OREMOS POR ELES...

Os nossos peixes sofrem para chegar a grandes e velhos!

Não somos apenas nós, pescadores de linha, quem os quer e procura.
De dia e noite, 24 sobre 24 horas, todos os dias da semana, há alguém que lança linhas, amostras, jigs, anzóis, e também redes. Muitas redes.
Redes com centenas de metros, panos de malha apertada que sobem do fundo até à superfície e garantem a impossibilidade de algo escapar.
Se uma traineira de pesca lança sobre um cardume de peixe redes de malha de 1 cm, ….o que pode ficar no sítio? Que peixe pode escapar a semelhante armadilha?
Penso que conhecem o sistema, mas por via das dúvidas, deixo uma ideia: a embarcação principal chega ao sítio escolhido, e um pequeno bote a motor transporta uma ponta da rede sobre um circulo determinado. Podem ser centenas de metros, de acordo com o comprimento total desse pano.
Após cumprir essa tarefa, o bote regressa junto do barco e entrega a outra ponta de rede. Quando se puxa o cabo de aço por baixo, forma-se um copo, fechado em baixo, e tudo o que estava na área cercada permanece dentro da malha.
Milhares de peixes ficam aprisionados e serão a seguir recolhidos por meios mecânicos. Os aladores fazem o seu trabalho, a rede é recuperada passo a passo, com paciência, com técnica, cumprindo o seu desígnio de morte.
Quando a carga é muita, quando a rede comporta dentro de si várias toneladas de peixe, o barco inclina-se no sentido da carga. Esse é o momento de ser ajudado pela embarcação mais pequena, a qual lança um cabo e puxa a embarcação principal no sentido contrário ao da inclinação. Para quê?
Para impedir que esta adorne, que vire com a carga que a rede arrasta….! São muitas vidas que se perdem num só lance.
Milhares e milhares de peixes vão parar aos porões da embarcação. Não têm qualquer possibilidade de fuga.


Este é o serviço feito pela pesca de cerco. Fiz esta foto num dia em que saí cedo para ir aos robalos. Confesso que me estragou o dia, pensar que os nossos peixes estão sujeitos a isto...


A seguir, depois de todo o peixe estar armazenado, coberto com gelo, é tempo de voltar a lançar noutro lugar. O barco de pesca pressupõe que a sua missão está cumprida quando já não couber mais uma escama. Muito desse peixe, capturado em excesso, irá ser vendido por tostões, sob a forma de rações para animais.
Como pode a natureza suportar tal delapidação?! Como pode reagir a um saque desta envergadura?
Que podem os nossos peixes fazer para evitar uma extinção anunciada?
Acaso alguém pensa que aquilo que fica na rede são apenas peixes de baixo valor comercial? Se o alvo são sardinhas, cavalas, carapaus, biqueirão, ….então isso não é o alimento dos nossos peixes de maior tamanho, ditos de “mais nobres”? Não haverá robalos a seguir os cardumes?
Onde vão parar esses peixes capturados? São ...libertados?
Como pode um robalo adulto escapar a uma rede com 1 cm de malha?! Oremos por todos os nossos robalos, incríveis sobreviventes nos tempos que correm.


Se aquilo que entra na rede é isto, …será que não há robalos a seguir estes pequenos peixes? Afinal que comem os nossos robalos que não seja parecido com isto?


Não serão os pescadores de linha alheios a um empobrecimento generalizado da massa de peixes disponíveis na nossa costa. Não somos santos.
Nós também os pescamos, e não consta que qualquer pescador lúdico vá deitar peixe vivo ao mar. A perspectiva nunca é essa mas sim a de extrair algo daquilo que existe. Mas que existe cada vez menos.
Todos sonhamos com lutas épicas, com peixes grandes, com abundância de cardumes. Mas a realidade prova-nos a cada momento que cada vez é menos assim, os recursos são finitos e devem ser geridos.
A alternativa é que os barcos um dia fiquem amarrados ao cais, sem peixe para pescar.
A talho de foice, vejam o que acontece com os chocos de Setúbal.
Haverá algum dia em que não se pesquem chocos em Setúbal?!
Se há alguns anos esse era um tipo de pesca praticado pelos varinos que ali encontravam um complemento para a sua reforma, hoje fazem-se excursões de pesca ao choco, 365 dias por ano.
Como é possível que se venha do Alentejo, de Coimbra, pescar chocos a Setúbal, sete dias por semana?
Pescar chocos que mais não são que “promessas de chocos”, pequenos seres de 12 cm de comprimento que cumprem a sua função de predadores e se lançam sobre as toneiras. Isso é pescar?
O que dizer de quem, não conseguindo chocos de 1 kg, pesca cinco chocos de 200 gramas e acha que é igual?
Quanto tempo mais irão aguentar os chocos de Setúbal?!....


Clube Naval de Setúbal. Desde 06.05.1920 que daqui saem barcos à pesca dos chocos... Vamos ver por quanto tempo mais.


Vamos ver até que ponto será possível conciliar a voracidade de todos aqueles que pescam até encher as caixas, com a capacidade de reprodução de seres que até há bem pouco tempo ainda existiam em abundância.
As douradas, os chocos, são apenas alguns exemplos daquilo que se faz a tudo o que mexe.
Vamos ver por quanto tempo.


Vítor Ganchinho


😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.

Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال