ROBALOS - PREDADORES NATURAIS E... HUMANOS

Temos vindo a abordar a temática da pesca do robalo, observando pequenos detalhes que, no seu todo, influenciam a nossa forma de o conseguir capturar. E também entender.
Quando começamos a perceber as suas reacções, as suas necessidades, estamos mais perto de o conseguir pescar. Hoje o tema é predação, natural ou não. Vamos ver de que forma o número de robalos é limitado, e por quem.

O robalo adulto praticamente não tem predadores. Mas antes que cresça o suficiente e possa nadar despreocupado e relaxado, ele tem que enfrentar inúmeras ameaças.
Algumas delas passam-nos ao lado, nunca as imaginamos, até constatarmos a sua efectividade. Aves, outras espécies de peixes e sua própria espécie são alguns dos obstáculos a ultrapassar no caminho para a idade adulta.
Na verdade, a maior parte dos robalos que nasce, acaba por ser vítima de um acidente qualquer. Isso faz parte do equilíbrio natural que existe, e se ele é transtornado por algum motivo, o bicho homem estará em princípio na sua génese.
Tudo e todos atacam o robalo, antes que ele o possa fazer a outros, enquanto master predador que será no futuro. Mesmo as suas presas naturais, por exemplo as cavalas e carapaus, irão atacar as ovas pelágicas, enquanto ...podem.
Um dia serão por sua vez comidas por robalos que evoluíram dessa situação de pequenos óvulos transparentes e chegaram a peixes adultos.




Como acontece com muitas outras espécies de peixes, o robalo juvenil está sujeito ao canibalismo: os maiores comem os mais pequenos.
Não é só o robalo mais velho que se alimenta de seus parentes, larvas e juvenis. Os peixes juvenis por sua vez também devoram os seus congéneres.
Já todos vós pescaram por acidente robalos pequenos que pouco mais têm que o comprimento da nossa amostra, o que diz bem da sua voracidade.
Foi feita uma experiência interessante, em ambiente controlado, para que os resultados pudessem ser medidos. O ponto de partida foi um aquário com 500 robalos entre 1 e 3 centímetros.
Após três meses continha apenas 25 peixes no seu interior, com um comprimento entre 7 e 12 centímetros (G.D. Pickett, M.G. Pawson Sea bass. Biologia, exploração e conservação. Chapman e Hall, 1994).
Isso indica-nos que o canibalismo é algo comum, perfeitamente corrente. Dificilmente seria de outra forma, num mundo em que é cada um por si, em que não existe qualquer laivo de solidariedade, ou algo parecido.
Mesmo quando caçam em grupo, os robalos cuidam de ser autossuficientes na obtenção da sua própria comida. Mas voltemos aos robalos juvenis, para entendermos esta questão da predação.
O robalo juvenil – peixe que até aos quatro a sete anos pode estar com um comprimento entre 35 e 42 centímetros – também está na ementa de diversas aves e peixes, embora os espinhos da sua dorsal ofereçam alguma proteção contra predadores.
Quando nadam à superfície ou em águas rasas, os peixes mais pequenos são presas para vários tipos de aves: gaivotas, corvos-marinhos ou gansos-patolas.
Grandes cardumes de robalos adultos entram regularmente nos habitats onde os juvenis estão em crescimento, leia-se estuários de rios, onde, à falta de outras espécies, se alimentam de robalos jovens.




Até que por fim o nosso peixe atinge o estado adulto.
Como disse antes, o robalo mais velho praticamente não tem quem o ataque.
Os peixes adultos nadam rápido, se necessário, logo podem evitar a maioria dos predadores. A maior ameaça são mesmo os seres humanos, que o procuram exaustivamente.
Existe um mercado garantido para o robalo, dificilmente se estraga um peixe por não venda, o que equivale a preços regularmente altos e por isso mesmo acontece uma pressão crescente por parte da pesca comercial.
Para a frota pesqueira nacional, pescar robalos é dinheiro em caixa, e por isso mesmo se correm tantos riscos por eles. As mortes por afogamento de muitos dos nossos pescadores profissionais são causadas por este peixe, pois é muito corrente que esteja bem junto à rebentação, onde a onda enrola. E os barcos são apanhados pela onda e viram.
Embora o robalo não seja uma espécie ainda em vias de extinção, existe uma ameaça latente de superexploração dos stocks de robalo.
O maior problema é mesmo o de ser pescado no Inverno, num momento em que encosta a terra, para desovar, e fica numa posição mais fragilizada.
Isso deve-se ao facto de ser uma espécie de crescimento muito lento e que pode ser capturada por unidades ligeiras, com redes, com pouco esforço de pesca. É muito fácil a um pequeno barco conseguir operar de forma a pescar robalos. 




