Os robalos não são super-peixes.
Têm as suas limitações físicas, como seria de esperar, e como de resto todos os peixes têm.
Ainda assim, estão equipados de “série” com um conjunto de argumentos que lhes permitem caçar onde outros peixes não ousam nem sequer aproximar-se.
É verdade que é precisamente em ambientes agressivos, em ressacas de ondas, em correntes fortes, que eles mais partido tiram das suas aptidões de predadores.
Quando as suas presas entram em zonas de remoinhos, quando em plena corrente perdem o controle das suas capacidades natatórias, é aí que entra o protagonista deste artigo, a mostrar que nasceu para enfrentar desafios duros.
Não o fazem em permanência. Um robalo não é, em termos de consumo de reservas fisicas, muito diferente de muitos outros peixes que conhecemos bem. Poupam aquilo que tanto trabalho lhes dá a conseguir: energia.
E esse é o ponto de partida para o trabalho de hoje, saber o que é aceitável e o que é excessivo, para um robalo.
Porque daí depende o êxito dos nossos lançamentos de artificiais, no fundo ter ou não ter peixes no pesqueiro.
O principio base é este: o robalo posiciona-se num posto de caça que lhe dê aquilo que é o melhor de dois mundos, uma quantidade de alimento suficiente, leia-se pequenos peixes, camarões, lulas, chocos, caranguejos, etc, e um espaço neutro, que lhe permita algum repouso entre corridas de caça.
Poupar energia física é algo que qualquer peixe tem como preocupação fundamental. Porque tudo aquilo que obriga a gastar energia implica a sua posterior recuperação, sob pena de o animal perder peso.
Todos sabemos do princípio sagrado que rege a vida de um predador: a presa capturada deverá trazer um aporte de energia superior ao que é gasto para a capturar.
Quando avança para águas abertas, o robalo procura presas vivas em dificuldades. Sabe ler os sinais de debilidade, porque vive disso desde que nasce. Eles sabem perfeitamente adivinhar o que são peixinhos em dificuldade.
E isso já interessa a todos aqueles que pescam com amostras! A primeira preocupação não será pescar de tal forma rápido que nenhum robalo consiga chegar perto da nossa amostra. Devemos sim dar tempo, fazer um compasso, motivar o predador a avançar para o nosso artificial julgando ter encontrado uma dessas presas em dificuldades físicas.
Fazer recuperações curtas, por vezes mais rápidas mas logo entrecortadas por espaços de acalmia, de quase paragem, faz despoletar o instinto de caçador que qualquer robalo tem.
Está tudo ligado: se a amostra passa demasiado rápida, o entendimento do peixe é que não vale a pena sequer correr, porque aquela captura implica um dispêndio de energia acrescido, eventualmente até superior ao retorno energético que pode obter com o seu consumo. E fica-se, não avança para a amostra.
Não é isso que queremos, certamente.
É muito corrente que um robalo se esconda atrás de um qualquer obstáculo, desde um recife de rochas natural, a algum tufo de algas, ou mesmo uma construção humana, no caso de pontões, pilares, paredes, etc.
O objectivo é sempre o mesmo e claro que tem a ver com poupança de energia: a ideia é sempre fazer um arranque brusco, repentino, com grande taxa de sucesso porque a pequena presa não chega sequer a ter tempo de reagir, de encetar a fuga, e não uma perseguição longa, fastidiosa, de grande desgaste energético. E que, se chega a não resultar, obriga a muitas mais corridas só para recuperar a energia despendida.
Por isso, corridas curtas, mas boas, com resultados.
Os sectores que melhores perspectivas trazem ao robalo são normalmente zonas de correntes, onde eles entram para comer, (não estão lá em permanência, entram e saem), e que lhes dão um máximo de chances de sucesso.
Por isso muitos de nós conhecemos lugares onde normalmente há robalos, e outros onde nunca ferrámos um. E tem tudo a ver com o conjunto de condições que cada lugar oferece ao predador, ou seja, a maior ou menor percentagem de sucesso que cada lugar oferece a quem o utiliza.
