OS FLUOROCARBONOS - VANTAGENS E DESVANTAGENS - CAPÍTULO IV

Hoje tratamos de uma outra opção de linha que se tem vindo a impôr pelos resultados que apresenta.
Refiro-me ao fluorocarbono, um fio que pode resolver-nos muitos dos casos de indesejadas roturas, infelizmente ainda a ocorrer com alguma frequência, para algumas pessoas.
Sabemos que os peixes pequenos nunca rompem linhas, e por aí não vem mal ao mundo, porém não são esses os alvos quando nos levantamos da cama para ir pescar.
Queremos os outros, os grandes. Os que fazem muita força e provocam roturas!...
Confiar nas nossas linhas, sentir segurança, ajuda-nos nos momentos de aflição, quando rezamos a todos os santos para que não aconteçam imprevistos.
Vamos então ver de que forma podemos explorar as características deste polímero de fabrico relativamente recente.


Cada saída que fazemos é uma renovada esperança de podermos vir a lutar com um peixe grande. Vale a pena arriscar esse peixe por má qualidade de linhas?....


Debaixo do nome “fluorocarbono” esconde-se uma ampla família de compostos, incluindo compostos de flúor, cloro e carbono, juntamente a productos sintéticos feitos de hidrocarbonetos.
No mundo das linhas de pesca, o fio de fluorocarbono está associado ao difluoreto de polivinilideno (PVDF para abreviar). É extrudado de forma semelhante ao monofilamento de nylon mas como as moléculas de fluorocarbono são mais compactadas, a linha é mais densa e por isso mais pesada. Por isso mesmo afunda mais facilmente. Também difere do monofilamento de nylon em visibilidade, elasticidade e durabilidade, com largas vantagens.
Muitos pescadores pensam que o fluorocarbono é por definição uma linha de baixo alongamento. Na verdade, o fluorocarbono estica até mais do que o nylon monofilamento.
A diferença é que é preciso uma força muito superior para obter o alongamento do fluorocarbono, e isso, à luz daquilo que são os esforços ditos normais, dá-nos a sensação de que não estica nada.
Onde podemos então utilizá-lo e tirar partido desta característica?
De forma evidente, em todas aquelas onde o alongamento controlado seja útil, como acrescento da linha principal, ou linha madre, numa situação a que chamamos de “leader”, ou baixada.
Em pescas onde a ferragem do peixe é feita por este, (o spinning, o jigging), dá um jeito enorme ter uma linha “dura”, uma linha que não estique no momento em que a queremos fixa. Se entre a linha madre e a amostra/ jig, temos um “elástico”, é natural que alguns peixes acabem por não ferrar convenientemente.
Leia-se por isto que a barbela não fica cravada de forma profunda, ou pelo menos o suficiente para que a seguir tenhamos nós a possibilidade de, contraindo o braço e fazendo pressão para cima, conseguirmos cravar o anzol de forma definitiva.
Sobretudo para spinning e jigging, ter uma linha elástica é tudo aquilo de que não necessitamos.
Voltando ao fluorocarbono, a sua maior densidade e capacidade de afundar, tornam esta linha indicada para quem pesca jigging regularmente. Associada a uma cana de boa qualidade, o fluoro torna o conjunto incrivelmente sensível.
Este factor, a sensibilidade, é um pormaior quando queremos pescar a peixes ariscos, como as douradas, por exemplo. As moléculas densamente compactadas do fluorocarbono transmitem mais informação que o nylon, dão-nos mais depressa e de forma mais fidedigna as informações sobre aquilo que se passa do outro lado da linha. E isso ajuda-nos.


Em situações difíceis, ondulação ou correntes fortes, ter uma linha que afunde mais depressa pode ser uma enorme vantagem. Pode ser a diferença entre o sim e o não...


O fluorocarbono possui uma excelente resistência ao desgaste, à abrasão, (é mais resistente que o monofilamento de nylon no mesmo diâmetro), e isso só por si já o coloca num patamar elevado quando consideramos as várias opções.
Mas tem mais: porque não absorve água, acaba por ter a mesma performance, sensibilidade e resistência do princípio ao fim de uma pescaria. A linha é igual em seco ou dentro de água, o que já é notável.
Também um outro factor me parece ser importante: quando a fazer spinning lançamos a longas distâncias, ou pescamos jigging em fundos altos, sabemos que os peixes terão a tendência para morder os nossos artificiais no limite da distância lançada. As possibilidades de conseguirmos picadas bem junto ao barco são menores que as que podemos obter longe deste, ou bem junto ao fundo, quando a pescar profundo com jigs.
É bom saber que a baixa elasticidade do fluorocarbono nos irá ajudar no acto de ferragem, precisamente no ponto onde ela nos é mais difícil, ou seja, no limite máximo da distância de lançamento.
O assunto até pode parecer destituído de importância, mas não é. Se temos 15 metros de linha saída da cana, a pancada do peixe é mais directa e forte que num caso em que tenhamos 50 metros de linha fora da cana. Há que contar com o seio da linha, a influência que o vento e as correntes terão sobre a sua colocação na água. No momento da picada, linha esticada é uma coisa, e linha curva, solta, é outra, e mesmo quando está esticada, tudo o que não queremos é que exista elasticidade.
Falámos acima na questão da menor visibilidade do fluorocarbono relativamente ao nylon. Pois bem, é tirar partido disso!
Igual por igual, podemos inclusive subir alguns pontos no diâmetro da linha, e ela terá a mesma visibilidade de um nylon mais fino.
Parece não ter muita importância, mas por vezes pescamos a peixes difíceis, manhosos…e com força!