Relativamente à parte que nos toca, a pesca desta espécie motiva imenso, e pode induzir à existência de especialistas. Há quem só pesque ao robalo!
Pescamo-lo com amostras duras, os stickbaits, os passeantes, as amostras de pala, etc, mas sobretudo com amostras macias, os peixinhos em vinil, equipados com um cabeçote de chumbo onde se encontra incrustado um anzol.
São esses que nos podem dar uma maior quantidade de robalos num mesmo spot, pela sua eficácia.


Isto são máquinas de pescar robalos. À direita a versão a utilizar em águas rasas. Linhas finas ajudam a fazer descer estas peças.


A vibração que uma amostra em vinil emite não estará distante daquilo que é um peixe forragem na natureza. E isso torna-a muito atractiva. Os robalos lançam-se desabridos contra um vinil, de forma muito violenta, se bem trabalhado pela pessoa que o lança.
A considerar temos a possibilidade de se tratar de um pesqueiro fundo, ou com correntes fortes, em que devemos utilizar uma cauda bifurcada, que trabalhamos a golpes de pulso, ou, no caso de pesqueiros mais baixos, ou águas mais paradas, nomeadamente as paragens do estofo de maré, em que podemos utilizar caudas shad, as quais nos permitem pescar com recuperações lineares.
Na base de tudo, aquilo que se procura imitar é a passagem de um pequeno peixe, presa natural para este caçador marinho.


Isto para um robalo é um frigorifico aberto…cheio de comida.


Não comem apenas peixe miúdo, na verdade o robalo, pela perspectiva do dono de um restaurante será o cliente perfeito: come de tudo!
A ordem é de comer o que estiver à mão, sem demasiadas escolhas. Vai por aquilo que está presente, o que pode ser mais fácil de capturar.
Isso significa que sua dieta é definida principalmente pela fonte de alimento que está por perto – de preferência em abundância – naquele momento e local específicos. Como resultado, o menu é bastante amplo e variado.
Se há sardinha é sardinha, mas se houver uma arribada de caranguejo pilado é por aí que vai. Quando se encontra já farto, cheio de comida, aí sim, torna-se belicoso, e passa a escolher muito bem aquilo em que vai morder.
Num mundo em que a alternativa é comer ou ser comido, ser presa ou predador, a escolha certa é comer e continuar a crescer. Os grandes robalos podem facilmente comer peixes acima de 1 kg de peso!
E em pequeno, como é?
A larva do robalo, com milímetros de comprimento, começa por consumir o saco vitelino. A seguir ela começa a comer zooplâncton. O cardápio muda assim que o peixe entra na sua fase juvenil.
A partir dos três meses de vida, o robalo passa a ter uma alimentação maioritariamente composta por crustáceos (camarão, caranguejo, isópodes e anfípodes) e invertebrados (vermes, lulas e moluscos).
Crescendo, os jovens caçam cada vez mais peixes, e menos outros tipos de alimentos. O robalo adulto ainda adora devorar crustáceos, chocos, lulas, mas desde que o habitat lhe propicie isso, a quantidade de peixe na dieta aumenta à medida que o robalo cresce.
Como eu vos tenho vindo a dizer, escamar e abrir o estômago de um robalo é algo que não devemos deixar para a nossa consorte. Aquilo que se encontra dentro do seu estômago ensina-nos a pescá-lo.
Se tem uma sardinha dentro podemos e devemos voltar ao sítio no dia seguinte e tentar amostras em formato de…sardinha! Tão simples quanto isto. 




Vítor Ganchinho



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