PESCAR LULAS COM JIGS

As águas estão frias, e com isso as lulas entraram em força.
Aproveitam um momento em que são menos apoquentadas por predadores, (teoricamente os pelágicos estarão longe nesta altura), e encostam a terra para desovar.
Este é um momento de excepção para quem gosta de pescar estes cefalópodes. As lulas são de uma agressividade absoluta, e, contrariamente ao que parece, são caçadoras muito eficazes.
Procuram estar encostadas junto aos cardumes de peixe miúdo, e é relativamente fácil convencê-las a morder quando excitadas por algo que lhes possa sugerir um peixinho ferido.
Os nossos jigs imitam isso. Mas não se ficam por comer os indefesos carapaus, ou sardinhas, mesmo entre elas o canibalismo é prática corrente. Comem-se umas às outras!
Se há quem as procure com as tradicionais toneiras, também é verdade que já algumas pessoas entenderam a vantagem de procurar lulas com jigs.
E quais vantagens, porquê, se é verdade que se conseguem mais exemplares quando se pescam com as agulhas das toneiras?!
Pois sim, a pesca das lulas é divertida, mas bem mais divertido é pescar no mesmo local onde estão as lulas, lançando jigs, tentando ao mesmo tempo aquilo que come as lulas!.....


Algumas pessoas nunca pescaram uma lula na vida. A maior parte daqueles que pescam vertical, o dito “pica-pica”, nunca o fizeram.


Poderão achar absurdo que existam predadores que conseguem comer lulas que podem ir até 1,5 kgs de peso. Não é.
Os pargos batem forte nas ditas e não precisam de muito tempo para decidir o ataque a estes incríveis animais. Mesmo pargos pequenos, digamos de 2 kgs, já lhes fazem muito mal.
Um primeiro ataque à cabeça, o corte de alguns tentáculos, e a partir daí, a lula será desfeita em bocados por dentes impiedosos.
A lula é um cefalópode muito procurado, porque é um alvo perfeitamente acessível a um peixe bem armado de dentes, rápido, e forte como um pargo.
Também muitos outros peixes as procuram, mas são os pargos que nesta fase do ano nos interessam mais. Porque os podemos pescar à mesma hora, no mesmo local, com o mesmo equipamento, com o mesmo jig.


Carlos Campos com mais uma lula no seu jig. Ele grelha-as...


Principal dificuldade: a lula não pode ser ferrada de forma enérgica, sob pena de lhe rasgarmos os tecidos. Quando exercemos demasiada pressão sobre os tentáculos, aquilo que acontece é que estes cedem, não sendo raro que tenhamos uma ponta de tentáculo nos assistes, ou triplo, quando recolhemos à superfície.
O equipamento ideal passa por uma cana muito macia, parabólica, e um jig que plane bem na água, a dar tempo. Os ataques das lulas são sempre violentos, e na maior parte dos casos, bem sucedidos.
É frequente que se consigam ferrar, sobretudo quando utilizamos um triplo à cauda do jig. Menos frequente é que se venham a cobrar todas as peças. Algumas serão irremediavelmente perdidas no seu percurso até à superfície.
Mas esse é um preço a pagar por outro bem maior: os pargos de bom tamanho que sempre seguem atrás das lulas.
Se tivéssemos a certeza de que a pancada inicial que sentimos no jig poderia ser uma lula, a atitude seria sempre a de recolhermos o jig de forma linear, constante, suavemente, sem grandes quebras de tensão na linha.
Intermitências será tudo aquilo que não precisamos quando rebocamos uma lula. Ao menor descuido, algo de ruim acontece e a fase mais crítica nem será a de subida propriamente dita, mas sim a chegada junto ao barco.
Nesse momento, e num último esforço, a lula irá lutar com todas as suas forças. Muitas se perdem aí, já à vista. Deixam-nos uma nuvem de ferrado preto/castanho e vão curar as mágoas para o fundo.


Mais uma no jig...


A questão que se coloca tem a ver com a necessidade que temos de ferrar firmemente os pargos. A dureza da sua boca exige um tratamento mais violento, mais enérgico, porque implica cravar bem fundo um ou dois anzóis.
De um lado temos a periclitante macieza dos tentáculos das lulas, e do outro a espessura de osso e rigidez dos dentes dos pargos. E ficamos divididos entre assegurar uma boa peça, um pargo que nesta altura do ano pode ultrapassar os 10 kgs de peso, e a gestão “com pinças” que pescar lulas sempre implica.
A diferença de atitude a que forçosamente teremos de atender, deixa-nos na dúvida. O próprio armamento que utilizamos no caso de haver lulas é diferente, porque obriga à inclusão de um triplo, quando na verdade nos sentiríamos mais seguros com os assistes, no caso dos pargos.


O corrente nem é isto. O mais normal é termos as lulas presas...”pelos cabelos”, ou seja, por uma pontinha de um tentáculo. Mas muitas sobem...


Isto pode parecer um contrassenso, mas o armamento do jig indicado para estes bichinhos, quando os pescamos em zonas onde sabemos antecipadamente que estão, é mesmo um triplo de pequeno formato. Quanto mais largos os espaços entre anzóis, pior. E porquê? Porque os tentáculos das lulas de tamanho standard, digamos 500 gramas, são relativamente finos e frágeis. Isso quer dizer que no caso de um ataque, e caso a lula fique efectivamente presa, o tentáculo ficará tomado por um único anzol do triplo de grande tamanho.
Nunca vem presa por dois pontos. Mas no caso de um triplo pequeno, há ainda assim alguma possibilidade de conseguirmos que a fateixa prenda dois pontos.
Pode parecer-vos indiferente. Na verdade não é! Porque dois pontos são o dobro dos apoios quando queremos fazer subir o bicho. E isso pode mesmo fazer muita diferença.
Quando tenho a certeza de que andam mais baixas, e que dificilmente terei um grande pargo no jig, eu passo a jigs de tamanho “mosca”, digamos 5 a 7 gramas, e consigo fazer muito mais lulas.
Passo-vos esta foto, de uma, pescada com um jig de 5 gramas:


Não são consideradas troféus, mas em minha casa quase nada é considerado um bom troféu, as minhas meninas preferem coisas boas para grelhar...


Tenho para mim que muitas vezes aquilo que nos motiva a pescar lulas com jigs é o facto de serem muito bem recebidas em casa.
Mais que a técnica, ou a “luta” que dão, que é residual, o que é motivador é ter a possibilidade de grelhar estes bichos em casa.
A maior parte das pessoas, e até as crianças, gostam de comer lulas. E para nós, pescadores, o trabalho de arranjar uma lula é quase nulo.
Em termos gastronómicos, as lulas dão um guisado de ervilhas valente, uma lula grelhada também não é de deitar fora.


Raul Gil Durá a bordo do seu kayak, com uma lula. Ele só pesca com artificiais.


O tempo é de lulas.
Como costuma dizer-se, se a natureza nos oferece limões, fazemos limonadas...



Vítor Ganchinho



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6 Comentários

  1. Amigo Vítor, bom dia,

    E que pitéu são as nossas lulas!
    No fim do ano passado fiz umas lindas capturas a pescar com a Daiwa Aging boat adquirida na sua Go Fishing, devidamente "casada" com o Saltiga BJ 200SHL.
    O conjunto deu me uma satisfação imensa com as capturas efetuadas.
    Simplesmente maravilhoso!

    Abraço,
    A. Duarte

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    Respostas
    1. Boa tarde Vitor

      Mais um artigo 5 estrelas.
      Gostava de ir a Peniche exprimentar com a cana nova e os jigs, onde as procurar?Em termos de Morfologia de fundo, não consegui perceber se há algumas características específicas, ou é procurar apenas os cardumes de peixe miúdo na sonda.

      Abraço
      Toze

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    2. Olá Tozé!

      Tenho a certeza que as consegue encontrar! Vá olhando à sonda.
      Em zonas onde possa encontrar muita isca, carapau pequeno, cavalinha, sardinha, etc, elas vão estar de certeza. A seguir, com um jig ligeiro, deixe descer, anime um pouco, sem demasiada pressa, porque por vezes elas estão lentas a reagir. A recolha é feita a um ritmo
      lento, a ..."dar tempo".
      Aquilo que vai sentir são umas pancadas bruscas, violentas. Nessa altura, levante o jig um pouco mais rápido, mas sem ser nenhuma correria. Quando as apertamos demasiado acabam por rasgar. Por vezes até lhes roubamos um ou outro tentáculo.
      Assim sendo, primeiro passo...descobrir a comida delas. Podem estar em pesqueiros com 15 metros, ou 150 metros, mas aconselho que faça as suas tentativas a não mais de 60 metros.
      O ponto mais certo é encontrar o alimento delas.
      Porque a densidade é relativa, ( não têm ossos...) aparecem-lhe na sonda com uma cor azul clara....normalmente não longe da bola de peixe que elas estão a caçar.

      Abraço
      Vitor

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  2. Boa noite Vitor

    Muito obrigado, pela explicação, vou tentar.
    Grande abraço
    Toze

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    1. Bom dia Tozé


      Não é para complicar, mas este domingo fiz 8 lulas, algumas delas na casa de 1 kg.
      Vou passar as imagens brevemente.
      Está tudo cheio de bichinhos daqueles....


      Abraço
      Vitor

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    2. António José Lopes27 fevereiro, 2023

      Boa tarde Vitor

      Isso é top 👍
      Venham daí essas imagens sempre fantásticas

      Grande abraço
      Toze

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