Nós europeus pescamos essencialmente com carretos de manivela à esquerda. Quando mudamos de braço, faz-nos confusão, não gostamos, tudo nos parece comprometido.
Sentimo-nos desconfortáveis, incomodados, e não somos capazes de produzir trabalho da mesma forma. Porque é de trabalho que falamos, de produzir watts de força.
Quando consideramos carretos de manivela para jigging, há dois vectores distintos: o braço que segura a cana e o braço que se ocupa do enrolamento de linha, ou seja, o que trabalha com o carreto. Nunca pensamos na questão, até sermos confrontados com um carreto que tem a dita manivela do lado oposto ao que chamamos de “convencional”.
E o nosso convencional diz-nos que a manivela tem de estar à esquerda, porque seguramos na cana com a mão direita.
Os nipónicos pescam ao contrário, pescam com a cana na mão esquerda e trabalham a manivela do carreto à direita. Argumentam eles que a maior parte das pessoas dextras tem mais força no seu braço predominante, o direito. E por isso mesmo, devem focar neste o esforço máximo de enrolamento da linha.
Faz sentido, para eles.
Podem ter as suas razões, mas para um europeu, o caso muda de figura. Por razões que se prendem com a nossa aprendizagem, nós por cá pescamos com a cana na mão direita e enrolamos linha aplicando força na manivela, colocada à esquerda. Porque fazemos isso desde pequeninos, não questionamos a razão de ser assim.
Para nós, faz sentido que assim seja. E porquê?
Porque, pese embora seja importante enrolar linha com o braço mais forte, ainda assim também é importante ferrar com firmeza, e não conseguimos fazê-lo com o braço mais fraco.
Definitivamente, queremos ferrar os nossos peixes com o nosso braço mais forte. Porque queremos ser rápidos e queremos imprimir força ao movimento.
Para além disso, também o levantamento do peixe implica esforço físico, se quiserem …“força”, e isso é feito com o braço a que confiamos a tarefa de fazer força máxima, o nosso braço dominante.
Deixamos para ao braço mais fraco, o esquerdo, a tarefa de enrolar linha, algo que, no nosso caso, nos parece menos difícil.
Não haverá aqui um conflito de conceitos, tão só a constatação de nós considerarmos que ao elevar a cana estaremos a fazer o trabalho de força, deixando à mão acessória o trabalho menor, o de enrolar a linha.
Quando bombeamos o peixe, ou seja, quando o forçamos a subir, parece-nos que depois dessa posição ganha, peixe mais acima e fio meio solto, a parte de enrolar linha será mais fácil.
Os japoneses entendem por seu turno que sendo o jigging uma técnica em que apenas se deixa cair o jig, não necessitamos de lançá-lo, logo, o braço esquerdo pode fazer isso na perfeição.
Para eles, o levantamento do peixe é feito pelo enrolamento da linha, logo precisam do braço mais forte…para o carreto.
Não vale a pena convencê-los, porque eles sentirão o mesmo que nós, se alguém tentar convencer-nos. Nenhuma possibilidade!
Não haverá uma forma mais correcta de executar, apenas diferente. Da mesma forma que uma pessoa alta não é melhor que uma pessoa baixa, ou vice-versa.
O único óbice deste processo é o seguinte: os fabricantes obrigam-se a produzir material para ambas as opções. Porque de resto, tudo vai dar igual, …o peixe sobe e vem para o barco.
A questão foi resolvida, no que a carretos de spinning ou pesca vertical diz respeito, com a possibilidade de intermutação da posição da manivela.
Indistintamente, podemos escolher utilizar uma ou outra opção, esquerda ou direita. E isso é uma mais valia. Mas nos carretos de jigging isso não é, ainda, possível.
Gostava de aproveitar a oportunidade para vos mostrar algo do muito que foi lançado este ano no Japão.
Esta cana Saltiga que veem acima é um producto desenvolvido por alguém que sabe muito de pesca, o grande Shimizu, um homem “test field” em quem a Daiwa confia imenso.
