Muito longe daqui, concretamente em 6-14-27 Konoike, cidade de Itami, município de Hyogo, Japão, vive uma pessoa que mudou muitas vidas.
Também mudou as vidas de alguns portugueses, apaixonados pelo jigging.
Falo de Norihiro Sato, o inventor do “slow-jigging”, técnica de que tanto se fala entre nós. Será, de todas as possibilidades que o jigging nos oferece, das mais praticadas e publicitadas, e não é por acaso. A sua aparente facilidade de execução, os seus resultados efectivos, ganharam rapidamente adeptos por todo o mundo.
E tudo saiu um dia da criatividade de um homem. Sim, porque antes dele o slow-jigging não existia conforme o conhecemos hoje.
Alguém o pensou, desenvolveu, e criou condições para que todos os milhões de pessoas que o praticam por esse mundo fora pudessem ter acesso a essa informação.
Esse alguém tem rosto, está identificado, e goza hoje de uma reputação irrepreensível: Norihiro Sato.
Estar na presença de uma pessoa como o sr Sato, um portento de sabedoria, de brilho mas também ao mesmo tempo de franca humildade, é algo que não se esquece.
Detectamos-lhe a aura de conhecimento dos predestinados, um carisma que não se explica, mas que se sente. E o sr Sato a todos responde, a todos ensina, com a paciência que só os verdadeiramente grandes podem ter.
Momento histórico, o meu encontro com o sr Norihiro Sato. Duas pessoas que amam a pesca podem sempre comunicar entre si. |
Quando temos a oportunidade de estar com uma pessoa destas, o pior que podemos fazer é dizer-lhe como pescamos, esperando obter um comentário, uma aprovação.
Ele não conhece a nossa realidade, não pesca nas nossas águas, (ficou o convite e terei muito gosto em o receber em minha casa para podermos ir tentar os nossos lusos peixes!) e por isso mesmo aquilo que ele nos pode dizer é como faz.
Pode ensinar-nos a sua técnica, o seu saber, aplicados à sua zona de pesca. É no seu Japão que ele é eficaz, foi ali que ao longo dos anos construiu o seu invejável currículo.
Cabe a cada um de nós ser inteligente, saber ler nas entrelinhas, perceber o que pode ser retirado do método Sato, enquanto estilo.
Digo-vos que há muito de substrato, imenso conhecimento aproveitável, porque há princípios universais, que se enquadram em qualquer pesca, não obstante a latitude e longitude onde são praticados.
Mas isso só por si não chega. Os nossos peixes têm razões que a razão desconhece e não são os peixes japoneses. Temos de ser capazes de ir mais longe.
Se é verdade que uma centena de cientistas não são suficientes para explicar a razão de uma lágrima que cai, também é verdade que cada mar é único e tem os seus requisitos próprios.
E por isso mesmo, porque não há dois dias de pesca iguais, por vezes temos de introduzir algumas nuances, para conseguir resultados.
No entanto, e digo isto com a maior das convicções, não subestimem as capacidades de observação de uma pessoa tão luminosa e notável quanto esta. Tenho a certeza de que ao fim de algumas horas a pescar em Portugal, o sr Sato estará capaz de entender na perfeição aquilo que é necessário fazer para ter sucesso com os nossos pargos, os nossos robalos, etc.
Ele, para além de boas mãos, tem algo ainda mais valioso: um cérebro privilegiado.
A adaptação a um contexto de pesca diferente é algo que só pode ser feito por alguém que faz da observação o seu maior argumento.
Há pessoas que pensam, inovam, arriscam fazer diferente, e outras que não se maçam com isso, seguem aquilo que veem fazer aos outros.
O sr Sato pertence ao grupo de pessoas com capacidade para perceber o que pode e deve ser feito. Para ele, é importante entender os porquês, aquilo que está por detrás da eficácia de uma técnica.
Ao avançar no sentido de compreender e inovar, de utilizar todo o potencial do seu cérebro no sentido certo, ele abre novas possibilidades, novos caminhos.
A seguir, executa. A aplicação de um método de tentativa e erro, a prática continuada mas atenta ao detalhe, ditam regras.
Um jogador de snooker não pode apenas antecipar as linhas imaginárias que as bolas irão percorrer no pano da mesa. Tem também de ser capaz de executar. Tem de, através de um taco, ser capaz de as fazer seguir as linhas que idealizou.
E é dessa forma que o sr Sato consegue determinar o futuro da pesca de muita gente, em todo o mundo. Ele pensa, executa, mostra, e diz a todos os outros como devem fazer para obter resultados.
Passa-nos a todos nós a sua sabedoria, a sua cultura de pesca, o seu saber científico e temos de lhe estar muito agradecidos.
É preciso contextualizar aquilo que qualquer pessoa pode fazer no seu espaço de trabalho. Por melhores ideias que tenha, de nada servem se não conseguir os instrumentos adequados para as pôr em prática.
O slow-jigging vive da acção da cana, e do deslizamento do jig. Estando situado num país que é produtor de material de pesca, o sr Sato teve acesso ao desenvolvimento de equipamentos específicos para a técnica que utiliza.
Mesmo alguém que nada tem a provar a quem quer que seja, não seria bem sucedido caso não tivesse a oportunidade de poder discutir com os engenheiros da Ever Green os detalhes das canas que lhe interessam.
O passo seguinte é produzir as canas Poseidon de acordo com as suas directrizes, balanceadas para esta ou aquela gramagem de jig. E a seguir explicar aos fabricantes de jigs qual a sua ideia de pesca e em que sentido devem ser desenvolvidos os protótipos de jigs. O resto é trabalho de campo.
Estivesse o sr Sato num país como o nosso, e veria que o acesso a alguns tipos de equipamentos só é possível através da importação, ou seja, longe da possibilidade de poder determinar as características do produto.
Em Portugal, onde há pessoas que fazem jigging com canas telescópicas de 4 metros para água doce, Onde se pesca embarcado com canas de surfcasting, nada pode soar mais anacrónico. Com frequência me pedem para eu indicar uma cana “que dê para tudo”, para pesca vertical, para jigging, para spinning, etc. Fico triste.
Confesso o meu desânimo, porque isso é o “bas-fond” de tudo aquilo que é a pesca hoje em dia, cada dia mais técnica, mais especializada, e também mais difícil. Hoje, pesca peixe quem tem alguma vantagem, quer em termos de conhecimento técnico, quer de equipamento mais indicado para um determinado fim. Esses são os que enchem caixas de peixe, os outros …passam ao lado, ficam a ver.
Não tenho a certeza de que estejamos hoje a falar de pesca conforme o faríamos há 30 ou 40 anos atrás. Os tempos da pesca pura, da cana de bambu, do abundante e descuidado peixe, dos materiais a “desenrascar”, estão acabados.
Tudo mudou, e não necessariamente para melhor. Confesso as minhas saudades, mas os tempos antigos não vão voltar.
A tendência é para que o pouco peixe que há seja cada vez mais difícil. O céu traz-nos nuvens negras, e vamos ter de as enfrentar com coragem, não há espaço para ignorar o que aí vem.
Foto Fernando Santos |
O slow-jigging é algo de intuitivo, de lógico. Uma cana com a acção certa para o peso de jig certo, e a partir daí, a cada enrolamento de linha corresponde um movimento pré-determinado do jig.
Parece simples demais, mas a pesca não tem de ser complicada para ser boa. Acreditem que só nos parece simples, fácil, porque alguém, o sr Norihiro Sato, um dia resolveu pensar fora da caixa e arriscou fazer diferente.
E por isso mesmo lhe devemos tanto, não só pelo método em si, mas pela evidência que nos deixa de que vale a pena pensar a pesca. E este é o busílis da pesca. Se pensarmos o que estamos a fazer, podemos melhorar os nossos resultados. Podemos até criar um sistema diferente de todos os outros.
O slow-jigging é um método que pode dar-nos peixes quando outros sistemas falham, sobretudo em momentos de acalmia, de baixa actividade.
É também muito eficaz se utilizado a determinado tipo de peixes que caçam de emboscada, que vivem de arranques bruscos e captura. Já aqueles que preferem perseguir as suas presas, aderem menos ao sistema. Não são impossíveis, mas o método não lhes serve na totalidade. A meu ver, não é técnica para ser utilizada em exclusivo, até porque as circunstâncias mudam, os peixes reagem mais e menos a estímulos, em função das condições de mar existentes ao momento. Não é método para todo o dia, nem para todos os dias.