Não serão quase nunca lugares directamente expostos à corrente, mas sim remansos que permitem entrar à corrente, caçar e sair. Gostava que retivessem este conceito, porque ele irá determinar a taxa de sucesso que cada um de nós irá conseguir nas suas saídas de mar ao robalo.
Repito, dificilmente terão robalos durante muito tempo numa corrente aberta, directa, sem que existam obstáculos por perto que permitam…descanso.
As correntes demasiado fortes apenas têm interesse em situações muito especiais, como a entrada súbita de comedia, um cardume de pequenas sardinhas, carapaus, por exemplo. Entram, o robalo segue-as, caça, come e …sai.
Pensem como um peixe: que interesse pode ter nadar contra uma corrente, e esgotar as forças a tentar permanecer ali, num sítio que, pese embora lhe traga comida à boca, à morte, é, ainda assim, irregular, sem um momento de sucesso definido?
Continuando a pensar como um peixe, vejam se seguem este raciocínio: um local desabrigado, sem obstáculos, exposto a uma corrente forte, é um local que tem tendência a criar um caudal de passagem de água muito forte, por vezes demasiado forte.
Os fundos não são todos iguais, e por isso não oferecem as mesmas possibilidades de caça ao nosso peixe. Eles sabem que zonas com pedras altas quebram a corrente, deixam espaços de correntes neutras, ou até zonas, do lado posterior da pedra, em que a água corre no sentido inverso à corrente.
Essas são as zonas de descanso. Pensando em termos mecânicos, a força da corrente é travada pela existência de uma, ou muitas pedras, e nesses locais, a massa líquida sofre uma quebra, divide-se, perde força em alguns espaços.
Tentem imaginar uma passadeira para peões numa rua, em que temos faixas brancas e faixas neutras. Um bom local de pesca ao robalo é isso, zonas estruturadas, com obstáculos naturais à corrente, em que há faixas com fluxo de água muito forte, e outras, mesmo ao lado, em que a corrente é neutra, permite ”respirar”, repousar, e preparar os ataques.
Se pensarem friamente, temos que numa corrente que passa sobre um fundo de areia, nada, a não ser o atrito da água a rolar sobre a areia, serve de travão. Não há estruturas, apenas um espaço vazio de obstáculos.
E em zonas de águas rasas, lisas, sem mais que areia, (e pelo efeito da força de atracção da lua), a corrente acelera à sua velocidade máxima. Local pobre para encontrarmos o nosso robalo!
Por isso, devemos perder pouco tempo a lançar nestes locais. Pouca coisa boa nos pode surgir num local de fundo de areia lisa com corrente com muita força. Certamente a alguma distância daí haverá algo melhor, e é lá que devemos insistir.
Pelo que tenho observado, parece-me que há momentos ideais para que o robalo se chegue a zonas com correntes fortes. Sendo um bom nadador, indiscutivelmente, passa no entanto a uma posição de defesa quando o valor da velocidade da corrente se torna excessivo.
Isso depende sempre do momento da maré, e já sabemos que a força da corrente é sempre maior em zonas mais baixas. Faz sentido se considerarmos que a força de atração do sol e da lua se fazem sentir sobre uma massa de água menor, mais leve, e por isso puxam-na mais depressa.
A uma massa de água superior, digamos fundos de 40/ 50 metros, corresponderá uma velocidade de deslocação inferior, mais lenta, por haver muito mais peso de água a transportar.
Temos pois que há aqui dois factores a considerar: o momento da maré, e a altura do local em que pescamos.
Já aqui foi publicado um quadro em que eu explicava como se processa o aumento e redução da força da corrente, relativamente à hora da maré. Seria bom voltarem a ler.
Há um momento óptimo para o robalo entrar à corrente, e esse momento coincide com o período em que o fluxo de água tem a velocidade certa. Em função da hora da maré que tenhamos, assim devemos trabalhar mais ou menos os espaços expostos à corrente.
Por vezes, é indiscutivelmente mais proveitoso apostar em remansos de água mais parada que lançar sobre uma corrente de enorme caudal, que tudo leva à sua frente.
Vamos continuar a seguir esta ordem de ideias no próximo número.
Vítor Ganchinho
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