LINHAS PARA BAIXADAS - COMO ESCOLHER? - CAPÍTULO II

Continuamos hoje a abordar o tema “linhas”, e concretamente a questão de aplicar ou não um leader sobre o multifilamento.
Na pesca lúdica, quer a feita com isca orgânica quer a que recorre a amostras artificiais, necessitamos sempre de uma baixada, um “leader”, um chicote, um “acrescento” de alguns metros de linha invisível.
Podemos chamar-lhe diversas coisas, mas o princípio técnico é sempre o mesmo, e consubstancia-se em tornar invisível a ligação da nossa isca a uma linha de pesca principal, a que sai do carreto.
Vamos aprender aqui a selecionar essa ponta de linha.
Ponto prévio: só necessitamos deste conceito de baixada, de linha madre mais uma ponta, a partir do momento em que a decisão de encher o carreto de linha foi no sentido de um multifilamento.
Caso a opção tenha sido outra, então não é necessário fazer nada.
Repito, a baixada só faz sentido quanto temos linha PE multi aplicada. Aí sim, vamos ligar através de um nó especifico para esta função, um nó FG, ou FR, ou qualquer outro que nos garanta resistência e fiabilidade nesta função de conectar o nosso multi ao nosso “shock leader”. E temos de o fazer? Assim sendo, estaremos a gastar dinheiro numa linha madre e a seguir numa outra, o leader.
Quais as principais razões pelas quais necessitamos deste chicote, esta baixada?
Vamos enumerar algumas delas abaixo:


A pescar jigging ligeiro utilizamos linhas fluorocarbono finas, de 0.28 a 0.33mm, logo a qualidade da linha é muito importante. Podemos arriscar, mas no fim da pescaria, o número de peixes perdidos vale sempre mais que a diferença de euros entre uma linha boa e uma ruim. Nunca tentar poupar nas linhas...


1- O multifilamento, mesmo o de melhor qualidade, tendo uma enorme resistência linear, e nisso é, para já, imbatível. É no entanto bastante fraco e sensível a esforços de abrasão.
Gostava que isto ficasse muito claro: em termos de resistência linear é o mais forte, mas a sua resistência à abrasão é fraca. O que deve entender-se por abrasão?
Quando a linha raspa na pedra, em substâncias rugosas, ou até em algumas plantas aquaticas mais agrestes, pode de facto romper.
Eu ferrei há semanas um atum de grande porte, a pescar jigging com linha PE 1,2, o que podemos considerar fino. Linha para robalo não é definitivamente linha para atum.
O atum, eventualmente mais um dos torpedos de 80/ 100 kgs que se passeiam na costa nesta altura do ano, rompeu-me a linha ao fim de uns 60 metros de corrida.
Acredito que o tenha feito quando esta tocou lateralmente o seu pedúnculo caudal, numa das suas duas quilhas duras e afiadas de …queratina. Zero possibilidades de o travar, o meu baixo de linha estava feito em fluorocarbono 0.31mm…
Quando estamos de menos com o nosso equipamento, pouco podemos fazer senão esperar que a rotura seja o mais breve possível, para não perdermos demasiada linha.
Nada nos pode valer, é para partir e ponto final.
Há outra possibilidade de perda do jig muito comum: os dentes dos peixes são altamente abrasivos. Caso fiquem com a amostra bem funda, bem dentro da sua boca, ao debaterem-se vão inevitavelmente desgastar a linha. Rompe de certeza.
E já se sabe, no fragor da luta pode ainda acontecer uma indesejada e desanimadora rotura, neste caso num ponto que poucos suspeitam: o nó de união do fluorocarbono junto do jig. Esse é um ponto mais fraco, e que convém cuidar. Um bom nó, bem feito, pode ajudar muito.
Poderia ainda dizer-vos que os fluorocarbonos, sendo mais resistentes que outras linhas, sofrem ainda com um outro factor pouco expectável: partem por não suportarem o atrito provocado pelas altas velocidades de deslocação destes peixes.
Ainda assim, são de longe os mais resistentes.

2- Para além disso, destes casos de corte imediato, directo, também se faz sentir a fadiga à abrasão contínua provocada pelos dentes.
Não é um peixe apenas, é sim a sequência de peixes que iremos fazer ao longo de toda uma sessão de pesca. As nossas linhas, em acção de pesca, sofrem um permanente desgaste, quer queiramos ou não.
Podemos não conseguir ver isso a olho nú, mas se a linha estiver continuamente em contacto com dentes (os robalos, os safios, as abróteas, as fanecas, as choupas, são casos evidentes de peixes que aparentemente não têm dentes, mas têm mesmo e aquela rugosidade é lixa autêntica para as nossas linhas), dificilmente isso não se fará sentir quando chegar o momento M, em que um peixe de maior porte coloca à prova a solidez da nossa linha. Em princípio…parte!
Nada mais desesperante, porque não são os pequenos que partem, são sim os grandes, os que mais queremos.


