E SOBRE TONEIRAS PARA CHOCOS, ... SERVEM PARA LULAS?!!!

Procuro responder o melhor que posso e sei a uma infinidade de questões que me colocam.
Desta vez, surgiram de vários quadrantes perguntas relacionadas com a questão das toneiras de chocos, e não tinham propriamente a ver com os ditos, mas sim com as primas, as lulas.
A dúvida prendia-se com a possibilidade de conseguirmos fazer lulas utilizando os vulgares palhacinhos dos chocos.
Pois sim, por pouco documentado que esteja sobre o assunto em termos de fotos, tenho no entanto capturas suficientes que me permitem emitir opinião.




Devo fazer um parêntesis sobre este assunto: porque pesco correntemente com jigs, apenas tenho fotos de pescas de lulas com estas peças metálicas.
Já aqui vos transmiti que, quando sinto as lulas na minha zona, aquilo que faço é prescindir da utilização dos assistes de cauda, e aplico um triplo.
Com essa fateixa, sinto-me bem melhor armado para levantar à superfície algumas lulas de bom porte, sem no entanto hipotecar as minhas possibilidades de fazer um bom pargo ou robalo que me surjam ao mesmo tempo.
Porque é muito natural que no mesmo sítio onde andam as lulas, ocorram também aqueles que comem…as lulas.
E aí, um bom pargo de 5 kgs, na minha óptica, é um lance que vale sempre a pena. Nessas circunstâncias, … nem quero ouvir falar em lulas, dirijo as minhas atenções para os grandes.
Se a sonda não me dá sinais de presença de peixe grande, e mostra as lulas no fundo, então sim, porque não?!




Lulas com jigs, é algo que, na altura certa, faço quase todos os dias que saio.
Desde logo porque em casa sou eu quem arranja o peixe, (quero sempre saber o que anda a comer porque isso é precioso em termos de informação, e ajuda-me a planear a saída seguinte), e as lulazinhas são directas ao céu, aquilo não dá trabalho nenhum.
Depois, porque não me perturbam sobremaneira a pesca.




Tenho para mim que qualquer toneira lhes serve, até porque são de uma voracidade incrível, chegando a morder repetidas vezes, mesmo depois de se picarem nos anzóis dos jigs, ou nas agulhas dos palhacinhos.
As cores não são o mais importante, mas da experiência que tenho, reagem muito bem a modelos “Glow”, luminescentes, à alvorada do dia.
A seguir, aos primeiros raios de sol e enquanto ainda existe algum escuro no fundo, a cores muito claras, e posteriormente, já com o sol bem alto, a cores naturais.
Um acessório que não dispenso, porque me ajuda a enviar a toneira para o fundo, é a “piteira”, ou “gib”, um peso que pode variar em função da profundidade a que se pretendem encontrar as lulas.
O padrão de peso normal varia entre os 57 gr, (definidos como #15 pelos japoneses), e os 75 gr, ( referidos no Japão como #20).
Dependendo da corrente e da profundidade, assim podemos utilizar um ou outro.
A montagem é simples, e não varia muito daquilo que é utilizado para os chocos, com a variante de que não se utiliza uma chumbada, (inócua em termos de capturas…) mas sim esta dita piteira, e que vos mostro alguns modelos abaixo.
Forma de elaborar a montagem? Ligamos à linha madre um destorcedor duplo, e colocamos uma linha de 90 cm dedicada à piteira.
Na argola restante, liga-se um estralho mais curto, com cerca de 50 a 60 cm, no qual é colocada a toneira.
E está feito.




Com este acessório, a montagem vai para o fundo, e ao tocar, levantamos lentamente, enrolando linha com o carreto, parando a espaços e agitando o sistema.
Não demoram muito, se houver lulas elas vão entrar quase de imediato, e a sua agressividade natural faz o resto.
Irão agarrar-se ferozmente à piteira ou ao palhacinho, não sendo raro que se recolham duas, uma em cada amostra.
Não sendo uma pesca “brilhante” em termos técnicos, por ser fácil demais, ainda assim o produto da pesca é apreciado pelas nossas consortes, que as fazem recheadas, guisadas, ou, mais correntemente, simplesmente grelhadas.




As piteiras são produzidas por inúmeros fabricantes japoneses, sendo que alguns serão mais famosos que outros.
A marca Hayashi, a Ever Green, a Hayabusa, etc, são marcas conhecidas. Na loja GO Fishing em Almada existem vários modelos que foram suficientemente testados. Não estão longe das piteiras fabricadas artesanalmente pelos nossos marinheiros mais antigos, que as faziam com alfinetes atados a chumbo moldado.



