Temos vindo a falar sobre robalos e o seu reflexo natural para evitarem nadar em permanência nos pontos de correntes mais fortes.
Entram nestes locais de forte turbulência, utilizam todo o seu potencial físico para serem bem sucedidos, caçam, e voltam a sair. O sentido é sempre o mesmo e comum a muitos seres vivos: poupar energia.
Fisiologicamente, seria sempre muito pouco interessante para um robalo passar horas e horas a sofrer o desgaste inevitável que as zonas mais agitadas provocam.
O peixe precisa de nadar vigorosamente só para se manter parado num determinado ponto, e, pese o seu grande hidrodinamismo, precisa ainda de mais energia para avançar contra a corrente.
Por isso mesmo procuram postos de caça que lhes ofereçam o melhor de dois mundos: um local de repouso, que lhes permita estar a maior parte do tempo calmo, em segurança, e ainda assim não longe da espuma, da agitação e correntes que tanto os favorecem porquanto são exímios nadadores.
Muitos desses locais são formações rochosas, estruturas com buracos, pedras altas, no fundo…deflectores de corrente. Ou pilares de portos marítimos e cais de descarga. Barcos afundados.
Mesmo com muita força de água, haverá sempre uma zona abrigada a que podem recorrer.
O peixe criava-se bem em zonas onde estas algas existiam. Eram autênticas maternidades para pequenos seres que usufruíam da sua protecção natural. |
Mas nem só de pedras se fazem os locais que permitem afrouxar a força das águas. Um deles não é sequer uma estrutura fixa, mas sim uma rede de caules vegetais que faz o mesmo efeito: as plantas aquáticas.
As florestas de algas laminárias desempenham um papel importantíssimo na redução da força das correntes, amortecem-nas, travam o seu ímpeto, e por isso metem dentro tantos peixes, para nós de alto valor desportivo.
Não são só os robalos, lá dentro podemos perfeitamente encontrar sargos, douradas, bodiões, safios, badejos, corvinas, saimas, bem como uma infinidade de outros seres, santolas, navalheiras, camarão, búzios, etc, etc.
E já agora, uma miríade de pequenos peixes, que aí, mais ágeis porque mais pequenos, procuram escapar à menor mobilidade dos grandes robalos.
Para além da protecção natural que oferecem relativamente a artes de pesca profissionais, estas laminárias protegem também os peixes das tentativas que qualquer um de nós poderia fazer de os pescar à linha. Em rigor, será impossível pescar no meio das algas, dada a sua densidade e consistência.
Nas laminárias entrava o peixe mas não as artes de pesca. |
Infelizmente já não existem hoje como em tempos idos. As laminárias hoje praticamente não existem na nossa costa, desapareceram…!
Razões haverá, desde a pesca de arrasto costeiro, com tudo o que isso significa de destruição dos fundos marinhos, a poluição, a acidificação das águas oceânicas, o aumento dos níveis de carbono, as alterações do clima e o seu consequente aumento das temperaturas, etc, tudo razões que forçosamente colocaram um stress biológico numa alga/ planta que era só por si um garante de existência de peixe. De muito peixe.
Falamos da fixação de muitas toneladas de peixe ao longo dos campos de laminárias, e bem perto da costa.
Isso significa que os nossos peixes tiveram de se adaptar, de encontrar segurança de outras formas, e as pedras serão sempre um último reduto, por representarem uma estrutura fixa que impede o lançamento de redes sobre si. Mas era nas algas que se sentiam….“em casa”.
A chegada de águas cada vez mais quentes (por vezes junto à costa ocidental registamos temperaturas a rondar os 23ºC, e a sul de Portugal continental acima de 25ºC), fez com que essas algas reduzissem a sua taxa de reprodução, e, por persistência dessas condições, não tivessem a possibilidade de gerar algas juvenis, e por fim aconteceu até a inevitável morte das plantas de maior tamanho.
Acreditem que é uma pena, e que todos nós perdemos imenso por isso.
Muitos pequenos seres dependem da camuflagem das algas para poderem fazer a sua vida. |
Recordo-me bem do efeito que estas grandes extensões de algas provocavam nos peixes.
Na sua presença, e por sentirem uma segurança acrescida, (a entrada nas algas significava segurança máxima para um robalo), era bem mais fácil que hoje conseguir pescar grandes exemplares que às horas certas se deslocavam para o exterior dos campos de laminárias para caçar.
Os bordos dos campos de laminárias sempre foram áreas rica de vida, “jardins” com um manancial de peixe que podíamos pescar com alguma certeza.
Confesso a minha nostalgia e saudade desses tempos.
Na sua presença, e por sentirem uma segurança acrescida, (a entrada nas algas significava segurança máxima para um robalo), era bem mais fácil que hoje conseguir pescar grandes exemplares que às horas certas se deslocavam para o exterior dos campos de laminárias para caçar.
Os bordos dos campos de laminárias sempre foram áreas rica de vida, “jardins” com um manancial de peixe que podíamos pescar com alguma certeza.
Confesso a minha nostalgia e saudade desses tempos.
Um pequeno búzio pode crescer se tiver um substrato rochoso que lhe dê essa possibilidade. |
Aquilo que temos hoje em dia resume-se a locais com vegetação rasteira, porque longe das pontas onde o mar bate e faz ressaca.
Essas baías abrigadas permitem, pela protecção que dão à fauna e flora que as apreciam, e delas necessitam, alguma protecção, mas nada que se pareça com aquilo que existia ao tempo das centenas de metros de extensão dos campos de laminárias.
Em Setúbal, toda a baía do Portinho da Arrábida estava juncada de plantas, e por isso mesmo os barcos eram obrigados a passar ao largo. Hoje, é apenas um areal, com algumas pedras ralas a meio.
Por falta de protecção, a vida marinha dispersa-se para outros lados e acaba por concentrar-se em refúgios mais distantes, onde ainda é possível encontrar o mínimo indispensável à manutenção de vida.
Sempre que isto acontece, sempre que há uma concentração exagerada de seres num ponto especifico, o risco de acidente ecológico é bastante superior.
Basta que a pesca comercial faça o seu trabalho com rigor e precisão e podemos perder toda uma comunidade de peixes ou outros seres. Um lance de 2 ou 3 toneladas de robalos significa que milhares de peixes perdem a sua vida dentro de uma rede, e o potencial reprodutivo da região fica mais pobre.
Bom mesmo é que estejam espalhados, disseminados por uma vasta região, reduzindo assim as possibilidades de ocorrência deste tipo de acidentes.
Essas baías abrigadas permitem, pela protecção que dão à fauna e flora que as apreciam, e delas necessitam, alguma protecção, mas nada que se pareça com aquilo que existia ao tempo das centenas de metros de extensão dos campos de laminárias.
Em Setúbal, toda a baía do Portinho da Arrábida estava juncada de plantas, e por isso mesmo os barcos eram obrigados a passar ao largo. Hoje, é apenas um areal, com algumas pedras ralas a meio.
Por falta de protecção, a vida marinha dispersa-se para outros lados e acaba por concentrar-se em refúgios mais distantes, onde ainda é possível encontrar o mínimo indispensável à manutenção de vida.
Sempre que isto acontece, sempre que há uma concentração exagerada de seres num ponto especifico, o risco de acidente ecológico é bastante superior.
Basta que a pesca comercial faça o seu trabalho com rigor e precisão e podemos perder toda uma comunidade de peixes ou outros seres. Um lance de 2 ou 3 toneladas de robalos significa que milhares de peixes perdem a sua vida dentro de uma rede, e o potencial reprodutivo da região fica mais pobre.
Bom mesmo é que estejam espalhados, disseminados por uma vasta região, reduzindo assim as possibilidades de ocorrência deste tipo de acidentes.
As anémonas são um outro habitante das zonas de mar calmo, preferencialmente parado, já que sendo seres que se deslocam, necessitam ainda assim de baixos fluxos de água. |
A quantidade de vida nas zonas abrigadas não tem necessariamente de ser inferior às pontas rochosas onde o mar bate, apenas é diferente.
Se reconhecemos facilmente peixes de águas mexidas, sargos, robalos, douradas, peixes fortes, com músculo, capazes de vencer a força das ondas, também podemos adivinhar que uma abrótea, uma faneca, um safio, serão peixes com uma maior tendência para recolherem a zonas mais protegidas.
O hidrodinamismo das pontas de pedra promove a criação de muita vida. Alguns daqueles que melhor conhecemos, e que são vitimas dos nossos peixes mariscadores, os perceves, as cracas, os mexilhões, seres que se alimentam capturando o seu alimento através de filtragem, precisam dessas águas agitadas, ou morrem …de fome.
As zonas mais expostas à ressaca das ondas alimentam milhões de pequenos seres, e a seguir alimentam os nossos peixes, que ali os procuram.
Mas se é verdade que é aí que encontramos mais peixes “pescáveis”, de maior porte, não devemos substimar as baías, pois por vezes são visitadas por ilustres exemplares. Quantos pargos acima dos 10 kgs de peso terei encontrado a mergulhar em zonas de água completamente parada? Mas são peixes que passam, não vivem ali.
As razões pelas quais há uma “crença” nas pontas rochosas, agitadas pelo vento e pelas ondas, explica-se à luz de factores como a superior abundância de alimento, e do acréscimo de segurança que oferecem.
Será sempre difícil, para não dizer impossível, cercar com redes uma ponta de pedra com ressaca e ondulação forte. E isso basta ao peixe: as condições de segurança são superiores e a agitação marítima cria mariscos que são alimento para peixes de médio porte, e a seguir para aqueles que se alimentam desses mesmos peixes.
Se reconhecemos facilmente peixes de águas mexidas, sargos, robalos, douradas, peixes fortes, com músculo, capazes de vencer a força das ondas, também podemos adivinhar que uma abrótea, uma faneca, um safio, serão peixes com uma maior tendência para recolherem a zonas mais protegidas.
O hidrodinamismo das pontas de pedra promove a criação de muita vida. Alguns daqueles que melhor conhecemos, e que são vitimas dos nossos peixes mariscadores, os perceves, as cracas, os mexilhões, seres que se alimentam capturando o seu alimento através de filtragem, precisam dessas águas agitadas, ou morrem …de fome.
As zonas mais expostas à ressaca das ondas alimentam milhões de pequenos seres, e a seguir alimentam os nossos peixes, que ali os procuram.
Mas se é verdade que é aí que encontramos mais peixes “pescáveis”, de maior porte, não devemos substimar as baías, pois por vezes são visitadas por ilustres exemplares. Quantos pargos acima dos 10 kgs de peso terei encontrado a mergulhar em zonas de água completamente parada? Mas são peixes que passam, não vivem ali.
As razões pelas quais há uma “crença” nas pontas rochosas, agitadas pelo vento e pelas ondas, explica-se à luz de factores como a superior abundância de alimento, e do acréscimo de segurança que oferecem.
Será sempre difícil, para não dizer impossível, cercar com redes uma ponta de pedra com ressaca e ondulação forte. E isso basta ao peixe: as condições de segurança são superiores e a agitação marítima cria mariscos que são alimento para peixes de médio porte, e a seguir para aqueles que se alimentam desses mesmos peixes.
Sendo o robalo um peixe que se adapta a variadíssimos tipos de ambientes, estranho seria que não visitassem também as águas menos mexidas. É verdade que o fazem, embora aí tenham uma predominância de actividade essencialmente nocturna. A turbidêz das águas não os incomoda minimamente, eles adaptam-se e se não conseguem caçar à vista, fazem-no através das suas sensíveis linhas laterais.
Acredito que haverá robalos que adentram os rios e aí fazem as suas vidas, umas vezes mais curtas outras mais longas, dependendo sempre da eficácia das redes e da maior ou menor habilidade dos pescadores que os procuram.
De qualquer forma, é minha convicção que é fora, em mar aberto, que devemos medir forças. Olho os estuários como locais sagrados, maternidades que é imperioso respeitar.
Para o bem e futuro de todos nós.
Vítor Ganchinho
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Olá Vitor,
ResponderEliminarMais um excelente artigo, como sempre! As florestas de laminárias existem e resistem nos pesqueiros que frequento, mais a norte. Pessoalmente gosto do período das laminárias. Estas atingem a maturidade em agosto, chegando mesmo a ver-se à superfície e acabam expulsas pelo mar em setembro, no início do outono, são montanhas de algas que se acumulam no areal.
A laminária na minha zona de pesca traz dois fenómenos, a chegada de mais predadores que gostam da caça emboscada, o outro é que afugenta os “anglers”, contam-se pelos dedos de uma mão e ainda sobram, pois veem as suas minnows serem literalmente engolidas pela resistência da alga laminária. Pescar de terra na época das laminárias exige adaptação, chega a hora de entrarem outros artificiais e tipos de anzóis.
Outro detalhe que aprecio nessa época são as cores do robalo, que graças ao seu mimetismo apresenta uns tons de bronze, diferente do robalo das rochas e muito diferente do robalo da areia.
Obrigado pelo artigo e pela sua partilha.
Olá Pedro! Fiquei muito feliz por saber que vocês aí ainda têm laminárias.
EliminarDe alguma forma isso confirma uma ideia que tenho: o aquecimento global terá algo a ver com o desaparecimento destas algas que são tão importantes para todos nós. Terá algo a ver com o facto de não haver reprodução de novas algas, e com a morte dos rizomas velhos.
Para o peixe são um tremendo refúgio, ficam protegidos de tudo e de todos.
Curiosamente estou a escrever um artigo sobre a chegada das algas à costa.
Espero que as pessoas gostem, a intenção é sempre de dar informação, mesmo sabendo que algumas pessoas só têm olhos para baldes de peixe e pouco mais.
Houve mesmo uma "abetarda" que colocou um comentário negativo num destes artigos dos robalos. Por mim pode pôr uma apreciação negativa todos os dias, porque eu sou pouco sensível a críticas. Quem escreve assume sempre que haja quem não goste.
Faz parte.
Mas gostava que essa pessoa que assinala como negativo o meu trabalho, fosse capaz de escrever cerca de 1000 artigos sobre pesca...
Provavelmente será um artolas que não teria mãos para escrever um único.
Abraço
Vitor