com um figurino hipoteticamente ideal. Aquilo que questiono é a razão da existência de um “figurino ideal”.
Mas qualquer que seja esse padrão julgado bom….ele foi criado onde? Que provas deu no nosso país, na nossa zona de pesca em concreto, nos nossos peixes?




É verdade que vivemos numa era de comunicação global, de rápida passagem de conhecimentos de um para outro lado do mundo. Com a divulgação massiva desta informação, de imagens, de resultados, é muito natural que quem está a dar os primeiros passos neste maravilhoso mundo da pesca, se sinta tentado a copiar aquilo que vê outros fazerem. Como se valesse a pena pretender padronizar o jigging, querer torná-lo universal.
Assumir que em qualquer parte do mundo, o único estilo possível é aquele. Pode não ser assim tão líquido que aquilo que resulta num país possa ser eficaz noutro, ainda que não demasiado longe.
Não convém esquecer que as espécies adoptam estratégias de comportamento, caça, reprodução, em função da conjuntura em que vivem. E que não é a mesma em todas as latitudes.
Na minha óptica, não me parece demasiado importante obedecer a uma estética pré-definida. Sobretudo quando aquilo que se procura seguir são modelos que nos chegam de outros países, outros peixes, outros ambientes.
Admito que alguém que siga por essa via, o de copiar alguém que pesca outros peixes, possa sentir-se confuso. Ao fim de algum tempo, vai perceber estar a seguir critérios que podem nem se ajustar aos peixes que tem disponíveis para pescar.
Slow jigging ou speed jigging? Vamos admitir que cada espécie tem um nível ideal de posicionamento no fundo, e também um tempo de reacção, em função da temperatura da água e de inúmeros outros factores. E até um tipo de jig mais indicado, uma acção de amostra/ jig mais tentadora.
Poderíamos então questionar-nos sobre o seguinte: O estilo de jigging que cada um de nós tem, …aplica-se especificamente a que espécie de peixe? Ou é um “genérico” e …serve para todas as espécies?!


O estilo interessa-me muito menos que a eficácia, aquilo que conta é se o peixe entra na minha caixa... ou não.


Não creio que devam preocupar-se por não dominarem em absoluto esta ou aquela técnica, executar desta ou daquela forma, tomando como ponto de comparação aquilo que veem os outros fazer nas redes sociais.
Aquilo que veem no Youtube, no Instagram, no Tik-Tok, etc, é algo que acontece ali, naquela região, e num determinado momento.
Também nós por aqui temos esses momentos especiais, (a pesca da dourada conforme quase todos a entendemos está limitada ao período reprodutivo), os pargos de Inverno, Dentex canariensis (Steindachner, 1881) surgem agora em força, aos magotes, mas de Verão não anda por cá praticamente nenhum. São conjunturas que surgem e desaparecem, de forma cíclica, mas que não representam o padrão de comportamento da espécie. Porque tudo muda.
Poderia dar-vos algumas dezenas de exemplos de peixes que de Inverno estão a uma determinada profundidade, e mordem se recuperarmos o jig lentamente, e que de Verão, não só não estão nesses locais, como também a esse ritmo não ferramos um único. Então temos diferenças que se prendem com a época do ano. Ou será que tem a ver apenas com a temperatura da água? E os momentos das marés?
Não me parece que se possa ignorar um dado objectivo: aquilo que funciona bem em determinadas condições, não funciona noutras.
Há momentos em que os peixes estão hiperactivos, a comer desenfreadamente, e há momentos em que não comem. Porque não precisam, já comeram.
Tentar alterar regras básicas da natureza é arriscar o insucesso. Porque tentar forçar um peixe a comer quando não quer comer é pouco susceptível de ser uma grande ideia. Há uma terra de ninguém, um espaço de “negociação” que pode ser palmilhado, mas para lá chegar faz falta mais que uma técnica bonita. É preciso saber, saber muito. Conhecer o peixe.




Aquilo que me parece importante sim é que cada um consiga desfrutar daquilo que faz, procurando criar o seu estilo próprio, aquele que para si ….resulta.
Bem sabemos que há uma base técnica, e essa deve estar considerada no pacote de acções a desenvolver. Mas a partir daí, o céu é o limite, cada um de nós deve tentar desenvolver o seu próprio método. Partindo do seu nível de conhecimentos, e priorizando a acção do jig sobre o peixe, (e não qualquer critério meramente estético!...), tentar ser o mais eficaz possível. Conhecer o comportamento dos peixes, as suas limitações, as suas características de agressividade, de necessidades fisiológicas, ajuda muito.
Quer queiramos quer não, conseguir entender as razões do peixe revela-se fundamental para que o consigamos pescar. E isso fazemos procurando informação técnica, por exemplo em blogs como este, experimentando no terreno diferentes alternativas, testando.
Tenho para mim que mais informação significa mais capacidade para entender o mar. Mas há quem discorde, quem não atribua qualquer valor à formação teórica.
Por mim está certo, façam o que e como quiserem.
As zebras vivem 20 anos e não chegam a saber se são brancas com riscas pretas ou pretas com riscas brancas. E vivem.



Vítor Ganchinho



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