Já aqui vos transmiti a minha opinião sobre aquilo que me parece ser mais indicado: adaptar o nosso estilo de pesca ao peixe que procuramos, ao momento do dia e às condições de mar do dia. Se estamos no local à alvorada é uma coisa, a meio do dia será outra. A quantidade de luz, a visibilidade, influenciam em muito os nossos resultados. Se a maré enche há algumas horas e temos corrente forte não será igual a uma maré completamente vazia, e num momento de mar parado. Como pode ser igual!!??
Há bastante tempo que vos falo em ciclos de alimentação do peixe. Se estiverem atentos, ...percebem que existem.
As condições mudam e nós temos de nos adaptar. Isso significa pescar lento quando o peixe não tem condições para ser rápido, (águas demasiado frias, por exemplo) ou pescar de forma enérgica quando o peixe precisa de um estimulo mais forte.
Alguns dos pelágicos que nos visitam, por exemplo alguns tipos de tunídeos, ou os lírios, por exemplo, não se sentem excitados se os tentarmos de forma demasiado lenta. Ao contrário, com uma recolha em potência, extremamente rápida, podemos ter dias de memoráveis capturas. Os robalos, sem dúvida são um peixe de captura fácil. Mas muitas pessoas, porque utilizam um só processo de pesca, um só ritmo, têm muitos dias em que não conseguem um único.
Aquilo que eu faço, é resultado de alguns milhares de horas de horas de mar, a tentar entender as razões daqueles que estão do outro lado da linha. Não é o que nós queremos, é o que eles querem, da forma como querem, e quando querem. A nós…resta-nos adaptarmo-nos ao momento.
Porque não se trata de lançar uma rede, mas sim de convencer o peixe a comer, todos os nossos egocentrismos, todos os nossos tiques de espécie habituada a mandar, esbarram contra as leis da natureza. As leis…deles.
Este robalo vomitou uma cavala que terá comido algumas horas antes de se lançar sobre o meu jig Zeake |
O que faço não é slow jigging puro, mas também não é speed jigging. Será antes algo que se situa entre “casting-jigging” e “slow-jigging”, qualquer coisa como isso.
Estou pouco preocupado em definir o meu estilo, interessa-me a sua eficácia. Trata-se de uma pesca vertical que muda de ritmo e amplitude durante o percurso que o jig faz durante o seu trajecto do fundo à superfície. Tem …nuances.
Faço-o porque também os peixes que vivem em cada patamar de água são diferentes, e têm hábitos de caça diferentes. Os pargos que caçam à superfície não serão muitos…eles sentem-se mais confortáveis lá em baixo. Já os robalos…
Cada espécie de peixe tem um posicionamento na coluna de água que lhe é mais favorável.
O facto de ter passado muitas centenas de horas no fundo do mar, a ver evoluir peixes à minha frente, ajuda-me a compreender algumas das suas reacções.
Comigo, o meu método resulta. É o que me parece o mais adaptado ao tipo de peixes que temos, e aos seus hábitos alimentares. Tenho passado informação a quem comigo sai e fico feliz por ver pessoas conseguirem peixes bonitos a fazer aquilo que lhes ensino e me parece ser mais eficaz.
No fundo, apenas necessitamos de saber ler o mar, os peixes, e dar-lhes aquilo que eles procuram.
Sob a forma de um jig.
Vejam este vídeo:
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𝐏𝐄𝐈𝐗𝐄 𝐏𝐄𝐋𝐎 𝐁𝐄𝐈𝐂𝐈𝐍𝐇𝐎 - ROBALOS COM JIGS
Mais este:
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𝐏𝐄𝐈𝐗𝐄 𝐏𝐄𝐋𝐎 𝐁𝐄𝐈𝐂𝐈𝐍𝐇𝐎 - BICAS
E já agora, este:
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𝐏𝐄𝐈𝐗𝐄 𝐏𝐄𝐋𝐎 𝐁𝐄𝐈𝐂𝐈𝐍𝐇𝐎 – O QUE PESCAMOS COM JIGS
Voltando ao sr Sato, deixem-me dizer o que penso sobre este tipo de pessoas: numa sociedade tão globalizada quanto a nossa, em que as notícias, a informação técnica, correm tão depressa, nada pior que tentar aprender a técnica de pesca slow-jigging em poucos minutos, através de um filme de YouTube. Seguramente o seu criador não conseguiu definir os parâmetros da técnica em poucos …meses. Mas foi em frente, foi persistente, e conseguiu.