Tem ainda uma gravidade específica maior do que a água e afunda facilmente, por isso não é muito afetado por fluxos e refluxos de água, correntes rápidas.
Por ter uma baixa taxa de absorção de água, não se deteriora com facilidade, mesmo que o pescador não lhe preste os cuidados que deve prestar. Insisto que devemos, no mínimo, lavar as bobines de linha com água doce após utilização...
Sem dúvida é uma linha mais cara, mas compensa em resultados, através da sua menor elasticidade, e por consequência, mais peixes ferrados.
Repetindo a ideia para que fique bem gravada: trata-se de uma linha que nos permite sentir melhor os toques dos peixes, (não é demasiado elástica), e é de notar a sua quase invisibilidade, a qual lhe advém de uma menor refração da luz que sobre ela incide.
O facto de ter um índice de refração de luz, (brilho), menor do que o nylon ajuda a que seja mais imperceptível na água. Isso torna-o mais eficaz a pescar em águas claras, por exemplo.
Se é totalmente invisível como muitos pensam? Não, isso não existe, não há linhas 100% invisíveis, mas esta é a que mais se aproxima desse factor.
É sim o mais próximo que qualquer forma de linha ou leader pode chegar do índice de refração da água, tornando-o virtualmente invisível, mas não completamente. Ainda assim, é um bom aliado quando queremos pescar peixes mais ariscos, mais desconfiados.
Eu consigo resultados com os fluorocarbonos da marca Varivas, quer em termos de resistência linear quer em termos de resistência à abrasão, e por isso não mudo.
Não sinto que possa utilizar outra marca de linha com qualquer tipo de vantagem, e por isso mesmo os utilizo, quase em exclusivo. Se cumprem a sua função, mudar... porquê?


Em superfícies agrestes, quando sabemos que o peixe irá ter a possibilidade de roçar a linha na pedra, o fluoro é essencial.


A Daiwa lançou há meses um fluorocarbono a que chamou de “Top Fluoro”. Trata-se de um topo de gama, o pináculo daquilo que uma grande marca produtora consegue fazer.
Sem entrar em pormenores técnicos sobre os quais nunca saberemos a verdade toda, (as marcas guardam a sete chaves os seus segredos de produção), este “Top Fluoro” terá sido conseguido através da descoberta de uma resina ainda mais forte que as anteriores.
Também o “nano” controle da sua produção trouxe um aporte de maior resistência ao nó, foram retiradas fibras indesejáveis, e aumentada a sensibilidade. Isso sente-se.
Quando se passa a mão percebe-se que a tenacidade da linha, a força linear que podemos fazer contra os peixes, não é incompatível com maleabilidade, com uma maior suavidade ao toque. Os fluorocarbonos são linhas normalmente mais duras ao tacto que os nylons, mas neste caso nem isso, é apenas um pouco mais duro, mas algo quase imperceptível.
Eu achei-o bom, quando testei esta linha em condições ultra-difíceis. Deu-me segurança. É colocar a possibilidade de fazer força a uma outra dimensão.
Trouxe do Japão algumas destas bobines de fluorocarbono Daiwa, em diâmetros mais elevados, de 0.47 a 0.70mm, e daquilo que experimentei até agora, a opinião é positiva, zero roturas, mesmo com peixes de grande porte.
Experimentei-os em Angola, por exemplo. Sem problemas.


Não pescamos parados em terra, pescamos lá fora, em mar aberto, onde os nossos peixes mordem com força, com genica, a desafiar as nossas linhas mais fortes.


Vamos ver a seguir o comportamento das linhas relativamente à resistência ao nó.
Há ainda muito a dizer e por isso deixamos para o próximo número do blog.



Vítor Ganchinho



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2 Comentários

  1. Ola,

    Como habitualmente, um artigo interessantíssimo.

    Há uns tempo, a tentar perceber um pouco da história do fluocarbon, deparei-me com uma entrevista mto interessante a um dos elementos da Seguar nos EUA - conta um pouco da história como surge linha de pesca.

    Á data da entrevista, a Kureha (casa mãe da seaguar) era a única companhia no mundo que fabricava o referido PVDF e linha de pesca a partir deste. Tendo por isso o controlo da qualidade end to end.
    Não sei até que ponto as coisas já mudaram entretanto (nem tampouco questionar a qualidade das outras linhas ou marcas do mercado)... Mas deixo aqui o link para a entrevista:
    https://youtu.be/X4qgHeylj7Q?si=wCBLLBtyLb0MUhQm

    Entretanto... Fica o agredecimento pelos vários artigos que vem publicando!

    Um abraço.,
    MV

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    Respostas
    1. Boa tarde!

      Vou ver com atenção e volto aqui para comentar logo que possível.

      Amanhã e domingo são dias de pesca. Os robalos andam loucos.....


      Abraço
      Vitor

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