É uma realidade incontornável, cada vez temos menos peixe.
Não só temos menos como temos cada vez peixe de menor tamanho. O Light Rock Fishing foi concebido para dar resposta a essa escassez crescente de grandes exemplares.
O critério é simples, mas inteligente: ao reduzirmos ao mínimo o peso e resistência dos equipamentos de pesca, cana, carreto, linhas e anzol, estamos a dar possibilidades ao peixe de nos vencer.
E ao mesmo tempo, e dada a fragilidade dos conjuntos, estamos a sofrer com a dúvida latente do “será que é grande e forte demais para o meu set de pesca”?...
Quase nunca é. O material aguenta muito mais do que pensamos, …temos é um receio congénito que não seja assim.
Poderia fazer os peixes que vão ver a seguir com fluorocarbono 0.16mm. Mas fica sempre a dúvida e é aí que reside a espectacularidade desta técnica, ter dúvidas.
Ainda assim as linhas são finas, estamos quase sempre abaixo do ponto de segurança, e por isso mesmo, qualquer pequeno peixinho é um desafio tremendo.
Mesmo em situações como esta, em que os peixes puxam um pouco mais, em que pode chegar um peixe com alguns quilos, um baixo de linha fluorocarbono de 0.23mm é muito mais que suficiente.
Se possível, devemos ter em conta os prós e contras de cada uma das nossas decisões, mas deixando alguma margem para que o peixe possa ganhar.
Na circunstância, eu fui pescar onde nunca tinha ido. Manda o bom senso preparar material um grau de resistência acima do que seria pressuposto. Poderiam ser meros maiores, badejos maiores, etc.
Vejam abaixo e divirtam-se, porque o Light Rock Fishing é para isso mesmo, para quem tem como principal objectivo…divertir-se.
Como locais de prática para este tipo de pesca, podemos eleger todos os pontos em que possamos ter acesso ao mar, se possível com pedra no fundo.
Isso garante-nos um campo de recrutamento de peixes suficiente. Neste caso, o fundo que tinha era basicamente areia, mas seguramente conhecerão sítios com metros de água suficientes, onde isto pode ser feito. No fim do pontão já teria quase 20 metros, e era aí que estavam os maiores. Mais água, mais segurança para eles.
Feito de barco, em zonas rochosas, é o fim do mundo, porque há peixe disponível em todo o lado.
Deixem-me dar-vos um conselho, o qual sempre dou a quem faz cursos de LRF comigo: Vivam o momento, esqueçam o foco único de trazer peixe para casa. Libertem as capturas que puderem libertar, (as quais na sua quase maioria serão peixes pequenos, até 1 kg), e procurem apenas divertir-se a valer.
Esta técnica existe para isso. É uma brincadeira de rapazes novos, feita por gente crescida.
Devem focar toda a vossa atenção na forma de actuação do vinil, aquilo que o peixe irá achar que está a passar-lhe à frente. Concentrem a vossa energia em fazer com que a peça de vinil dê pequenos saltos, pequenos arranques, entrecortados de momentos breves de imobilidade. O importante não é aquilo que o peixe vê, é o que julga que está a ver.
A dada altura, o predador estará tão focado no vinil que não vê nada mais que possa estar ao lado. Um pequeno salto do camarão, e acontece um ataque fulminante!
Não imaginam como pode ser superdivertido pescar assim! Levem os filhos e ensinem a fazer, as crianças adoram. Ensinem-nos a libertar a maior parte do peixe, ele não tem de ser todo morto. Vale a pena trazer peixes adultos, mas só esses.
As pessoas pescam destes pontões e levam para casa sacos plásticos com peixinhos juvenis. |
Por mais anos que viva, nunca me irei habituar a ver tratar os peixes, os peixinhos que tanto amo, de uma forma pouco menos que criminosa.
Não conseguirei explicar-vos por palavras aquilo que sente um pescador quando vê alguém arrancar do seu meio um pequeno mero com 10 cm, e… ficar com ele. Peixinho para fritar! Confesso que fiquei desolado.
Um mero é um peixe nobre, que cresce acima dos 35 kgs de peso, que vive muitas dezenas de anos, e merece todo o nosso respeito.
Sem desprimor a todos os outros peixes, o mero é mais que um peixe, é um emblema, é um estandarte que só faz sentido ser pescado quando tem a mesma ou mais força que nós.
Há pescadores que vibram com peixes do azul, os atuns, os marlins. E há outros, o meu caso, a quem esses peixes de alto mar pouco ou nada dizem, e que apontam as suas baterias ao fundo rochoso, onde vivem os serranídeos: badejos, meros, tudo aquilo a que as pessoas vulgarmente chamam de…garoupas.
