LINHAS - CONSIDERAÇÕES GERAIS

Creio já vos ser possível, com os elementos anteriormente dados, seguir alguns critérios no acto de compra das vossas linhas.
Ficará sempre algo por dizer, isso é inevitável, mas consideremos que algo foi dito.
Ressalta das anteriores análises o facto de termos constatado que para situações de pesca diferentes devem corresponder fios diferentes.
As técnicas de pesca são tão díspares que dificilmente poderíamos utilizar os mesmos equipamentos para todas. Bem sei que a tendência vai no sentido de se pretender uma linha que sirva a todas elas, mas isso faz tanto sentido quanto querer lavrar no campo com um Ferrari e fazer corridas em pista com um tractor.
Um bom carreto de spinning não nos permite fazer um bom surfcasting. A pesca ligeira em águas superficiais não pode ser feita com equipamentos de big game.
Um carreto eléctrico de alta qualidade não será necessariamente útil a quem pesca ao sargo na espuma com chumbadinha…
São os peixes, ao viverem em habitats muito diferentes, que nos obrigam a procurar pescá-los de formas muito diferentes.
Parece-me pois que devemos fazer aqui um ponto da situação relativamente ao que já foi dito anteriormente.


Na maré cheia, este fundo não terá muita água. Se fizermos aqui spinning com amostras de fundo, vamos raspá-las na pedra. E a linha vai cortar...


1- A linha PE multifilamento tem características que a diferenciam dos outros dois tipos de linha que podemos utilizar, o nylon e o fluorocarbono.

2- Uma destas características mais notáveis é o facto de nos permitir sensibilidade máxima, devido à sua baixa ou quase nula extensibilidade. Por isto mesmo, as sensações provocadas pelo debater do peixe na outra ponta são-nos passadas à nossa mão, aumentando significativamente as nossas possibilidades de entendermos o que se passa e por isso mesmo, de termos sucesso.

3- Em comparação com o nylon e o fluorocarbono da mesma espessura, a linha PE é de longe mais forte e, grosso modo, tem pelo menos o dobro da resistência à tração da linha de nylon. Se levarmos este dado em conta, podemos pois reduzir o diâmetro da linha com que pescamos a metade, e ainda continuamos a ter a mesma resistência de linha. Vantagens imediatas? Podemos fazer spinning e reduzir o diâmetro da linha, e consequentemente o seu peso, lançando dessa forma mais longe. A fazer jigging, a força que a corrente irá aplicar sobre a nossa linha é substancialmente reduzida, permitindo-nos pescar de forma mais vertical.

4- Sendo verdade que o multi é uma linha mais resistente, ainda assim é constituído por uma imensidão de fios extremamente finos e que por isso mesmo podem ser, um a um, danificados pelos dentes dos peixes, ou pelas estruturas onde os pescamos.
No entanto, para determinados tipos de pesca, isso acaba por não ser um problema porque as possibilidades de rotura são diminutas. O peixe não chega a esta linha, pois tem uma baixada de nylon ou fluoro a separá-lo, e, no caso do jigging a pesca é feita na vertical, logo a evitar quase na totalidade o contacto directo com pedras e plantas.


Num tipo de fundo como este, tentar pescar ao fundo com chumbada e um set de anzóis é perfeito suicídio. E as linhas vão estar constantemente a partir...


5- A linha PE é mais leve que a água, logo pode ser mais susceptível à força das ondas e vento. Flutua, se não tiver um peso que a arraste para o fundo. A sua grande flexibilidade (é a mais flexível de todas as linhas), ou se quiserem, a sua ausência de rigidez, pode fazer com que seja difícil lançá-la contra o vento, e até controlar a sua deriva. Faz seios com mais facilidade que os polímeros, quer o nylon quer o fluorocarbono.

6- A tenacidade das ligações feitas com a linha PE é normalmente boa. Depois de feito um nó, é difícil que solte, contrariamente ao fluorocarbono, linha que “escorrega” com muita facilidade. Dou-vos o exemplo do nó FR, cuja eficácia assenta precisamente no atrito que a linha multi faz relativamente à linha de baixada, sem que os nós que damos no fim sejam determinantes para assegurar a ligação.

