Quando nos decidimos a visitar um país do outro lado do mundo, devemos predispor-nos a aceitar a sua forma de vida, os seus hábitos e costumes.
Em Roma sê romano!
Não deixamos de ser portugueses por fazermos uma pausa naquilo que é a nossa rotina de vida. E nos nossos santos hábitos.
Algumas das tradições japonesas não deixam de ser dolorosas para nós ocidentais, e por piada trago-vos hoje algumas, embora em nada tenham a ver com pesca.
As pessoas que fabricam os nossos carretos, as nossas canas, linhas, anzóis, etc, têm modos de vida bem estranhos.
Cito por exemplo o facto de, sempre que tiverem a oportunidade, eles se sentarem no chão para comer. Ao fim de 10 minutos nós já estamos desesperados com a posição…
Haverá muitas, (centenas, ou até milhares) de diferenças culturais entre os dois povos.
Pensemos que nem todas dramáticas, algumas serão apenas incómodas, como o facto de ser hábito deixar os sapatos à entrada dos restaurantes.
Pois sim, isso não encaixa nos nossos hábitos, mas faz parte dos deles e por isso mesmo não há volta a dar. Nem queiram ouvir os gritos da funcionária de serviço, que nos amaldiçoa até à quinta geração, caso não se cumpra este ritual.
Carlos Campos a cumprir o ritual de retirar os sapatos à entrada do restaurante….e eu a calçar quando já de saída. |
Imaginem o quanto nos sentimos importunados por este caça e descalça…
Nem vale a pena insistir, porque nem nos deixam entrar. E se estamos desesperados por um prato de comida, pois sim, ficam os sapatos onde tiverem de ficar.
Não sem alguma mágoa já que aquela gente, quando vai jantar fora, ao que parece vai preparada com os seus piores pares de sapatos. Vejam a foto abaixo…
Verdade que os nossos, pese a sua distinta qualidade, não “desapareceram”, não foram roubados. Mas ainda assim não deixamos de engolir em seco ao pensar que estarão por ali, abandonados à sua sorte, no meio de chinelos, “crocks” de borracha e outras bijuterias sem qualquer valor.
O calçado português é particularmente bom, quando comparado com muitos outros productos similares, nomeadamente os chineses.
Seremos porventura capazes de ombrear em qualidade com os italianos, mesmo que a nível de preços o nosso calçado seja comercializado a 1/5 do valor. Somos bons a fabricar calçado, e francamente incomoda-nos calcorrear o chão do restaurante apenas em meias. Mas se faz parte dos hábitos….pois seja.
Na verdade, trata-se do cumprimento de um protocolo que terá centenas ou milhares de anos, e ao qual temos de nos adaptar.
Se há povo que sabe viver em sociedade, esse povo é o japonês, com fortes convicções de urbanidade, respeito pelos mais idosos, vida em sociedade e perfeita noção do espaço reservado a cada um.
Para que tenham uma noção, e quando já todas as regras e restrições anticovid tinham sido levantadas na Europa, os japoneses continuavam a pugnar pela utilização da máscara protectora. Objectivo: proteger os mais idosos e mais fracos de uma possível e hipotética contaminação.
Vejam abaixo as regras de utilização de um elevador, o posicionamento correcto das pessoas.
Regras que, claro, não foram por nós respeitadas por não as entendermos necessárias.
Mas nem só aí se esgotam as diferenças. A nível gastronómico, estamos nos antípodas dos nossos pratos de choco frito.
Que o diga ao Carlos Campos que, deliciado com a sua dose de espetadas de lulas, pediu uma segunda dose. De facto, aquilo que estava a comer não era mais que pele de galinha tostada:
É usual que o momento da refeição seja considerado um ponto alto do dia, e, no que a bebidas diz respeito, mandam os bons costumes que sobre o copo seja vertido o saquê necessário para transbordar até encher a caixa que o suporta. Tem a ver com a noção de abundância, de não poupar porque a pessoa merece tudo. Até aí, nós podemos ir.
No entanto, a forma correcta de o tomar é não tocar na mesa, não levantar o copo conforme faríamos por cá, mas sim beber a partir da própria mesa.
O que dificulta as coisas, é isso, Carlinhos?
Não deixo de registar a curiosidade que os locais demonstram àcerca dos nossos hábitos, e é dever de cada um de nós esclarecer, da mesma forma que gostamos de ser esclarecidos quando temos dúvidas.
Que o diga o Pedro, que foi massacrado de perguntas pelas simpáticas jovens que nos atenderam num restaurante onde, por curiosidade, éramos nós a cozinhar sobre a mesa a nossa própria refeição.
Diferenças…
Para quem sai de Setúbal, terra de boa sardinha assada na brasa, a largar pingo em cima do pão, não deixa de ser estranho poder adquirir as ditas cujas, pressupostamente assadas, nas prateleiras de um supermercado, embaladas em saco de plástico, conforme podem ver abaixo:
Muito se sofre neste mundo….sardinha assada servida assim?....como estarão ao fim de 3 semanas?.... |
Podemos comer descalços como Madalenas, mas ainda assim muito confortados por podermos dar uma nota de originalidade, de diferença, a um momento que, de outra forma, seria apenas mais um entre muitos.
Sim à manutenção das diferenças entre povos, ao respeito mútuo por diferenças entre hábitos e costumes, e, definitivamente, não a eliminar aquilo que nos distingue.
Porque a monocultura faz de nós seres iguais. Demasiado iguais.
Vítor Ganchinho
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