É um privilégio poder ver o nível a que se pode chegar em materiais tão ligeiros. Apertamos com a cana e a respectiva linha ao limite das nossas forças e …não acontece nada.
Estou seguro que terei estado muito perto do ponto de rotura da linha, um PE 1, mas da elasticidade da cana nem próximo. Na foto acima estou já num momento descendente, a deixar de fazer pressão e embora marque 3.20 kgs, terei andado pelos 6 a 8 kgs.
O peso da cana acima é de 97 gramas!! Os testes de stress feitos a estas canas permitem entender que o limite elástico do equipamento está muito para lá daquilo que nós supomos. Na verdade, podemos “apertar” muito mais com elas!
Em rigor, e façamos aquilo que fizermos a este tipo de material enquanto pescamos, é praticamente impossível partir uma cana destas. Porque ela dá sempre mais um pouco.
Comprei duas para mim….uma para eu pescar e outra para emprestar aos amigos mais próximos. Sim, eu tenho penduras a cada instante que querem experimentar material recém lançado no mercado.
Porque recorrentemente me pedem estas canas emprestadas é bom saber que as ditas cujas são inquebráveis…
Trata-se de um producto feito em carbono sólido, e como sempre, tem vantagens e desvantagens. Se nos dá uma segurança ilimitada quanto a roturas de haste ou de linha, por outro lado não lhe podemos pedir que a ferragem seja tão rápida quanto o seria com uma cana mais rígida, muito dura. Mas também é verdade que essas partem mais facilmente. Descuidamo-nos um pouco e quando olhamos para a ponteira, …já foi.
Acrescenta-se de um lado, tira-se do outro. É o inevitável dilema do lençol curto, tapa a cabeça mas destapa os pés.
Por mim vale, sei que irei fazer peixes bons com ela, pois a forma como absorve os impactos dos peixes sem os deixar desferrar vai dar-me mais alguns ao fim de cada dia. A caixa de peixe vai ficar mais pesada, e isso ao fim de um ou dois meses já pagou a cana, e sobra algo.
Os bons materiais não são caros, pagam-se a si próprios em peixe. Os caros são os que nos custam pouco dinheiro, mas obrigam a comprar muitas vezes, e servem-nos mal enquanto os temos.
Poder trocar ideias com um dos engenheiros de produção da Daiwa é algo que gostava de poder proporcionar a todos os meus amigos pescadores.
É uma experiência única. Eles sabem daquilo a potes, porque aquela é a sua vida, e por isso mesmo podemos puxá-los aos limites. Por mais difícil que seja a questão, eles têm a resposta certa.
Enquanto clientes e utilizadores, é-nos difícil ser tão precisos quanto eles são como fabricantes. Porque esta gente vive e respira para melhorar detalhes ínfimos. Por graça, deixem-me contar-vos um episódio ocorrido há umas dezenas de anos, e que partiu de um grupo de futuros engenheiros americanos, ainda enquanto estudantes de uma conceituada universidade:
Resolveram ir aos limites técnicos, fabricando uma agulha em aço inox tão fina que mal a conseguiam ver à vista desarmada. Quando acharam que aquilo, enquanto agulha, era o objecto mais fino que a humanidade conseguia produzir, embalaram e enviaram para uma universidade japonesa, como prova da sua enorme capacidade tecnológica.
Passadas semanas, receberam a embalagem de volta. Dentro da caixa, estava precisamente a mesma agulha.
Uma folha escrita à mão em carateres japoneses teria alguma explicação sobre o assunto e pediram a alguém para traduzir. Dizia isto:
“caros colegas estudantes americanos, muito obrigado pelo envio da vossa agulha. Fizemos algumas alterações. Esperamos que gostem”.
As “alterações” que foram feitas, foram estas: a agulha americana foi transformada num tubo para guardar agulhas. Dentro da agulha original foram introduzidas …agulhas mais finas!