7- Quando a questão é linha deteriorada, o PE multi não responde bem na totalidade das situações. É uma linha que exige alguns cuidados mínimos, nomeadamente a sua lavagem com água doce, a seguir a cada utilização.
A água salgada empapa de sais o PE, e a longo prazo essa aderência de salgadiço irá deteriorar e fragilizar as camadas exteriores da linha. O processo é conhecido e facilmente entendível: em condições normais, a linha PE por definição, enquanto fibra isolada, repele a água.
Mesmo dentro de água a absorção é reduzida. Ainda assim, o sal e outras substâncias (óleos do carreto, ou sangue dos peixes…em suma quaisquer productos químicos não inertes) acabam por entrar nos interstícios das fibras, trançadas entre si. Não é a fibra em si, isolada, mas sim o conjunto de fibras, as quais formam a linha, aquilo que vai permitir que fique no seu interior uma determinada quantidade de salgadiço. Quando estes sais secam, eles cristalizam e acabam por danificar a linha. Já aqui vimos da baixa resistência a esforços de abrasão do PE.
Também as linhas de spinning, uma técnica que, friamente vista, não passa de um contínuo arremesso de um peso, seguido de uma recolha, sofrem bastante com o salgado da água. À medida que avança a sua deterioração, muito rápida se não cuidarmos da linha, a sua resistência vai diminuindo.
Daí a começarem as roturas, é um passo. Lavar os multifilamentos é imperioso, sob pena de tornarmos a linha muito susceptível a danos irreversíveis.


Meus amigos, isto é lixa! Dentro de espectro de linhas que temos à nossa disposição, apenas o fluorocarbono pode resistir a este tratamento draconiano.


8- Já que estamos a tentar encontrar fragilidades na nossa linha PE, talvez não seja desadequado lembrar o seguinte: o acumular de atrito também irá prejudicar a longevidade da nossa linha. Falo concretamente da passagem repetida pelos passadores, sobretudo em técnicas que assentam em recolha de linha sob altíssima pressão, o caso da pesca feita com carretos eléctricos. Dir-me-ão que é para isso que as linhas são feitas. Pois sim, mas também os fabricantes partem do princípio de que os utilizadores das suas linhas as lavam após cada utilização, e que terão com os passadores um cuidado extremo.
Um passador fendido, com uma microscópica falha cortante, pode estragar-nos a linha em três tempos. Também uma bobine danificada de um carreto, (basta que caia ao chão sobre uma superfície rugosa…), pode prejudicar-nos imenso, a ponto de nos danificar a linha PE.
Nestes casos, aquilo que há a fazer não é mudar de linhas consecutivamente, é mudar de bobine!
Sabemos dos cuidados dispensados a canas, carretos e linhas, por parte dos nossos colegas pescadores...

9- Embora não seja possível evitar por completo alguma deterioração da linha PE, sabemos que podemos prolongar a sua vida útil se tivermos alguns cuidados. Lavar após utilização dá-lhe saúde. Basta que se coloque sob água corrente a bobine, durante alguns minutos. Não esquecer apertar o drag durante este período, no sentido de evitar a entrada de água nas engrenagens, sempre prejudicial. E a seguir, voltar a desapertar...
Em final de estação, e quando prevemos que iremos estar alguns meses sem pescar, podemos retirar a linha da bobine, enrolar numa bobine vazia e lavar o seu interior. Há quem mergulhe a bobine num alguidar de água doce. Sempre que isso é possível, estamos a caminhar no sentido de ajudar à preservação da linha.

10- Não devemos deixar secar a linha ao sol. Os ultravioletas não são amigos de quase nada, e por isso, deixar a linha secar à sombra ajuda muito. Para quem quer cuidar da sua linha ao limite, a aplicação de um agente de revestimento reduz o coeficiente de atrito da linha, retardando assim a sua deterioração. Trata-se de um spray, e se não é vendido em Portugal isso deve-se ao facto de as pessoas se conformarem com a compra de uma linha nova quando começam a detectar roturas sucessivas. O que é normal é que uma linha dure, no mínimo, …dois anos!
Para a maior parte das pessoas que não sabem nem cuidam das suas linhas, o mais normal é que se refugiem na aquisição de diâmetros mais grossos. Isso dá-lhes mais segurança, mas também lhes retira peixes.


Há linhas que não partem. Mas também não pescam...


Espero que tenham gostado desta serie de artigos sobre linhas.
Inevitavelmente voltarei ao tema, pois a pesca está em constante evolução, e mais dia menos dia, teremos algo novo.
E nós estaremos atentos...



Vítor Ganchinho



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