O autor a trabalhar um lírio, feito a spinning. A linha multi já está quase toda no carreto Shimano Stella 4000, e a seguir ao primeiro passador, deixa de se ver. Essa é a parte que cabe ao leader em fluorcarbono, a de garantir a invisibilidade necessária até à amostra.


3- A linha PE, vulgo multifilamento, é pouco elástica. A percentagem de alongamento é de tal forma baixa que é desprezível. Por isso mesmo, em situações limite, pode ser interessante ter um curto “elástico” na ponta da nossa montagem.
Desde que realmente curto, não nos pode fazer mal contar com ele, já que faz o papel de amortecedor de choques relativamente às investidas dos peixes, dá à nossa montagem alguma elasticidade num momento em que necessitamos dela. E aqui, vale a dosagem certa, pois se não a queremos ter quando pretendemos detectar e ferrar o peixe, queremos ter o máximo de sensibilidade possível, já por outro lado essa elasticidade dá um jeito incrível quando o combate começa. Como em tudo na vida, é do equilíbrio certo que vivemos.

4- Não podemos negligenciar a acrescida resistência dos polímeros, quer o nylon quer sobretudo o fluorocarbono, bastante mais resistente que o nylon ao contacto com pedras ou estruturas abrasivas, por exemplo o pilar de um cais, uma ponte, etc. Nesse aspecto, o multifilamento perde para todas as outras alternativas. É pior o multi que o nylon, e muito pior que o fluorocarbono.

5- Por fim, somos forçados a concordar que não é de bom tom ter uma linha única que sai do carreto e vai directa à amostra, sem qualquer tipo de fragilidade algures. A razão é esta: todos achamos que a resistência linear do multifilamento está umbilicalmente ligada ao seu diâmetro.
Uma linha com um diâmetro superior terá, em condições normais, mais resistência que outra com um diâmetro mais fino. Na prática, não é tão linear assim, pois em marcas menos conceituadas, (e por vezes mesmo as mais conhecidas...) pode dar-se o caso de uma linha mais fina cujo fabrico saiu mais homogéneo, ser mais resistente que uma linha mais grossa em termos gerais, mas com alguns pontos de intermitência, mais finos. A nível microscópico, acreditem que as diferenças existem. As linhas estão bem longe de ser aquilo que pensamos serem, em termos de homogeneidade.
Assim, imaginem que temos apenas multifilamento, desde o carreto à amostra. Caso esta fique arrochada, e sejamos forçados a fazer força para a partir, ...pode acontecer que ela parta junto à amostra, ou jig, mas também pode acontecer que ela parta mesmo junto à nossa cana, perto das nossas mãos.
Isso traz consigo um drama: caso tenhamos pouca linha na bobine, (por exemplo por estarmos a pescar muito fundo..), podemos ficar sem linha e ser impedidos de pescar mais nesse dia.
Assim sendo, a existência de uma baixada de menor resistência junto ao nosso artificial, irá dar-nos muito jeito. A partir, pois que parta sem perdermos toda a linha que estiver fora do carreto. Quando isso acontece mesmo na ligação do fluorocarbono com a amostra, junto ao nó, na maior parte das vezes é-nos possível continuar a pescar com a mesma baixada, sem termos de voltar a refazer o sistema. Basta-nos repetir o nó de ligação final ao jig, eventualmente um nó palomar.
O processo correcto é pois um sistema em degrau, em que a cada novo producto/ avanço, há uma perda de resistência. Trançado mais forte, baixada menos forte, clip, se for o caso, menos forte.
Em caso de prisão, parte sempre pelo elo mais fraco. Isso é sempre aquilo que nos é mais conveniente.


Hoje em dia, os multifilamentos estão generalizados. Todos os pescadores os utilizam, embora muitos não saibam exactamente porquê…


O que devemos então ter em mente quando escolhemos a linha de baixada? Há diversos pontos a considerar, desde logo o seu diâmetro, o comprimento, e a composição química do producto, o seu tipo.
As linhas vendidas como líderes de choque são normalmente feitas em nylon ou em fluorocarbono, dois polímeros diferentes.
Qual escolher depende da situação concreta de pesca que iremos praticar. Vamos, na sequência destes artigos sobre linhas, dar uma ideia quanto às variantes a considerar quando pensamos numa ou outra possibilidade.
Há algo que devo dizer-vos: estamos longe da Coreia do Norte, e está fora de questão que um producto seja universal, uma só medida sirva para “vestir” todos. Cada um de nós terá a sua situação particular, e para ela necessita de um tipo e diâmetro de linha específico.
No próximo número vamos analisar em detalhe uma linha muito comum, o nylon.
Passo a passo, caminhamos no sentido de ficar a saber escolher a nossa baixada...



Vítor Ganchinho



😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.

Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال