Sabemos que podem chegar a respeitáveis idades, na ordem dos 30 anos.
Para determinar a idade exacta de um robalo, os cientistas ou biólogos geralmente contam o número de anéis das escamas, com um microscópio.
Cada um desses anéis de crescimento equivale a um ano, e no caso do robalo essa marca, esse crescimento de dentro para fora da escama, é feito durante o período de Inverno, nos meses frios.
Cada ano origina uma marca, bem visível, e é isso que é considerado para efeitos de cálculo.
Em exemplares jovens a marcação é muito evidente, tornando bastante fácil determinar a idade do peixe. Isso pode ser um pouco mais difícil com robalos de dez anos ou mais: as suas escamas são mais grossas e os anéis anuais estão localizados mais próximos uns dos outros, devido a uma desaceleração no crescimento.
Os anéis anuais revelam-nos também a velocidade de crescimento do peixe, através da amplitude das marcas.
Os robalos quando chegam a grandes, têm gravados neles, e nas suas escamas, uma incrível história de luta pela sobrevivência.
A escama do robalo tem um formato aproximadamente quadrangular e por isso é composta por quatro zonas diferentes.
Existe a zona frontal, com os anéis anuais bem demarcados, mais proeminentes, duas faces laterais e por fim uma zona de incrustação traseira na pele.
Para quem acaba de os pescar, e sem uma análise demasiado rigorosa, apenas a zona frontal é visível, ficando todas as outras áreas embutidas na pele ou cobertas pelas escamas adjacentes.
Teremos ainda a considerar um muco, uma película que cobre todas as escamas, e zela pela saúde física do animal, que o isola do meio ambiente exterior.
Para cálculo da idade, aquilo que nos interessa saber é apenas que existe uma área de marcas formadas a cada inicio de um novo ciclo de crescimento.
Correspondem à pequena área calcificada entre dois círculos, que nos aparece clara e bastante espessa, algo rugosa. Vejamos como é uma escama:
Alguns dos anéis aparecem-nos mal definidos, e podem ser falsos. Isso pode induzir-nos em erro, aquando da sua contagem. Esses anéis (muitas vezes parciais) são o resultado de condições incomuns encontradas pelo robalo, como escassez prolongada de alimentos ou “incidentes climáticos”, tais como bruscas mudanças de temperatura normal para águas repentinamente muito geladas.
Estas perturbações ocasionais manifestam-se, entre outras “cicatrizes de guerra”, por uma nota adicional na escama.
Anéis falsos não estão relacionados a desacelerações de crescimento no inverno, e não devem nem podem ser considerados quando fazemos a leitura da idade.
As setas brancas indicam os anéis anuais, as setas vermelhas indicam os anéis falsos. Fonte: Fritsch, 2005 |
Os nossos robalos, (Dicentrarchus Labrax), podem lidar com temperaturas de água variando de 2ºC a 32°C, o que lhe dá uma enorme amplitude térmica de actuação.
Dentro dessa ampla faixa existem algumas temperaturas específicas que determinam o curso normal da vida. Abaixo dos 10ºC, o animal entra em défice de actividade, e muito acima dos 25ºC, idem.
Esses extremos ficam inevitavelmente marcados nas escamas como acidentes de percurso. E podem inclusive acabar por fazer perder as desovas, pois no estágio de desenvolvimento de ovo a peixe juvenil, a temperatura da água é fundamental para o crescimento e sobrevivência.
A temperatura desempenha um papel importante antes mesmo de o robalo ver a luz do dia: os dados que consigo obter são relativos a países mais a norte da Europa. Não temos em Portugal o hábito de publicar informação técnica…
Mas os que consegui podem ainda assim dar-nos elementos de análise muito objectivos, que nos servem na perfeição para termos uma ideia de como as coisas se passam.
Não esqueçam de que não falamos de temperaturas à superfície, pois não é aí que o peixe liberta os óvulos, mas sim no fundo, onde podem ser mais frias. A medição feita à superfície enferma da margem de erro dada pela hora do dia a que é feita: de manhã cedo será mais fria que à hora em que o sol está a pino, a incidir verticalmente e por isso a aquecer mais a água.
Grosso modo, a desova só ocorre quando a temperatura da água do mar arrefece e atinge a faixa de 8,5 a 11°C. Dependendo do termômetro, os ovos eclodem após quatro a nove dias. Com uma temperatura da água de 9°C leva nove dias, a 15°C o processo é concluído em quatro dias.
Para que a eclosão seja bem-sucedida, a temperatura deve estar entre 8,7 e 17,7°C. Em água mais fria ou mais quente, os ovos não se desenvolverão, morrem antes de nascer.
Depois de os ovos se desenvolverem e eclodirem, a temperatura também determina a rapidez com que os embriões atingem o estágio de larva. A 9°C a larva começa a comer pela primeira vez após doze dias.
Com a temperatura da água a 15°C isso acontece logo após cinco dias. Na fase juvenil, com 3 cm de comprimento, o robalo gosta de calor. Quanto maior a temperatura, mais rápido o peixe cresce (desde que a temperatura da água fique abaixo do limite letal de 32°C).
Logo, o robalo juvenil pode geralmente ser encontrado nas zonas rasas, zonas berçário baixas, normalmente os esteiros dos rios, estuários, onde a luz do sol aquece mais facilmente a fina coluna de água. Estão lá porque é aí que encontram as melhores condições de sobrevivência. Nada é por acaso!
O resultado do processo de reprodução apresenta fortes oscilações a cada ano. Conforme explicado anteriormente, isso é determinado pela temperatura da água.
O primeiro Verão e o Inverno seguinte são decisivos para a quantidade de robalos que irão vingar nos anos seguintes. Por vezes tudo se joga em torno de pequenos detalhes.
O facto de peixes maiores poderem armazenar mais reservas de gordura, dá-lhes mais possibilidades de conseguir resistir a temperaturas baixas.
As chances de sobrevivência dos juvenis aumentam após um verão quente, pois aproveitam-no para crescer. Se o robalo atingir um comprimento de 6 cm ou mais no primeiro verão, a mortalidade no inverno seguinte geralmente é baixa.
Por outro lado, um verão frio e um inverno rigoroso podem resultar na mortalidade quase total da criação de um ano de robalos. Isso é uma tragédia ecológica, pois cava um fosso na progressão reprodutiva e consequentemente na evolução dos stocks de peixes.
Todos contam, precisamos de todos os nossos peixes. Porque cada um deles pode reproduzir e lançar mais algumas centenas de peixes para os locais onde lançamos as nossas amostras.
Espero que tenham achado interessante.