Um microscópio de alta resolução permitiu então ver que lá dentro da agulha americana estava uma coleção de …12 agulhas japonesas, híper finas.
Carretos Stella, da Shimano. Outro bom exemplo de qualidade e precisão. |
O respeito que tenho pela cultura japonesa não advém apenas da sua incrível capacidade para produzir artigos de pesca. Esse é um detalhe com pouca importância, há ali muito mais que isso.
Eles são, enquanto povo, um grande exemplo de tolerância, de saber viver em sociedade, de respeito pelos outros. São gente com orgulho em fazer bem feito, com qualidade.
Para eles, é ponto de honra que um cliente fique satisfeito com o resultado do seu trabalho.
Fosse assim em todo o lado...
Nos próximos dias vou trazer-vos aqui muita informação sobre novos produtos, lançados em Fevereiro/ Março deste ano.
Vítor Ganchinho
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Boa tarde Vítor
ResponderEliminarMais um artigo top.
Nunca tinha pensado nesse aspeto dos carretos. Como sou tão bom pescador pesco à direita ou à esquerda é não noto diferença 😂.
Abraço
Toze
Boa tarde Tozé
EliminarO mercado europeu não representa uma fatia demasiado significativa para as marcas japonesas. Porque eles já têm um mercado incrivelmente grande dentro do seu próprio país, com muitos milhões de pescadores. Ainda assim, uma marca global tem de ser capaz de chegar a todo o lado e nesse sentido há que adaptar o material a quem o pretende comprar.
Daí a questão das manivelas à esquerda e direita.
Andam aí robalos...
Abraço
Vitor
Boa tarde Vítor
ResponderEliminarAssim que conseguir arranjar um dia e companhia a ver se vou a Peniche a ver se consigo enganar algum e depois estrear também a cana e o carreto de jigging.
Abraço
Toze
Boa tarde atleta!
EliminarEu estou a fazer robalos todos os dias que saio ao mar.
Neste momento está fácil de os enganar, embora não passem os 3 kgs de peso. Mas há muitos.
Força nisso!
Encontramo-nos no dia 20 no workshop, em Setúbal.
Abraço
Vitor
Boa tarde Vítor
ResponderEliminarDia 20 lá estarei
Abraço
Toze
Para quem vem de tão longe, sei que é um sacrifício....
EliminarTenho a certeza que, estivesse a morar mais próximo, e estaria presente os dois dias.
Os temas serão diferentes, e cada um terá os seus atractivos.
Mas vamos poder fazer a seguir algo nas nossas instalações em Almada, uma espécie de best-off daquilo que vai ser dito.
A questão é sempre a mesma: encontrar uma data e hora que sirva a todos.
Abraço e até dia 20!
Vitor
Bom dia Vítor
ResponderEliminarRealmente é longe, mas não é um sacrificio é um privilégio estar presente, poder assistir ao workshop, á partilha de conhecimento e de saberes.
Se me conseguir organizar para estar presente os dois dias depois envio email.
Muito obrigado por tudo o que faz pela pesca, pelo apoio a quem se inicia e sempre de uma forma sustentável a todos os níveis.
Grande Abraço
Toze
Olá Tozé!
EliminarAinda não tenho o alinhamento final daquilo que vai ser apresentado, mas sei que a dada altura me vai ver sacar um pargo de 11 kgs, com linha PE 0.6. E um jig de 30 gr.
Não sei se isso vai acontecer no primeiro ou no segundo dia.
Mas posso garantir-lhe que é um momento alto, isso sim.
Porque confio muito nas minhas linhas, não há tremeduras, mas o bicho tinha de peso o dobro da resistência da linha...fora a força dele.
Vai ser giro ver o filme.
Vou dar o meu melhor para que sinta que valeu a pena estar presente.
É uma responsabilidade que assumo, e vou tentar muito que valha a pena.
Até dia 20!!
Vitor
Bom dia Vítor
ResponderEliminarTop, claro que vai valer a pena.
Abraço
Toze