Vocês sabem que eu sou um verdadeiro pára-raios de acontecimentos estranhos.
É algo que é mais forte que eu, está-me no sangue. A minha mãe diz-me que comigo sempre foi assim, desde pequenino.
Pessoalmente, a coisa parece-me simples: eu não os procuro, os assuntos aparecem-me à frente dos olhos e eu limito-me a dar-lhes seguimento.
Este caso que vos trago hoje, entendam-no como uma graça, mais uma das muitas possibilidades que tenho de levar pessoas “estranhas”…à pesca.
O meu conceito de “estranho“ não é porventura igual ao vosso.
Para mim, querer sair à pesca comigo e não ter interesse em perceber as técnicas que utilizo, e o seu porquê, as suas razões, já é estranho.
Curiosamente aquilo que me aparece mais é gente a querer saber apenas …ONDE pesco.
O padrão é este, pescadores nacionais com embarcações próprias, ou gente enturmada em equipas com barco, localizados na minha zona de pesca, e que à viva força insistem em querer ir comigo apenas para saberem onde pesco.
Querem a todo o custo sacar pontos de GPS, ter a informação concreta de “onde é que é”, sem que o “como” lhes seja importante. É uma pena.
O “como” é precisamente aquilo que eu mais gosto de passar a toda a gente, é informação que tenho em mim e posso partilhar.
Mas o interesse deles não vai nesse sentido, o “como fazer” é algo que podem tratar a seguir, experimentando. O “onde” é o busílis da questão!
Como se isso lhes pudesse dar acesso a um local milagroso onde se lança uma amostra e os peixes saltam de imediato para um balde...
Não tenho isso.
Tenho sim a prática de uma técnica que poucas pessoas praticam, o Light Rock Fishing, um método diferente, e isso dá-me vantagens perante os peixes, não saturados daquilo que lhes apresento.
Por isso mesmo me sinto sempre a pescar, (mesmo que com outros barcos por perto), …sozinho.
Há sempre peixes para mim, porque eu, mesmo nos locais onde se pratica pesca vertical com assiduidade, consigo sempre, através dos meus jigs ligeiros, encontrar um peixinho ou outro.
As pessoas que levo à pesca conseguem resultados. Mas há uma gestão de pesqueiros a fazer. |
Entendo a lógica que seguem ao insistir em ir comigo. Os meus locais de pesca são localizações pressupostamente com muito peixe, as quais podem passar a explorar durante anos a fio…
Percebo que o intuito seja esse.
No entanto não é assim, estão errados. Eu sei perfeitamente que não é assim, porque sei bem aquilo que luto para encontrar peixes. E, quando os encontro, sei ainda mais daquilo que faço para preservar esses sítios, mantendo-os activos.
Não esgoto os recursos, ainda que isso me custe não trazer a terra alguns exemplares mais.
A gestão de um local de pesca é algo que exige conhecimento daquilo que se passa lá em baixo, da espécie de peixe em si, dos seus hábitos e das suas limitações, do quanto é importante deixar peixes a atrair mais peixes.
As pedras são verdadeiros oásis de concentração de vida, pois é aí que os predadores encontram o seu alimento de forma mais regular. A pedra é um criadouro de vida e consequentemente de oportunidades de caça para quem tem dentes.
Não quer dizer que os peixes estejam sempre aí, por vezes apenas visitam o local para comer, e saem de seguida para zonas mais seguras. Porque o foco de todos os que pescam, quer com anzol quer com redes, são as pedras, a alternativa dos peixes acaba por ser a única que tem lógica: não permanecer mais tempo que o necessário em cima ou nas suas imediações.
Por isso encontro cada vez mais peixes de grande porte a alguma distância das pedras, em locais sem outra referência que não o ficarem perto de zonas com abundância de alimento. Nomeadamente... pedras.
Impõe-se uma reflexão profunda sobre a forma como actuamos sobre os pesqueiros. |
De resto, os sítios ficam “queimados” muito rapidamente, ao fim de meia dúzia de visitas de barcos carregados de pessoas passamos a ter mais um deserto para juntar a todos os outros que abundam por aí.
O que não falta no nosso país são sítios ruins de pesca….e que já foram muito bons.
Se querem um espectacular local para manter pargos em cima, aí vai: a Vereda, mais conhecida por Pedra das Douradas, a qual já foi conhecida por….Vereda dos Pargos.
É um esguelhão de pedra com centenas de metros de comprimento, com orientação norte/sul, ao largo da Comporta.
Agora, com muitos anos de redes e anzóis em cima, muita pressão sobre os peixes, acabou tudo. São feitas algumas pescas de qualidade em momentos muito precisos do ano, e acaba por ali.
Na ponta do Canhão de Setúbal, o célebre “Poço da Morte”, buraco fundo no meio de um baixio, dava gorazes, chernes, cantaril, pata-roxa, etc. Foi de tal forma explorado que hoje é um perfeito deserto.
Os molhos de cabos, redes velhas, detritos, tornaram esta zona um verdadeiro buraco negro, sem vida.
Temos a vocação de estragar, e não percebemos porquê.
Vejam isto: alguém na Nazaré descobre uma zona carregada de robalos. Pesca os que pode, e quando já não há maneira, dá as marcas a uns quantos amigos das traineiras. É tudo passado a rede em menos de um fósforo.
Dois dias depois, todos os cardumes que se preparavam para desovar foram capturados. Quem os indicou recebe uma recompensa de quem lançou as redes, teve sucesso, e lucra milhares de euros com isso.
O problema é que em pouco tempo toda uma imensidão de robalos, uma geração de potenciais criadores, é devastada pelas redes. Bastam dois dias!
É isso que querem fazer com as minhas localizações GPS? Ou querem apenas ir lá pescar, levar os amigos, e esperar que eles não levem outros amigos?....
Porque em rigor é isso que acontece, sempre! Pedra descoberta a alguém é perda perdida.
Por isso mesmo prefiro levar pessoas comigo que não tenham interesse nas localizações GPS dos sítios onde vou.
À partida, o risco é sempre menor com estrangeiros que visitam o nosso país.
É relativamente simples perceber quem pode ter interesse em saber dos pontos GPS, e quem não tem nenhum interesse nisso, apenas querendo desfrutar de um bom dia de pesca, de emoções fortes.
Por vezes aparecem-me figuras realmente estranhas pela proa, como estas que vos mostro abaixo, e que garantidamente não querem saber das pedras para nada.
Apresento-vos os personagens: um mocinho americano de 33 anos, 1,92 mts de altura, que nunca na sua vida terá levado pimenta na língua, a atender às obscenidades que lança a cada segundo, de nome Colson Baker, mais conhecido por Machine Gun Kelly, e a sua rapariga, a actriz Megan Denise Fox, de 37 anos e 1,63 mts de altura.
Vejam-nos abaixo:
Não consigo imaginar-me com um fato branco destes. Nem que fosse na cor preta... |
Francamente, vejo-lhe a ela mais jeito para vir a dar uma pescadora de pargos que a ele.
Não me perguntem porquê, mas o palpite que tenho é que o moço terá pouco tempo para dedicar à pesca do sargo, para aprender as subtilezas da iscada de ouriço, com meia de vidro.
A verdade é que teve argumentos para convencer a sua amada de que ele seria a pessoa certa para ela. E isso já tem mérito.
Sobre a pequena, posso dizer-vos que desde os 13 anos que trabalha como modelo, e desde 2001 tem participações em filmes. Por exemplo em “ Confissões de uma adolescente em crise”….
Talvez seja por isso que tem algures no corpo uma tatuagem que diz: "We will all laugh at gilded butterflies", algo como: “…todos nós vamos rir de borboletas douradas”…
Pois seja. A frase pertence a um clássico, “Rei Lear”, de William Shakespeare.
Megan Fox diz que Hollywood apenas a chama por ser bonita. Bom, seria menos chamada se fosse muito feia, mas deve perceber que a sua facturação advém precisamente do palminho de cara que tem.
Em 2006 foi considerada uma das 100 mulheres mais sexy do mundo, pela revista FHM Magazine. Um pouco mais tarde subiu no ranking para a 18ª posição, segundo a Maxim. Em 2008 foi eleita a Mulher Mais Sexy, pela FHM.
Não parou de subir: em 2009 pulou para o 2º lugar da “Mulher Mais Quente”. Chegou a ser considerada para o papel de Bond Girl em 007- Operação Sky fall. A Megan tem um Óscar, não é uma miúda qualquer.
Isto tudo para vos dizer que este casal me pediu para eu os levar à pesca, junto com mais dois amigos. O problema está no “nível” desses amigos…e sendo o personagem principal um tal de Machine Gun Kely, não augura nada de bom.
Confesso que nunca tinha ouvido falar neles. Mas gosto pouco de “guedelhudos” e malta das tatuagens e brincos, … e piercings.
Confesso que isto para mim é um mundo tão diferente que nem equaciono a possibilidade de o misturar com as minhas pescas….o meu Light Rock Fishing. |
Não sei se alguma vez conseguirei obter tamanha aceitação por parte dos meus leitores, se algum dia irão fazer uma dúzia de tatuagens no corpo para imortalizar algum artigo escrito por mim. Tenho dúvidas até que aceitem pagar bilhetes para me ver a escrever…
É difícil que um texto meu sobre pargos possa juntar tanta gente à minha frente, e no entanto este moço consegue fazer isso com letras que eventualmente serão escritas na casa de banho, em dois minutos. A atender à qualidade das frases que “canta”, não acredito que escreva como eu, num escritório, com um teclado à frente.
Este tal de Machine Gun Kelly iria actuar nessa noite no Festival NOS Alive. E era sua intenção ir pescar comigo pela manhã.
Não achei que fosse boa ideia, às tantas ainda aparecia aos fãs com escamas de robalo nas mãos.
E a sua mulher, a jeitosa Megan Fox, ficaria certamente cansada de se levantar cedo da cama para ir lançar amostras para a rebentação.
Esta bonita rapariga do Tennessee, ao que parece é descendente de uma mistura de irlandeses, franceses e índios Cherokee.
Atendendo ao resultado, valeu a pena a “mistura”. Daí até eu aceitar levar esta gente à pesca vai um passo grande.
Declinei.
Estou receptivo para levar o Mark Knopfler, a uma saída de jigging ligeiro. Aos pargos!
Vítor Ganchinho
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Excelente Sr. Vitor!
ResponderEliminarCá espero ansioso a oportunidade de ir consigo! O telemóvel fica no carro.
Saúde
Boa tarde Pedro.
EliminarComo vê não faltam "coisas estranhas" a aparecer por aqui....
Venha de lá o Pedro, que em termos de tatuagens e piercings e linguagem rasca é um principiante, está a anos luz deste ..Machine Gun Kelly.
Já a "piquena", se houver daquilo por aí, pode vir ....
Grande abraço!!
Vitor
Desse calibre não arranjo :)
ResponderEliminarDeclinar um convite de pesca baseado nos ‘piercings’, tatuagens e amigos de cabelos compridos?
ResponderEliminarEu tenho 63 anos e não avalio pessoas pela aparência...
Abraço e espero que não me critique pela maneira própria, livre de pensar e de ver a realidade dos tempos contemporâneos.