O FLUOROCARBONO ENQUANTO SOLUÇÃO PARA BAIXADAS - A PARTE NEGATIVA - CAPÍTULO V

A segurança é um elemento fundamental na vida de um peixe. Alimentação e reprodução são importantes mas sem segurança não fazem sentido.
É muito frequente que os peixes procurem habitats para nós desfavoráveis em termos de pesca, mas que para eles lhes dão algumas vantagens, leia-se mais protecção.
Isso obriga-nos muitas vezes a tentar os peixes em locais agrestes, onde as nossas linhas acabam inevitavelmente por sofrer algum desgaste. E por vezes, ….partem.
O contacto directo com rochas, troncos, plantas, ou mesmo pilares de portos e ancoradouros, pés-de-galo, destroços de navios afundados, etc, leva muitas vezes a roturas, e à inevitável perda do peixe.
Nestes pontos de pesca acontece muitas vezes que os peixes tentem escapar introduzindo-se em frestas, grutas, e todo o tipo de estruturas naturais onde possam cortar a linha que os prende.
O fio de fluorocarbono, pensado para uma grande resistência à abrasão em ambientes agressivos, pode fazer a diferença, ajudando-nos a garantir as nossas capturas.
Quem já utiliza, sabe que em acção de pesca estas linhas raspam, ficam esgaçadas, mas normalmente não partem.
Não se ficam por aqui as vantagens do fluorocarbono, já que outras das suas características podem também ser-nos úteis, nomeadamente o seu menor alongamento quando comparado com o nylon, muito mais macio.
Isso dá-nos mais facilidade de ferragem, e maior sensibilidade para entender os toques. As vibrações provocadas pelo contacto com o peixe chegam-nos mais perceptíveis, digamos que não se perdem tanto ao longo da linha quanto acontece com o nylon.
Depois de tudo, aquilo que queremos pedir às nossas linhas é …tudo. Queremos que a sua visibilidade seja baixa, que o poder de fixação dos nós ao jig/ amostra seja máximo, que o seu grau de elasticidade seja mínimo, que o nó não escorregue e por isso desate facilmente, que possamos utilizar diâmetros finos sem perda de resistência, e já que estamos a pedir, que a linha seja ultra sensível. Valentes! Não fazemos por menos.
Hoje, o tema é o fluorocarbono, essa incrível linha de pesca, mas na sua vertente negativa.
Vamos ver alguns contras, porque também existem.


Este pargo capatão fiz com um fuorocarbono da Daiwa. Chamo a atenção para o nó de ligação feito a uma argola sólida à qual adicionei uma split-ring com o respectivo jig. Se repararem bem, o pargo está duplamente cravado na boca, dois anzóis, mais a posterior prisão no ventre, resultado da sua luta. Mas o jig ficou entalado entre o peixe e os anzóis...


Se é indiscutível que o fluorocarbono tem inúmeras vantagens, parece-me útil conhecer também algumas das desvantagens destas linhas. Vejamos algumas:

A segurança das suas ligações não é tão alta se comparadas com o nylon. Entenda-se segurança de ligação como a força de fixação de um nó quando amarrado.
Digamos que nos é muito mais fácil desatar um nó feito em fluorocarbono que outro nó idêntico, mas feito em nylon.
Por ser também a parte da linha onde a carga de rotura mais provavelmente se irá evidenciar, este não é um dado inconsequente. Os nós são pontos críticos da linha, o local mais frágil onde a força do peixe se irá concentrar.
No sentido de melhorarmos este parâmetro, aquilo que está ao nosso alcance, e não custa dinheiro, é humedecermos com saliva a zona do nó, antes de apertarmos em definitivo.
Feito isto, um bom nó Palomar resolve de forma rápida e segura uma união de linha/ amostra/ jig.
Também, pela sua rigidez acrescida relativamente ao nylon, não são linhas que nos permitam demasiado enchimento da bobine do carreto. Há vantagens em deixar alguma reserva de espaço livre da linha ao bordo exterior da bobine, pois a sua maior rigidez leva-o a ter tendência para saltar da bobine.
Um outro factor que me leva a pensar duas vezes antes de aplicar fluorocarbono, é o seguinte: se antes de ferrar o peixe queremos sobretudo uma linha não extensível, leia-se nenhuma elasticidade no nosso terminal, já depois de termos peixe ferrado as coisas mudam de figura.
Aí, a elasticidade do nylon é bem-vinda, ajuda-nos a enfrentar os esticões súbitos das investidas do peixe. O fluorocarbono, por ser mais rígido, absorve menos bem esses impactos, e isso pode prejudicar-nos e fazer-nos perder alguns peixes mais brutos.
Digamos que o fluorocarbono, neste caso, fica a meio caminho entre o nylon e o multifilamento.
Assim sendo, aquilo que temos a fazer para ter o melhor de dois mundos, a sensibilidade e facilidade de ferragem do fluoro, e a elasticidade do nylon quando em combate, é termos o cuidado de desenroscar meia volta o drag do nosso carreto.
E passamos a ter as duas coisas, grosso modo. Não é igual, mas imita bem…


Alguns tipos de dentes são tão afiados que cortam qualquer tipo de linha. Mesmo o cabo de aço sofre bastante dado que as nossas linhas são formadas por inúmeros fios mais finos. Por vezes, em combates mais prolongados no tempo, rompem. Ferrei este mako a norte do Espichel. Foi libertado logo a seguir à foto.


Mas estamos aqui para reflectir sobre as possíveis vantagens e desvantagens da utilização do fluoro, e vamos continuar a tentar encontrar factores menos positivos. Embora seja uma linha fantástica, diz a sabedoria popular que “não há bela sem senão”…
Ora vejam este: há pessoas que ainda não utilizam o multifilamento PE no enchimento dos seus carretos. Colocam nylon, ou fluorocarbono como linha única.
Nesse caso, e porque o fluorocarbono afunda mais rapidamente que o nylon, pela sua maior densidade, então poderá não ser sempre a melhor linha para fazer pescas de superfície, nomeadamente o lançamento de amostras em spinning.
Refiro-me ao facto de por vezes querermos trabalhar amostras ligeiras, em locais mesmo muito baixos, com encalhes, rochas a aforar a superfície. Aí, o fluorocarbono pode ser contraproducente, dependendo das circunstâncias, do nível de altura da costa a que estamos a pescar.
Se pescamos a partir de uma arriba, a partir de uma posição alta, essa questão não se coloca, mas se nos encontramos com os pés na areia, ao nível da praia, então é bom que a alinha não seja afundante.
Não esqueçam que tudo isto é sempre um jogo de concessões, de ganhos e perdas. Pode acontecer que a ferragem não seja o factor mais importante, e que possamos ceder em relação ao posicionamento da linha relativamente ao fundo.
Há um dado que será inegável: não é a linha para quem pesca com poppers, independentemente do seu tamanho e peso. Queremos a linha alta, e não a afundar a cada segundo, porque estraga-nos o trabalho da amostra.
Já quando fazemos jigging, é o oposto! Aí, o facto de termos uma linha afundante só nos ajuda. Ainda mais quando os jigs são de baixo peso, e queremos que desçam rápido.
Outra pesca que pode e deve ser feita com fluoro: a pesca em baixios, sem peso de lastro, a drop-shot. Há pois circunstâncias e circunstâncias...
Gostaria que pensassem nestas questões de linhas de forma crítica, sem dogmas pré-estabelecidos, pois cada um destes dados pode ser analisado de vários prismas, e por isso mesmo cada um de nós pode encontrar vantagens em aspectos que a outros pescadores lhes parecem desvantagens.


A colocação de fluorocarbono dentro das linhas de assistes visa a maior rigidez do conjunto. Tem uma eficácia comprovada quando o nosso objectivo é pescar peixes que mordem, embora seja contraproducente se pescamos peixes que aspiram a presa. Aí, o efeito que se pretende é o oposto, linhas macias sim, para melhor deslocação ao interior da boca do peixe. 


E que comprimento de linha devemos adquirir?

O comprimento estará sempre OK se comprarmos a quantidade necessária para pescar, dependendo isso do tipo de pesca, da distância a que vamos ter de lançar ou deixar baixar a nossa linha, e ainda do tamanho da bobine do nosso carreto.
Não necessitamos de 200 metros de linha se a ideia é pescar de terra num remanso de água com 5 metros de fundo. Mas necessitamos de 600 metros de linha se formos pescar com carretos eléctricos para uma pedra muito profunda, ao cherne.
Ser racional ajuda sempre muito. Há quem compre carretos atendendo única e exclusivamente à quantidade de linha que podem suportar. Asneira!
Da mesma forma que há que faça a sua opção por este ou aquele carreto, pela força do seu drag. Há drags de 30 kgs! Os meus carretos Daiwa Saltiga Expedition têm drags de 30 kgs. Nunca os utilizarei a esse limite!
Não acredito que alguém tenha força e estrutura muscular que aguente um tipo de esforço tão violento.
E seguramente não serão as pessoas que optam por este ou aquele carreto à conta do seu drag. Trata-se de querer exibir um “plus” ao amigo do lado, ou de pescar?
E vai daí e vão pescar ao pica-pica, onde os peixes têm maioritariamente menos de 1 kg!
Ou ainda há quem opte por um ou outro carreto em função do número de voltas que cada manivelada recolhe. São apenas dados técnicos, e por vezes, um carreto de menor recuperação tem largas vantagens sobre um carreto high frequency, de recolha hiper rápida.
Há tipos de pesca onde ser lento é uma vantagem enorme!
Mas voltando à questão da linha, ela deve estar em harmonia com o tamanho, o peso, e a função para que o carreto foi adquirido.
Em todos os carretos está gravada a linha ideal, PE 2, PE 3, PE 4, etc, bem como os metros que serão pressupostamente utilizáveis. Não faz sentido colocar num carreto pequeno, tamanho 1000, linha PE 10, pois só cabem meia dúzia de metros, e a estrutura do carreto não aguenta o esforço de tensão que a linha aguenta. Pouco mais faríamos que partir o carreto em três tempos.
Pela mesma ordem de ideias, nem vale a pena tentar encher um carreto tamanho 6000 com linha PE 0.6, porque de nada nos serve ter 3 quilómetros de linha na bobine. Pode ser?...
Como em todas as situações, haverá sempre vantagens e desvantagens. Se conhecermos os productos, estamos mais perto de os saber utilizar.
Espero que algo tenha ficado mais claro. Estou sempre disponível para ajudar a esclarecer algum detalhe que entendam merecedor de clarificação.
O blog foi criado nesse sentido, o de ajudar quem começa a pescar a entender de que forma pode ir mais além nesta incrível actividade da pesca à linha.




Vamos no próximo número terminar, com algumas considerações sobre a linha PE.
Espero que esta sequência tenha feito pensar. Que cada um de vós possa ter ido um pouco mais além nos seus conhecimentos sobre linhas.
Nomeadamente saber adquirir o tipo de linha que mais se adequa ao seu estilo de pesca.
Não é igual para todos...



Vítor Ganchinho



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