JIGGING - A TÉCNICA COMO FIM, OU COMO MEIO DE...?

Para quem faz da pesca um hobby não sistemático, pouco regular, uma saída de pesca terá uma importância relativa. Se sai bem, óptimo, se sai mal, enfim, …talvez saia melhor da próxima. 
Já nos casos em que as pessoas levam a pesca muito a sério, os dias maus têm de ser restringidos a um mínimo, algo muito raro, porque também o investimento em material não é o mesmo, a dedicação à causa outra, e o tempo investido em conhecimento bastante diferente. E essas pessoas vão ao mar não para passear e apanhar ar puro, mas para pescar peixe, sem dúvida. 
E por isso mesmo, necessitam de saber um pouco mais. Isso faz-se obtendo formação de variadas formas, inclusive comunicando com outras pessoas que têm disponibilidade de tempo e meios para poderem sair a pescar vários dias durante a semana. É o meu caso. 
Falo-vos hoje de princípios básicos do jigging, coisas simples, pequenos detalhes, mas que são válidos para todos aqueles que gostam  de lançar linhas e sentir a pancada de um peixe. 

Canas algo parabólicas dão-nos mais alguns peixes ao final do dia. Amortecem a pancada do peixe e não o deixam rasgar…
 

Ontem abordámos aqui um tema relacionado com a vertente estética da pesca jigging. 
Há demasiada gente a copiar modelos importados, esquecendo que o fundamental não é o movimento em si, mas o resultado que ele proporciona. 
O acto de fazer saltar uma peça metálica à frente dos olhos dos peixes já é praticado em Portugal há mais de um século. 
A pesca do bacalhau na Noruega era feita pelos portugueses utilizando… jigs! A pesca da xaputa em Sesimbra, no princípio do século passado, era feita com jigs. 
Temos uma tradição que vem de longe, e por isso não convém olhar para este sistema de pesca como sendo algo…novo. Não é. 

O bacalhau pesca-se essencialmente com jigs. 


Ainda assim há princípios básicos que devemos respeitar. O jigging vive de um conjunto de elementos que são, até ver, imprescindíveis. 
Será uma técnica essencialmente praticada de barco, pelo que faz falta um barco, e já agora, …mar com peixe e equipamento. 
Para começar, uma cana, um carreto, linha e um jig. 
Se a qualidade do equipamento deve ser alta, logo de inicio? Na minha opinião, comprar material para começar e outro a seguir, depois de já dominar o método, não deixa de ser um desperdício de recursos. 
Gastar dinheiro a adquirir equipamento de “lançamento” e voltar a gastar de novo a seguir, para melhorar as características da cana, do carreto, das linhas, é gastar duas vezes. 
Vejo a questão desta forma: e porque não experimentar primeiro, antes de comprar? E fazê-lo a seguir, já com experiência, conhecimento de causa?
A minha visão sobre o assunto é esta: não se deve deitar dinheiro fora, comprando para….experimentar. Nem vale a pena fazê-lo por sugestão de alguém, porque essa pessoas pode estar equivocada, ou não entender que tipo de pesca pretendemos fazer. Bom mesmo é experimentar tudo, e então sim, avançar com segurança. 
 
Poucas pessoas conseguem douradas com jig no nosso país. Os modelos de acção utilizados remetem para peixes com outros requisitos técnicos, nomeadamente os pargos.


Sabemos que nem todas as pessoas têm objectivamente condições para fazer jigging. 
Trata-se de uma pesca muito exigente do ponto de vista técnico, que exige material com alguma qualidade, e onde o improviso não resulta de todo. 
Mais que isso, mesmo estando na posse do equipamento certo, ainda falta vencer uma outra condicionante: ter um barco, e ter uma equipa de pessoas motivadas, que aceitem fazer jigging. 
Quanto mais gente a bordo, piores os resultados. 
Não conheço barcos de 16 pessoas que consigam pescas de excepção. Não é uma técnica que seja produtiva quando praticada em massa, pelo que o aspirante a pescador de jigging deve meditar, antes de adquirir equipamento, se vai ter a seguir condições para poder fazê-lo num grupo restrito de pessoas. 
Há a considerar questões como os custos de deslocação, (e não me refiro apenas a custos com combustível), os quais terão de ser suportados por 2/ 3/ 4 pessoas no máximo. 
O jigging não é algo que se faça em locais massacrados por pescadores todos os dias. À saída dos portos, aquilo que temos são grandes extensões de mar absolutamente desertas, sem vida, passadas e repassadas ao milímetro por embarcações de pesca comercial, e por gente que tem barcos com deficiente motorização, mas que ainda assim conseguem lá chegar. 
Lançar linhas esperando obter bons resultados nesses locais, em verdadeiros desertos, é ser porventura demasiado optimista. 
Não é este factor algo que tenha a ver em exclusivo com a técnica de jigging. Isso passa-se também com quem faz a pesca mais corrente, a vulgar pesca vertical, o dito “pica-pica”. 
Também esses não conseguem obter resultados significativos quando pescam no….”deserto”. Ninguém consegue, porque não há ali peixe para pescar. Essas pedras, mais próximas dos grandes portos nacionais, estão absolutamente exauridas de peixe, não têm vida, e quando não há, não se pode inventar.


 
Quem pesca vertical sabe que o normal é que os resultados sejam fracos. Toda a gente se queixa de que cada vez há menos peixe. 
Será assim para quem não sabe onde, nem quando, nem como…
Quando as pessoas pescam vertical e vão sistematicamete para os mesmos sitios, fazer o mesmo que ontem, e antes de ontem, uma vez e outra, é natural que não encontrem peixe nessas paragens. 
Mas isso já é à partida assumido, não me parece que seja propriamente uma surpresa. Pescam em verdadeiros desertos. 
Parece-me que não devem os pescadores tradicionais, todos que utilizam isco orgânico, e que fazem hoje igual ao que sempre fizeram, pescam onde e como sempre pescaram, esperar resultados muito diferentes dos habituais. Diferentes …porquê?!

 
Só temos de ser pacientes, deixar o peixe trabalhar. Aqui, eu estava a levantar um pargo. 


Voltando à questão do jigging, queria dizer-vos que a técnica mais produtiva será sempre aquela que melhor estiver adaptada ao comportamento do peixe que temos debaixo do barco. 
Eu já pesquei em muitos países, e aquilo que trouxe de cada um deles é que existe ali, naquele local, uma forma melhor que todas as outras. É algo muito localizado, que funciona bem, naquelas circunstâncias, mas que pode não ser tão efectivo noutras paragens, com outros peixes. 
O processo não é um compartimento fechado, não é algo estanque, tem de ser afinado em função das variáveis que cada região apresenta. E mesmo num determinado local, altera ao longo do ano, não é fixo. 
Antes muda em função das épocas do ano, das condições meteorológicas, das marés, da profundidade, dos tipos de fundos, rochosos, arenosos, da temperatura das águas, da estação do ano, dos períodos de reprodução, da pressão de pesca, e tantos outros factores. 
Assim sendo, …faz sentido ter apenas um modelo rígido de pesca? Um só estilo de pesca que sirva para tudo?
Algo que se aplica a todas as espécies, a todas as profundidades, em todos os locais?
Não vos parece que isso é ser demasiado rígido?!


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