PESCADORES - NÃO SOMOS OS PIORES...

Animem-se aqueles que acham que a nossa juventude está perdida, que o pessoal da pesca está perdido, que não pensa em mais nada que lançar linhas e anzóis ao mar.
É verdade que há gente em Setúbal que chega ao Clube Naval de Setúbal por volta das 5.00h da manhã, para sair de barco, na melhor das hipóteses, às 7.00h, quando o Clube abre e começa a colocar barcos na água.
Porquê duas horas antes? Esta gente não dorme?!
Poderão pensar que o fazem porque a distância aos pesqueiros de eleição é longa, que leva muitas horas de viagem, e por isso têm de ser os primeiros a partir. Nem tanto…
Muitos daqueles que madrugam e insistem em chegar em primeiro ao Naval, irão, depois de sair da doca, avançar duas a três centenas de metros para dentro do rio e aí ficam horas e horas, a passar a pente fino cada palmo de terreno, à procura de chocos. Não consigo entender a razão de se zangarem uns com os outros, competindo por largar amarras alguns minutos antes e não depois, chegando a ameaçar vias de facto, por algo tão inútil quanto absurdo: esta gente espuma de raiva por não ser a primeira a sair, mas quando finalmente o faz …avança dois minutos, abranda a marcha, desliga o motor e fica com o Clube Naval à vista.
Não consigo entendê-los.
Qual a motivação que os leva a estes exageros? Que cegueira é esta? Vale a pena sofrer tanto por meia dúzia de chocos?
Parece que sim. Acreditem que há quem tenha como única e exclusiva ambição pescar …chocos, durante todo o ano.
Conseguem manter a firme e inabalável vontade de ir à pesca de chocos …todos os dias. Como conseguem?! Um choco é só um choco. É a quantidade de peças ou o peso total capturado, aquilo que os motiva?
De segunda a segunda, eles ali estão às primeiras horas, à espera que alguém lhes coloque o barco na água, ou, ainda pior, para eles próprios o lançarem na rampa, a qual, por areada, obriga à entrada das pernas na água gelada. E mesmo assim, …vão!
Pois bem, se esta coisa de ser “apanhador de chocos” é uma variante pobre daquilo a que se convencionou chamar de pesca lúdica, ainda assim não serão os piores. Há quem desbarate fortunas em casinos, e isso é bem pior que comprar canas e carretos, porque no fim, para os apostadores não fica nada nas mãos.
E em termos de dependência, de adição, os salões de jogos ganham a todos.
A meu ver, enquanto pescadores, estamos até muito bem, quando comparados com milhares de alminhas que se juntam em gigantescos antros de jogo, na mira de conseguir um jackpot que lhes salve a vida.


Estas pessoas passam muitas horas a jogar. Segundo informações recolhidas, alguns deles poderão jogar desde manhã à noite.


Vejam isto:

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Garanto-vos que saem de lá …amarelos! Não é piada de mau gosto à cor de pele dos asiáticos, é mesmo a sério, as pessoas saem a cambalear, como se tivessem bebido demasiado. Mas a questão nem é a bebida, que a há, e servida por diligentes robots. Algumas destas almas penadas pedem comida e bebida por via electrónica, para poderem continuar a jogar sem parar. Comem e bebem a carregar nos botões!!
Recordo-me de ver pessoas destas a sair sem conseguirem colocar um pé à frente do outro. É impressionante o estado de depauperamento físico e mental daqueles que finalmente desistem de jogar, o qual, garanto-vos é muito pior que qualquer pescador almareado. O ruído ambiente é ensurdecedor, e só por si motivo bastante para que ninguém visite tal espaço, mas ainda assim, está normalmente cheio.
E se acham que se joga a cêntimos, pois eu, enquanto lá estive (fomos pedir para nos chamarem um táxi que demorou meia hora…), vi com estes olhos que a terra há-de comer gente a jogar muitas dezenas de euros por lance. Muita desta gente passa 12 horas a jogar…..e isso significa muito mais tempo que aquilo que fazemos a pescar, mas também valores estratosféricos gastos.


Novos e velhos, esta gente não dá um minuto de descanso aos dedos.


