Estranho seria que existisse um jig ou amostra de tamanho, formato e cor universal, a poder ser utilizado em quaisquer condições de mar, a qualquer profundidade, a todos os tipos de peixes.
Não acredito que isso exista, e nem vou perder muito tempo a procurar essa peça rara, essa “pedra filosofal” que tudo transforma em ouro.
Haverá alguns jigs/ amostras de linhas mais bem concebidas, mais testados em fábrica, mais propensos a melhores resultados que outros, mais eficazes neste ou naquele ambiente, profundidade, com mais ou menos corrente, com água mais lusa ou mais tapada. Poderá ainda um modelo de jig estar mais adaptado ao tipo e estilo de pesca que cada um de nós pratica. Alguns há que denotam melhor hidrodinamismo, e por isso o seu design permite-lhes um comportamento mais eficaz numa maior diversidade de condições de mar.
Eventualmente estarão até mais adaptados ao padrão de mar que temos perto de casa e consequentemente onde vamos mais vezes. Não tenham dúvidas, o mar que temos mais perto de nós, também nos molda enquanto pescadores.
Utilizamos sempre os equipamentos que melhor resultam na nossa zona de pesca. Somos induzidos a isso. E as cores dos jigs e amostras não são alheias a isso, nós chegamos lá por experimentação.
Mas sejam quais forem as amostras ou os jigs, não serão nunca os melhores para tudo, sempre!
Por vezes ouço pessoas dizerem: “eu só pesco com esta amostra!”.
Pois bem, …fazem mal, porque essa amostra poderá ser eficaz perante determinadas condições, e falo de temperatura, visibilidade, hora do dia, mas não o será para outras. E vão perder peixes por isso.
Pode um cinzento dia de chuva, com águas mais carregadas de sedimentos, “pedir” o mesmo jig de um dia de sol e águas limpas e transparentes? Não creio.
A meu ver, a uma alteração de condições deverá corresponder uma alteração de equipamento.
Por isso mesmo, faço-me acompanhar nas minhas saídas de pesca de um razoável número de amostras/ jigs com características diferentes em termos de peso, cor e formato, e, no local, e em função daquilo que observo, decido pelo que me parece ser mais ajustado à situação.
É disso que trata o tema de hoje, analisando a vertente cor.
Concretamente a relação directa que deve existir entre a luminosidade do dia e a cor do jig a utilizar.
Queiram entender não ser este conceito válido e absoluto… para tudo e para sempre! Em terra podemos dizer “Só bebo cervejas Sagres”. Na pesca não há lugar a absolutismos, porque as condições de mar mudam a cada instante.
Temos vazantes e enchentes, temos entradas de água suja e água limpa, temos peixes mais acima ou mais abaixo. E forçosamente teremos de reagir a isso, adaptando-nos, recorrendo à nossa caixa de amostras.
Também as técnicas que utilizamos têm uma influência directa sobre a cor do artificial que aplicamos. Vamos aqui ter de separar as águas, e pensar que uma coisa é spinning, outra jigging. Não afirmo que não pode ser feito spinning utilizando pequenos jigs, nada disso. Há muito quem faça capturas a partir de terra com jigs, ou não fosse o jig casting, ou a pesca com chivos algo que perdura ao fim de muitas dezenas de anos. Mas tomemos como boa a ideia de pescar horizontalmente com amostras, à superfície, e com jigs largados ao fundo, na vertical.
Para amostras trabalhadas a equipamentos de spinning, ou seja, a lançamentos longos mas superficiais, (e este é um dado muito importante: a operar em capas de água superiores), teremos sempre uma possibilidade de entrada de luz superior, diferente daquilo que encontramos quando pescamos profundo.
Os jigs, por presumida inerência de função, irão prospectar os fundos a profundidades bem mais significativas, e isso altera alguns dados em termos de cor, como não podia deixar de ser. Não é nem poderia ser igual!
Vejamos o porquê, com um caso concreto, pescando nós a um mesmo peixe, mas com técnicas diferentes, spinning e jigging.
Os dados da equação estão perfeitamente definidos: pescar num mesmo dia, (por sinal nebuloso, frio e cinzento), sensivelmente no mesmo local, a uma só espécie de peixe, o robalo.
A ressaca de ondulação a rebentar na costa indica-nos que foi uma noite agitada para aqueles que adoram passear-se na espuma, a ensaiar caçadas no breu nocturno.
Este é um ambiente que favorece imenso o robalo, senhor de uma série de adaptações que lhe permitem caçar nas condições mais difíceis: visibilidade reduzida ao mínimo, turbulência na água, correntes fortes.
É aqui que eles marcam a diferença, porque desenvolveram aptidões que lhes permitem ser melhores que os pequenos seres que lhes irão servir de alimento.
No Outono, com águas relativamente quentes (este ano foi atípico porque tivemos águas quase frias em…Agosto!), sabemos que o peixe que pode estar a caçar ao raiar do dia em zonas mais baixas, mas que forçosamente irá retrair-se e procurar cotas com mais água à medida que o sol sobe no horizonte e a quantidade de luz do dia avança. Assim sendo, é pressuposto que se comece a pescar nos baixios, junto à costa. E aí, é terreno para as amostras, não para os jigs.
Se as águas estão tapadas, e se a isso juntarmos a falta de luz natural do inicio do dia, faz sentido que a opção recaia sobre amostras flash, de cores mais abertas, os laranjas, os amarelos, os prateados.
À medida que o sol sobe no horizonte, e partindo do princípio que a primeira capa de água tem alguma visibilidade (o normal é que os sedimentos se depositem mais próximo do fundo, ou seja que a visibilidade seja menor junto deste, e que aumente à medida que nos aproximamos da superfície), então será o momento de recorrer a uma amostra de cores mais naturais, os azuis brilhantes, verdes, os cinzas, os castanhos. Com o avançar do dia, e já com o sol a pino, decididamente a vantagem vai para as cores moderadas que melhor imitam as presas naturais, sardinha, galeotas, biqueirão, cavala, carapau, etc. E essas cores conhecemo-las.
Sabemos que a quantidade de luz aumenta à medida que o sol sobe. Os momentos bons são aqueles que favorecem quem tem bons olhos e os robalos têm-nos. Quando a luz é demasiada eles deixam de ter vantagens, e por isso cessam a sua procura de presas.
Por vezes temos menos de uma hora de actividade matinal, antes da debandada. Assim, com o passar dos minutos, teremos os nossos predadores cada vez mais recatados, mais longe da primeira linha de costa, e isso significa que os teremos de ir procurar mais fundo.
Vamos ter de seguir o trajecto que eles fazem, à medida que as condições de luz mudam.
A tendência será sempre no sentido de afundarem e não o inverso. O peixe zela pela sua segurança, e se, a coberto da noite e ausência de luz pode aproximar-se a um palmo de água, certamente não o irá fazer a meio do dia.
Irá sim cumprir o seu ciclo natural, procurando algum conforto junto de fundos mais significativos, eventualmente até de estruturas, pedras, pilares, plantas aquáticas, etc. Mas sempre mais fundo.
Aí, os dados da equação são outros. Vamos ter de enfrentar condicionantes que se prendem com a visibilidade da água, a qual sabemos ser sempre pior que aquilo que temos à vista quando pescamos nos pesqueiros baixos, por uma razão simples: a quantidade de luz que chega abaixo será sempre menor, por ter sido filtrada nas primeiras camadas de água. Perde-se a cada metro, logo será sempre cada vez menor a penetração da luz.
Se alguma possibilidade técnica existe de ser algo diferente disto é esta: a ressaca de mar levanta sempre areias e suspensão depositada junto à praia, mas a dada altura a ondulação já não afecta grandemente a estabilidade do fundo.
Por números e de forma meramente académica, só para exemplificar, algo como: a 2 metros a ondulação agita os fundos e torna-os turvos, retira-lhes limpidez, pese embora a luz do sol esteja presente. Mas a 50 metros, a ondulação de superfície não altera a sedimentação que existe no fundo e
por isso o único factor que nos incomoda é mesmo a ausência de luz lá em baixo.
É a partir daqui, com estes dados, que a escolha da nossa amostra/ jig se torna possível.
Sabemos que uma das cores base, o vermelho, irá desaparecer a partir dos 10 metros de profundidade. Pode ser utilizada em amostras de superfície sem constrangimentos, mas se a questão é ir procurar os robalos no fundo, a 50 metros, ….aí já não faz sentido, porque estamos a lançar algo virtualmente invisível, e que apenas poderá ser efectivo num outro plano, o da detecção por vibração.
Eles fazem-no, mas leva mais tempo, teremos de saber pescar mais lento, de forma mais sincopada, a dar tempo de reacção à linha lateral do predador.
E pode acontecer que isso nem seja atractivo para um peixe que gosta de ser desafiado a uma boa corrida.
Peixes há que são virtualmente impossíveis a recuperações demasiado lentas, o caso dos lirios. Esses são grandes corredores, gostam de velocidades e sentem-se super desafiados por presas que lhe escapam a alta velocidade. Esse é o princípio da sua pesca a speed jigging.
Também à superfície os lirios atingem velocidades vertiginosas a perseguir as nossas amostras, se os soubermos tentar. O que não podemos fazer é mesmo afrouxar a pressão, fazer uma recuperação mole, lenta….porque eles perdem o interesse por completo.
No caso dos robalos, peixe oportunista, as exigências de movimentação serão menores, mas há mínimos, e um deles é a garantia de que se trata de uma presa viva. Não pode haver dúvidas que aquilo que mexe à sua frente está vivo, pois isso mobiliza o predador muito mais que um ser inerte.
O slow jigging funciona menos bem que um jig casting mais animado. E de preferência o alvo deverá ser visível mesmo em fracas condições de visibilidade.
Assim, por princípio, o jig de cor certa para pescar robalos em dias sem luz, em fundos mais generosos, será sempre algo que possa ser visível a alguma distância.
Algo mais chamativo, que dê um alvo a um peixe que está atento, mas que passou a noite a correr junto à costa, e por isso tem algumas limitações de vontade e energia para grandes corridas, mas que ainda assim exige um minimo de acção.
Um meio termo em termos de recuperação de jig funciona bem. Ao mesmo tempo que damos tempo a que o predador veja o seu alvo, estamos a dar-lhe também a noção de que aquilo que mexe não lhe irá exigir demasiado às suas reservas de energia.
Os jigs luminescentes podem servir-nos na perfeição. Se têm duvidas, observem-nos num quarto escuro e irão constatar o quanto a sua detecção é fácil. Lá em baixo a luz é muito pouca, sobretudo em dias muito fechados, com nuvens baixas.
Vejam abaixo a utilização de um deles:
Chegar cedo aos pesqueiros permite-nos poder planear a nossa pesca de forma a tirar total partido das movimentações dos peixes. |
A Major Craft tem um modelo que também costumo utilizar, assimétrico, que me dá movimentos muito interessantes para recuperações mais lentas.
Este é um tema que não fica por aqui, certamente voltarei a ele, porque a imensidão de dados a analisar a isso obriga.
Passo a passo vamos entendendo mais detalhes e no fim, os vossos resultados serão sempre melhores.
Boas pescas para todos os meus amigos pescadores!
Vítor Ganchinho
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