UMA NOVA PESCA

Somos avessos a novas técnicas, porque sim.

Não é algo de racional, porquanto a informação corre rápida pelas redes sociais, e sabe-se ser perfeitamente possível fazer pesca de outras formas.
E até se sabe que resultados de vulto acontecem com frequência a outras pessoas que pescam de forma diferente; os peixes saltam para as caixas de correio dos telemóveis sem guardar segredo.
Mas por qualquer razão inexplicável, resiste-se. 
Vira-se a cara para não ver que o mundo avança. Resiste-se a tudo, mesmo tudo, até a pensar.
Provavelmente até seria bom que a pesca fosse pensada…mas as pessoas não querem parar por momentos e interrogar-se a si próprias: “aquilo que estou a fazer é mesmo o melhor que pode ser feito na minha zona de actividade?”
Afinal de contas, quando ao fim do dia comparamos os resultados da nossa pesca com as pescas dos outros, sentimos o quê? Orgulho ou… inveja?


Adrien Zine, um simpático cliente GO Fishing com um robalo pescado a partir de um pontão de uma praia portuguesa.


A questão é mesmo essa: orgulho de peito feito ou… inveja de orelhas murchas? De que lado estamos?
Tecnicamente somos bons, somos competentes? Sabemos fazer?
A diferença de algumas caixas de peixe para muitas outras, reflecte precisamente isso: a diferença de capacidades.
Os melhores fazem o que é necessário para ter sucesso, sabem executar eficazmente, conseguem superar as desconfianças e defesas dos peixes de hoje. Uns conseguem e outros …não.
Porque sair ao mar com esperanças, não será isso comum a todos nós? Quem não sonha com escarniçadas lutas contra peixes grandes? Quem não visa um peixe grande a cada lançamento?
Porém, no regresso do mar os olhos não brilham a todos de igual forma, o caminho de retorno a casa faz os sonhadores descer à inevitável e cinzenta realidade.
A técnica, o equipamento e o saber ditam a sua lei, e isso faz com que algumas geleiras retornem cheias e outras …vazias.
Quem vem menos contente, provavelmente não fez o trabalho de casa, não leu, não sabe. Quando não percebemos a necessidade de saber mais, criar novos valores, pensar uma nova pesca, algo está errado.
Se o mundo está em permanente mudança, como podemos admitir uma pesca estática, sem evolução? Por que razão insistimos em fazer uma pesca de ontem, …hoje?
Parece-me evidente que aprender a fazer deveria ser a primeira opção. E quando queremos aprender pesca, vamos …à escola de pesca. O que quer que isso seja, um ponto físico onde se ensina, um barco que sai ao mar, um amigo que aceita ensinar-nos.
Ou um professor. Convém pensar que o saber fazer é algo que perdura, pelo que os custos de hoje serão amortizados ao longo de anos e anos de bons resultados.


A formação técnica faz-se das mais variadas maneiras, até desta.


Ir pescar sozinho, sem qualquer tipo de apoio, faz tanto sentido quanto ignorar a existência de escolas de condução, tentar num minuto aprender a conduzir um carro, e de imediato sair sozinho para o meio do trânsito da cidade.
Quando ignoramos o saber de quem regularmente obtém resultados, quando passamos por cima dos detalhes, estamos a deitar fora um capital de experiencia que custa muitos anos a adquirir.

Não podemos esquecer quem representa o grosso da coluna dos pescadores nacionais. 
Precisamente, esses mesmos, aqueles que pescam …menos bem, que dedicam ao fenómeno da pesca apenas algumas horas ao fim de semana.
Tal como os futebolistas de selecção são apenas alguns quando comparados com a enorme quantidade de praticantes amadores existentes, também na pesca há uma enorme massa humana que sustenta meia dúzia de praticantes de excepção, de topo.
Analisando aquilo que é a pesca actual, e quem a faz, chegamos a essa conclusão: na fileira dos pescadores de linha pesca-se menos bem do que seria possível, por falta de informação, de conhecimento.
Com os níveis técnicos existentes, só dá para ir até onde se vai agora. E que é pouco.
A maioria das pessoas pesca mal porque pesca de ouvido, insiste em fazer algo parecido ao que outros fazem. O problema é o modelo, aquilo que os outros sabem, e que é francamente pouco.
Copia-se, copia-se mal, e por azar, por modelos ruins. É vê-los nas muralhas a deitar um olho ao parceiro do lado, por sinal alguém que nunca na vida pescou nada.