Se pensarmos friamente, encontramos dois tipos de pessoas que atingem o estrelato, o topo do mundo. As primeiras são as que obedecem às regras instituídas. Progridem na carreira devagar, não fazem ondas, esperam e sobem os degraus da hierarquia à medida que os mais velhos abdicam. Não progridem por mérito próprio, antes o fazem por serem pacientes, por saberem esperar a retirada dos seus chefes.
E há os outros. Os outros são aqueles que ousam pensar livremente, fora da caixa, inventando algo que não existia até aí. O sr Sato, sem dúvida, pertence a estes últimos, aos que sobem ao pico mais alto da montanha da vida pelas suas capacidades próprias, pelo brilhantismo das suas ideias, pela sua originalidade. Pessoas que vão onde o seu espírito livre as leva. E tornam-se grandes pela sua capacidade de influenciarem os outros.
Por isso vos digo que o encontro que tive com o sr Norihiro Sato foi estar a dois dedos do céu...
Vítor Ganchinho
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Boa noite Vítor. Penso que o posso tratar assim.... Leio atentamente os seus textos, relatos vividos e práticos de uma paixão intensa, sorrio e tento beber e pensar para aprender nestas pescas! Tudo diferente ao pormenor! Agradeço realmente a sua partilha e espero pelo livro, o tal, onde continuará a por a sua paixão e todo de si na esperança de poder chegar a outros e com os outros! Força nisso. Abraço Rui Valente
ResponderEliminarBoa tarde Rui Valente!
ResponderEliminarMuito obrigado por este seu texto de incentivo.
Não imagina como é importante saber que está alguém do outro lado. Alguém que naturalmente terá o seu percurso de pesca, a sua forma de fazer.
O espaço de pesca é tão amplo que cabem todos os pescadores, de todas as diferentes modalidades e ainda sobra imenso para quem quiser iniciar-se. E felizmente há muita gente que arrisca dar o primeiro passo, que compra uma cana e vai lançar linhas para qualquer lado.
Procuro ajudar com informação, e estar sempre disponível para todos. Sempre fiz isso, eu pesco há 54 anos, comecei aos 6, e nunca parei de aprender, cada dia traz algo novo.
Manter os olhos bem abertos, saber ler o mar, entender os pequenos detalhes, é muito importante.
Como em tudo na vida, haverá gente com mais intuição, um pouco mais dotada para a função, mas isso é normal, e nunca será factor de escalonamento do que seja. Eu conheço gente que pesca muito mal, que não tem noção nenhuma do que está a fazer, e ainda assim....é feliz! Gostam de pesca, divertem-se, ainda que os resultados sejam curtos. Mas que interessa isso?! Se alguém é feliz a pescar meia dúzia de cavalas, que diferença lhe faz que não sejam pargos?!
Todos nós conhecemos gente que pesca pior que nós, e também melhor. Mas o que conta mesmo é o que se sente quando se está à pesca. Se o sentimento é de felicidade, de bem estar, não interessam sequer os resultados.
É mais peixe menos peixe...
Abraço
Vitor
Boa tarde Vítor
ResponderEliminarLi este artigo e não comentei na altura, mas adorei o artigo e acho que é um privilégio podermos usufruir do que o Sr Norihiro Sato descobriu e desenvolveu, da paixão pela pesca que o Vítor tem e de todos os conhecimentos partilhados, sempre com estimulo para a reflexão de cada um que lê.
Esse momento como o Sr. Norihiro Sato, não se consegue descrever pois não?!!!
Não deve de haver palavras para o sentimento de ter uma pessoa assim ao nosso lado e podermos partilhar conhecimento e experiências, colocando-lhe questões.
Abraço
Toze
Poder trocar opiniões com alguém como o sr Sato é um momento único.
EliminarFiquei muito feliz, e resolvi partilhar com todos os que leem o blog. Infelizmente houve alguém que não gostou disso.
Abraço
Vitor
Os videos TOP
ResponderEliminarBom dia Tozé!
EliminarEstes vídeos foram feitos por um amigo pessoal, o Fernando santos, com quem de vez em quando tenho o prazer de sair.
Ele nesse dia teve um pargo bom na linha, mas infelizmente acabou por escapar, fez força a mais...
Abraço
Vitor