Nos dias que correm, difícil é encontrar quem ainda aposte na ideia, nostálgica certamente, de encher um carreto de pesca ligeira com a vulgar e velhinha linha de nylon.
Isso pode acontecer por duas razões: desconhecimento técnico da pessoa em causa, (e a tal não será alheio o facto de, durante dezenas de anos, não ter havido nada mais para a função de pesca), ou por imperiosas e prementes dificuldades financeiras.
Antes de mais, a sua produção é barata.
É um facto, o nylon é ainda o producto mais barato com que é possível fazer pesca, mas definitivamente, a maioria das suas características técnicas não são as melhores para todos os tipos de pesca.
Refiro-me à memória que revela ao adoptar a médio/ longo prazo a forma da bobine onde é enrolado, saindo da sua posição de repouso em vincadas e persistentes espiras, e sobretudo à sua enorme elasticidade quando sujeito a esforços bruscos de tracção, a qual nos rouba informação e reactividade.
Enquanto linha principal, a dita “madre”, o nylon está praticamente ultrapassado, obsoleto. Mas fez uma era, e não o devemos desprezar só por haver outros productos mais actuais. Devemos sim tentar entender quando é que o nylon é a melhor solução, se ainda o é…
Vejamos algumas vantagens:
Não é difícil de lançar, pois trata-se de uma linha macia, flexível, e que enquanto nova passa facilmente pelos passadores de uma cana.
Para quem pesca com isca orgânica, o peixe não sente dificuldade em morder um estralho feito com nylon, pois a sua maleabilidade é máxima, não provoca constrangimentos de maior aos primeiros avanços de quem toca na isca. Digamos que os peixes não sentem desconforto ao morder o anzol.
Tem uma outra vantagem: depois de ferrado o peixe e aquando de um esticão repentino, o nylon cede sempre um pouco mais, é elástico, e isso até pode ser importante para nós, pois evita roturas.
Haverá então pescas em que o nylon é aconselhado, e outras porém em que não é aconselhável.
Se pescamos com iscas orgânicas, não nos fará mal ter nylon nos estralhos, mas se fazemos spinning, ….vamos perder muitos peixes devido à sua grande elasticidade.
O momento do contacto é muito importante e determina se o peixe fica ferrado ou não. Aí, queremos tudo menos elasticidade, queremos uma pancada forte, dura, sem amortecimentos. O nosso objectivo é que, ao menor contacto, o peixe fique espetado nos anzóis dos triplos. Aí, elásticos…não.
Para pescas a peixes em que utilizamos iscas orgânicas, o nylon é bem vindo, não vem mal ao mundo a sua aplicação nos nossos estralhos. |
Fazer a apologia do nylon quando existem outras soluções melhores pode parecer absurdo, mas não o é.
Embora seja minha opinião pessoal que, em determinadas situações, muito pontualmente, se não tem vantagens sobre outras linhas também é verdade que não perde muito para elas.
Infelizmente as situações de vantagem, ou “pouca perda”, que existem, são realmente poucas.
Há certamente dentro da tecnologia nylon algumas marcas, poucas (e nestas, apenas algumas versões de producto) de melhor qualidade, a permitir fazer trabalhos porventura tão bons quanto aquilo que conseguimos com outros tipos de linhas.
Dou-vos um exemplo concreto: em pesca spinning, quando tendemos para micro amostras, e falamos de 1 a 3 gramas de peso, a apresentação destas ao peixe é mais natural, por ter o nylon uma maior maleabilidade.
Quanto mais leves as amostras, mais finas as linhas, e mais importante o factor flexibilidade se torna. E aí, o nylon resulta.
Também poderíamos falar de pesca Big Game, onde o nylon ainda tem uma importante participação efectiva. Em carretos de Big Game, cheios com 600/ 700 metros de linha, o contacto directo com o peixe é apenas circunscrito aos primeiros metros de linha, e os 3 a 4 mts que deixamos ao leader são mais que suficientes para travar o animal. Não necessitamos que a totalidade da linha tenha características que podem e devem ser exclusivas da ponta da baixada, apenas.
Porque é nos derradeiros metros que se joga muitas vezes o sucesso ou insucesso da pesca de um espadarte, um tubarão, um marlin, um atum de grande porte, aquilo que é corrente é que se faça um leader mais resistente, e aí, ou entramos com um diâmetro superior em nylon, por exemplo 2mm, ou jogamos tudo num fluorocarbono 1,2 mm, por exemplo. Poupamos muito dinheiro por utilizar uma linha nylon, em detrimento de um fluorocarbono, sempre mais caro.
Alguns tipos de fundos são bem mais amistosos que outros para a passagem das nossas linhas… O pior deles é mesmo o de rocha chamada de “dente-de-cão”, são lâminas autênticas. |
Desvantagens da linha de nylon
A sua deterioração é muito rápida.
Por ser bastante vulnerável aos raios ultravioleta, acaba por se estragar rápido, e isso não dá segurança a quem pesca apenas com nylon.
Porque absorve água salgada, o nylon deteriora-se relativamente depressa e, para quem pesca muitas vezes, isso implica mudar de linha frequentemente.
O nylon é fácil de manusear, mas nem sempre isso joga a nosso favor. Podemos realçar a sua elasticidade, o seu previsível alongamento, podemos até dizer que é uma linha muito macia, mas é mais fraco contra a abrasão do que o fluorocarbono. Logo, se o objetivo é evitar a rotura a partir de situações de pescas em estruturas agrestes, rochas cortantes, não se pode dizer que tenha desempenho suficiente. Ainda assim muito melhor que o multifilamento, sem dúvida.
Já acima fiz referência a casos em que nos é conveniente trabalharmos os extremos mais baixos de diâmetros finos em nylon, nomeadamente micro pescas a peixe muito miúdo, e aí sim, vejo algumas vantagens.
Mas a partir daí, quando chegamos aos diâmetros standard, do 0.20 mm para cima, a vantagem cai inevitavelmente para o outro lado.
Não que existam diferenças assinaláveis de, por exemplo, resistência ao nó. Isso só faz diferença em situações em que ficamos com a pesca presa ao fundo, por exemplo. Em caso de prisão, temos vantagens em conseguir romper junto ao jig/ amostra.
Não queremos perder linha do carreto, e por isso sermos forçados a deixar de pescar. Assim sendo, zelar pela qualidade das nossas linhas, lavando-as após utilização, não as deixando secar ao sol, é uma prioridade.
Por mais que façamos, é inevitável que os nylons se estraguem mais rapidamente que as outras opções existentes no mercado. Aproveitar as suas características sempre que possível, isso sim, mas sempre conscientes daquilo que podemos pedir a esta linha. É mais barata, e pode oferecer-nos um ou outro detalhe em que apresenta vantagens, se as soubermos aproveitar.
Mas quem manda são os consumidores, e quanto a esses, o veredito está lançado: o nylon teve a sua época, conforme tiveram as canas de bambú, e esse tempo acabou.
No próximo número, os … fluorocarbonos!
Vítor Ganchinho
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