Toda esta multidão de gente segue os mesmos estafados e copiados clichés, sem disponibilizar um segundo que seja no sentido de considerar quaisquer outras formas alternativas de fazer.
Parece-lhes ser possível reduzir a pesca a algo parecido com ter ou não ter …sorte.
Se vamos a uma praia, um molhe, um pontão de pedra, quem encontramos? Eles, os que representam a maioria dos nossos pescadores, a pegar numa cana enquanto …esperam.
Como se a pesca fosse apenas uma questão de esperar.


Obter conhecimento é prioritário, se essa informação for boa. E não tem de chegar necessariamente, (ainda que essa seja uma fonte de informação privilegiada), através de alguém que usa uma camisa de quadrados…


Todavia, melhores ou piores, são eles quem é de facto representativo, quem movimenta valores a nível dos equipamentos, (normalmente de qualidade suspeita, é verdade), mas ainda assim são eles quem conta, porque são…muitos.
Mas quem aceita pescar de muralha debate-se com problemas técnicos difíceis de resolver. Desde logo a escassez de oportunidades de pescar algo com verdadeiro interesse.
Por azar, esta é também gente que tem uma forte componente do conceito “pesca = alimentação”. Muitos entendem a pesca como uma actividade puramente extractiva, de recolha de peixe para trazer para casa.
E esse é o primeiro passo para conflitos entre pessoas que disputam lugares tidos como “melhores”.
São mesmo muitos e tenho receio de que representem uma fatia significativa dos pescadores nacionais. Gente que pesca com o único intuito de “ir buscar” algo ao mar, nem que se trate de alguns minúsculos sargos.
A verdade é essa, as pessoas que constituem a maior fatia dos nossos pescadores, pesca peixe miúdo.
Fazem-no por insistirem em práticas obsoletas, caducas, gastas de resultados. Pescam miudezas porque, dizem eles, “não há mais nada”….
Encostam-se uns aos outros como quem procura o conforto dos que sofrem do mesmo mal, a mesma agrura e aridez de resultados.
Exemplos? O espelho é o país todo, estão em todo o lado, em todos os molhes! As dúzias de pescadores que lançam infrutíferas amostras aos robalos nos pontões da Caparica, as centenas de pessoas que vão espalhar iscos para qualquer muralha na zona de Lisboa. Lançam e esperam.
Acreditem que há gente que passa anos da sua vida de pescador sem ter uma única possibilidade de conseguir um peixe acima de 1 kg. Isso não lhes retira a vontade de pescar, nem sequer a ilusão de tentar todos os fins de semana conseguir capturar algo de diferente.
Não sabem como, nem quando, nem onde, mas vão até ao mar na esperança de um dia ter a sorte que nunca tiveram. Acreditam.
Seguem os métodos que todos os outros seguem, lutam ombro a ombro, de cotovelos em riste, por um lugar num pontão e aceitam a ideia “onde há água há peixe”. Por ser a única lógica que entendem e têm disponível.
"Somos feitos da mesma matéria dos nossos sonhos", disse um dia Shakespeare, no seu livro “A tempestade”, escrito em 1611. Pois seja.


Encostar um pargo a um kayak com material ligeiro é sempre motivo de satisfação.


Quando os níveis de saturação já são muito grandes, temos sempre a alternativa de fazer diferente.
Num dos próximos números vou falar-vos de LRF, Light Rock Fishing, e vão ter a possibilidade de perceber com que materiais, como, e quais os resultados que podemos esperar obter a partir desta técnica, para que se entenda de vez que adormecer a olhar para uma cana não é uma fatalidade, algo que tem de acontecer porque sim, mas apenas uma mera opção de cada um.

A pesca pode ser feita de outra forma….com outros resultados.



Vítor Ganchinho



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