Estas peças acima apresentadas fazem a diferença, porque sendo possível pescar com chumbadas, aí estamos a reduzir a metade o potencial de pesca da nossa montagem.
No Japão, são grandes apreciadores de lula, e por isso quem sai ao mar tem sempre consigo duas ou três montagens feitas, para tentar a sua sorte.
Em dias de lulas, os resultados podem ser animadores e, mesmo para uma pessoa como eu que valoriza pouco este tipo de pesca, pela sua confrangedora facilidade técnica, ainda assim, não desdenho meia dúzia de lulas para trazer para casa.


Estas foram feitas com o meu inseparável jig Shimano modelo Coltsniper, mas reconheço que poderia ter muitas mais se estivesse a pescar com as agulhas indicadas para este cefalópode. 


Percebemos que temos lulas no pesqueiro quando começamos a sentir pancadas fortes, agressivas, nos jigs.
Podem morder logo ao primeiro momento, quando o jig aterra no fundo, porque muitas delas estarão camufladas com as algas e pedras do fundo, na mira de algum incauto peixinho.
Mas não é raro que persigam o jig (ou a montagem referida acima) até águas superficiais. Já tive muitos casos em que só percebo a lula quando a minha peça chega à superfície, e vejo que atrás estava uma lula atrevida a fazer uma perseguição vertical.
Nestes casos, deixa-se a lula acalmar (ela vai estar a poucos metros debaixo do barco) durante meia dúzia de segundos, e baixa-se o jig, ou toneira lentamente, a dar um ligeiros puxões, para activar o sistema.
A pancada costuma ser violenta, e decisiva.


Não tanto pela dificuldade, mas sim pela qualidade gastronómica do bicho, valem a pena.


Quando há muitas, é um frenesim, e não temos mãos a medir com elas.
A pontos de ser mais complicado retirá-las das agulhas e evitar ser “aspergido” de tinta preta que conseguir ferrar mais uma.
É isso, Carlinhos?!...





Vítor Ganchinho



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3 Comentários

  1. Bom dia Vítor

    Por curiosidade, como se apresentam as lulas na sonda?
    Como não tem muita estrutura para refletir o eco, qual o aspeto?
    Tinha ideia que esse assunto já tinha sido abordado no blogue, procurei e não encontrei.
    Vai sair algum artigo sobre o workshop efetuado no dia 24 de junho na Gofishing

    Abraço
    Toze

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As lulas têm de facto uma densidade mais ligeira, por terem um esqueleto interno muito leve, não é osso conforme o conhecemos, é sim uma cartilagem a dar aquele ar de "plastificado", sinal de outros tempos em que havia concha rígida. O mesmo se passa com o choco, que ainda mantém a concha interna. E o polvo, que a largou em definitivo, por lhe ser prejudicial ao seu modo de vida.
      Por isso mesmo surgem na sonda com a densidade mínima, (em sondas a cores em tons de azul claro, e normalmente em duas situações típicas:
      Junto ao fundo, em que fazem uma mancha algo contínua, como que uma teia de aranha, algo espalhado ao longo de metros. É uma imagem muito sui generis, que não é feita por mais nada a não ser uma mancha de peixinhos juvenis, de poucos centímetros.

      Fora do fundo, sempre que existe um cardume de peixe miúdo próximo, (normalmente carapau pequeno ou sardinha) a meia água, em que surgem ao lado do cardume, ou por baixo. Nunca estão demasiado longe.

      De qualquer forma, o momento de as encontrarmos não é agora, que as águas superficiais já estão mais quentes, mas sim quando estão frias.
      A lógica é esta: água fria, potenciais predadores longe, fora da zona de acção em termoclinas, e temos lulas. Águas quentes, predadores próximos das zonas naturais de posturas, ( os baixios a poucos metros que garantem altas taxas de sobrevivência às jovens lulas), e por isso sem lulas. O padrão é este.
      Não quer dizer que não se encontrem nenhumas, quer dizer que a quantidade que existe é residual, agora. (Penso que ferrei uma ontem mas soltou...) Não há muitas por uma razão simples: são comidas, se ficarem em zonas expostas onde as corvinas, pargos, meros, etc, as procuram!....


      Sobre o workshop, vai sair amanhã um artigo.

      Grande abraço!

      Vitor

      Eliminar
  2. Boa tarde Vitor

    Muito obrigado, pela explicação pormenorizada e ao ler a explicação faz todo o sentido.
    Vou esperar e ler o artigo, tive pena de não estar presente.

    Grande Abraço!
    Toze

    ResponderEliminar
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