Num mundo que se vive cada vez mais na palma da mão, num telemóvel que pressupostamente tem em si tudo aquilo que é necessário à vida humana, é bom pensar que ainda assim teremos tempo para lançar umas linhas à água, respirar fundo e esperar pela mordida de qualquer um ocasional peixe.
O imponderável da espécie que morde no nosso anzol, (e se falamos de jigs pode ser em rigor ser qualquer tipo de peixe), a possibilidade de utilização de diversas técnicas, novos equipamentos, tudo isso nos motiva, tudo isso nos faz sair ao mar com esperanças redobradas. Mas não chegamos a este estado de calamidade, este “desespero” que detecto nestes infelizes apostadores.


No canto superior direito, um dos robots que serve comida e bebida a estas almas penadas, para que não parem de jogar...


Se há pessoas capazes de acampar durante dias para serem os primeiros a ter um novo modelo de IPhone, não nos deve surpreender que as pessoas visitem certames de pesca, na perspectiva de poderem ver em primeira mão aquilo que as marcas prepararam para lançar de novo.
Os fabricantes contam com isso, com essa vontade de “ter”, porque é isso, essa irracional esperança de obter uma vantagem acrescida sobre os truques e manhas dos peixes, o que verdadeiramente motiva a ir mais longe, a comprar.
Para quem está mal equipado, a progressão é muito rápida, porque tudo o que vê a seguir é melhor. Quando o nível de equipamentos já é de qualidade superior, torna-se cada vez mais difícil encontrar o nível seguinte. Ainda assim, marcas como a Daiwa e a Shimano fazem questão de, quando confrontadas com todas as outras, mostrarem as razões que as levaram ao topo do mundo da pesca.
Tive oportunidade de trocar algumas palavras com o sr Kouhei Hirakoba, director Daiwa do sector de produção de canas de pesca. É todo um prazer poder ficar a saber em primeira mão das oportunidades infinitas dos novos materiais. O que vem aí é uma perfeita revolução em termos de concepção de canas, e como de costume, serão lançadas no Japão mas só irão chegar a Portugal muitos anos depois.
A GO Fishing Portugal tenta sempre encurtar este intervalo de tempo, entre o lançamento de algo novo, e a sua divulgação nacional, importando algumas unidades, para quem quer estar equipado com o melhor.
Sabemos sim que se trata de um mercado restrito, curto, pois a maior parte das pessoas analisa as canas de pesca começando pelo …preço.


A pesca também motiva a afluência de muita gente, e o “vicio” não é menor, mas ao menos sabemos que irão pescar ao ar livre...


O dilema que assiste aos maiores fabricantes mundiais de produtos de pesca é e será sempre o mesmo: a sua capacidade técnica de produzir equipamentos de alta qualidade, versus os valores de produção que essa mesma qualidade implica.
Não é, nem poderia ser, uma equação fácil de resolver. O ideal seria que o nível de qualidade fosse alto, mas ao mesmo tempo o custo fosse irrisório. Mas isso nunca acontece.
O custo dos produtos e a mão de obra qualificada necessária para os trabalhar impedem que se venda uma cana de 600 euros por 6 euros. Em rigor, por 6 euros não será possível adquirir sequer a bolsa que protege a cana….


Gostar de pescar sim, mas com a devida moderação. Um peixe nunca será mais que um peixe…


Por estranho que vos pareça, há discrepâncias enormes relativamente aos prazos de entrega, por vezes mais de um ano.
As canas baratas são produzidas em série, de forma muito automatizada, e há sempre muitas disponíveis para venda, não há roturas de stock.
Já quanto aos modelos topo de gama os prazos rondam os 8 a 10 meses, por vezes mais, entre a intenção de compra e a efectiva chegada do producto.
Porque há mercado para tudo, há clientes que se contentam com qualquer coisa, mas outros que sabem muito bem o que procuram.
E para esses, a compra de uma cana implica paciência e tempo. Entre estes dois extremos estará porventura a virtude.
Parece-me importante saber dosear entusiasmos, e ter a noção clara do nível de pesca que queremos fazer.
Sem excessos...



Vítor Ganchinho



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