Esses são os meus, aqueles que me fazem acordar cedo. Ou nem acordar, porque a possibilidade de ter uma boa luta com um desses peixes no dia seguinte pode manter-me acordado toda a noite.
Vibro com peixes de fundo e de entre eles, o mero!
Pois foi peixe desse que vi tratar, (ou mal…tratar), de forma infame por locais que pescam com isco orgânico a partir da muralha da cidade. Fazem-no sem qualquer tipo de pudor, como se a máxima “tudo o que vem à rede é peixe”…. pudesse ser aplicado a um mero.
A montagem, um camarão de vinil, e um tungsténio, ou chumbo furado, a correr pela linha. Normalmente não utilizo mais que 5 a 14 gramas no peso, dependendo da profundidade que tenho. |
É verdade que, muito ou pouco, há peixe. E que as pessoas precisam de comer.
Mas também é verdade que ao não impormos limites à selvajaria pura, ao aceitarmos tacitamente que vale tudo, estamos a hipotecar o futuro de todos nós, e sobretudo dos nossos filhos.
Pescar com isco orgânico a um peixe que tem 10 cm, porventura menos de 25 gramas, é garantir a pesca. O peixe não se sabe defender da armadilha do anzol e morde, cumprindo o seu desígnio de predador. Mas também é garantir que esse mesmo peixe não vai ser pescado quando tiver 25 kgs! E que não vai haver sequência na sua linha de reprodução.
Fico deprimido com estas coisas, não sei como explicar às pessoas que há uma linha vermelha, um limite que não pode ser ultrapassado.
Eu pesco-os, não de forma dirigida, e quando me surgem meros, tenho a atenção de os libertar de imediato, cuidando de saber que serão restituídos em boas condições à água.
As mãos devem estar previamente molhadas, para que não seja retirado o muco protector de escamas, porta de entrada para parasitas e doenças.
Os locais não entendem a razão da libertação. Para eles, a pesca implica um acto de posse, de domínio, um acto sempre extractivo, uma sentença de morte.
Não pensamos da mesma forma.
Percebo a estupefação de quem está horas na muralha a tentar um destes peixes, e o vê devolver ao mar. O sentido de pesca não é o mesmo para todos.
Aquilo que nada em frente aos meus olhos é muito mais que um peixe para grelhar. É emoção, é técnica, é saber fazer, e é uma aventura boa.
Não imaginam o que eu divirto a pescar Light Rock Fishing!
A técnica em si é absolutamente deliciosa, pela sua ligeireza, a facilidade com que é possível obter resultados. Resulta sempre, mas quando praticada num local onde os peixes nunca viram um vinil, é algo do outro mundo.
Pesquei durante 20 minutos e saíram badejos quadrados, o badejo das ilhas, se quiserem o Mycteroperca fusca que também temos nas ilhas, e alguns, muito poucos aqui no continente.
Um pequeno mero apareceu, e foi de imediato solto, para voltar para a sua toca de caça.
Vejam este vídeo:
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Talvez valha a pena reter o seguinte: o camarão de vinil da Savage é uma amostra terrivelmente eficaz, e foi-me apresentada há alguns anos por dois amigos que guardo no coração, o António Pradillo, e o Raúl Gil Durá, de Valência.
Para quem se quer divertir, posso garantir que é muito mais eficaz que um micro-jig, …os peixes pura e simplesmente não conseguem resistir-lhe.
Para efeitos de montagem, podem seguir o modelo que apresento nos filmes, duas vezes, e que a meu ver é a forma mais correcta de apresentação. O anzol à vista, saído do camarão não é um obstáculo, os peixes não ligam a isso.
Para eles, o corpo do camarão e as suas patinhas a mexer são a única coisa que interessa.
Mesmo as linhas de multifilamento com que reforço o corpo do vinil, tenho o cuidado de as deixar soltas, não as cortando rentes.
Camarão tem antenas, esse é o princípio. E resulta tão bem quanto aquilo que viram, com qualquer tipo de peixe.
Já pesquei robalos, douradas, garoupinhas, savelhas, sargos, pargos, etc, etc.
O restante equipamento é muito ligeiro, cana com acção 1-5, ou 1-7 basta, um carreto 1000, 1500, no máximo 2000, com linha PE 0.4 ou 0.6. O baixo de linha pode ser feito em 0.20, 0.23mm, por aí.
Quanto ao anzol, esse é uma peça muito importante da engrenagem, e deverá ter as seguintes características: ser muito afiado, ser leve, e ser resistente qb, para não abrir com algum peixe de tamanho superior.
Não excluam os robalos de 2 kgs da equação, porque eles aparecem e mordem. Já os fiz.
Nunca conseguirão, se não o tentarem.
Vítor Ganchinho
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